Capital Letter Love escrita por xthayx


Capítulo 1
Capítulo I




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"Eu me admiro dos autores que conseguem não falar do amor. O amor sentimento, decisão, instinto ou tomada de partido. O amor que é a soma de tantas coisas diferentes que no fundo não é nada, ou ao menos não é nada que esteja ao alcance do entendimento do homem. O amor que tentamos transformar em música e poesia. O amor..."

Camila subiu a página e se viu encarada pelas letras em Arial 12.

"DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

'QUEM INVENTOU O AMOR?' O AMOR ROMÂNTICO NA LITERATURA ITALIANA" .

   A frustração se misturou ao cansaço causado pelas 6 horas de trabalho ininterrupto e pesou os seus ombros para baixo. As palavras que havia escrito ecoavam em sua cabeça, soando cada vez mais fora de lugar, óbvias ou até mesmo pretensiosas. Como pesquisadora, ela havia conseguido domar o tema com agilidade. Talvez fosse exatamente pelo excesso de conhecimento científico sobre o assunto que Camila não conseguia deixar de racionalizar o amor, enxergar além da atração ditada pela necessidade do homem de se relacionar com outros indivíduos. Existem na Terra, porém, coisas que são inteligíveis somente através do sentimento, do irracional, do acelerar da batida do coração, do suor nas palmas das mãos, do contrair dos nervos e o esticar dos músculos. O amor é uma delas. Camila sabia disso, e por isso se sentia uma farsa. Não lhe faltava propriedade intelectual para falar do assunto, e ainda assim o sentimento de ignorância estava alí. Ela não sabia o que era amor, ou ao menos não por completo.

   O som insistente do despertador do celular a resgatou abruptamente de seus pensamentos. 16:45, hora de buscar Luke na escola. Era seu pai quem costumava pegá-lo às quartas-feiras, mas o trabalho, mas a nova família, mas a falta de tempo, mas o trânsito, mas o desinteresse. Há três meses ele não via o filho.

   A jovem mãe desligou, com pesar, o motor e desceu do carro. O vento frio remanescente do inverno fez com que ela subisse o zíper do casaco até o queixo. Atravessou o pátio cheio de árvores ainda nuas e empurrou com delicadeza a porta principal da escola primária. O calor da califação fez com que ela parasse, fechasse os olhos e ficasse durante alguns segundos apreciando a temperatura acolhedora. Se forçasse bastante a imaginação, ela poderia levá-la de volta para Miami, Cidade do México, ou até mesmo para Havana. Uma voz aguda e estridente então a despertou de seu instante de êxtase.

—Srta. Cabello!!!!- uma senhora gorda e ruiva atravessava o corredor em sua direção. Margareth...? Martha...? Maurine...?- Melissa!- disse ela, respondendo à pergunta silenciosa de Camila.- Melissa Arlington, vice-presidente do conselho de pais. Que bom revê-la em mais um de nossos encontros!

   Camila arregalou os olhos e tentou puxar da memória a agenda de compromissos do filho, mas nada lhe vinha em mente. Além disso, Luke costumava ter as quartas livres desde que Kevin, o seu psicólogo, sugeriu que "crianças de 7 anos não deveriam ter a agenda mais cheia que a de um prefeito em ano de eleição". Então eles decidiram cortar as aulas de karatê. Luke nunca gostara muito de esportes, mas James, seu pai, sempre fez questão de que ele participasse de pelo menos dois times da escola. Segundo ele "os esportes ensinam a dar duro, ter disciplina e a trabalhar em equipe". Segundo ele nos dias mais sinceros, "Isso sim vai ajudar Luke a se tornar um homem de verdade, não essas coisas de veado que você fica incentivando" . Um homem de verdade. Essa expressão se impregnara na mente de Camila. Não seriam todos os homens de verdade? Se existem e se são homens, então são verdadeiros. Não havia o que questionar! E ainda assim, era dessa expressão que todo mundo ao seu redor se usava para questionar o modo em que criava o filho. "Não deixe-o brincar com bonecas. Não deixe-o assistir às Meninas Superpoderosas. Não permita que chore por besteiras". Mas se de todas as imposições feitas por pessoas que fingiam se preocupar com ela e Luke, Camila tivesse que escolher a que mais a irritava, sem dúvida seria a eterna "Arrume logo um marido, meninos precisam de uma figura masculina em suas vidas".

   Camila acompanhava a Srta. Arlington em silêncio, o burburinho contínuo que saía da boca da mulher servia como pano de fundo para os seus pensamentos. Ela se perguntava qual seria o motivo do tal "encontro", enquanto entrava na sala de aula do filho. As crianças estavam sentadas em suas carteiras, algumas com o pai ou a mãe sentados em uma cadeira do lado. Luke sorriu assim que os olhos dele e da mãe se encontraram, causando nela uma reação parecida. Ela lhe deu um beijo na bochecha enquanto se sentava na cadeira à sua direita.

—Oi, meu amor. Como foi o dia?- a mãe se esforçava para que todas as conversas suas com o filho fossem tidas em espanhol, a sua primeira língua.

—Foi bom...- ele começou a responder em inglês, encontrando um olhar desaprovador da mãe. Então mudou para o espanhol- Foi bom. Jack e eu escrevemos uma música. Quando chegar em casa, eu canto para você!- o entusiasmo de Luke fazia os olhos de Camila brilharem. Ele era uma criança espetacular.

—Quem é Jack?

—É o meu melhor amigo. Ele tá lá atrás com o pai dele- o menino se virou, junto com a mãe, na direção de um garoto dos cabelos castanhos e o homem ao seu lado. Os dois estavam concentrados em um livro aberto em cima da mesa. Como se sentissem o peso dos olhares, Jack e, logo em seguida, seu pai levantaram a cabeça e encararam confusos Camila e Luke. A mãe e o menino se viraram de imediato, caindo segundos depois em uma silenciosa gargalhada. 

   Melissa chamou para si a atenção da sala, que aos poucos ficou inteiramente em silêncio. -Fico feliz que todos os pais possam ter comparecido ao nosso encontro sobre a peça de teatro.

"Ah, a peça de teatro!"- lembrou Camila. Ela poderia jurar que a reunião havia sido marcada para a semana seguinte. Se lembrava até mesmo de ter acionado um despertador no celular para a ocasião. Tudo em sua vida, desde prazos do mestrado e compromissos do trabalho até as atividades envolvendo o filho, era informado por despertadores, post-it's e lembretes em seu e-mail.

—Agradeço aos pais que de alguma forma se dispuseram em ajudar, e convido aos outros- nesse momento Camila pode jurar que Melissa estivesse falando exclusivo e diretamente para ela- para que possam tomar parte nessa atividade maravilhosa, que com toda a certeza servirá para unir ainda mais os laços entre pais e filhos.

   Camila teve de se esforçar para não revirar os olhos. As vezes se esquecia de que era uma mulher adulta, e de toda a etiqueta social que derivava disso.

—O senhor Styles está trabalhando em conjunto com os nossos pequenos Jack e Luke na trilha sonora da peça. Talvez, Srta. Cabello, você pudesse ajudá-los.

   Camila podia até ser uma adulta que as vezes se esquecia de agir como tal, mas com certeza não era a única. Não via o porquê de Melissa tê-la repreendido- sim, aquilo para ela era um repreensão, disfarçada com falsa cordialidade, mas ainda uma repreensão- na frente de todos, além de por pura mesquinhez.

—Claro- ela respondeu com voz fraca, seguida de um meio sorriso. 


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Notas finais do capítulo

Vocês conseguem imaginar um mini Harry? Não seria a coisa mais fofa desse mundo? Meu coração não está preparado pra isso não hahahah



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