O Internato escrita por Rain


Capítulo 7
Sete




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A ansiedade tomava conta de mim. Caminhando sozinho rumo ao ginásio onde eram feitos os treinos percebo o quanto ansiava por nadar de novo. Eu estava há quase três semanas sem praticar, com certeza essa pequena pausa afetará meu desempenho nos treinos, mas nada que alguns dias voltando ao ritmo não resolva.

Entrando no ginásio me deparo com alguns alunos com calções de natação. Dois conversavam com o treinador e três estavam na beira da piscina. A me ver o treinador vem até mim.

— E aí garoto. Pronto pro seu primeiro treino na nova equipe? Vá se trocar e depois se aqueça pra começarmos.

Aceno de forma positiva e sigo para o vestiário. Chegando ao meu armário, havia mais três alunos conversando. Entre eles Rafael, que ao perceber minha presença me encara com feição séria. Seus olhos expressavam raiva. Tentei agir naturalmente apesar do desconforto. Tiro meu uniforme rapidamente e visto meu calção azul-escuro. Coloco minhas roupas no armário e saio para me aquecer.

O treino foi bom. A sensação que tive foi que o vazio que andava sentido nas últimas semanas foi preenchido ao voltar a fazer o que amo. Não quebrei meu recorde e nem esperava por isso. Só o fato de estar em contato com a água novamente já me deixou feliz. O treinador foi até compreensível e me passou um treino mais leve até que eu estivesse no ritmo de meus colegas de equipe. Meus companheiros de equipe eram a maioria legal. Ao final do treino, fomos todos tomar a ducha e trocar nossas roupas. Terminei rapidamente, enrolei minha toalha na cintura e fui até meu armário para colocar meu uniforme novamente.

De repente sou abordado por Rafael e mais dois alunos.

— Era pra isso que o treinador queria tanto você na equipe? — disse me olhando de baixo para cima.

— Eu estou há um tempo sem treinar, você espera que eu já volte praticando como vocês? — digo em minha defesa.

— Pra que você entrou na equipe? Pra esfregar em nossa cara os seus títulos olímpicos e sua medalha de ouro do campeonato nacional?

— Eu não tenho medalha olímpica. Já neguei isso várias vezes. E eu não vim aqui esfregar nada, apenas fazer o que gosto.

— Qual é o seu melhor tempo? — disse o Carlos, o garoto moreno ao lado de Rafael.

— 1:08.49 nado crawl.

Carlos e o outro garoto que ainda não descobri o nome se entreolham. Aparentemente impressionados com o meu tempo feito na última temporada. Carlos e o outro garoto saíram em direção aos outros garotos. Rafael permanece me olhando de forma feroz. Segurou em meus ombros e me encostou nos armários, depois aproximou os lábios perto do meu ouvido e disse:

— Da última vez você ganhou, mas dessa vez eu não deixarei que você invada meu território e roube tudo de mim novamente. Esteja avisado.

Rafael saiu me deixando sozinho e com muitas dúvidas na cabeça. Roubar tudo dele novamente… O que eu roubei de Rafael? Quem é ele? Tudo isso me deixou confuso demais e eu só quero deitar minha cabeça num travesseiro e esquecer o dia de hoje.

Visto meu uniforme rapidamente e saio do vestiário, por uma porta que dá no ginásio, pra voltar ao meu dormitório. Ao passar pela arquibancada que havia no ginásio, me deparo com Sebastian sentado. Ele se levanta e vem até mim.

— Meu nadador preferido. Como foi seu primeiro treino?

Confesso que ao ver o rosto de Sebastian eu senti um alívio imediato. Ele tinha o poder de me deixar nervoso, mas também me acalmava.

— Foi legal. — respondo.

— Só isso? E por que essa expressão preocupada? Aconteceu algo? — sua expressão era de preocupação.

— Não é nada. E por que está aqui? Não devia estar no treino de atletismo? — tento mudar de assunto.

— O treinador me mandou dar uma passeada, literalmente. Então vim ver você. — Sebastian sorriu.

Nos encaramos por alguns segundos e, por fim, caminhamos juntos em direção ao alojamento.

Quando cheguei ao alojamento encontro com Victor nu. Até então não é nenhuma novidade. Victor adora o belo corpo que tem, e fica a maior parte do tempo seminu no dormitório. Novidade mesmo é não encontrar nenhuma garota com ele. Eu queria entender como meu colega de quarto consegue trazer garotas para o quarto sem ser pego pelos monitores que vagam pelo dormitório.

No jantar, sentamos na mesma mesa de sempre. Agora os alunos nos olhavam com ainda mais atenção. Estávamos definitivamente desrespeitando regras agora que eu fui finalmente “classificado”, agora que entrei pro time de atletismo, deveria andar apenas com atletas, mas não estou nem aí para essa droga de hierarquia criada pelo grêmio. Olho discretamente para a mesa do onde costuma sentar os alunos do grêmio estudantil, apenas Alice estava lá. Ela lia um livro, pela capa eu pude reconhecê-lo, era um dos meus favoritos. Sou tomado por uma vontade de ir lá e conversar com Alice, e é exatamente isso que faço.

— A Arte Da Guerra. É meu livro favorito. Já li três vezes. — digo sentando-me de frente pra ela.

Alice abaixa o livro delicadamente e me encara intrigada.

— É a quarta vez que estou lendo. E é o meu favorito também. — diz.

— Ok. Você venceu. Por que você está sozinha hoje?

— Os outros estão em uma reunião importante fora da escola, alguém tinha que ficar e manter a ordem.

— Ordem… Espero que eu estar nesse momento falando contigo não seja um atentado a ordem do colégio. — sorrio.

— Na verdade deve ser uma das poucas vezes que você não está infringindo a ordem. — sorri — Acho melhor você voltar. Seu amigo bonito está me encarando como se quisesse me bater. — Alice volta sua atenção para o livro.

Olho para a minha mesa e Sebastian nos olhava sério, a mesma expressão que ele me olhou hoje ao chegar na sala de aula acompanhado de Alice: Ciúmes. Volto para a mesa. Não dizemos nada um para o outro, mas o semblante sério de Sebastian continuava.

Na volta quando estávamos sozinhos, Sebastian finalmente rompe o silêncio entre nós.

— Você gosta de Alice?

— Não. Eu a conheci hoje. Ela apenas me intriga, não parece ser do grêmio estudantil. Não vejo arrogância e nem prepotência em Alice, e ela está sempre sozinha. Nem sabia que ela fazia parte até ela mesma me dizer.

— Toni eu já disse pra você não se meter com o grêmio. Por favor, fique longe dela. Se quiser ficar com garotas eu te arranjo uma. Embora eu passe muito tempo com você, ainda sou capaz se ajeitar um encontro se você quiser. Muitas garotas do colégio são loucas por você, é só olhar em volta. Não precisa ir atrás de alguém do grêmio, ok?

As palavras de Sebastian me incomodaram, e eu nem sabia o porquê. Só senti uma vontade enorme de socar a cara dele. Fizemos o resto do percurso de volta ao dormitório em um silêncio constrangedor.

 

À noite volto a sonhar com Sebastian. Eu estava no refeitório sozinho lendo A Arte Da Guerra, quando Sebastian me surpreende e me levanta pelo colarinho do blazer escolar. Ele me olha com um olhar de desejo e me beija. Sebastian me deita sobre a mesa e explora meu corpo com suas grandes mãos. Eu o segurava pela nuca enquanto ele desabotoava a camisa do meu uniforme e desamarrava minha gravata. Ele sorria e dizia:

Sabe quanto tempo eu estava a fim de fazer isso? Você também sentia pelo jeito.”

Acordo assustado com o barulho do despertador. Esse sonho foi chocante e o pior, eu estava excitado, e minha cueca toda melada de esperma.

— Isso não pode estar acontecendo! — digo me alterando mais do que deveria.

— O que foi Toni? — pergunta Victor com o olhar de sono, mas preocupado.

Não respondo nada.

Deito minha cabeça novamente no colchão e cubro o rosto com o travesseiro. Isso realmente não pode estar acontecendo, eu tive um sonho erótico com Sebastian… Quer dizer, nem chegou a ser um sonho erótico, mas foi muito excitante. Estou me sentido culpado ao mesmo tempo em que estou com tesão.

Quando chegamos ao refeitório Sebastian nos esperava sentado na mesa, senti uma pontada de vergonha quando seus olhos pousaram em mim. Sento-me ao lado de Victor. Geralmente eu sento ao lado de Sebastian, mas dessa vez eu estava me sentido muito estranho pra agir normalmente. Sebastian me analisava com o semblante sério. Ele é muito observador e, com certeza, notou a minha atitude diferente. Eu deveria ter agido normalmente, afinal foi só um sonho, não quer dizer nada.

O dia passou normalmente, tirando o fato de eu ficar evitando contato visual com Sebastian a maior parte do tempo, aumentando as suspeitas dele de algo errado. Eu falho muito em ser discreto e agir naturalmente. Estou no ginásio de natação me alongando pra começar o treino. Ricardo e Pedro conversavam comigo enquanto se alongavam também. Eles eram muito simpáticos e educados e estavam me dando algumas dicas pra voltar ao ritmo mais rápido.

O treino seguiu naturalmente, mas Rafael ficava fazendo piadinha e me provocando pelo fato de eu não fazer o mesmo treino que eles. Eu estava achando isso uma droga, é bem frustrante não estar 100%. Só conseguia baixar a cabeça perante as provocações de Rafael. Estou sendo um grande campeão sem dúvidas. No fim do treino o professor Fernando veio falar comigo.

Ei garoto, você está indo bem. Não ligue pras provocações de Rafael. Ele só está se sentindo ameaçado com a sua presença aqui.

— Tudo bem treinador, eu não ligo pra isso. — me faço de forte.

— Acho que amanhã você já fará o mesmo treino que eles. Seu físico é muito bom. Estou impressionado, você é realmente uma pérola da natação.

— Valeu treinador.

Sigo para o vestiário para tomar uma ducha, o vestiário já estava vazio. Estranhei porque a conversa com o treinado não demorou tanto. Chamei pelo nome de alguns deles, mas não obtive resposta. Fui para o chuveiro e tomei uma rápida ducha, enrolei a toalha em minha cintura e fui em direção ao meu armário vestir meu uniforme.

Percebo uma sombra atrás de mim e me viro assustado. Era Rafael ainda de calção me observando com um sorriso maldoso.

— O que quer? — pergunto.

— Não pare por minha causa.

— Onde estão os outros?

— Já foram. Estamos a sós.

— Ok. Isso não me importa já estou de saída também.

Viro-me pra terminar de vestir meu uniforme, mas sou surpreendido por Rafael me prensando contra os armários e me virando de frente violentamente.

— Eu realmente quero entender o que o trouxe aqui. — disse ele me olhando nos olhos.

— Isso tudo é medo de eu roubar o teu lugar? Não se preocupe eu não vim aqui pra tomar nada de ninguém.

— Ah é mesmo? Então volte de onde você veio. Saia do time. — seu tom de voz era baixo e controlado.

Rafael me apertava com o corpo de uma forma que eu não conseguia sair. Ele era muito maior do que eu. Deve ter a mesma altura que Sebastian.

— Eu não vou fazer isso só porque você está mandando. Não tenho medo de você!

Eu o encarava sem medo, embora fosse mais baixo jamais deixaria ele me intimidar.

Rafael sorriu por alguns segundos, depois me largou e foi em direção aos chuveiros tomar sua ducha. Eu me arrumei e saí o mais rápido que pude sem nem vestir o blazer e o tênis. Quando estava abrindo a porta pra sair Rafael gritou.

— Ei! Se você realmente não tem medo vai manter isso apenas entre nós né?

 


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Notas finais do capítulo

Olá leitores. O próximo capítulo sai na segunda feira.
Um grande abraço :)



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