Coração em Cacos nos Corredores de Nyah! High escrita por Jotagê


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Espero que gostem dessa leitura.

Faz um tempinho desde a última vez que eu escrevi, então, posso estar um pouco enferrujado. Não se acanhem em me corrigir ou me dar um toque sobre o que posso melhorar.

Aproveitem!



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            Apesar de não fazer parte da classe original, eu não sou nenhum novato entre os muros de Nyah! High — foi por lá que vivenciei minhas várias e emocionantes aventuras, as discussões acaloradas e os aprendizados que levarei por toda a vida. Eu sou apaixonado por Nyah! High e nunca o largaria.

Por vezes, é um lugar muito bonito e iluminado, onde escritores e leitores de todos os cantos se reúnem para se ajudar e se amar. Em alguns momentos de desordem e desunião, porém, isso costuma mudar e os portões são invadidos por pequenos embustes e provocadores que visam apenas trazer o caos e se divertir vendo o circo pegar fogo. Mas no fim, o bem e a justiça sempre prevalecem, e acabamos todos unidos em paz e amor.

Naqueles prateados corredores populosos, eu encontrei o rapaz que seria o alvo da minha paixão por um bom tempo. Foi aí que o problema começou, com aquele sorriso. Aquele maldito sorriso.

Por muito tempo, Júlio Estrela não era nenhuma celebridade no grupo. Era apenas mais um rapaz bonito e peculiar, um grande entusiasta de escrita e design que ocupava seu tempo livre fazendo suas artes e interagindo ocasionalmente com o grupo. Sua aparente personalidade descontraída e suas piadas descompromissadas e engraçadas me chamaram a atenção.

Eu era jovem e ingênuo, e não demorei a ver que eu estava caidinho — tal qual o Coiote dos desenhos, perseguindo incansavelmente o Papa-Léguas na direção de um grande penhasco. Aquele rapaz que eu mal conhecia, ele era o meu Papa-Léguas. Mas como sempre acontecia, eu cairia de cara no chão e algo explodiria sobre mim.

Por muito tempo, eu o observei de longe, encarando como inalcançável. Eu não teria a coragem de me aproximar, até porque, por que eu faria isso? Por mais perto que eu estivesse, ele era intocável.

O que eu tiraria disso tudo?

Os períodos se passavam e se acumulavam um sobre o outro, e ele subitamente alcançou a fama. Os seus Jornais de Arranca-rabo começaram como um passatempo divertido e descompromissado, mas acabaram alçando-o ao status de celebridade dentre os corredores aglomerados de Nyah! High.

Acredito que nem ele esperava tanto sucesso ao documentar os desentendimentos constantes do grupo, mas o jeito cômico e instigante que ele usava para tecer uma história era diferente. Quanto mais eu descobria quem ele era e o via passeando do meu lado, mais aumentava a minha vontade de tentar uma aproximação. Ele nunca me percebia, mas eu o notava todas as vezes.

Passei muito tempo assistindo aos seus cabelos sedosos e pululantes, àquele sorriso distante e atraente. Foi tanto tempo que acabou chegando uma hora em que cansei da passividade e resolvi agir de alguma forma, vocalizando mais sobre minha paixão, mesmo que discretamente.

Lá estava eu, corajosamente me referindo a ele repetidas vezes como minha paixonite-mor em meio ao Nyah! High. Ele seguia intocável, inalcançável, uma ideia tão distante da minha realidade — mas justamente por isso, eu sentia tanta liberdade em expressar como me sentia.

Afinal, o que eu poderia perder?

Foi a partir deste momento que ele começou a me notar pela primeira vez. Suas respostas eram gaiatas e vagas, mas aquela sensação de que ele me enxergava ali, no mesmo lugar que ele, era surreal. Eu me sentia um adolescente em idade de ensino médio, talvez porque eu realmente era.

Quando Júlio se ausentou do grupo, foi um momento melancólico para todos que encontravam abrigo sob aqueles tetos fictícios. Sua aura engraçada e seus Jornais de Arranca-rabo fariam falta para animar os membros do corpo estudantil, mas o rapaz decidiu que seria melhor para si e para os outros se ele se afastasse.

O clima taciturno assombrava Nyah! High, que ainda tentava se recuperar de uma época não muito pacífica que precedia aquele dia. Todos tentavam se reerguer após um período que trouxe dor, destruição e desunião sobre aqueles que dali faziam parte, e nem mesmo as mestras-regentes conseguiriam levantar a moral e o equilíbrio dos membros tão facilmente.

A despedida do jornalista causou tamanhos desconsolo e indignação que os membros se harmonizaram e lutaram juntos pela sua permanência. Uma montanha de elogios, mensagens de positividade e pedidos para que ele retornasse ao seu verdadeiro lar com seus jornais. Eu fui um desses membros, e digamos que meu jeito de convencê-lo a voltar não foi o mais discreto.

A realidade me deu uma forte tapa na cara e me incentivou a seguir em frente. Caramba, aquele poderia ser meu último contato com o objeto de minha admiração! Por que, então, eu deveria me segurar e desperdiçar a chance?

Aquele foi o fatídico fantástico momento em que ele realmente me notou, me respondeu e o meu ar se perdeu. Meu coração corria a mil por hora e eu não sabia como prosseguir fazer dali em diante, então, me limitei a replicar seu comentário com a reação que mais resumia meu estado no momento: “uau”!

Como toda boa comédia romântica, tudo se resolveu e acabou bem, como deveria. Júlio acabou regressando ao grupo e fazendo outro Jornal para continuar o legado dos outros dois já lançados. Só que isto não é uma comédia romântica, pois já estabelecemos anteriormente que este é o desenho do Coiote e do Papa-Léguas. Acorda.

Alguns períodos a mais se passaram e tudo voltou ao normal, se é que existe um pingo de normalidade por lá. Lamentavelmente, a tão aclamada e promissora saga dos Jornais não divertiria mais ninguém, já que encontrou seu amargo fim sem nenhum aviso. Júlio e eu continuamos a coexistir pelas classes de Nyah! High, sem que nossos caminhos se cruzassem tanto assim.

Eu seguia me perguntando o porquê de nós não seguirmos em frente, não subirmos de nível. Qual seria a pedra em nosso caminho, afinal? Seria a minha insegurança, a sua indiferença ou algum fator externo e aleatório? Aquela incerteza consumia meus pensamentos e me afundava em ainda mais questionamentos que eu certamente não saberia responder.

Mas eu não poderia confiar aquilo às mãos do destino para sempre. Decidido a me destacar em meio às correntezas do acaso, eu reuni toda a coragem que pude encontrar e parti para tomar uma atitude que me impulsionasse em alguma direção, qualquer que fosse — enviar um convite. Assim fiz, e após longos instantes que pareceram eternidades, comemorei ao ver a confirmação de amizade. Eu poderia, enfim, pôr o meu plano em prática.

Isto é, se eu tivesse um plano.

De certo, eu tinha um objetivo claro em mente — quer dizer, tinha? —, mas não fazia ideia de como alcança-lo ou de como encontrar um caminho para poder chegar até lá. Lá estava eu, mais próximo do que eu nunca estive, mas outra vez de volta à estaca zero.

Pelo visto, eu estava mesmo certo.

Ele era inalcançável.

Ele era intocável.

Ele não era pra mim.


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Notas finais do capítulo

Sintam-se à vontade para comentar suas críticas, opiniões e sugestões! ♥

Espero de verdade que tenham gostado! Até a próxima!