Dezembro de 2014, A’Toca.

A primeira vez que aconteceu, Dominique tinha nove anos.

Era natal, poucos dias antes de seu aniversário, e toda sua família estava reunida na grande (e bagunçada) sala d’A toca. Sua avó, Molly, terminava de costurar ás pressas os últimos suéteres que faltaram, para que toda a família se sentisse acolhida na época natalina, enquanto seu avô, Arthur, tentava aprender a usar algum objeto trouxa que Hermione havia lhe dado de presente de natal.

Enquanto todos se aqueciam do rigoroso inverno inglês, duas crianças corriam silenciosamente pelos arredores da casa, tentando ao máximo não escorregar no gelo, o que era praticamente impossível por conta do terreno irregular no local.

O risco de cair fazia Dominique e James rirem sem parar, como se tudo na vida fosse apenas uma brincadeira.

— Vocês vão se machucar! - gritou da soleira uma menina alta, loira e de olhos castanhos. Suas roupas eram as mais festivas possíveis, com "Ho Ho Ho"s escritos em volta do grande "V" em seu suéter vermelho.

— Deixa a gente em paz Victoire! - Rebateu James Sirius, parando em frente a soleira, apenas para olhar nos olhos da mais velha e sair correndo de novo.

A adolescente revirou os olhos, mostrando a língua para o primo mais novo. Victoire então, andou calmamente em direção á irmã mais nova, que tinha os cabelos loiros cobertos de neve e tentava desenhar um grande coração na neve. Dominique adorava desenhar e pintar, embora nunca fosse ser tão boa quanto a irmã mais velha. Dominique nunca fora a garotinha delicada e feminina que sua mãe esperava ter como filha. Este cargo sempre seria da irmã mais velha, que desde criança pintava as unhas de cor-de-rosa e saia para fazer compras com a mãe.

— Domi, você vai acabar arrumando encrenca com a mamãe. Ela já está brava porque o Louis derrubou toda a comida e começou a chorar - disse, referindo-se ao irmão de cinco anos - se você chegar lá dentro toda molhada ela vai ter um ataque cardíaco.

A mais nova suspirou. Levantou a contra gosto, batendo as pequenas mãos em sua blusa para tirar o resto da neve que estava ali.

— Ah não, Nique! Você não vai cair nessa de novo né? A Vic é uma estraga prazeres, da última vez a tia Fleur nem sabia que a gente tava aqui fora. - Gritou James, mais afastado, vendo as primas seguirem em direção a casa.

— James, vamos comer e depois a gente volta - pediu a mais nova, apontando para a cozinha. James Sirius revirou os olhos, passando rapidamente entre as duas e bufando.

— Beleza, se você não quer brincar comigo, eu brinco sozinho. - James disse, cavando um pouco da neve na lateral da casa e tirando de lá uma pequena tábua de madeira, que os dois usavam para escorregar na neve. - Acho que vai ser até melhor sem você pra me atrasar.

James começou a subir a montanha onde a casa de seus avós se encontrava, com dificuldade por conta da camada grossa de neve que cobria o chão. Victoire revirou os olhos, vendo o primo subir cada vez mais, onde o caminho ficava cada vez mais íngreme.

— James, volta aqui, você vai cair! - Gritou Dominique, começando a ficar preocupada com o primo.

O Potter continuava a subir, sem olhar para trás. Escorregou uma ou duas vezes, mas fingiu que nada havia acontecido. Quando James Potter queria algo, nada, nem mesmo suas primas, iriam o impedir.

Dando um passo em falso, James escorregou. Seu corpo desceu sem controle a ladeira, não parando até atingir uma árvore com seus pés. Victoire gritou, alarmando a família que estava na sala de jantar.

— James, chega, vem para cá agora!

— Você pode mandar na Nique, mas não manda em mim, sua chata! – a criança de nove anos vociferou – eu vou subir sim e você não vai me impedir!

— James, não tem mais graça! – Gritou, desta vez, Dominique.

Ao fim de suas palavras, um grande raio riscou o céu, sendo seguido por um barulho ensurdecedor. Enquanto Dominique olhava para James, uma chuva grossa começou a cair do céu, sendo rebatida por um vento tão forte quanto.

Apesar de assustado, James Sirius continuou parado onde estava. Colocou a tábua em seus pés, pronto para descer escorregando o resto da ladeira. A chuva forte começava a espalhar o gelo, tornando o ambiente ainda mais perigoso.

Na porta da casa, Harry Potter surgiu. Pegou sua varinha, conjurando algo similar a um guarda-chuva trouxa e tentou ir em direção ao filho. Cada passo que dava para perto das crianças, a chuva ficava mais forte.

Os olhares de James e Dominique se encontravam. O menino, cansado, não iria desistir. A menina, por sua vez, sentia uma energia estranha correr por suas veias, e tudo que queria fazer era proteger o primo.

James fez menção de dar impulso para descer, mas não obteve sucesso. Uma forte rajada de energia clara pareceu segurá-lo pelos calcanhares, impedindo-o de cair.

— Mas o que...

Os olhos de Dominique permaneceram cravados nos de James. Sem saber o que estava fazendo, a loira apontou suas mãos para os pés do primo, e depois para o chão.

Os feixes de energia forçaram James em direção ao chão, desviando de todos os obstáculos que apareceram pela frente. O garoto gritou, com o susto, sendo levado pela energia até os pés de seu pai.

Quando finalmente parou, arfante, James olhou para a prima mais nova. A chuva havia cessado, e todos os adultos estavam do lado de fora tentando entender o que aconteceu.

A última coisa que Dominique viu antes de desmaiar foi seu pai correndo em sua direção.