Oblação escrita por Sarah


Capítulo 1
Oblação




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Oblação

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Albus acordou na manhã de natal e encontrou o quarto brilhando com centenas de luzinhas coloridas, um presente embrulhado ao pé do seu colchão e Gellert Grindelwald sorrindo para ele. Havia neve caindo lá fora e as janelas estavam opacas.

Era a primeira vez que ele passava o natal longe dos irmão. Sua mãe sempre dissera que essa era uma data para estar com a família. Havia um persistente sentimento de culpa em seu peito por ter deixado Aberforth e Ariana sozinhos, porém o convite para passar o natal com Gellert tinha sido uma tentação maior do que ele poderia recusar.

Os dois tinham ficado acordados até a madrugada, aconchegados no calor do quarto de Grindelwald, rindo e conversando, falando sobre um futuro em que eles pareciam estar sempre juntos. Albus levara uma garrafa de vinho branco, que Gellert abrira com um aceno gracioso da varinha. Eles tomaram a bebida compartilhando uma única taça, passando um copo de um para o outro.

Albus se sentia flutuando no final da noite, mas isso provavelmente era mais por causa de Gellert do que por causa do álcool. Ele costumava gesticular muito quando falava, como se desenhasse suas ideias no ar, e, às vezes, as mãos dele esbarravam em Albus. O toque causava arrepios e o fazia se sentir quente. Ainda não sabia muito bem como lidar com aquelas sensações, mas sabia que desejava mais, independente do que mais significasse.

Havia sido decepcionante quando Gellert conjurara um colchão para ele dormir. Albus tinha passado um bom tempo agoniado com esse fato, se sentindo pequeno e desconfortável sobre o colchão ralo. Podia ouvir a respiração de Gellert, mas tudo o que conseguia ver do outro era sua mão esticada para fora da cama. Dumbledore desejou entrelaçar seus dedos nos dele, porém adormeceu antes de reunir coragem para fazer isso.

Agora, depois do sono e diante das luzinhas brilhando no quarto, toda sua agonia parecia estúpida.

Gellert estava sentado na escrivaninha. O aposento era pequeno e Albus poderia tocar os tornozelos dele se quisesse. Em vez disso, foi Gellert quem se curvou e apertou seu ombro como um sinal de bom dia. O gesto fez Albus sorrir e se inclinar para o outro, porém ele se afastou quase imediatamente.

Gellert pegou um objeto na mesa e o girou entre os dedos. Albus viu que ele achara o seu presente e já tinha aberto o embrulho. Seu coração apertou com expectativa.

Era uma piteira de prata maciça, encantada para nunca precisar de limpeza e adornada com arabescos delicados. Também havia um único rubi incrustado na ponta, pequeno, porque Albus não pudera pagar por mais do isso. Ele achava que a outra piteira que estava na loja, enfeitada com uma safira azul, combinaria mais com Gellert, mas tinha escolhido o rubi mesmo assim, na esperança egoísta de que o vermelho lembrasse Gellert do seu cabelo.

Pensar no motivo escuso por trás do presente o fez corar. Gellert passou os dedos pelo rubi. Sorrindo, ele levou a piteira aos lábios e chupou o ar através dela, embora não houvesse nenhum cigarro preso na ponta. Em seguida, bateu cinzas imaginárias no cinzeiro em cima da escrivaninha. Albus riu.

— É uma peça muito bonita — ele disse, por fim. —  O encantamento nela também é muito útil. Obrigado. — Havia carinho na sua voz e na forma como ele o olhou. Albus achava que poderia derreter quando Gellert o encarava daquela forma.

— Ainda bem que você gostou. Aberforth disse que era um presente muito feminino.

Gellert apenas revirou os olhos daquela forma que dizia que Aberforth era um idiota.

— Eu gostei do meu presente. Espero que você também goste do seu — Gellert falou, apontando para o embrulho aos seus pés.

Albus desvencilhou-se dos cobertores que estivera usando e alcançou o pacote. Ele era muito leve. Albus o sacudiu na tentativa de adivinhar o conteúdo, mas não houve nenhum som. Quando rasgou o papel, encontrou um par de meias de seda, do tipo para se usar com vestes de gala.

Elas eram suaves e obviamente de boa qualidade, mas ainda eram apenas meias. Albus levou o tecido fino ao rosto, cheirando discretamente na tentativa de identificar um encantamento que poderia deixá-las mais interessantes, porém não achou nada. Ele olhou para Gellert. O outro estava com uma expressão satisfeita e meio presunçosa.

Há dois meses Gellert vinha falando sobre o presente de natal que tinha encontrado para ele... Certamente Albus entendera alguma coisa errado. Passou as meias de uma mão para a outra, se sentindo estúpido pelo esforço que tinha feito para encontrar um presente para Gellert. Economizara durante séculos para comprar a piteira de prata.

Céus, tinha dado uma jóia para Gellert e recebido meias em troca. A vergonha ardeu em suas veias. Havia feito papel de bobo.

Esperava que Gellert também estivesse ao menos um pouco sem graça pela diferença entre os presentes, mas o outro estava sorrindo como se tivesse lhe dado a melhor coisa do mundo.

— O que você achou? — ele perguntou sem perder o ar pretensioso.

— Todo mundo precisa de meias — Albus respondeu com o tom mais suave que conseguiu.

— Eu acho que você devia experimentar.

Albus piscou duas vezes.

— O quê?

Gellert riu da sua confusão.

— Você me entendeu, vamos lá! — ele falou com animação.

Albus corou mais do que antes. Gellert levantou num ímpeto e lhe estendeu a mão. Por reflexo, Albus segurou as mãos do outro e deixou que ele o puxasse e o colocasse de pé. Em seguida, Gellert arrastou seu colchão e seus cobertores para longe e o guiou para que sentasse na cama dele.

Albus estava surpreso demais para contestar quando o outro se ajoelhou entre suas pernas.

— Gellert… — Albus mais suspirou o nome dele do que falou, mas ele o calou com um aceno.

— Eu quero ver, deixe eu ajudar.

Oh, ele nunca soubera negar nada a Gellert e não achava que aquele era um momento para tentar.

O outro tateou até encontrar o par de meias, desenrolando uma delas com um movimento elegante. Albus prendeu a respiração quando ele tocou seu pé direito e afastou suas vestes de dormir. Gellert ergueu sua perna, segurando-a pelo tornozelo, e deslizou a meia por ela.

O tecido era um tom mais rosado do que a sua pele, ligeiramente opaco. Seus pelos ruivos quase desapareceram sob ele. A meia ia até um pouco acima do joelho. Gellert acariciou a parte interna e macia da sua coxa enquanto ajustava o elástico ali. O gesto causou um arrepio que correu por sua espinha e o fez suspirar de uma maneira pouco digna. Gellert sorriu, mas não levantou o olhar.

Em vez disso, ele pegou a outra meia. Albus ofereceu o pé esquerdo.

— Você tem pernas bonitas — Gellert falou, inclinado sobre sua perna, tão perto que Albus pôde sentir o hálito dele em seu joelho.

Sua boca estava muito seca. Ninguém jamais havia dito algo assim para ele, não era um elogio que um amigo ou um familiar faria.

O cabelo de Gellert estava um pouco bagunçado por causa da noite de sono. Albus sentiu vontade de afagar os fios, porém não se atreveu. Era como se o outro pudesse desaparecer se ele fizesse algum movimento. As luzinhas de natal reluziam na pele dele. Dava para ver a sombra de seus cílios na bochecha. Gellert parecia etéreo ali, ajoelhado aos seus pés, quase como algo sagrado.

Quando terminou de vesti-lo com as meias, Gellert recostou a cabeça na sua coxa. Albus estava duro sob as roupas de dormir. Por um segundo morreu de medo de que Gellert percebesse, mas depois se deu conta de que o outro certamente já sabia disso.

Ele inclinou a cabeça e beijou a dobra do seu joelho.

—  E então, você gostou das meias? — falou em um tom que misturava carinho e arrogância.

Albus sorriu. Finalmente ele teve coragem de tocá-lo, acariciando suavemente sua bochecha.

— É o melhor presente que você poderia ter me dado — disse com sinceridade. Agora que tinha compreendido onde a mágica daquilo estava, Albus tinha a sensação de que tomara um gole de felix felicis misturado com uísque de fogo e se sentia meio zonzo de felicidade

Gellert acenou em concordância, obviamente orgulhoso de si mesmo.

— Acho que agora devemos tirá-las — ele sugeriu com um sorriso repleto de malícia.

Em vez de responder, Albus se inclinou e o beijou, mas as meias acabaram sendo tiradas de qualquer forma.

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Nunca mais alguém lhe deu meias de presente de natal depois de Gellert.


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Notas finais do capítulo

Eu queria ter colocado um lemon, mas enfim... ^^' Podem supor que rolou.

Obrigada por ler e comentar! ♥



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