O Internato escrita por Rain


Capítulo 1
Um




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O vento forte bate em meu rosto, me fazendo acordar de um transe de tristeza e melancolia. Seco algumas lágrimas que caíam de meus olhos e fecho a janela. É difícil aceitar que tive que deixar toda a minha vida para trás.

— Não fique assim, Toni. Você vai se acostumar, e com certeza, arranjará amigos novos. Sei que está sendo difícil pra você, mas tudo ficará bem. — disse meu pai me olhando de relance pelo espelho retrovisor enquanto dirigia.

— Não. Minha vida acabou no momento em que entrei neste carro. — respondo voltando meus olhos para a estrada.

Observando a estrada, começo a me recordar do lugar que costumava chamar de lar, dos amigos e familiares que deixei para trás. Minha vida não era perfeita, mas posso era incrível. Sempre fui popular na escola, e, consequentemente, popular com as garotas também. Era muito bem-sucedido no clube de natação, venci várias competições. Eu era o orgulho dos meus pais e de minha escola, porém hoje tudo isso ficou para trás.

Meus pais são veterinários de animais de grande porte, se conheceram na faculdade e se casaram. Eles vivem relembrando o passado e embrulhando meu estômago com histórias cafonas da época em que namoravam. Embora eu ache legal saber como o amor dos dois permanece forte, mesmo em seus dezoito anos de casados, não dou meu braço a torcer e sempre desdenho das histórias melosas que contam. Os dois pombinhos receberam uma oferta irrecusável de trabalhar no interior, numa fazenda de hipismo. Isso mesmo, aquele esporte em que os cavalos ficam pulando sobre barras e outros obstáculos. Pelo que entendi, meus pais serão responsáveis por cuidar do bem-estar dos cavalos da fazenda. Muitos cavalos são competidores a nível nacional e tanto eles quando os donos passam meses nessa fazenda treinando para competições, então o salário é bem alto. Sem pensar duas vezes, meus pais aceitaram, e cá estamos nós, na estrada, seguindo destino para o tal lugar.

Nova Alvorada é esse o nome da cidade. Não aceito que terei que passar o último ano do ensino médio numa pacata cidade do interior. E o pior nem é isto, nessa cidade também tem um colégio interno de elite, onde várias famílias ricas mandam seus filhos. Os novos chefes dos meus pais garantiram que ajudariam meus pais a pagarem meus estudos nessa escola renomada para que eu “tivesse estudos dignos de um futuro universitário”. Palavras dos meus pais, não minhas. Então, parte da culpa de estarmos na estrada nesse momento também é minha, quais pais não aceitariam uma oferta de emprego boa dessas e de bônus o filho ainda entrar na melhor escola do país?

— Olha filho, chegamos! — disse minha mãe, depois de um longo tempo em silêncio, me tirando de meus pensamentos.

Observo a cidade, é uma típica cidade do interior. Sempre morei na capital de São Paulo, mas já estive em cidades do interior para competir, são todas iguais. Muita árvore, ar fresco, casas espalhadas por todos os lados, poucos prédios à vista, nada de novo para mim. Não tenho nada contra cidades pequenas, mas estou acostumado com a agitação e barulho das grandes metrópoles, o estranhamento é imediato com tanta paisagem natural saltando aos meus olhos.

Confesso que Nova Alvorada tem um charme diferente, a forma como as casas são bem estruturadas e as ruas limpas. Alguns monumentos me chamam atenção durante o passeio pela cidade. Sempre fui apaixonado por arquitetura, então ver monumentos diferentes que não sejam prédio e mais prédios foi recompensador. Também amo observar prédios e grandes construções. Alguns são tão lindos que fazem meus olhos encherem de lágrimas.

— Estou vendo seus olhinhos brilhando — cantarolou minha mãe do banco da frente. — Sabia que você gostaria, esta cidade é a sua cara.

— Sem chances! — respondo. Não quero dar o braço a torcer de que a cidade realmente me chamou atenção.

Passamos por tantas ruas que eu já estava ficando de saco cheio, até que, enfim meu pai para o carro de frente a um sobrado.

— Bem-vindo ao nosso novo lar, filho. — disse papai.

— Essa é a nossa casa? Dá duas vezes o nosso antigo apartamento! — não consigo evitar abrir um sorriso.

Analiso algumas estruturas da casa enquanto desço do carro. O quintal é grande, tem uma parte gramada e outra azulejada onde será guardado o carro. A casa é de uma tonalidade amarelo-claro e as colunas que sustentavam são brancas. As portas e janelas são de um tipo de madeira resistente que dão todo um toque refinado a estrutura. É uma bela casa do interior.

— Tem como deixar a análise arquitetônica pra depois e me ajudar aqui? — falou meu pai abrindo o porta-malas – Vai ter tempo de sobra pra admirar a casa.

Ajudo meu pai a pegar algumas malas, o caminhão da mudança estava logo atrás. Só de pensar no trabalho que vai dar organizar toda a mudança já me dá preguiça.

A casa por dentro é ainda mais bonita. As paredes brancas, e a sala espaçosa, há um corredor grande que leva para a cozinha e neste corredor há uma escada que leva para o andar de cima, onde ficam os quartos e um banheiro. A cozinha é estilo americana com balcão paralelo ao balcão da pia.

Depois de horas ajudando na mudança e levando móveis para dentro, começo ajudar meu pai e um dos ajudantes que vieram no caminhão da mudança a montar os móveis. Começamos pela cozinha, depois a sala e depois os quartos, por sorte o banheiro já era mobiliado e nos poupou esforço. Passamos o dia assim, e quando a noite chegou já estávamos exaustos. Meu pai acompanhou os homens que estavam nos ajudando de volta ao caminhão enquanto minha mãe tentava improvisar algo para jantarmos. Fiquei tão exausto que apenas caí na minha cama, já montada, ignorando todas as caixas empacotadas que terei de arrumar amanhã. Deitei minha cabeça no travesseiro e não demorei a dormir.

Acordo no dia seguinte com a cabeça latejando de dor. Encaro o teto por alguns instantes tentando assimilar tudo o que aconteceu nas últimas 24 horas. Ainda estou muito chateado com a mudança forçada e em ter que estudar em um colégio interno. Ter que começar tudo de novo num lugar desconhecido. Virei um ninguém da noite para o dia. É algo totalmente diferente do que estou acostumado, isso me intimida um pouco.

Ouço batidas na porta.

— Pode entrar — digo.

É minha mãe trazendo uma bandeja de café com alguns biscoitos integrais e sanduíches.

— Sei que não é um café da manhã reforçado como você está acostumado, mas ainda não deu tempo do seu pai e eu irmos ao mercado comprar alguns alimentos que faltam — disse com um sorriso bonito no rosto.

— Tudo bem, com a fome que estou isto é um banquete. Obrigado mãe.

— Dormiu bem? Está conseguindo aceitar melhor agora o seu novo lar? — perguntou mamãe com empatia.

— Aceitar e tolerar são coisas diferentes, mas eu dormi bem. Aliás, to com uma baita dor de cabeça. Acho que é meu corpo reclamando da ausência de cafeína.

— Toma seu café, caso não melhorar desça na cozinha pra tomar remédio.

Ela me dá um beijo na testa a me deixa sozinho no quarto. Tomo meu café da manhã e depois começo a organizar meu quarto já sentindo a dor de cabeça indo embora. Santa cafeína!

Depois de horas desempacotando caixas e organizando meu novo quarto, decido sair pra tomar um ar e espairecer a mente. Desço as escadas, encontro uma casa revirada dos pés à cabeça e dois adultos tentando colocá-la em ordem.

— Mãe! Pai! Vou sair pra tomar um ar, não aguento mais ficar preso aqui dentro. — digo fechando a porta e indo em direção ao portão.

Caminho por algumas ruas observando o movimento, pessoas caminham por todos os lados, a cidade é mais movimentada do que eu imaginava. É sábado, dia em que as pessoas arranjam motivos para sair de casa. Pessoas me encaram por onde passo, devem saber que sou novo na cidade. Nova Alvorada deve ser o tipo de cidade onde todo mundo conhece todo mundo. Passo por um grupo de garotas que estavam sentadas em uma mesa externa de lanchonete. Elas me observam e cochicham entre si, lanço um sorriso sedutor, que é minha marca registrada da paquera e continuo andando. Na verdade, a única coisa que eu faço em uma paquera é sorrir, por mais que eu fosse popular, isso sempre foi por causa das minhas conquistas na natação e não por mérito próprio, sempre fui bem tímido.

Depois de cansar de ficar vagando pela cidade voltei para casa, pronto para voltar e encarar novamente a bagunça da mudança.

— Voltei! –— grito para meus pais ouvirem e vou em direção as escadas.

— Toni — falou mamãe.

Eu me viro para ela e aguardo o que ela tem a dizer.

— O colégio ligou, avisaram que você já pode ir à escola na segunda-feira. Nem desfaça as malas — disse.

— Mas já? Como assim? Eu acabei de chegar. Como que já estou matriculado?

— As matrículas são feitas online pelo site do colégio, segunda feira você só leva alguns documentos que estão faltando. O pessoal daquela escola é muito eficiente.

— Hum. Vou aproveitar meus únicos dias restantes de liberdade desempacotando caixas, que maravilha — digo chateado voltando a subir as escadas.

De volta ao meu quarto sento-me na cama revoltado com a minha situação. Ao encarar a janela e ver o ambiente totalmente novo, lágrimas começam a cair dos meus olhos. Essa é a minha situação agora, gostando ou não vou ter que encarar.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas que se interessaram pela minha história. Tenho escrito este livro (posso chamar assim né? rs) por um bom tempo e nunca tive coragem de postá-lo. Até que a coragem veio e aqui está ele, boa parte da história já está escrita, então posso atualizar a história frequentemente. Obrigado e volte sempre :)



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