Your Lie in April - Too Far escrita por Mirytie


Capítulo 2
Capítulo 2 - "Kaori"


Notas iniciais do capítulo

Enjoy ^-^



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Kaori tinha morrido no Japão. Não era mentira. Os médicos já estavam a olhar para o relógio de lado quando conseguiram revivê-la. Um enfermeiro já tinha saído da sala de operações para preparar os pais para eventual perda.
Depois de conseguirem tirá-la da sala de operações a respirar, o médico responsável foi falar com os pais.
— Conheço um hospital que conseguirá tratá-la de uma maneira mais segura. – disse o médico – Ela não vai melhorar, mas vai-lhe dar mais alguns anos de vida. E recomendo que tirem da cabeça dela esta vontade súbdita de fazer outra operação. Ou, da próxima vez que entrar numa sala de operações não vai ter tanta sorte.
Quando acordou, Kaori já estava na China, num dos quartos do hospital para onde o médico do Japão os tinha direcionado.
Depois de verem a filha terrivelmente deprimida, pensaram que talvez fosse melhor voltar para casa. Isso foi antes de o médico na altura responsável por Kaori ter garantido que conseguia que ela conseguia viver uma vida relativamente normal se ficasse ali. Para finalizar, era mais do que provável que ela conseguisse passar dos 40 se continuasse com o tratamento.
Os pais não precisavam de ouvir mais nada para decidirem ficar ali mas, para adicionar àquelas promessas todas, o médico disse que ela poder-se-ia mover como quisesse se fizesse fisioterapia regularmente.
Enquanto o médico explicava à mulher que, mesmo com a terapia, Kaori não poderia voltar à vida errática que tinha, o pai olhou para a filha, que se encontrava sentada na cama. Estava pálida e calada. Os olhos não brilhavam como costumavam brilhar. Mesmo depois de ter ido para o hospital, no Japão, apesar de ser pouco, Kaori sempre tivera brilho nos olhos.
As noticias de que ela podia continuar a tocar violino não a animaram, uma vez que vieram seguidas de “mas não pode estar em pé durante mais de uma hora e nem pensem em concursos ou concertos.”
Depois de ter alta, Kaori fechou-se no seu quarto, rodeada por fotografias do seu tempo no Japão a maioria das quais continha Arima. Não chorou. Não viu porque haveria de fazê-lo. Afinal, aquela era a sua vida e, logo que os pais estivessem contentes, ela estava contente.
Isso não queria dizer que aceitasse tudo o que eles queriam por isso, quando propuseram um lugar além do hospital para começar a fisioterapia, Kaori negara-se a fazê-lo. Conseguia mover-se o suficiente para não ser um inconveniente para ninguém mas, se não podia tocar como queria, se não podia viver a vida como queria, não via razão para se esforçar.
Via o pai preocupado com a saúde mental dela mas, no final de contas, nada mais importava do que a saúde física. Era por isso que continuavam na China mesmo depois do médico ter assegurado que só tinham de voltar ao hospital de meio em meio ano para ela ser tratada. E, depois, se tudo corresse bem, de ano em ano.
Mas, “E se alguma coisa correr mal?” era o que a mãe usava como desculpa e acabavam por ficar ali durante mais um dia, mais uma semana, mais um mês. Já ia fazer um ano.
O pai, que já não via vida nos olhos da filha, tinha de olhar para as fotografias para se lembrar do que ela tinha sido…do que ela ainda podia ser se ele interviesse agora.
Por isso, enquanto a esposa guardava a fatia do bolo em que Kaori não tinha tocado, ele aproximou-se dela e acocorou-se para conseguir olhar a filha nos olhos. A pele estava tão pálida, lembrando-o que ela já não saía de casa há mais de dois meses. E quando saía, era sempre por menos de uma hora, só para fazer os tratamentos ou passear com a mãe.
— Kaori. – começou ele, vendo a filha a virar lentamente a cabeça. Por alguma razão, ela fazia sempre isso, quando diziam o nome dela – Precisas de sair deste quarto.
Silêncio. Ela nem se mexeu. Nem parecia estar a respirar. Tal como uma boneca de porcelana partida.
— Kaori! – exclamou ele, fazendo-a estremecer – Olha para mim!
Lentamente, ela voltou a cabeça para o pai e abriu os lábios secos. – Não quero sair.
Por não a usar frequentemente, a voz de Kaori começava a ficar danificada. O pai não conseguiu deixar de sentir uma ponta de culpa no peito. Devia ter parado a mulher, sempre que ela decidia ficar na China “só mais algum tempo”.
— Tens de fazer fisioterapia. – disse o pai, mas ela limitou-se a abanar a cabeça – Se concordares e te esforçares eu levo-te ao Japão.
Kaori ia abanar a cabeça outra vez mas, quando o pai acabou, ela limitou-se a olhar para ele, chocada. Se pudesse ficar mais pálida, teria ficado, mas limitou-se a esbugalhar os olhos e a abrir a boca, sem saber o que dizer.
Um sorriso apareceu no rosto do pai, ao ver a filha reagir daquela maneira. – Tu ouviste-me. Levo-te ao Japão durante quantos meses quiseres. Podemos até inscrever-te na escola lá, quando começar o próximo ano começar. – continuou o pai, pousando uma mão cuidadosamente nas pernas de Kaori – Mas, para isso, tens de andar, não achas?
O lábio inferior de Kaori começou a tremer e, quando anuiu com a cabeça, os olhos já estavam cheios de lágrimas. O pai avançou e abraçou-a, deixando-a chorar no seu ombro à vontada.
À porta, escondida, a mãe, que tinha ouvido tudo, limpava as lágrimas, enquanto estas escorriam pela cara abaixo.

Kaori começou a fazer fisioterapia todas as semanas. Só não ia todos os dias porque os pais não permitiam. Os fisioterapeutas avisaram que os primeiros dias podiam ser difíceis. O corpo dela estaria dorido por se estar a mexer de uma maneira que já não se mexia à muito tempo. Ela poderia querer desistir, mas, tinha dito o terapeuta, não deixem que ela faça isso.
Os pais não sabiam do que é que ele estava a falar.
Provavelmente estava certo acerca das dores. A filha nunca lhes dir-lhe-ia mesmo que estivesse a sofrer. Mas não parecia querer desistir. Aliás, já não viam a filha tão feliz há muito tempo.
Quando começou a andar vagarosamente em casa, o pai começou a planear a visita ao Japão.
— De caminho já vou ter de estar a avisar-te para não correres dentro de casa. – disse o pai, quando viu a filha a caminhar sem qualquer tipo de ajuda.
Kaori sorriu e agarrou-se à parede. Uma coisa que acontecia várias vezes porque ela recusava-se a sentar-se na maldita cadeira-de-rodas outra vez. Mas ficava cansada, por isso tinha de se agarrar a alguma coisa e, ultimamente tão não gostava de usar a muleta.
— Está na hora de comer. – a mãe apareceu com a cadeira-de-rodas, vendo a filha a fazer uma cara feia – Vá lá, não queres piorar, pois não?
O pai viu a sua relutante filha a sentar-se na cadeira-de-rodas com a ajuda da mãe. A sua esposa era a única que conseguia convencer Kaori a sentar-se ali sem ter de dizer pouco mais de três palavras.
Nesse dia, à mesa, o pai revelou que estava a fazer os últimos arranjos para voltarem para o Japão.
— Vamos manter este apartamento. – revelou o pai, enquanto Kaori sorria de orelha a orelha – Caso algo corra mal, quero que tenhamos um sitio onde possamos ficar imediatamente.
A mãe anuiu em concordância.
— Já avisei o médico da Kaori que íamos voltar para o Japão durante algum tempo e já marcamos as datas para os próximos tratamentos. – continuou o pai – Também já contactei um centro de fisioterapia no Japão e marquei um par de consultas para a Kaori. Fica um bocado longe, mas há transportes rápidos de nossa casa até lá.
— Por falar em “nossa casa”… - mencionou a mãe, mas não acabou a frase.
— A nossa casa ainda não tinha sido vendida, por isso decidi ficar com ela. – disse o pai – Não há razão para ficarmos preocupados com esse aspeto. Mas, Kaori, tu vais ter de fazer exames…
— Mas… - começou Kaori – Não é suposto eu estar “morta”?
— Isso…foi o que demorou mais tempo a tratar. – respondeu o pai. E, no processo, quase que tinha sido preso por ter mentido ao estado. Claro que nunca diria isso a Kaori – Está tudo tratado. Eu expliquei porque é que fizemos aquilo e, eventualmente, eles perceberam. No entanto, teremos de pagar todas as dividas que contraímos…
— Eu sei. – interrompeu a mãe, que não queria que o marido dissesse que as dividas se referiam ao tratamento de Kaori – Sobre os exames da Kaori…?
— São exames da escola. – explicou o pai – Está decidido que ela vai voltar para a sua antiga escola, mas continuam a ser preciso exames por isso… - ele virou-se para Kaori – Espero que estudes.
Kaori continuava a sorrir. Nunca tinha sido um génio mas sempre conseguira passar sem problemas. O que estava a deixá-la tão ansiosa era o facto de voltar a ver Arima. De puder voltar a vê-lo tocar em palco. De poder…
Quando pensou em como poderia voltar a tocar com ele, o sorriso desapareceu. Não podia. Uma das promessas que tinha feito com o pai era que não puxaria demais pelo seu corpo.
O pai olhou para ela de lado e percebeu imediatamente no que é que a filha estava a pensar. Não podia fazer nada quanto a isso. Era verdade que tinha dito à filha para não puxar demasiado pelo corpo, mas nunca lhe tinha dito para não tocar em palco.
Se sentisse que conseguia, não a impediria, mas isso seria com Kaori. Ele nunca saberia como é que ela se sentia ou com o que é que conseguia aguentar.
— Está tudo bem? – perguntou a mãe, ao ver a filha a perder o sorriso depois do marido ter dado tais noticias – Estás a sentir-te mal, Kaori? Precisas de ir para o hospital?
O pai viu a filha a virar a cabeça quando ouviu a mãe a dizer o seu nome. Era um hábito que ainda não tinha perdido. O psicólogo tinha explicado que ela não se via como a rapariga que era antes e que, ao chamar o nome dela, lembra-lhe do passado. Kaori aprendera a odiar o seu nome e, apesar de já estar a melhorar nesse aspeto, sempre que alguma coisa do passado vinha assombrar o seu futuro, ela voltava a lembrar-se do que tinha acontecido.
— Estou bem. – murmurou Kaori – Só estou cansada.
A mãe concordou que ela tinha andado o dia todo de um lado para o outro por isso, mal ela acabou de jantar, levou-a para a cama.
Outro indicador de que ela estava deprimida era o facto de ela deixar a mãe leá-la de cadeira-de-rodas sem protestar, quando, normalmente, faria de tudo para convencer a mãe de que conseguia ir sozinha e a pé para o quarto.
O pai suspirou e pensou que ainda faltava muito para a filha voltar ao que era antes e que, provavelmente, uma Kaori deprimida chocaria as pessoas que ela tinha conhecido, no Japão. Mas era melhor assim. A filha teria de enfrentar as memórias de frente e superá-las.
Nesse aspeto, não podia ajudá-la. Não conseguiria mesmo se quisesse.
Esperava que o Arima Kousei conseguisse.


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Notas finais do capítulo

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