O Internato escrita por Rain


Capítulo 11
Onze




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A semana passou rápido. Quando dou por mim já estava me arrumando para ir à reunião de Otávio. Claro que eu só vou por causa de Sebastian. Otávio parece ser uma boa pessoa, mas não é o alguém que eu gostaria de ser próximo. Vesti uma camiseta preta de manga comprida. Esse tipo de vestimenta aos poucos está se tornando muito comum no meu guarda-roupa depois que me mudei para Nova Alvorada. Também vesti uma calça jeans normal e meu All Star.

Ouço uma buzina soar. Desço as escadas, dou um beijo em minha mãe e um abraço em meu pai, eles me desejam bom divertimento. Vou até o BMW, quando ia entrar no banco de trás ouço a voz de Otávio me avisando pra sentar no banco da frente.

— Cadê o Sebastian? — pergunto.

— Ele ficou pra receber os convidados caso algum chegue na minha ausência. — respondeu Otávio.

— Ah ta.

Seguimos viagem.

Eu permaneci o caminho todo em silêncio. A presença de Otávio me causava desconforto. Ele exala superioridade, não era uma presença tão amigável como a do irmão.

— Desculpe não ter trazido Sebastian junto. — disse Otávio.

— Vocês não são muito próximos né?

— Minha família é complicada. Sebastian e eu nos dávamos muito bem, mas o tempo nos distanciou. Eu tive que assumir as responsabilidades da vida adulta e acabei deixando ele sozinho.

— Mas e os pais de vocês?

Otávio riu.

— Nossos pais são muito ausentes, Toni. Eles são donos da maior empresa farmacêutica do país. Você deve conhecer a Corporação Ferraz. Eles não têm tempo para nós. Eu ajudo meu pai com os negócios trabalhando em casa. Aprendi a lidar com a solidão, mas Sebastian ainda não. Ele é muito novo e imaturo. — Otávio passa por uma avenida movimentada e depois vira para o quarteirão de sua casa — Mas meu irmão parece gostar muito de você, ele sorri bem mais agora. Às vezes eu até o pego sorrindo sozinho em casa. Sebastian nunca foi de fazer isso.

As informações caíram como uma bomba. Agora muita coisa fazia sentido. O porquê de Sebastian ser tão distante dá família, de não gostar de voltar pra casa nos fins de semana. Sebastian não gostava de falar da família e agora sei o motivo. Sinto uma pontada de pena, agora mais que nunca eu quero estar com ele, dar todo o amor e carinho que ele não recebe dos pais nem do irmão.

— Não fale pra ele que tivemos essa conversa. — disse Otávio.

— Tudo bem, não vou falar nada. Obrigado por confiar em mim.

— E se possível, gostaria que você o fizesse parar de fumar também. Eu finjo não saber, mas aquele cheiro de canela não me engana.

— Eu posso tentar. Também não gosto de vê-lo fumar.

Rimos.

Otávio tira uma das mãos do volante e coloca em minha perna. Fico sem graça e ele percebe. Rapidamente leva a mão de volta ao volante.

Chegando na casa de Otávio. Sebastian nos esperava em frente ao portão. Ao descermos do carro, ele me cumprimenta com um abraço.

— Demoraram. — disse.

— Calma irmãozinho, eu não vou sequestrar seu amigo. Ele é todo seu agora. — Otávio me encarava — Chegou mais alguém?

— Sim.

— E por que você está aqui fora? Deveria fazer sala pros convidados. — Otávio parecia irritado.

— Seus convidados não estavam a fim de falar com gente mais nova que eles, então vim esperar por vocês.

— Não seja exagerado. Não somos tão velhos assim.

Entramos pelo portão. A casa era enorme, dava mais que o dobro da minha. Tinha um jardim na parte da frente, muito bem cuidado. Cheio de flores que eu nunca tinha visto na vida. A frente tinha várias áreas gramadas e um caminho de concreto, com luzes pelo chão iluminando o caminho. Vendo de fora, parecia um mini castelo europeu. A mansão era rústica, mas com um toque sútil de modernidade.

Por dentro a casa também era linda, cheia de vidros, até o corrimão da escadaria que levava para o segundo andar era de vidro. Haviam algumas pessoas bebendo e rindo. Ao perceberem nossa presença, nos encaram. Otávio vai receber os convidados me deixando com Sebastian.

— Vem, Toni. Vou te mostrar a casa.

Sebastian segura em minha mão e me leva pra outro cômodo da casa. Depois dele me mostrar a casa toda, vamos para o quarto de Sebastian. O quarto era bem grande, assim como o resto da casa. Estava bem-arrumado, havia apenas um par de tênis espalhado pelo chão.

— Seja bem-vindo ao meu quarto, ele não é tão aconchegante quanto o seu, mas sinta-se em casa.

— É lindo.

Sento-me na cama e Sebastian me acompanha.

— Como está sendo pra você estar em casa? — pergunto.

— Normal eu acho, meu irmão passa o dia dentro do escritório trabalhando. Eu queria entender o porquê dele me fazer voltar pra casa se ia ser assim.

— Realmente é estranho, mas não é bom pra você ficar dentro daquela escola o ano inteiro, Sebastian. Seu irmão fez o certo.

— Pelo menos eu posso estar com você agora.

Dou um sorriso. Por dentro meu coração estava acelerado. Estava difícil lidar com ele segurando minha mão e me levando pra conhecer a casa. Ultimamente Sebastian está mais fofo do que o normal. Ou pode ser que isso seja coisa da minha cabeça e ele só esteja sendo o mesmo de sempre. Ouvimos uma batida na porta.

Sebastian vai abrir, era Otávio.

— Aí estão vocês. Eu não chamei o Toni pra você ficarem mofando no quarto. Vamos descer.

— Eu só estava mostrando a casa pro Toni, já íamos descer. — disse Sebastian.

— E a tour terminou logo no seu quarto, sei. Quero os dois lá embaixo em um minuto. — disse Otávio dando de ombros e saindo.

— Vamos descer Sebastian.

Levanto da cama e puxo Sebastian pela camiseta para fora do quarto. Fomos para sala onde Otávio e os outros estavam. Os amigos dele não nos davam muita atenção, então ficamos num canto da sala conversando apenas nós dois. Eu atacava uma bandeja de salgados que tinha perto e bebia refrigerante.

— Meu irmão é muito chato. Nem beber a gente pode. — Sebastian estava irritado.

— Deixa pra lá, só refrigerante está ótimo.

Levo um salgado de queijo até a boca de Sebastian. Ele me olha como se não estivesse esperando por isso, mas come o salgado.

Ele sorri.

— Acho que meu irmão voltou a ficar entretido com os amigos, a gente podia subir de novo. O que acha?

— Acho uma boa ideia.

Antes que subíssemos para o quarto, Sebastian roubou uma bandeja com salgados e uma de doces. Eu o ajudei levando uma garrafa de refrigerante e copos para o quarto. Quando chegamos, sentamos no grande tapete felpudo preto que tinha no chão ao lado da cama. Conversamos enquanto comíamos. Depois de um longo tempo, reparei que tinha um aparelho de som antigo com vários discos de vinil espalhados pela escrivaninha.

— Isso é seu? — apontei para o aparelho.

— Sim. Por que acha que não é? Só por que sou jovem?

— Não, é que eu nunca vi um desses de perto.

Levanto-me para olhar mais de perto.

— Que demais! Coloca algo pra gente ouvir.

— Você tem alguma preferência? — Sebastian disse vindo em minha direção.

— Não, vou confiar no seu bom gosto.

Sebastian abre um sorriso chegando mais perto de mim. Minhas bochechas queimavam em brasa pura agora. Ele estica a mão e pega um disco atrás de mim, depois pega o aparelho de som e leva para cima da cama. Isso me assustou. Por um segundo achei que Sebastian fosse me beijar. Algo no olhar de Sebastian dizia isso, ou pode ser a minha mente pervertida me pregando peças.

Sebastian coloca o disco de vinil para tocar. A música era apenas instrumental, consegui identificar saxofone, trompete clarinete e violino na melodia.

— Que garoto culto, ouvindo Jazz. — brinco.

— É ótimo pra relaxar e para ouvir enquanto se aprecia o céu.

Ele se deita na cama ao lado da vitrola, eu o imito e deito-me ao seu lado. Não dissemos nada um para o outro enquanto a música tocava apenas nos encaramos. Não importava o quanto eu olhasse para Sebastian, não me cansava. Aprecio sua beleza nos mínimos detalhes. Suas sobrancelhas bem desenhadas, seus cílios volumosos, as pequenas olheiras que estavam instaladas, mas não estavam lá antes, e sua boca que tinha o lábio inferior um pouco mais carnudo que o superior.

Somos interrompidos por Otávio entrando no quarto. Tanto eu quanto Sebastian sentamos na cama num movimento involuntário.

— Eu desisto de vocês. Aproveitam a minha distração e já fogem. — Otávio falava meio sonolento.

— Otávio o que está fazendo? Você está bêbado. — disse Sebastian.

— Só um pouco.

— Cadê seus amigos?

— Já foram. Só estamos nós três.

— Ótimo, me poupou de colocar todos pra fora. Eu vou te levar pra cama. Toni liga pros seus pais e avisa que você vai dormir aqui, muito tarde pra irmos a pé.

Sebastian sai carregando o irmão e nem me deu a chance de contestar.

Liguei para minha mãe e avisei que dormiria na casa de Sebastian, ela aceitou numa boa. Minha mãe tem um amor sem medida por ele, acho até estranho às vezes.

Sebastian volta para o quarto.

— Me desculpe por isso, Toni. Meu irmão é bem babaca quando quer.

— Tudo bem, ele não é o único que faz besteira quando está bêbado. — digo me lembrando da festa na casa de Anna.

— Bem, acho melhor irmos dormir então. Você pode tomar banho se quiser. Eu vou pegar algumas roupas confortáveis pra você vestir.

Sebastian vai até o closet e pega duas mudas de roupas, uma pra mim e a outra pra ele. E depois vai tomar banho. O quarto de Sebastian tinha banheiro, então eu usei o banheiro do quarto mesmo, enquanto ele usou o do andar de baixo. Depois que terminei o banho, me sequei e peguei a roupa que tinha deixado em cima da pia do banheiro. Pude perceber que a camiseta ainda estava com o cheiro de Sebastian, provavelmente foi usada. Abro um pequeno sorriso, aproximo a camiseta do nariz e sinto o cheiro do odor natural do corpo dele misturado com seu perfume, era perfeito. Minutos depois eu estava vestido e de volta ao quarto.

Sebastian entra logo em seguida. Estava sem camisa, apenas com um samba canção quadriculada. Evitei ficar olhando muito porque não queria ficar excitado, mas era difícil. Seus cabelos ainda molhados faziam escorrer algumas gotas pelo rosto, e, como ele não limpava, as gotas desciam pelo seu peitoral liso. Era hipnotizante e sexy. Ele se deita na cama ao meu lado. Não conversamos muito e instantes depois caímos no sono.

De manhã, acordo primeiro que Sebastian. Ele me abraçava pela cintura e mantinha seu corpo grudado ao meu. Tento levantar da cama sem acordá-lo. Saio do quarto, desço as escadas e sigo sentido a cozinha. Seria uma boa ideia fazer um café como agradecimento por ontem. Quando entro na cozinha, dou de cara com Otávio de roupão.

— Ah desculpe, não sabia que tinha alguém acordado. — digo.

— Tudo bem, sente-te, acabei de fazer café.

Sento no balcão paralelo de frente para Otávio. Ele me serve uma xícara de café.

— Me desculpe por ontem. Eu bebi demais. Estou meio envergonhado.

— Tudo bem, Otávio. Acontece, e você já é maior de idade, não nos deve explicação alguma.

— É que esse não é o tipo de comportamento ideal pra se ter na frente do irmão mais novo e do amigo dele. Eu já tenho 24 anos, fui irresponsável.

— Não precisa se martirizar foi apenas um porre. Sebastian entende.

— Como assim?! Ele por acaso já deu algum vexame como esse?

— Não! É que… deixa pra lá.

Dou uma golada no café e fico em silêncio. Não seria legal dizer que 16 anos é a idade pra ficar bêbado. Ele só ficaria pior e não entenderia que essa é a fase que a gente começa a se descobrir, mas que ficar bêbado na idade dele também é normal. Isso é básico e eu não acho que tenha que ficar explicando pra um cara oito anos mais velho que eu.

Sebastian aparece na cozinha.

— Bom dia. — disse sentando-se do meu lado.

— Bom dia. — Otávio e eu respondemos quase ao mesmo tempo.

— Por que não me acordou Toni?

— Você estava muito fofo dormindo, fiquei com dó. — digo em tom de brincadeira, mas era a verdade.

Sebastian pela primeira vez desde que nos tornamos amigos pareceu sem graça comigo. Deu apenas um meio sorriso e foi em direção a geladeira. Fez um sanduíche com peito de peru e folhas de alface.

— Irmãozinho ainda tem salgados que sobraram da festa, é só você esquentar no micro-ondas. Não tem necessidade de fazer nada pro café.

— Esse sanduíche não é para mim. — Sebastian voltou a se sentar e colocou o prato com o sanduíche na minha frente. — Toni não come essas coisas com frequência, ele é nadador.

— Obrigado Sebastian, mas não precisava.

Otávio nos observava.

— Devia ter me falado, Toni.

— Ele é tímido. — falou Sebastian colocando a bandeja de salgados no balcão.

— Eu só não queria incomodar.

— Garotos tenho trabalho pra fazer agora. Vou sumir nas próximas horas. Um bom dia pra vocês. E Toni, volte quando quiser.

Otávio sai da cozinha.

— Que tal a gente passar o dia na piscina? — Sebastian abre um sorriso.

— Seria ótimo. — digo animado.

Depois do café, peguei uma sunga emprestada com Sebastian, e fomos para a piscina que ficava na área de trás da casa.

Sebastian deu um salto na piscina seguido de um longo mergulho. Eu me sento na beira de piscina pra molhar os pés e observá-lo. Quando ele emergiu da água veio em minha direção.

— Vai ficar aí em cima é? — disse Sebastian parando entre as minhas pernas.

— Por enquanto sim. Estou rindo muito de você se divertindo feito uma criança. — brinco.

— Faz um bom tempo que eu não entro nesta piscina, e se não fosse você aqui, eu nem estaria nela agora.

— Que bom que estou aqui então.

Sebastian sorriu.

— Mas você não veio aqui pra ficar me olhando, vem cá.

Sebastian me puxa pra dentro da piscina me fazendo sentir uma pequena aflição ao entrar em contado com a água fria, mas em questão de segundos me acostumo com a temperatura da água. Dou um mergulho até o fim da piscina que devia ter uns vinte metros de comprimento, depois volto pra perto de Sebastian. Ficamos conversando sobre diversos assuntos, até que Sebastian sai para fumar.

Aproveito a oportunidade para tocar nesse assunto delicado.

— Então… você nunca pensou em parar, sabe… com os cigarros. — sento-me na espreguiçadeira vazia ao lado de Sebastian.

— Nunca pensei, é uma coisa que me faz bem. Por que eu pararia?

— Sebastian, você sabe que esse bem é agora, mas vai te fazer mal mais pra frente. Eu falo isso porque me preocupo com você, de verdade.

— Eu agradeço a preocupação, Toni, mas estou bem. A nicotina me acalma, nem sei o que seria de mim se não fosse o cigarro. Com certeza já teria surtado.

— Você tem que procurar algo mais saudável pra substituir o cigarro, podia… Sei lá, meditar.

Sebastian ri.

— Vou pensar em algo, por ora o cigarro é mais do que suficiente. Por que tocou nesse assunto?

— Não sei… Só curiosidade. — omito a parte de Otávio ter pedido pra que fizesse Sebastian parar de fumar.

— Tem certeza que não tem dedo do meu irmão nisso?

— Seu irmão se preocupa com você, Sebastian. Ele te ama, do jeito dele.

— É? E onde ele está agora? Trabalhando, em pleno final de semana, como toda a minha família.

Fico em silêncio, não sei muito o que dizer, pois nunca estive na situação de Sebastian. Minha família sempre me deu todo amor e apoio que precisei. Sinto a tristeza que ele sente por vê-la em seus olhos, mas nunca estive no lugar dele. A única coisa que posso fazer é dar o amor e apoio que ele não tem da família.

— Eu estou aqui com você, sempre estarei. Conte comigo sempre que precisar.

— Obrigado, Toni. Mas, não vamos estragar este momento falando de coisas deprê. Vamos nadar.

Sebastian dá um último trago no cigarro e depois me puxa pela mão. Juntos corremos de volta a piscina.


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Notas finais do capítulo

Olá leitores, como vão?
O próximo capítulo sai na terça. Um grande beijo :)