Não Tão Estranha Assim escrita por Débora SSilva


Capítulo 3
Capítulo 2 - Linda banheira e estranho no quarto...de novo(?)




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Capítulo 2
Linda banheira e estranho no quarto...de novo(?)
Blair Montello

4 minutos antes da palavra derradeira

— Você gosta de bolhas, não é, sua espertinha?! — Sacudo os pés e mais bolhas flutuam para fora da banheira fazendo minha cadela rolar pelo chão e esticar as patas, tentando alcançar cada círculo de sabão flutuante, até que as estourasse e me force a repetir a sessão para sua diversão.

Olho para o teto satisfeita por ter desistido do meu carro de presente de Natal e ter aceitado a segunda opção, a minha Linda banheira, um quarto com banheiro é a realização de todos os meus sonhos! Sinceramente, como não ser feliz não precisando andar até o final do corredor apenas para fazer xixi e voltar para a cama de olho fechado para não perder o sono? Sonho realizado com sucesso, adeus perda de sono no corredor!

Sun Hee, minha cadela que olha para as bolhas com admiração com sua língua para fora, levanta-se e sai do quarto após farejar algo, talvez uma pizza passando no carro lá fora. Sério, minha querida Sun Hee vive para me assustar com o que fareja. Uma vez foi uma bota velha enterrada no quintal, eu apenas joguei a bota pra rua e me tranquei em casa.

Enquanto Sun Hee sai do banheiro, me levanto e pego uma toalha no aparador a minha direita. O banheiro é realmente minúsculo, tendo apenas uma privada, minha banheira gigante e uma pia, nada realmente luxuoso, porém é totalmente funcional. Ao sair da banheira, apenas acaricio a borda de minha banheira e sorrio.

— Você é linda mesmo, Linda — dou uma risada de como apelidei minha banheira e a lembrança de meus pais aparece em minha cabeça.

— O que ela tem para dar nomes a tudo, hein? — minha mãe perguntou uma vez para o meu pai que soltou uma gargalhada.

— É só compulsão por nomes! — respondeu ainda gargalhando.

A lembrança me faz rir e sentir mais saudade dos dois. Todo ano, depois que nos mudamos para Mount Alba, fazemos uma viagem há algum estado diferente que não conhecemos. Esse ano eles escolheram o Havaí e eu estava louca para dançar pela praia de Honolulu e fingir que fazia parte da equipe de Havaí 5.0. Mas é meu último ano no ensino médio e eu não quero realmente me arriscar! Também não vou me garantir em notas boas ou coisa parecida, o importante é passar e ser aceita nas faculdades, sem pendências ou algo mais.

Enquanto me arrumo, canto ao ritmo da música que começou a tocar em minha playlist, uma das minhas favoritas da vida. Coloco um short escuro e me enfio em uma blusa gigante em que posso dançar e me balançar dentro dela sem marcar nenhuma parte do meu corpo. Volto a segurar minha toalha para secar meus pés e enfiá-los em minhas pantufas em forma de patas de lobo.

Antes de sair do banheiro, tiro a tampa do fundo da Linda e a deixo esvaziar. Desligo a música em meu celular, mas continuo cantando e dançando. Pulo para a entrada do banheiro e, antes de abrir completamente a porta, pego meu óculos na pia e volto a colocá-los em meu rosto, começo a secar meu cabelo com a toalha e dou o grito do refrão:

Let me hear u say ayyy — grito cheia de emoção. — Skyway!

Balanço mais uma vez e paro quando sinto pelugem em meu pé. Olho para baixo confusa e percebo que meu pé encostou no traseiro de Sun Hee que está estática olhando fixamente para frente. Então, acho seu objeto, ou melhor, seu humano de interesse.

Um garoto permanece parado no canto do meu quarto, seu cabelo é preto e olhos claros como o azul do mar me encaram arregalados. Ele é bem mais alto que eu (coisa admirável e um tanto difícil). Consigo ainda verificar que veste as típicas jaquetas pretas de couro que sou louca para ter! Mas quando volto a focalizar seu rosto, minha boca seca e minha raiva explode em apenas um nome, Jake.

— Sun Hee — pronuncio e a pelugem de meu pé desaparece, indicando que ela já levantou-se e só está esperando minha ordem:  —, pega!

Sun Hee não hesita e corre atrás do garoto que entra em desespero e corre pelo meu quarto, que já não é lá muito grande! Corro também, mas em direção ao meu armário e pego meu taco de baseball. Vou junto de Sun Hee até o garoto que corre pra cima da cadeira da minha escrivaninha.

— Eu não sou um ladrão! — ele afirma, ainda tentando escapar dos dentes de Sun Hee.

Rolo os olhos. É sério que ele disse aquilo?! A imaginação dele vai salvá-lo!

— Tá, ok, garoto — aponto para ele com o taco enquanto Sun Hee range seus dentes e late para ele. — Avisa para o Jake que se alguém mais aparecer aqui, eu juro, eu vou chamar a polícia!

Assim que eu levanto meu taco e me posiciono para bater no garoto não importando as consequências, porque eu realmente estou de saco cheio disso. Ele levanta a mão no alto antes que eu bata e ele e encolhe um pouco mais os pés para Sun Hee não mordê-lo, mas ela era mais interessada em seus braços.

— Espera! — ele grita por cima dos latidos de minha cachorrinha. — Como você sabia que eu fui mandado por Jake?

Eu estagno. Apoio meu taco de baseball no ombro e minha mão livre na cintura.

— Tá me zoando? — questiono levantando uma das sobrancelhas. — Tipo, mais do que o normal?!

— Não! — ele enruga a testa, ficando com o rosto sério e parecendo ter mais idade do que antes. Ele volta a olhar para Sun Hee e faz um som engraçado com a garganta — Pode pedir pra sua cachorra não me morder?

Eu assovio e Sun Hee vem para o meu lado, mas se mantém alerta. Dou alguns passos para trás e me mantenho atenta assim como minha cachorrinha, pronta para dar o bote se for necessário. O garoto desce da cadeira e nos encara com desconfiança.

— Como sabe que vim a mando de Jake? — ele volta a questionar com uma de suas grossas sobrancelhas se elevando no rosto. Fico um pouco hipnotizada pelo movimento, só um pouco!, mas retorno a responder com sarcasmo.

— Me deixa adivinhar! — exclamo, ainda apoiando o taco em meu ombro e usando a outra mão para ilustrar em muitos movimentos minha história. — Você foi enviado aqui pelo grande imbecil da cidade, para — faço aspas no ar — "resgatar" um lápis rosa que é, na verdade, inexistente para ser o novo babaca da sociedade de Mount Alba?!

Ele deixa uma risada rouca escapar pelo sorriso que esbanja, me pegando desprevenida.

— Ei, moça — ele mostra as mãos, como em estado de rendição. — Pode acusar o Jake de imbecil ou babaca, à vontade, mas me inclua fora dos xingamentos, por favor!

Ele ainda mantém um sorriso no rosto e eu termino rindo de sua frase. Então, seu olhar vira de curiosidade quando termino por abrir um sorriso e lhe oferecer minha mão para um aperto.

— Prazer, a moça aqui se chama Blair!

 

***

 

 Ele ainda permanece me encarando por uns cinco segundos até estender a mão lentamente e recuar junto dela antes de encostá-la na minha.

— Ele não vai me morder quando eu apertar sua mão, certo?! — ele pergunta encarando de lado Sun Hee que permanece sentada ao lado do meu pé. O focinho longo está completamente virado para o garoto a minha frente e eu solto uma risada pela situação, minha cadela é tão fofamente protetora!

— Não — respondo rindo, contudo penso melhor —, bem, eu acho que não! — abaixo a mão e descarto a saudação. — É melhor não arriscar!

— Certo, minha mão agradece! — o garoto afirma e volta a sorrir. — Mas — ele aponta para minha mão jogada ao lado do meu corpo — por que se apresentou?

Ele pareceu analisar cada centímetro do meu rosto e eu, em contrapartida, faço o mesmo. O nariz dele é longo e reto, as bochechas magras e o queixo quadrado. As sobrancelhas grossas acima dos olhos azuis encerrava minha inspeção após eu reparar em algumas mechas do cabelo escuro caindo pela testa. Quando retorno aos seus olhos ele me encarava de volta, o que me fez ficar desconfortável, mas não me faz desviar o olhar.

— Bem, é um pouco difícil parar de frente com alguém que não vá colocar Jake em um pedestal — dou de ombros e ele pareceu levemente impressionado, mas não pela minha fala e sim pelo reconhecimento de tal coisa.

— Eu meio que já reparei isso, mas qual é a do apelido — eu inclinei minha cabeça para o lado e ele termina sua frase —, estranha? Eles viram Carrie, A estranha demais?

— Ah — eu desato a rir e até mesmo apoio a mão na barriga —, foi exatamente o que eu pensei!

Ele dá de ombros e assente, coloca as mãos no bolso e permanece me encarando. É, ele estava mesmo querendo uma resposta para o motivo do apelido. Suspiro ruidosamente. Desço o taco de baseball do ombro, que já estava começando a incomodar pelo peso da madeira.

— Vou te passar um resumão. — Inspiro fundo, conseguindo bastante ar para um monólogo. — Crianças, doze anos, querendo dar uns beijinhos, menino tenta beijar menina, menina não quer, menino insiste, menina dá um chute em suas...ahn... — paro por um momento e sussurro — partes baixas!

Ele me interrompe com mais um de seus risos roucos, provavelmente pela minha terna dramatização.

— Ok, menino fica traumatizado e odeia a menina — volto a contar. — Menino se muda, menina se muda depois de uns anos pro mesmo lugar, menino espalha boatos toscos sobre a menina. Confissão, a menina sou eu e o menino é o Jake — Estico minha mão no ar, ilustrando as palavras. —  Ódio eterno!

— O babaca te marcou por causa de um beijo — ele junta as sobrancelhas em uma careta —, jura?!

— Acho que foi o chute que marcou, sabe, nas partes baixas — enfatizo com uma grande careta.

— Um chute bem merecido, pelo visto.

— É, até que eu concordo, viu — eu sorrio em concordância.

Ainda estamos nos encarando o que me deixa, realmente, desconfortável. Mas estou presa no olhar que me lança, de curiosidade e mais algo que não consigo de fato identificar.

— O-ok — arrasto a palavra e pigarreio —, você já pode mesmo dar o fora daqui, bem agora!

— Ah, certo! — ele aponta novamente para Sun Hee — Ele não vai mesmo me morder se eu sair daqui, né?!

— Não, não vai — eu acaricio o topo da cabeça de Sun Hee, o que parece acalmá-la, mas não a faz tirar os olhos do garoto a nossa frente — E é fêmea, Sun Hee.

— Tudo bem, eu não vou mesmo conseguir entender esse nome — ele diz fazendo uma careta, o que me faz sorrir outra vez. — Ele aponta para trás de si — Eu vou indo.

Ele caminha até a porta do meu quarto e eu arregalo os olhos.

— Espera aí — eu exclamo e ele gira nos calcanhares com a cara mais deslavada de homem santo —, você entrou pela porta da frente?

— Você esperava que eu entrasse por onde? — ele pergunta, mostrando seus dentes em um sorriso charmoso, ah, isso não me amoleceu... só um pouco!

— Pela janela, tem uma árvore ali, sabia?! — vou até minha janela e aponto para a árvore escondida pela minha cortina. — Todos os outros vieram por ali!

— Jura que já tiveram outros? — ele me questiona, tirando as mãos do bolso para cruzar os braços na frente do amplo peitoral...nossa, só percebi agora...tipo, nossa!

— Er... — eu pigarreio e volto a encará-lo, melhor sofrer nos olhos do que no resto do corpo, eu acho. — Sim, já tiveram outros! — dou de ombros — Sociedade americana é dividida em panelinhas, não posso fazer nada sobre isso, todos querem estar no topo da cadeia alimentar, grupo do Jake.

— Sei — ele assenti novamente com uma careta.

— Espera — sacudo a cabeça, e levantou meu taco no ar, apontando novamente para ele e voltando ao meu raciocínio anterior. —, você arrombou minha porta?

— Sou bom com grampos — ele confessa e dá mais um sorriso.

— Cai fora! — levanto meu taco no ar e corro atrás dele, que vai para o corredor e desce as escadas em velocidade máxima. Sun Hee passa a minha frente, me ajudando a expulsar o intruso.

Quando alcanço a porta, ele já está do lado de fora e Sun Hee late da entrada em direção a ele.

— Obrigado pelo adeus, tá — ele fala para minha cadela, que ainda rosna para ele, me fazendo rir. Ele me lança um aceno com a mão e se vira para ir embora, mas antes eu grito:

— Só queria saber uma coisa — ele volta a me olhar por cima do ombro —, o que vai dizer para o Jake?

— Tem um lápis sobrando? — ele indaga retornando alguns passos até a entrada.

— Acho que sim — dou de ombros o olhando, curiosa — por quê?

— Eu tenho que devolver o lápis, certo?! — ele levanta uma sobrancelha para mim e eu sorrio.

Corro até a sala, onde na mesa de centro sempre deixamos alguns papéis de anotações e lápis e canetas. Não me preocupo com a porta aberta, Sun Hee é uma cachorra treinada e pronta para atacar, mas, mesmo assim, o garoto não me parece que seja muito virado para a violência ou coisa parecida, afinal eu ainda estou viva e intacta... e ele não precisou sofrer nenhuma marcação...longa história!

Por coincidência ou não, o lápis que acho é de cor rosa, a cor que Jake tanto fala se tratar o lápis de sua irmã que, por acaso, conheço e não faz parte de toda essa história ridícula. Retorno para a porta, onde o garoto de olhos azuis penetrantes se mantém em pé, esperando.

— Aqui — lanço o lápis em sua direção, ele o pega no ar e sorri —, vê se toma cuidado, a cadeia alimentar pode te levar para o lado negro da força.

— Como sabe que não estou do lado negro da força? — o garoto volta a me encarar com um sorriso desenhado nos lábios finos.

— Intuição, talvez — eu o encaro de volta, formando meu próprio sorriso em meus lábios.

— Certo — ele sai de minha varanda, indo para o jardim quando volta a se virar — E meu nome é Max Jerson, moça.

— Montello — eu solto uma risada com seu uso de palavras — Blair Montello.


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Notas finais do capítulo

Nota da autora: HEY OLHA EU AQUI!!!
Mozões, espero que estejam gostando da nova versão de NTEA, eu estou cada vez mais empolgada haha os comentários de vocês são uns amores no meu dia ♥ obrigada a todos!
E aí, já amam o Max? E o pessoal que o conhece, já o ama mais? Haha E a Blair? Ah, eu me diverti voltando a escrever pelo ângulo da Blair, ansiosa para os próximos capítulos ♥
Para quem quiser me seguir e saber sempre quando tiver novos capítulos de meus livros e/ou quiser compartilhar algo e me marcar, meu ig de autora é @deborassilva.autora
um beijo e até...



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