Gotham - 09:15

Suas pálpebras se abriram lentamente e Kate precisou de alguns minutos antes de se acostumar com o ambiente em que estava. A princípio estranhou tudo, porém quando focou-se e prestou atenção ao detalhes percebeu que estava em casa, em seu quarto e deitada em sua cama. Fragmentos desconexos da missão voltavam a sua mente em uma sequência descoordenada, mas algo era repetitivo e isso eram os olhos negros, os olhos negros e inexpressivos dela.

Kat passou a mão pelos cabelos castanhos e que estavam soltos sobre seu travesseiro branco. A figura em pé no centro do cômodo chamou sua atenção, sua mãe olhava para os jardins da mansão presa em seus próprios pensamentos, mas parou quando notou a movimentação de sua única filha. Diana tomou assento no lugar vazio da cama e sorriu para a Wayne mais jovem.

— Está se sentindo melhor, querida? — Ela procurou saber e colocou uma mão sobre sua testa querendo saber se a mesma estava com febre, o que não era o caso. — Você deu um susto em todos nós como não fazia há um bom tempo.

— Eu estou bem, o que aconteceu na missão? Depois que eu apaguei. — Falou as últimas palavras com desprezo, Kate não gostava de falhar daquela forma, odiava o fato de ter deixado sua equipe na mão e se sentia péssima.

— Sempre tão preocupada com missões e sua vida de heroína acima de tudo, espero que saiba que isso veio apenas do seu pai. — A mulher de madeixas negras brincou antes de dar as devidas explicações. — Você inalou algum tipo de gás ainda desconhecido para nós, seu pai rodou alguns testes, mas não foi encontrado nenhum vestígio nas suas amostras, embora os efeitos ainda estivessem presentes em seu corpo.

— Ele tentou conectar com o Veneno do Cobra? A fórmula é bem volúvel e passível de mutação na estrutura química. — Como sempre Moça Maravilha estava em busca de uma resposta lógica e seu cérebro começou a trabalhar involuntariamente analisando os fatos.

— Sim, ele não conseguiu muita coisa já que não encontrou vestígios no seu corpo.

— E a ilha, trouxe alguma novidade?

— Infelizmente não, seus colegas de equipe te tiraram do local bem a tempo, tudo explodiu em segundos.

— Estão todos bem? — Kate se preocupou pensando na possibilidade de algum deles estar ferido.

— Nenhum deles se feriu e eles conseguiram fugir a tempo, te trazendo diretamente para cá. Eles queriam ficar aqui e esperar você acordar, mas achei melhor mandá-los para casa, estavam todos muito cansados.

Ela concordou com um aceno e olhou para as mãos.

— A missão foi um fracasso. — Lamentou-se com um suspiro, sua mãe colocou suas mãos sobre as suas.

— Você sabe que isso não é verdade, descobrimos um novo inimigo, um gás misterioso e uma alta organização por baixo dos panos. — A heroína afagou sua mão e sorriu docemente. — Você fez muito Kate.

A herdeira de Bruce concordou com um aceno positivo, todavia continuava sentindo que ainda havia muito a ser descoberto.

~*~

Kate Wayne não era uma pessoa que desistia facilmente, por isso não passou muito mais tempo na cama indo direto para a batcaverna em busca do banco de dados onde todos os vilões estavam catalogados. A idade da garota sugeria que talvez ela fosse filha de algum deles e por conta disso procurou por garotas que eram legados de super-vilões. Suas pesquisas foram em vão, já que não achou nenhuma que fosse ela ou ao menos parecida.

Ela recostou-se na cadeira com um semblante fechado. Não gostava de não encontrar respostas e muito menos de permanecer na estaca zero, apoiou a cabeça em seu braço e colocou-se a pensar. Uma pessoa que aparentava ter dinheiro por conta de suas roupas, comandava uma instalação muito bem secreta e tinha atiradores de elite as suas ordens. Com certeza a garota que viu na outra noite não era apenas mais uma criminosa menor, mas como conseguiria achá-la?

A heroína virou-se na cadeira quando ouviu passos.

— Você não deveria estar nas Empresas Wayne uma hora dessas, Damian? — Questionou com uma sobrancelha erguida.

— E você virou minha chefe desde quando? — Ela achou uma resposta justa, ele revirou os olhos. — Vim ver como você estava e a Diana me falou que você já estava aqui embaixo. — Ele olhou de relance para a tela do batcomputador. — Procurando algo?

— Alguém, uma garota que aparentemente está por trás de algo maior. Mas eu não consigo achar nada que me leve a ela.

— Tentou com o morcegão?

— Ainda não, mas eu duvido que ele tenha mais chances do que eu.

— E eu acho que você está subestimando o nosso pai. Ele é o melhor investigador que poderá encontrar, caso tenha se esquecido.

— Você está certo. — Ela virou-se novamente ficando de frente para a tela. — Eu só queria resolver isso sozinha, sem correr para o papai toda vez que um problema surge.

— Bom, se está tão sedenta por pistas talvez devesse falar com alguém que possa saber mais.

— Quem?

— Pelo que eu ouvi da Diana, região onde a ilha se encontra é conhecida por ser território do Bane.

— Então eu devia ir na prisão atrás dele?

— Não seja estúpida, ele não vai te ajudar, mas se eu me lembro bem o filho dele está namorando com a Lian Harper.

— Argh! — Kat resmungou com uma careta. — Eu realmente não estava com muita paciência para ir atrás da Lian logo hoje.

— Bom, isso já é com você irmãzinha, eu tenho trabalho para fazer e um jantar com a Bárbara hoje, boa sorte em sua investigação. — Damian disse enquanto seguia para as escadas.

— Mande um beijo para a ela. — A Wayne pediu.

— Vou tentar lembrar. — Ele gritou de volta já sumindo nas escadas acima.

Ela suspirou enquanto levantava-se e já pensava em sua visita a São Francisco.

~*~

Central City - 10:30

Andrew lançou a bola com força e Nereus não teve muita dificuldade em agarrá-la. O príncipe estava ficando cada vez melhor em futebol americano e Andy achava legal que ele estivesse procurando entender mais sobre os “costumes estranhos da superfície”, como ele costumava dizer. O jovem Allen levantou o dedão avisando que o tempo deles no campo havia acabado já que agora era hora do time usá-lo para o treino.

Os dois seguiram para as arquibancadas e sentaram-se ali, Nereus tomou garrafa toda de água e devolveu para ele vazia.

— Desculpe. — O loiro comentou quando viu a expressão no rosto do ruivo.

— Tudo bem, eu mais do que os outros te entendo, eu tenho um metabolismo muito acelerado e tenho que comer muito mais do que todo mundo. Só não sabia que vocês de Atlante precisam de tanta água assim, achava que o seu povo absorvesse a umidade do ar ou coisa parecida. — Explicou-se enquanto olhava para os seus colegas do time entrarem no campo.

— Debaixo do mar o nosso corpo absorve todas as moléculas de H2O necessárias, aqui eu tenho que repor bebendo bastante. A Sam disse que eu deveria tentar me inscrever em um tal de livros dos recordes para ganhar o título da pessoa que mais bebeu água de uma só vez. O que é esse livro? É algo cultural de vocês da superfície?

— Bom… — Andrew coçou a nuca pensando em uma boa resposta. — Digamos que sim, eu posso te explicar melhor mais tarde. Agora preciso ir treinar com os outros.

— Não é meio injusto logo você jogar? — Nereus questionou.

— Talvez um pouco, mas é algo que eu amo fazer desde criança e eu já abri mão de tantas coisas por conta de meus poderes, não quero abandonar o futebol também.

Ele concordou com um aceno.

— Te vejo no treino mais tarde? — Andy indagou.

— Sim, eu meio que moro lá na base então não tem como eu não estar por lá.

— É, talvez seja a hora de você procurar um apartamento cara.

— Talvez sim. Já teve notícias da Kate?

— Eu perguntei para a mãe dela por telefone e ela disse que a Kat está bem melhor, ela é mais forte do que parece. Se eu a conheço bem ela vai estar hoje conosco mandando e desmandando durante o treino.

~*~

Evergreen City - 15:58

Jane batia a caneta roxa na mão em um ritmo compassado, seus olhos se fixaram no ponteiro do relógio ansiosos para que desse o horário e ela pudesse sair da escola. A garota queria saber como Kate estava e não conseguia conter a animação para o treino deles, ela se encontrava muito animada em relação a sua nova vida como heroína, assumindo o manto de Miss Marte. Mesmo os problemas de sua última missão não a deixaram para baixo.

Quando a sirene tocou avisando o fim das aulas daquele dia Jane pegou todo o seu material rapidamente e seguiu para o corredor repleto de estudantes, ela se camuflava pelo meio de tanta gente por ser baixa e não muito chamativa, por isso não foi difícil chegar até seu armário. Guardou os livros e colocou o resto de suas coisas em sua bolsa, aquele dia estava marcado com um ponto de exclamação rosa e ela colocou um x no quadradinho, sorrindo por finalmente ser o dia de encontrar sua equipe mais uma vez.

Talvez por estar tão excitada e avoada que não percebeu o menino em seu caminho, bateu de frente com ele e fez com que as coisas dele caírem pelo chão do corredor.

— Ai meu Deus, me desculpa, eu não te vi. — Ela começou enquanto se abaixava automaticamente para catar tudo, o garoto desconhecido ajudou. — Me perdoe mesmo!

Quando entregou os pertences dele foi que prestou mais atenção em seu rosto e céus, ele era lindo. As covinhas que ele tinha quando sorria eram a coisa mais fofa que ela já tinha visto. Se sua prima Megan estivesse ali provavelmente diria para que ela pedisse o número dele.

— A culpa foi minha também, eu não estava olhando para onde estava indo. — O menino sorriu, mostrando duas belas covinhas na face redonda. Jane nunca havia visto ele pela escola, mas duvidava que o mesmo soubesse da existência dela naquela escola. — Brandon, qual o seu nome?

— Meu nome… Jane! Meu nome é Jane. — A meia marciana se embolou em suas palavras e apertou a mão dele meio que desengonçada.

“Fofa” ele pensou e ela corou instantaneamente, também mordeu o lábio inferior se lembrando que não podia sair por aí lendo a mente dos outros.

— Prazer Jane, você estava indo embora, certo? — Perguntou enquanto indicava para a saída.

— Sim. — A garota respondeu um pouco acanhada.

— Ótimo, vamos, eu te acompanho, o mínimo que posso fazer depois desse encontro desastroso. — Brandon mostrou os dentes em um belo sorriso, ela não pode deixar de ser contagiada pela energia dele e devolveu a simpatia com outro.

Por alguns minutos enquanto eles caminhavam juntos ela achou algo ainda mais excitante do que sua nova vida de heroína. E riu mentalmente pensando em quão boba deveria estar parecendo.

~*~

São Francisco - 17:15

Kate foi recebida na entrada da Torre dos Titãs por Dick. Ela o abraçou com força, matando a saudade já que faziam algumas semanas desde que os dois se viram face a face. A heroína sentia falta dele, bastante. Ela não gostava de ter preferências entre os irmãos, mas talvez ele fosse o seu favorito.

— Faz tempo que não vejo Kat. — Ele comentou enquanto os dois passavam pela pequena sala quase vazia, com exceção de alguns assentos, e que dava acesso ao elevador central.

— Eu te digo o mesmo, faz um bom tempo desde que você passou em Gotham. — Os dois entraram na máquina e Dick apertou o botão para a sala principal.

— Nós veríamos com mais frequência caso não tivesse saído da equipe. — Ele lembrou com um olhar de lado e um sorriso de canto.

— Você sabe que se eu tivesse ficado mais tempo eu e a Lian provavelmente teríamos acabado matando uma a outra. — A Wayne brincou e Dick não pôde deixar de sorrir. A porta dupla se abriu e eles adentraram na sala. — Além do mais, eu tenho minha própria equipe agora, caso tenha se esquecido.

— Lembro sim, de qualquer forma, talvez futuramente você irá me ver bastante...

— Por quê?

— Bom, eu estou pensando em passar o bastão para a Karoline. Ela tem se mostrado uma ótima segunda em comando e ficou mais responsável. — Asa Noturna se explicou com um semblante orgulhoso.

— Que ótima ideia! Eu tenho certeza que ela vai se sair muito bem.

— Eu também não tenho dúvidas quanto a isso, mas não diga nada a ela ainda, quero que seja uma surpresa. — Ele pediu e Kat concordou com um aceno. — E qual o motivo da sua visita? Você não explicou muito bem na ligação.

— Eu estou no meio de uma investigação e estava precisando de ajuda.

— Da minha? Em que posso ajudar?

— Na verdade eu precisava falar com outra pessoa.

A porta que dava acesso a cozinha se abriu e dali Lian Harper surgiu com um cesto de pipoca na mão e um copo de coca-cola na outra.

— Ai que ótimo, logo no dia do meu filme você me aparece.

Kate suspirou.

— Preciso falar com ela.