Capital Letter Love escrita por xthayx


Capítulo 3
Capítulo III




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Por vezes o coração de Harry se desacelerava e com ele tudo ao seu redor. Era um alerta de que algo importante estava por vir. Acontecia toda vez que subia ao palco e aconteceu quando Camila entrou na sala de aula. A menina dos cabelos castanhos e o olhar tímido se sentou do lado do amigo do filho, a sua presença distraindo todos os pensamentos de Harry.

   No final da reunião ela e Luke vieram ao seu encontro e ao de Jack. Ela se apresentou, ele fez o mesmo e então eles tentaram manter uma breve conversa sobre a peça de teatro. Após 7 segundos de um silêncio nada confortável, em que Camila olhava para os olhos de Harry e Harry para os lábios de Camila, os dois foram salvos pelos filhos que insistiam que eles fossem levados para brincar no parquinho que havia de frente a escola.

   Jack e Luke dispararam a correr na frente, seguidos do caminhar lento de seus pais. Conforme vai se ficando mais velho, perde-se a pressa das coisas. Alguns diriam que perde-se também o entusiasmo, mas isso não é verdade. O que muda é o jeito de demonstrá-lo.

—Eu fico muito feliz que Luke tenha arrumado um amigo.- disse Camila enquanto caminhavam pelo corredor- Ele é uma criança quieta, não conversa muito e passa boa parte do tempo em seu quarto. Ele parece não ligar, parece até gostar, mas eu me preocupo. Sabe como são as mães, não é?- Camila soltou uma breve risada que contagiou Harry.

—Sei bem. A minha me liga até hoje para saber se eu almocei.- mais uma risada.

    O parquinho estava vazio, todas as crianças já haviam ido embora. Luke e Jack já estavam nos balanços, competindo para ver quem conseguia chegar mais alto. Harry e Camila se sentaram no primeiro banco que viram, em frente ao carrossel. Camila não conseguiu deixar de reparar que era alí que as mães loiras e esbeltas costumavam ficar.  Em um dia normal ela teria escolhido um outro banco, do outro lado do parquinho, em frente ao escorregador. Era lá que as babás e as mães solteiras ficavam  conversando (normalmente em espanhol) enquanto as suas crianças brincavam. Camila não lembrava se fora ela que decidira se sentar daquele lado, ou se isso lhe fora imposto por alguma ordem silenciosa e prepotente. Ela nunca havia parado para pensar no assunto, só sabia que era assim. Talvez fosse um bem, afinal o que ela teria em comum com as “Mamães do Pilates”? Como seriam as conversas? “Hoje eu passei a manhã na academia, almocei em um novo restaurante vegano do qual você nunca ouviu falar e gastei a tarde em um shopping onde você não consegue comprar nem uma casquinha de sorvete. E você?” “Eu passei a manhã ensinando Shakespeare para adolescentes desinteressados, almocei um macarrão instantâneo de frango e fiquei a tarde toda de frente para a tela do computado, escrevendo e vendo vídeos de gatinhos fofinhos.”

—Eu não acho que você tenha com o que se preocupar. Luke parece ser uma criança realmente extraordinária. Jack fala dele o tempo todo. “Luke e eu construímos uma máquina do tempo”, “Luke e eu encontramos um tesouro enterrado  na caixa de areia”, “Luke e eu escrevemos uma canção”. Nunca ouvi Jack falar tanto de um colega.

   Camila sorriu e se sentiu feliz por saber que Luke tinha arrumado um amigo. Ela e Harry ficaram calados por alguns instantes, olhando para os filhos correrem um atrás do outro, do outro lado do parque.

—Sabe- a voz rouca de Harry chamou a atenção de Camila de volta para si- eu tinha medo de que Jack não se adaptasse à nova escola, ao novo país, ou até mesmo ao novo clima. Eu amo a Inglaterra, mas ele nasceu na Califórnia e apesar de já termos passado alguns natais em Cheshire, na casa da minha mãe, eu tinha medo de que mudar para a Inglaterra pudesse ser difícil para ele. Mas olha ele aí- Harry apontou cheio de orgulho para o filho- parece que nunca saiu do Reino Unido, de Londres ou até mesmo dessa escola.- Harry e Camila riram e o homem acrescentou- Parece que ele conhece Luke há uma vida.

   As duas crianças se olhavam e tratavam com tamanha cumplicidade que pareciam ser amigos desde sempre. Quem olhasse de fora não diria que haviam se conhecido poucas semanas antes. Coisa de criança, não?

  -O que fez você querer voltar para casa, para a Inglaterra?- Assim que vira Harry pela primeira vez, menos de uma hora antes, Camila ficara encucada. Ele era o único pai presente na reunião e o único que ela jamais havia visto se dispor a ajudar em alguma atividade da escola. Ela queria saber mais sobre ele. Queria descobrir onde estava o engano, a pegadinha. Tinha certeza de que uma hora ou outra ele deixaria escapar que não era, afinal de contas, um pai tão bom assim. Camila sabia, por experiência própria, que pais bons só existiam nos comerciais de margarina.

—Eu sempre tive um certo receio de criar Jack em Los Angeles. É uma cidade maravilhosa, mas pode ser informação demais para uma criança. Eu não quero que ele cresça em uma bolha, pensando que o mundo é feito só de surfe, festas, mulheres e vida boa. Eu tento mantê-lo com os pés mais colados no chão que possível, e eu acho que morar na Inglaterra vai deixar a tarefa um pouco mais fácil.

   Harry ia falar mais alguma coisa, quando foi interrompido pelo barulho de carros que se aproximavam. Três SUVs pretos pararam em frente a escola e pelo menos 7 homens, armados uns com câmeras fotográficas e outros com celulares, saíram em direção do parquinho.

—Eu não acredito que eles já descobriram a escola de Jack.- a tristeza repentina do olhar de Harry partiu o coração de Camila. Ela não entendia o que estava acontecendo, mas a empatia superava a curiosidade naquele momento.

   Harry se levantou e foi caminhando na direção da gangorra, onde os meninos brincavam.

—Vamos, Jack. Está na hora de irmos embora.

—Mas pai, nós acabamos de chegar…- o menino escutou o barulho de flashes, viu um homem com uma câmera se aproximar e então percebeu o que estava acontecendo. Os homens das câmeras o haviam achado, de novo. Ele abaixou a cabeça e deus os braços para o pai. Harry o pegou no colo e o menino afundou o rosto no peito do pai.

—Desculpa, Camila. Foi um prazer te conhecer, mas é melhor Jack e eu irmos embora.

   A mulher observava, sem reação, a figura de Harry ficando rapidamente menor, cada vez mais distante. Os flashes não paravam, alguns deles apontavam em sua direção. Os homens falavam coisas, faziam perguntas, mas nada para ela fazia sentido. Ela parecia em outro mundo, mas logo o seu instinto materno se fez presente. Sentiu uma dose de adrenalina ser injetada no corpo, colocou a mochila do filho em um braço, pegou o menino no colo e se afastou a passos largos em direção ao carro. O veículo parecia estar mais distante de onde Camila o havia deixado e os seus pés pareciam se grudar ao cimento. Os homens não paravam de tirar fotos e fazer perguntas. Algumas delas a mulher pode distinguir por trás do barulho dos flashes e do zumbido em sua cabeça. “Como você conheceu Harry Styles?”, “Há quanto tempo vocês estão juntos?”, “Esse é o seu filho?”.

   Luke apertava o braço da mãe o mais forte que podia. Ele estava com olhos fechados. Achava que se não visse os homens das câmeras, ficaria com menos medo.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho a opinião de que ninguém deveria ter que passar por situações como essa e ter a sua privacidade exposta para o mundo inteiro. Me deixa muito triste ver vídeos e fotos de famosos sendo atacados por câmeras. O que você acha? Pessoas públicas são obrigadas a serem públicas o tempo inteiro ou elas merecem ter um espacinho só delas?
Espero que estejam gostando da história.



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