O Internato escrita por Rain


Capítulo 19
Dezenove




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/772896/chapter/19

Voltar ao colégio depois de tudo o que aconteceu era estranho. Sentia um frio na barriga e minhas pernas tremiam. É difícil voltar pro lugar onde encontrarei pessoas que querem o meu mal.

Entro pelos portões com Sebastian ao meu lado. Alguns alunos que caminhavam pelos corredores nos encaram. Olham para o meu braço sustentado pela tipoia como se fosse uma atração. Alguns olhavam e passavam cochichando em seus grupinhos. Eu aprendi a lidar com a rede de fofocas do colégio, até porque fui muitas vezes o assunto do momento. E mais uma vez, meu nome vai circular por todas as bocas de alunos do colégio Elite.

Meu único desejo é não encontrar com ninguém da equipe de natação. Não quero ter que dar explicações antes da hora. Nem Rafael sabe o que aconteceu comigo ainda.

Chegando na sala de aula, encontro com Alice encostada em um dos armários próximos da porta. Provavelmente estava me esperando.

— Oi. — digo me aproximando dela.

— Oi. — ela olha para Sebastian e hesita — Eu… queria falar com você em particular.

— Já entendi que você não me quer aqui. Vou entrar primeiro, Toni. — disse Sebastian com raiva, mas tentando manter o tom de voz controlado.

Sebastian entra na sala.

— O que tem pra me dizer? — pergunto curioso.

— Eu passei o final de semana inteiro estudando as informações do envelope. Fiz descobertas bem chocantes. Precisamos nos reunir pra decidir os próximos passos. — Alice olhava o tempo todo ao redor pra ver se ninguém prestava atenção em nossa conversa.

— Poderíamos fazer isso hoje, mas acho melhor fazemos fora do colégio. Por garantia.

— Eu conheço um lugar pra nos reunirmos sem levantar suspeitas. Me encontre atrás do prédio administrativo as dez da noite.

— Mas isso é depois do toque de recolher. Se formos pegos…

— É por isso que você vai tomar cuidado pra não ser pego.

O sinal bate.

— Preciso ir pra aula, nos vemos depois. — disse Alice me dando um beijo no rosto e saindo.

Passei boa parte da manhã andando pelos corredores menos usados pelos alunos, pra evitar cruzar com alguém da natação. E dei sorte, pois não vi ninguém durante todo o período de aula. Na hora do almoço, também não fui ao refeitório. Em vez disso, Sebastian e eu fomos conversar no mesmo lugar onde nos conhecemos.

Sentamos no banco próximo a fonte e ficamos observando a água caindo da estátua. Era uma estátua de uma mulher seminua segurando um jarro de água, estilo estátuas gregas antigas. Era uma bela fonte.

Sebastian me abraçava pelo ombro e vez ou outra me roubava um selinho. Sempre com muito cuidado e olhando ao redor pra ver se estávamos sozinhos.

— Estou muito feliz. — disse.

— Também estou. Nunca pensei que a gente pudesse mesmo ficar junto. Parece que estou sonhando.

— Isto não é sonho.

Sebastian me beija. Não apenas um selinho, dessa vez o beijo foi pra valer. Sua mão desceu pela minha cintura e eu o abracei pela nuca. Aproveitamos bem o momento antes de nos separarmos novamente.

O sinal bate.

Sebastian e eu nos levantamos pra voltar a aula. Caminhando normalmente, sem contato físico, pra evitar olhares desnecessários sobre nós. Chegando perto da entrada do prédio escolar, nos deparamos com Valentina. Ela nos olha de cima abaixo.

— Olá rapazes, como vão? — disse.

Uma raiva corre por dentro de mim ao ver Valentina frente a frente de novo. Foi ela quem mandou machucarem meu braço. Graças a ela estou impossibilitado de competir. Minha vontade é de confrontá-la, porém tenho que deixar isso pra depois. A queda de Valentina não será pequena.

— O que você quer, Valentina? — falou Sebastian impaciente.

— Nossa, Sebastian. Você não era grosso comigo assim? Tudo isso é pra se amostrar na frente do seu amiguinho. — ela olha para o meu braço machucado. — Gostei da tipoia, Toni.

Valentina lança um sorriso sádico.

Abro a boca para confrontá-la, mas antes que qualquer palavra saísse, Sebastian já havia falado na minha frente.

— Ele não é só meu amigo.

Sebastian que estava com sua mão direita levemente encostada na minha, entrelaça seus dedos aos meus. Depois levanta nossa mão e mostra a Valentina. Ela fica incrédula, seus olhos arregalaram e sua boca se abre sem emitir uma palavra. Rapidamente sua expressão muda de choque para ira.

— Está mesmo fazendo isso, Sebastian? Você ainda não aprendeu, não é mesmo?

— Estou cansado de você me manter longe das pessoas, Valentina. Você não vai conseguir me separar do Toni, nada vai nos separar.

Valentina ri com desdem.

— É o que veremos.

A presidente do grêmio volta ao prédio escolar.

Sebastian me dá um beijo na testa e sussurra em meu ouvido que tudo vai ficar bem. Eu aceno positivamente pra ele. Juntos entramos também no prédio escolar. Fomos direto para o segundo andar, é aula de geografia.

A professora estava explicando matéria, mas minha mente viaja. Eu não conseguia parar de pensar em Sebastian desafiando Valentina e mostrando que estamos juntos. Sei que Sebastian não tem medo dela, mas ainda sim, fico com o pé atrás. Ela já provou ser capaz de fazer coisas horríveis sem sujar as mãos. Não gosto de desafiá-la. Principalmente porque vamos trazer suas atividades ilícitas a público.

A professora continuava falando.

Me viro para olhar Sebastian. Ele anotava algo que a professora falava. Ao perceber que eu o olhava sorriu. Sorrio de volta e depois volto a encarar a professora.

Fim do período de aula. Agora era a hora que eu menos queria que chegasse. Hora do treino de natação. Sebastian e eu saiamos do prédio escolar, encontramos Victor no caminho e mais a frente Alice também se juntou a nós. Conversamos por um tempo num banco próximo a entrada de vidro. A conversa era agradável e descontraída. Até Sebastian e Alice que não se dão muito bem, riam e trocavam algumas palavras.

— Bom pessoal, o papo está bom, mas eu preciso ir para o treino de futebol. — disse Victor.

— Eu também vou indo, tenho que no treino de natação.

— Eu vou com você. — falou Sebastian.

— Você vai para o treino de atletismo. Nada de faltar nos treinos atoa.

— Tá legal… — Sebastian fez biquinho.

— Seu besta. Não faz essa cara.

Me despeço de todos e sigo para o ginásio de natação. Caminho rápido, pois tenho um pouco de medo de andar sozinho, mesmo sendo no colégio. Afinal, meus inimogos estão aqui dentro também.

Entro no ginásio e me deparo com meus colegas de equipe se preparando pro treino. Alguns já estavam dentro d´água. Ao me verem eles ficam boquiabertos. Rafael que falava com o treinador, deixou o treinador falando sozinho e veio ao meu encontro.

— Toni? O que houve com você? Seu braço…

— É uma longa história.

Os outros garotos da equipe se aproximaram.

— Pessoal. O Toni sofreu um incidente no fim de semana e não poderá competir. Carlos, você vai competir no lugar do Toni.

Carlos se assusta.

— Mas treinador eu… eu não posso. Não sou tão bom.

— Claro que pode garoto, você treinou pra isso. — disse o treinador.

— Eu treinei a modalidade em equipe. Individual… é complicado.

Eu sei o que se passa na cabeça de Carlos, já estive no lugar dele. Todo atleta passa pela fase da falta de confiança. E o fato de ele ter que ficar me substituindo só deve piorar isso.

— Carlos — digo interrompendo algo que o treinador falava — Você consegue. É um ótimo nadador. Acredite em você. Tenho certeza que você pode voltar com uma medalha. — olho no rosto de cada um dos meus colegas de equipe — Todos vocês podem.

— É isso aí garotos. Vocês vão conseguir, esse campeonato é nosso. Agora bora treinar. — disse o treinador.

O treino foi como de costume. Eu fiquei ajudando o treinador e dando apoio moral para meus companheiros de equipe. Estou chateado de não poder estar com eles. Era algo que eu realmente queria fazer.

No fim do treino. Rafael me acompanha pelo caminho.

— O que realmente houve com você, Toni? — disse.

— Foi uma tentativa de assalto. Dois bandidos me renderam e quando viram que eu não tinha nada me agrediram. — uso a mesma história que Sebastian usou com a polícia.

— E porque deslocaram seu braço? Tipo… eles sabiam que você era nadador?

— Eu não sei. Aconteceu muito rápido.

— Isso é muito estranho.

Rafael coçava a cabeça, como se tivesse usando todos os neurônios de sua cabeça para raciocinar e tentar encaixar peças.

— Quantas pessoas você falou que te renderam mesmo? — questionou.

— Duas.

— Você viu que Gabriel e Natan também foram agredidos no fim de semana? Natan até quebrou o nariz. É estranho, três pessoas do nosso colégio serem vítimas de violência no mesmo fim de semana. A não ser… que tenham lutado entre sim. Toni! Aqueles dois babacas te bateram.

Droga. Rafael conseguiu deduzir a coisa certa. Como eu vou explicar as coisas pra ele? Não posso apenas inventar outra história. E Rafael já provou ser esperto demais pra cair em qualquer desculpa.

— Como você…

— Conheço bem este colégio e do que os alunos daqui são capazes. Eu ficou revoltado que tenham feito isso contigo. Você não merece isso, Toni.

— Está tudo bem, Rafa. Apenas se concentre na competição. Eu resolvo meus problemas.

— Eu não duvido. Você conseguiu quebrar o nariz de um jogador de basquete. Você é mais forte do que parece. — Rafael me olha de cima abaixo.

Dou risada.

Eu poderia dar os devidos créditos a Sebastian, mas acho que mantê-lo fora dessa conversa seja o melhor a fazer. Ninguém pode saber de nada, ainda não.

Continuamos caminhando e conversando sobre outros assuntos que não envolvessem minha suposta surra que dei em Gabriel e Natan.

 

 

 

Eram quase dez horas da noite. Eu estava me preparando pra encontrar Alice, mas antes há um pequeno empecilho em meu caminho: Victor. Ele não dorme de jeito nenhum. E se eu sair do quarto arrumado ele, com certeza, vai suspeitar.

— Cara porque você não vai dormir? — digo tentando soar o mais natural possível, embora esteja realmente irritado com Victor.

— Não sei. Apenas estou sem sono.

Mando mensagem a Alice e a Sebastian avisando que iria me atrasar. Eu tinha combinado de encontrar Sebastian nos fundos do alojamento masculino. Ele já deve até estar me esperando.

Depois de quase uma hora, Victor finalmente dorme.

Eu me levanto rapidamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Abro a porta lentamente. Olho o corredor pra ver se havia algum monitor no corredor, nada. Subo ao último andar do alojamento e entro num sótão extremamente empoeirado. Cheio de camas e guarda-roupas cobertos por tecidos brancos. Havia uma escada abaixo da janela que levava pra fora. É assim que os alunos conseguiam burlar regras e invadir o alojamento do sexo oposto. É assim que Victor leva garotas para o nosso quarto. Abro a janela e subo na janela com cuidado. Alcanço a escadaria e desço. Já no chão, vou rapidamente ao encontro de Sebastian.

Ele estava exatamente onde disse que estaria. Chego lentamente e o toco por trás. Ele se assusta. Seguro uma gargalhada pra evitar fazer barulho.

— Desculpa a demora, Victor não queria dormir de jeito nenhum. — digo.

Sebastian me beija. Ele me encosta na parede e encosta seu corpo ao meu. Eu não estava esperando, mas foi muito bom.

— Estava com saudades. — disse Sebastian sorrindo depois do beijo.

Eu sorrio também.

— Temos que ir, Alice está nos esperando. — eu não conseguia conter o sorriso em meu rosto.

É a primeira vez que ando pelo colégio depois do toque de recolher. É bem silencioso e tem vários monitores fazendo ronda. Sebastian e eu andávamos de mãos dadas, com cuidado pra não sermos pegos. Ir do alojamento masculino até o prédio administrativo dava uma boa caminhada.

Quase fomos pegos algumas vezes, mas conseguimos chegar em segurança. Quando avistamos Alice de longe, soltamos nossas mãos. Sebastian não liga muito em revelar nosso relacionamento. Mas eu ainda estou me acostumando com tudo isso. Não tenho vergonha, apenas sinto que ainda não é o momento.

— Está atrasado. — disse Alice quando chegamos perto dela.

— Culpa de Victor. — digo.

— Esse garoto… — Alice acenava em desaprovação. Depois ela olha diretamente pra Sebastian — O que ele faz aqui?

— Sebastian sabe de tudo e quis vir junto.

— Tudo bem. Vamos.

Alice nos guiou para dentro do prédio administrativo. Seguimos pelo corredor principal e descemos por uma escada até chegar a um corredor escuro. O corredor parece família. Parece o lugar aonde encontrei Valentina pela primeira vez. Paro bruscamente.

— Aonde está nos levando, Alice?

Alice se vira surpresa e a lanterna que ela usava para guiar o caminho agora iluminava meu rosto.

— Tem uma sala aqui. Ninguém vem pra cá, é seguro pra falarmos sobre tudo.

— É que… esse corredor. Parece o lugar que Gabriel e Natan me trouxeram a força.

Sebastian vem até mim e coloca a mão no meu rosto.

— Está tudo bem, Toni. Estou aqui, não vou deixar nada acontecer com você.

— O lugar não é aqui, Toni. Só eu tenho a chave pra entrar nessa parte do prédio.

— Como vocês conseguem acesso a esses lugares? — questionou Sebastian.

— O grêmio estudantil dá certas vantagens. Eu roubei a chave assim que entrei no grêmio. Uso pra guardar umas coisinhas minhas. Vamos.

Continuamos andando até o fim do corredor e entramos numa sala. A sala estava cheia de equipamentos de última geração, computadores, câmeras, coisas de hackers.

— Este lugar é incrível. — digo.

— Parece o covil de um serial killer. — disse Sebastian.

— Vou considerar isso um elogio. — disse Alice indo até um armário e tirando o envelope que o motorista do deputado D´Angelo me entregou.

— Sério, Alice. Como você conseguiu trazer tudo isso pra cá? — perguntou Sebastian.

— Fui trazendo uma coisa de cada vez, até virar este covil de serial killer. — respondeu.

Não consigo conter uma risada e Sebastian me encara irritado.

Alice tira alguns papéis e imagens do envelope e espalha numa mesa que havia no centro da sala.

— Tinha muita coisa no envelope. Mas o mais importante é que eles fazem isso há muito tempo, não só desde que esse diretor entrou, bem antes. Eles são uma máfia de tráfico de pessoas, e o colégio é uma forma fácil de atrair jovens como nós. E entendam, não são apenas pessoas da elite brasileira que entram nesses leilões. Muitos estrangeiros também participam. Tem muito dinheiro envolvido.

— Isso é só com bolsistas? — perguntou Sebastian.

— Sim. Eles não mexem com alunos ricos porque provavelmente nossos pais são os clientes.

— Isso é horrível. — digo.

— Ninguém suspeitaria de um colégio como o nosso. É o lugar perfeito para esse tipo de coisa. — disse Alice.

Sebastian se aproximou da mesa e começou a olhar melhor as folhas espalhadas.

— Eu lembro dese cara. — apontou para uma foto de um garoto — era do terceiro ano e se graduou ano passado. Não acredito que foi vítima dessa droga de esquema também.

— Muitos foram.

— Tá. Então qual é o seu plano, Alice? Você tem algum né? — perguntou Sebastian.

— O plano é simples: vazar esse esquema em todos os veículos de mídia. É só o Toni autorizar, que eu vazo na mesma hora.

Os dois olham em minha direção.

Eu sei o quanto isso é importante, e que temos que expor esse esquema o quanto antes. Mas a competição de natação está chegando. Tenho medo que tudo isso poça interferir no desempenho da equipe de alguma forma. Não posso arriscar, eles treinaram muito pra este dia, não posso tirar isso deles.

— Depois dá competição de natação. Aí você vaza tudo, Alice.

— Toni, por que esperar? — indagou Sebastian.

— A competição, é muito importante pra equipe. Eu não sei como isso vai afetar a eles. Não quero correr o risco.

— Como queira, Toni. Depois da competição, será o fim de toda tirania do colégio Elite.

Depois da nossa reunião. Sebastian e eu voltamos para o dormitório. Tomamos muito cuidado pra não sermos pegos na volta. Subimos a escada abaixo da janela do alojamento e entramos no sótão. Sebastian estava muito sério durante a nossa volta.

— O que você tem? Está muito sério.

— Você chamou Alice pra te ajudar, mas me deixou fora disso. Por que ela?

Então o motivo deles estar tão sério é ciúmes. Fofo.

— Eu não chamei Alice, ela quem se ofereceu pra me ajudar. E teve muitos fatores que ocorreram pra ela entrar nessa comigo.

— Ainda sim. Não gosto da ideia de ela saber de tudo isso antes de mim.

— Eu não queria meter ninguém nisso. Principalmente você, é muito perigoso, Sebastian. Eu tinha… eu tenho medo de machucarem você.

— Não quero que você me proteja, eu vou proteger você, Toni. Não importa o que.

Sebastian me abraça forte. É muito bom poder estar novamente próximo de Sebastian. Não só como amigos, mais do que isso agora. É reconfortante e me dá forças.

Juntos saímos do sótão e com cuidado pra não sermos pegos, voltamos a nossos quartos.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi pessoal, como estão? Aqui n vai muito bem n, rs. To com um pequeno bloqueio criativo, a história tá bem definida na minha cabeça, mas n consigo colocar no papel. Vou tentar escrever o próximo capítulo até segunda-feira, mas n garanto q saia capítulo.
Me desculpem, e n desistam de mim, please. E obrigado por vcs q estão acompanhando. espero q esse bloqueio passe logo.
Um grande abraço a todos :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Internato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.