Calabasas' Almost Fairytale — Interativa escrita por Mxtheusx


Capítulo 15
14 — Dare Devil


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês! Nesse capítulo eu quis mostrar mais sobre como é a vida escolar dos personagens e claro, além da volta de Melinda para as salas de aula, mesmo que ela esteja toda remendada parecendo uma boneca de voodoo.



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Desde que havia acordado há algumas semanas atrás Melinda ainda não havia recebido permissão para sair do hospital, ela ainda tinha cicatrizes, em alguns lugares da cabeça precisou raspar o cabelo para que os médicos dessem pontos, ela ainda sentia as pernas um pouco fracas e precisava do auxílio de muletas. Era estranho voltar para a escola, ela se lembrava do primeiro dia de aula, depois do verão. Tudo tão iluminado, ela destinada a ser a capitã das líderes de torcida, o sol brilhando, a grama verde, todos animados. Completamente diferente daquele dia: a grama seca, o céu cinza, todos cabisbaixos e o que era aquilo no muro da escola? Sim, um altar para o ex-paquera de Melinda, Noah, o antigo capitão do time de futebol.

Era uma segunda-feira cinza, o primeiro dia do resto da vida de Melinda. Os olhos encheram de lágrimas quando ela viu todas as fotos de Noah, manchadas e destruídas pela chuva, velas que já haviam chegado ao fim, recados e poemas que nunca poderiam ser lidos. Mas ela não podia se atrasar, ela ainda era uma veterana e ainda precisava entrar na faculdade.

Os alunos de francês avançado da Calabasas Hills School estavam sentados em suas carteiras na sala de aula do terceiro andar, a maioria pretendia colar da forma mais inteligente, por exemplo, Elizabeth Marshall havia descoberto sobre a prova de última hora após ouvir uma conversa através da porta do banheiro dos professores e havia escrevido algumas dicas nas suas coxas, ocultadas pela saia de lã cinza, mas Melinda não havia se preparado para a prova surpresa. 

Angelina estava na fila da frente, perto do professor, o panaca do Sr. Jeanmaire, um homem completamente desprezível que gostava de olhar para a parte traseira das alunas assim que elas viravam de costas. Ele havia lhe dado um C na última tarefa, um artigo sobre personalidades francesas que inspiravam os alunos, acontece que se tratava de personalidades políticas e Angel havia escolhido Brigitte Bardot, por falta de atenção. Ele havia chamado o artigo dela de “condescente”. Então ela precisava arrasar nessa prova. 

A prova era dissertativa e começava com uma séries de questões que tinham de ser respondidas em um parágrafo descritivo conciso. A primeira pergunta era: “O que você faz no seu tempo livre?”, enquanto pensava na resposta olhou de canto e conseguiu ver uma Melinda Ferreira-Duarte completamente destruída, os roxos e cicatrizes embrulharam seu estômago. 

Mas não perdeu o foco! Essa pergunta era para lá de fácil. Angelina gostava de ajudar em eventos beneficentes, dançar, gostava de beber Ketel One com tônica com Alissa e fumar maconha. Elizabeth gostava de comprar sapatos extraordinariamente bem desenhados e caros, comer hambúrguer com fritas, praticar ginástica olímpica e de ler histórias em quadrinhos. Já Melinda gostava do que mesmo… Bom, ela gostava de estar viva, mas não conseguia pensar em nada no momento. 

A pergunta seguinte arrancou um suspiro de Elizabeth: “Descreva sua família”. O que ela diria? Ela não sabia ao certo as palavras em francês para “pai criminoso preso”, mas não podia responder isso. Sr. Jeanmaire não tinha um pingo de senso de humor. Angelina carinhosamente, apesar de todo o passado conturbado, descreveu a mãe como “uma verdadeira companheira, bastante elegante e uma matriarca dedicada”, o pai como “um homem de boa índole, trabalhador e carinhoso com os filhos” e os irmãos como “muito bonitos e excelentes dançarinos”. Nessa pergunta a mão de Melinda travou. O que ela diria sobre os pais? “Só estão juntos por minha causa” não parecia ser a resposta apropriada. 

A pergunta seguinte foi mais pessoal, em francês elas deveriam escrever sobre os futuros planos. Melinda mais uma vez sentiu-se perdida, sem saber o que escrever, Lizzie batucou o lápis na mesa não sabia o que queria para o futuro, só sabia que queria voltar para o passado, quando sua vida era plena e tinha sentido, ela queria que o pai fosse inocentado, queria muito um par de botas de couro caramelo que Jack se mudasse para a Austrália para que nunca mais tivesse que esbarrar com ele ou com sua namorada, evitando constrangimento. Angel sabia que queria ir estudar dança em Nova York, ou quem sabe na Rússia, um casaco de pele de ovelha e um chapéu de pele de raposa. E queria também que Ali fosse da turma avançada de francês para que elas se sentassem perto durante a prova e passassem bilhetes secretos aumentando a emoção e diminuindo o tédio. 

Sexta-feira havia sido tão divertido, pelo menos para Angel, ela só não queria ter ido para um after party, e depois para um after do after, e depois para um after do after do after, pois já era segunda-feira e ela ainda meio que tava de ressaca. O Sr. Jeanmaire deu um pigarro ruidoso. Nojento, pensou Angelina. Ergueu os olhos da prova e o encarou, ele estava focado nela, com aqueles cabelos amarelos. E o pior é que não era um amarelo do tipo louro, era amarelo como muco de um doente grave. Os olhos dos dois se encontraram e o professor corou. 

Excusez-moi?

Angel desviou o olhar, apavorada. Seus pés se balançaram de maneira nervosa enquanto ela procurava focar na próxima pergunta. Era completamente sinistra a ideia do professorzinho patético que ela achava que a odiava talvez estivesse afim dela. Era nojento. Queria ter tomado o café da manhã, porque estava morta de fome, mas talvez se tivesse comido teria vomitado ali mesmo. Quando voltou a olhar para o Sr. Jeanmaire mais uma vez, ele estava olhando para ela novamente. Sinistro. O rosto dele estava com uma sombra grossa de vermelho-arroxeado. O que diabos ele estava fazendo? Pensando no assassinato dela ou imaginando a cor de sua calcinha? Ela desviou os olhos mais uma vez, enojada. 

 

Dois andares abaixo, estava Alissa ralando em um debate de última hora sobre a história americana.

Não. Alissa não era exatamente do tipo que ralava. 

Ela sabia que iria ser uma das alunas obrigadas a falar porque todo mundo sempre queria ouvir o que ela tinha para falar, mas não havia conseguido escrever sobre nada, tudo que ela havia escrevido havia sido um ensaio muito curto sobre o envolvimento inglês na Segunda Guerra Mundial sobre como durante a guerra havia escassez de tudo e as inglesas tiveram de abrir mão de meias porque não havia náilon disponível e em vez disso, essas mulheres industriosas e fashionistas pintavam linhas nas costas da perna para dar a impressão de que estavam usando meias. Mas sabe, isso não era exatamente história americana. 

Alissa suspirou, observando Jack do outro lado do auditório. Ele estava estranho e ela sabia exatamente o por quê. Fotos de Alissa e Owen estavam em todas as páginas de fofoca no dia seguinte do que ela havia dito que seria uma “noite das garotas”. Eles haviam recebido o título de “novo casal da moda” de revistas como Entertainment Weekly, da Women’s Wear Daily e até da revista People, claro, além de terem sido motivos de fofocas em incontáveis páginas da Web. 

Isso era ridículo. Ela havia se despedido dele com um abraço e um beijo na bochecha quando escurecia na calçada do Polished Star Lounge no sábado, ela estava morta e precisava de um banho. Ele havia sido incrivelmente doce e os dois haviam fumado bastante maconha juntos, mas eles definitivamente não era um casal. Um casal se beija nos lábios, há atração entre os dois e apesar dos flertes de Owen, eles definitivamente não estavam apaixonados, apesar de ele ter mandado flores para ela no dia seguinte. 

Três dúzias de rosas vermelhas. 

Alissa estava acostumada a ganhar presentes dos caras, flores com toda certeza não lhe tiravam o sono, desde que Owen não confunde as coisas e começasse a perturbar ela todo dia. Ela sabia que os homens podiam exagerar um pouco, o seu pai era exatamente assim. Mas Jack era perfeito! Quando ela estava sozinha foi ele quem seguia ela para todo lugar, e que fazia companhia quando ela queria e quando mais precisava. No começo ela achava ele intenso demais, mas acabou que Ali estava gostando mesmo de Jack, eles combinam tanto… Apesar de Alissa colocar em sua cabeça que não estava interessada em combinar com ninguém. Ela simplesmente era assim. Valorizava sua independência, sua capacidade de seguir os seus próprios caprichos e fazer simplesmente o que gostava. A ideia de formar um casal de verdade e ter um futuro em relação a isso restringiria seu estilo. 

Não conseguia se concentrar no debate. Quem ligava para o que aconteceu no passado quando o futuro poderia estar bem à sua frente. Seria ela a futura Senhora William-Snyde… Não, a última coisa que ela queria era se tornar uma dona-de-casa-perfeita-robô que nem a mãe de Jack. Alissa queria um futuro com surpresas sensacionais e loucuras inenarráveis. 

Sentiu alguém dando um tapinha em seu ombro, a garota olhou. Era a Srta. Morris, inspetora de debates da escola. Ela era jovem, alta, magra e tinha um cabelo cortado de maneira tão simétrica que todas as meninas estavam convencidas de que ela usava uma peruquinha. 

— Que foi? — Perguntou Alissa, sobressaltada. — Já deu o tempo? Me encrenquei?

A Srta. Morris tinha um sorriso nos lábios. 

Ela colocou um exemplar da revista People nas coxas de Alissa. Estava aberto na página doze, uma página de fofocas, onde havia uma foto enorme de Alissa e Owen entrando em uma limusine depois de sair da Fancy 505 na madrugada de sexta para sábado. 

— Desculpe interromper, mas percebi que você estava terminando de escrever e fiquei me perguntando se você poderia pedir ao Owen para autografar isso. E seria ótimo se você autografasse também — Sussurrou ela — Sou uma grande dos feitos dele e da família dele. 

Ali piscou, um pouco confusa. Primeiro, ela nem sabia que a careta da Srta. Morris lia fofocas de revistas. Segundo, ela não tinha a menor intenção de pedir nada a Owen. E terceiro, ela não havia escrito nem cinco linhas direito. 

— Owen viajou — Ela mentiu. — Tudo bem se só eu autografar? — Ali deu uma olhada na sala, constrangida. A maioria dos outros alunos tinham parado de escrever e estavam olhando para ela e para a Srta. Morris ou sussurrando entre si.

— Soube que eles estão noivos e que ela deixou Jack para ficar com ele — Disse uma líder de torcida para outra. — Eles vão se casar na primavera, em Las Vegas.

Jack não pôde evitar de revirar os olhos. Que besteira era aquela?

— A People disse que eles se conheceram na Fancy 505 na sexta — Um garoto comentou com a amiga. — Mas não é bem verdade. 

— Eles se conheceram certeza na reabilitação, no ano passado, né?! — Uma garota chegou se intrometendo na conversa. — Dizem que ele já ficou na reabilitação centenas de vezes. Mas ela também. 

Alissa assinou seu nome e devolveu a revista à Srta. Morris, esperando que ela não lhe desse uma nota ruim no debate já que ela havia dito que não pegaria autógrafo de Owen. 

— Obrigada! — Sussurrou a mulher, com um largo sorriso nos lábios, toda animada. — Tenho certeza de que vai valer uma fortuna um dia! 

— De nada — respondeu Alissa, sendo indulgente com ele.

O zumbido no auditório estava ficando cada vez mais alto. 

— Muito bem, galera. De volta ao trabalho! — gritou a Srta. Morris tentando voltar os alunos ao controle. 

Alissa queria descobrir quando as forças armadas americanas entraram na Segunda Guerra Mundial, mas antes que pudesse começar a elaborar uma resposta, chegou um enxame de dezenas de colegas de turma, todas segurando exemplares de revistas para ela autografar. A Srta. Morris não podia dizer a elas para pararem quando foi ela mesma quem começou tudo aquilo.

— Muito bem, pessoal — Disse ela, ignorando completamente o olhar de súplica de Alissa. — Darei a todos cinco minutos a mais para elaborarem suas falas. Cinco minutos e depois quero que voltem a escrever! 

— Primeiro eu! — Gritou uma garota com o uniforme do time de torcida. 

— Não mesmo, sou eu! — Um brutamonte do time de futebol empurrou ela para o lado.

Alissa riu para si mesma de espanto. Quando Arabella e Alexis começaram a namorar ela estava completamente sozinha naquela escola, e agora todo mundo queria seu autógrafo. 

Ela conseguia ver Jack com um olhar distante do outro lado da sala, por um momento hesitou com a caneta posicionada em cima da foto do exemplar do jogador de futebol. Mas logo ela escreveu em sua típica letra cheia de voltas: Pra você que me ama, Alissa. 

 

Pedro odiava trabalhos em grupo, notoriamente os trabalhos dos formandos da Calabasas Hills School eram difíceis e longos, mas ele não estava nem um pouco preocupado. Tinha lido Frankenstein de Mary Shelley duas vezes e havia decorado os principais poemas de Walt Whitman. Até dormindo ele conseguiria tirar um A em inglês, então fazia questão de fazer seus trabalhos sozinho ou com alguém que não o incomodasse enquanto produzia.

Depois de desconstruir “Folhas de Relva”, o mais completamente possível, ele pegou o caderno de anotações e começou a escrever um poema que esperava que fosse se transformar em algo que podia se tornar inspiração para uma nova peça e quem sabe uma proposta para a universidade. Pedro raramente escrevia algo que não se tratava sobre angústia era difícil para ele escrever sobre amor e desejo, quando ele não sentia isso por ninguém ao seu redor. 

A grande maioria dos meninos da sala escrevia poemas para a aula que davam idéias que pareciam sexuais, mas Pedro não conseguia. Pedro sentiu que ele estava sendo observado, quando olhou para a esquerda, viu que quem estava sentado na mesa ao lado era Jason Osborne. Na sétima série, Jason havia sido o menino mais baixo de toda a sala, usava óculos com aros de chifre e ternos marrons de veludo e parecia que tinha de ir ao banheiro ao tempo todo. Ele agora havia mudado, somente o estilo e a altura, o rosto parecia o mesmo de quando ele tinha doze anos. Na sétima série, Pedro resolveu ajudar Jason quando a professora havia pedido para eles escreverem um poema: deu para o colega de sala um poema sobre as mãos, como elas ajudavam e tudo o que faziam durante o dia. Depois escreveu um poema para si que não tinha nem a metade da qualidade do primeiro. Jason tirou A+ com o poema das mãos enquanto Pedro conseguiu um B com um poema sobre sua estrutura familiar “perfeita”. “Sei que pode fazer melhor”, havia dito o professor. 

No começo Pedro não se importou, pelo menos ele havia ajudado um garoto que precisava de ajuda. Mas agora, Jason era o garoto de ouro da Calabasas Hills School, ele era o aluno mais prestigiado e certamente seria orador da turma, todos valorizavam o futuro brilhante que Jason teria, estudante de medicina em Harvard, ou em qualquer outra faculdade da Liga Ivy, ninguém se importava se Pedro iria estudar em uma das melhores instituições de artes do país, mas todo mundo aplaudia o fato de que Jason seria só mais um médico naquele país. 

Pedro tentou espantar aqueles pensamentos. Era necessário focar em pensamentos positivos, então ele olhou para cima e respirou fundo. Quando voltou a ler o poema viu o que tinha escrito inconscientemente. Vá se foder, seu babaca

Talvez aquilo fosse parte de um rancor, Jason estava em um relacionamento, estava apaixonado e com toda certeza era capaz de escrever sobre coisas que Pedro talvez nunca chegasse a experimentar, para que assim pudesse escrever sobre. 

Mas uma pergunta na lousa ele sabia responder: “O que Frankenstein significa para você?”.

Pedro sempre havia achado Frankenstein muito assustador, mas de alguma forma também, muito bonito. Frankenstein não desejava machucar ninguém, mas não conseguia evitar, afinal, era um monstro. De certa forma era como o próprio Pedro Anwhistle se sentia a respeito de si mesmo: horrível e maravilhoso, apavorante e encantador, arrepiante e triste, tudo ao mesmo tempo. Suas mãos tremiam com a energia criativa, pegou uma página em branco e colocou o título: Eu sou o Frankenstein

 

Eleanor Lightwood estava com um horário vago, então foi assistir um debate dos alunos do segundo ano, estava sentada no fundo do auditório. Conseguia ver os tapados dos estudantes da escola em volta de Alissa como abelhas operárias em torno da rainha, só porque Alissa tinha sido fotografada com aquele colunável insípido e analfabeto, inclusive eles estavam na mesma festa, Eleanor estava inclusive acompanhada do próprio filho do dono da boate.

Eleanor queria ser jornalista, então para ela era um absurdo que os veículos de comunicação perdessem página, tempo e espaço para colocarem “o mais novo casal da moda” nas páginas de fofoca. Foda-se as páginas de fofoca. Ela queria mesmo era mostrar a vida real que rolava na Califórnia, as coisas verdadeiramente interessantes que aconteciam bem debaixo do nariz das pessoas enquanto elas se ocupavam lendo fofocas sobre pessoas que nunca chegariam a conhecer verdadeiramente. 

Já sabia o que pretendia entregar à Universidade de Nova York: uma reportagem genial. Primeiro, ela queria acordar antes do amanhecer e filmar as garotas de programa desfilando ainda pela Hollywood Boulevard. O cheiro de cigarro barato a deixava enjoada, mas era uma das coisas perfeitas: ela podia acompanhar essa trajetória de mulheres que lutavam para se sustentar, enquanto outras filhinhas de papai gastavam o que aquelas mulheres recebiam em um ano, em uma tarde no shopping center. Um homem boa pinta e bêbado pararia com um carro luxuoso, de última hora, e contrataria uma daquelas mulheres após a noitada. 

Era a triste realidade, claro, ela adicionaria uma pitada de ironia, a ironia agridoce que Eleanor adorava. 

Depois da Hollywood Boulevard ela iria para Venice Beach, onde iria passar o dia com um daqueles tiras ciclistas que sempre estavam pedalando no calçadão da praia e que nunca pareciam ligar para os adolescentes doidões e bêbados de cerveja que perambulavam por ali sem ter idade para isso. O que ela queria descobrir era se eles já haviam prendido alguém, ou se só estavam tentando tonificar os músculos das pernas enquanto praticavam exercícios perto da praia. Provavelmente ela encontraria dificuldades em filmar e entrevistar os policiais de bicicleta sem alguma permissão, mas de qualquer forma, não era uma ideia ruim.

Por fim, ela queria sair com um viciado em drogas. Ver a casa dele, a família dele, o cachorro dele. Ver se ele tinha amigos. Se talvez, enquanto esperava para comprar drogas, ele fazia alguma coisa, tipo, ler um livro e sonhava em liderar homens algum dia. Ou talvez ele só ficasse feliz em ser um usuário de drogas e em um usar drogas o dia todo. 

Um movimento na frente do auditório chamou a atenção de Elly. Os puxa-saco estavam se afastando da cadeira de Alissa. 

— Obrigada, galera. E obrigada, Alissa — Gritou a Srta. Morris. — Mais dez minutos!

Eleanor ficou olhando enquanto Alissa voltava a escrever alguma coisa em seu papel. 

Ela sabia que Alissa já havia dado uns beijos em Rico, no mesmo dia em que ela queria ter beijado Rico. Eleanor cruzou as pernas e as cruzou novamente. Alissa e Rico estavam longe de ficar juntos, enquanto isso Elly e o garoto italiano estavam cada vez mais próximos, mesmo que eles não ficassem juntos, ela ainda tinha a vontade de beijá-lo. Mas era estranho, porque apesar de ela desprezar Alissa ainda havia alguma coisa na garota que lhe despertava interesse. Apesar do jeito durão e de seu desdém pela grande maioria das pessoas ao seu redor, Eleanor era só outra garota curiosa de 18 anos. 



Jack estava almoçando no Urban Plates com Charlie Avuldsen e Enricco Bittencourt Lefon naquele final de semana. Os jogos da temporada haviam sido uma pedreira total e os rapazes todos estavam carregando as energias com hambúrgueres, fritas e refrigerante pois sabiam que os próximos jogos seriam ainda piores. Jack pensava no quanto aquele restaurante devia ter investido em ventiladores de teto para afastar o cheiro de cebola frita que pairava no ar. Ele também pensava de maneira preocupante em Alissa e em Noah. 

Ele estava definitivamente evitando a própria namorada, havia visto somente ela na aula de debate, onde havia mantido distância o tempo todo e no final haviam dado um selinho, desde então não haviam se falado, o que era meio estranho já que costumavam se falar todos os dias, porque geralmente ele sempre enviava mensagens de texto para ela ou deixava alguns bilhetes no armário dela no corredor da Calabasas Hills School. Mas naquela semana especificamente eles haviam agido com frieza um com o outro. Ela sabe, ele pensou.

Jack afastou o prato e tirou o Iphone do bolso. Não doeria nada mandar para ela nem que fosse uma mensagem de texto, só para, caso ela esquecesse, ainda tinha namorado. 

Oi, só queria saber se vc ta bem, escreveu ele. Mais tarde podíamos nos ver.

Quanta consideração!

— Ei, para quem você tá mandando mensagem, cara? — Perguntou Charlie. Ele era um cara baixinho, meio parvo, tão magro que não conseguia manter a calça na cintura, mas era bastante charmoso e chamava a atenção das garotas, tinha um corte de cabelo de astro do rock inglês e falava como se estivesse chapado vinte e quatro horas por dia. Claro, além de ser o mascote mais irado de toda a Califórnia. 

Jack deu de ombros. 

— Ninguém.

Charlie enfiou um punhado de fritas ensopadas de cheddar na boca. Enricco olhou enojado para o garoto.

— Jack, precisamos de conversar sobre algo sério — Enri começou. — O que vamos fazer agora que o Noah morreu.

— Isso foi triste para um caralho, mas precisamos pensar no melhor pro time — Charlie disse com a boca cheia. 

— O time conversou e o treinador falou também… — Enricco não sabia como dizer aquilo depois de tudo o que ele havia passado com Jack.

— Decidimos que você vai ser o próximo capitão — Charlie disse após engolir as batatas. 

O que? Aquilo não podia ser real? Jack sorriu, claro, no fundo a consciência havia pesado, mas ele ainda estava anestesiado pela euforia que a notícia havia lhe causado. Caralho. Agora ele era capitão do time, o que ele queria e o que o pai sempre quis. Tentou imaginar como seria ele contando para Alissa a notícia, ela correndo para os seus braços e o beijando, mas só o que vinha à cabeça era a imagem de Noah desacordado no banco de trás do carro destruído de sua namorada. 

Ele tomou alguns goles de coca-cola, semicerrando os lindos olhos claros. 

— C-Claro… Vou dar o meu melhor! — Jack disse animado. 

Os rapazes continuaram comendo, até que Charlie decidiu quebrar o silêncio.

— Ei, Jack. Você é bem amigo daquela garota, né? A Lizzie — Ele disse molhando uma única batata frita no ketchup. 

— Sou sim. Por quê? — Jack ficou um pouco nervoso de lembrar do que havia acontecido entre ele e Lizzie… Era muito estranho.

— Não sei por que, mas ela anda bem gostosinha ultimamente — Charlie comentou. — Eu notei que ela tava bem gostosa no último treino das meninas. Você podia nos apresentar.

Jack sorriu, de repente a imagem que tinha de Alissa o abraçando se transformou na imagem de Lizzie o abraçando. Sinistro. Mas seria tão ruim assim? Isso era tão confuso, se ele era apaixonado por Alissa, por que Elizabeth estava em sua cabeça? Seria ruim assim sei lá, gostar de Lizzie de outra forma? Jack nunca havia parado para pensar nisso. Ele gostava muito de Lizzie, ela não era tão exigente, com ela ele podia ser ele mesmo e ela meio que deixava ele ser livre com seus próprios pensamentos, enquanto com Alissa, Jack sempre sentia que tinha de ser a melhor versão de si mesmo, se superar, como dar presentes caros para ela, não que ele achasse algo disso ruim. Apesar dos defeitos de Alissa, contudo, ele sentia vontade de ser uma pessoa melhor em todos os sentidos possíveis, queria ser bom o suficiente para merecer o amor dela. Porque com ela, diferente de seu relacionamento anterior, sentia que estavam indo em direção a alguma coisa. Havia um destino.



Arabella ajeitou o rabo de cavalo e revirou os olhos durante a aula de saúde, ela havia tido uma noite mal dormida, em um motel barato, porque não estava suportando ainda olhar para a cara do pai, então ela não era a pessoa mais disposta do mundo a discutir sobre amor, sexo, xampu e peculiaridades dos garotos. Ela estava achando aquela aula a maior besteira do mundo. 

A classe toda estava sentada em um círculo no chão atrás de uma janela no canto aconchegante de uma sala que a escola havia projetado especificamente para aulas íntimas, como as aulas de saúde. No chão havia um carpete felpudo carmim em vez do carpete cinza institucional que revestia a maioria da escola. As paredes eram pintadas em um animado azul-centáurea, com as bordas em branco cintilante. Havia um grande quadro-negro sem moldura, com muito giz colorido e não havia carteiras, talvez por que realmente era para criar um ambiente mais descontraído e mais confortável. 

Quem dava aulas à turma era a Srta. Sabine, uma professora de dança hippie que tinha 26 anos, um corpo escultural tonificado pela ioga, cabelo loiro com luzes que iam até a altura de seus ombros e um rosto bronzeado que sempre estava inteiramente sem maquiagem. Para Arabella era a única professora no departamento de educação física que não parecia uma caminhoneira, e as meninas adoravam o jeito tranquilo e aberto dela. O único problema dela com a professora era que apesar de deixar com que, inicialmente, as meninas escolhessem o tema da discussão, passavam a maior parte da aula falando de meninos. 

Arabella simplesmente não se via naquela aula, ela não entendia a utilidade da mesma. Isso porque era bastante evoluída para sua idade, mas as outras meninas ainda tinham uma péssima noção de sexo e de DSTs. Arabella havia menstruado ainda na quarta série e na sétima já tinha perdido a virgindade. 

— Senhorita Sabine, você acha que temos que estar apaixonadas pelo cara que fica com a gente? — Perguntou uma das garotas.

Arabella não conseguiu evitar, revirou os olhos e antes que professora conseguisse pensar em uma resposta delicada, a jovem se manifestou. 

— Óbvio! Definitivamente, quer dizer, talvez leve um tempo para que os dois percebam que realmente estão apaixonados, mas se você não estiver… — Ela respirou fundo, percebendo que talvez o que ela estivesse falando se aplicasse em sua própria vida — Então acho que deveria terminar. 

Arabella teve vontade de enfiar a cabeça num buraco. Sua idiota, porque simplesmente não segurou sua própria língua?!, pensou consigo mesma. Agora toda a classe olhava para ela, inclusive a professora. 

— Quer dizer, ãhn, não acho que tenha de terminar tão radicalmente, porque talvez vocês ainda fiquem juntos e tudo e só estejam esperando sei lá… O momento certo para se amarem — O que ela tava falando? Arabella, cala a boca, disse a si mesma. 

A Srta. Sabine se iluminou. Assentiu e exibiu um largo sorriso sem batom. O amor era um dos temas favoritos dela. 

— Acontece que, vocês ainda estão jovens, e na primeira vez em que se apaixona, pode dificilmente reconhecer. Algumas pessoas confundem a paixão com uma gripe. 

Algumas pessoas riram, Arabella ficou séria, continuava achando aquilo uma bela de uma besteira. 

— Mas não é como se você tivesse de estar apaixonado para estar em um relacionamento, a maioria de vocês tem seus 17 ou 18 anos. Não é como se fossem se casar, vocês ainda estão aprendendo a se relacionar com as pessoas. É como experimentar roupas e estilos. Tem de se experimentar todos os estilos e tamanhos diferentes para ver qual combina melhor com você. 

Arabella não via as coisas daquela forma… Talvez, ela não precisasse dar certo com Thomas, apesar de querer. Ela não precisava simplesmente se encaixar nele, ela podia muito bem arrumar alguém com quem combinasse. Ela puxou um fio de lã do  tapete carmim. Tinha alguém com quem ela combinava, e havia estragado tudo por causa de uma besteira. Se as pessoas eram que nem roupas então talvez Alexis tivesse sido seu primeiro jeans da Diesel, que ela havia ganhado do pai e só usava em ocasiões especiais porque não queria que ficasse sujo, mas quanto mais lavava, melhor ele ficava, até que ficou apertado demais. 

 

Sebastian havia entregado seu ensaio sobre a proposta do clube de culinária para a secretária do diretor mais cedo naquela manhã. Com um pai francês não havia a menor possibilidade dele ter ido mal na prova surpresa de francês avançado e quando já havia apresentado o seu trabalho sobre as bruxas de Salem, ele foi até a sala da orientadora Srta. Dabovich, ver qual era o interesse que ela tinha em conversar com ele. 

A orientadora estava remexendo em suas pastas, as pernas cruzadas com elegância na altura dos joelhos. E como sempre ela estava vestida de rosa da cabeça aos pés. 

— Ah, olá, Sebastian. Por que não se senta?

Sebastian estreitou os olhos, ela falava com uma voz quase que robótica, certamente havia algo de estranho sobre aquela mulher. Ele se sentou na dura cadeira de madeira que ficava do outro lado da mesa da Srta. Debovich. 

— Li seu ensaio — A Srta. Dabovich vasculhou a pilha de pastas na mesa até encontrar a que estava marcada com “Chanté”. Depois franziu os lábios finos e deu uma pancadinha de leve no nariz com um lenço de papel. Ela vivia tendo sangramentos nasais, era quase que nojento, mas os alunos especulavam que ela tinha uma rara doença contagiosa. Era besteira, mas a maioria dos alunos tinham medo de tocar o que ela lhes dava. 

Sebastian ergueu as sobrancelhas escuras e por fazer.

— E? 

A Srta. Dabovich olhou para ele. Seus cabelos louros e ralos roçavam no queixo. 

— Ficou muito boa a sua proposta para o clube de culinária da escola, mas… — Ela coçou o próprio queixo. — Acho que é melhor fazer outra tentativa se quiser ir mais longe. 

Levou um minuto para que Sebastian registrasse o que a orientadora tinha dito. A Srta. Dabovich abriu a pasta de Sebastian e apontou para as páginas dentro dela com uma unha comprida e de um rosa metálico asqueroso. 

— Este é uma proposta muito legal para um futuro aluno de uma escola de gastronomia da Califórnia, talvez de Nova York — Começou ela. — Mas se quiser ir mais longe precisa provar que pode escrever bem, que pode pensar de forma criativa e de forma inovadora — Ela devolveu o conjunto de papéis para Sebs.

Sebastian segurou as sete páginas grampeadas entre o polegar e o indicador. Sebastian tinha dificuldades em se impor, mas naquele momento morreu de vontade de dizer à Srta. Dabovich ir se foder, mas ele sabia que a orientadora era muito boa em seu trabalho. E se alguém podia ajudá-lo a entrar em qualquer escola internacional de gastronomia, esse alguém era a Srta. Dabovich. 

— Tudo bem — disse ele, concisamente. — É melhor eu ir me preparando para o ano que vem.

— Bom menino. Procure não ser tão literário. Não fique tão preso a teorias, deixe isso para aqueles que vão cursar direito, vão estudar negócios ou medicina. Você vai seguir um sonho! 

Ao sair da sala pensou em simplesmente escrever em um papel: Me deixe entrar nessa merda! E mandar para o escritório de admissão da Le Cordon Bleu no próximo ano, mas Sebastian simplesmente não era esse tipo de pessoa. 

Ele seguiu pelo corredor onde iria até o seu armário seu casaco de esqui vermelho da Adidas, esbarrando com Scarlett Topaz e Eleanor Lightwood. Scarlett logo pulou em cima dele e selou os lábios dela aos seus. 

— Como foi na prova de francês? — Perguntou Sky. Tinha chovido essa manhã quando ela estava indo para escola, seu cabelo ruivo ainda estava úmido. 

— E aí, Scarlett?! Tá parecendo um poodle que foi atingido por um raio — O engraçadinho do Thomas Carter gritou enquanto passava por eles. 

— Não liga para ele — Sebastian disse dando um beijo no rosto dela — É um idiota.

Eleanor penteou o rabo de cavalo curto com os dedos e ergueu o queixo. 

— Eu acabei indo em um debate sobre história, não eram os formandos e parecia extremamente fácil — Eleanor sempre se fazia de superior quando o assunto era escola. — Foi curto, mas vocês tinham que ver a Alissa. Ela nem terminou. Ainda estava sentada lá, tipo assim, encarando o cabelo quando eu saí.

É claro que ela deixou de fora a parte sobre Ali dar autógrafos. 

— Tenho certeza que ela se deu bem — Respondeu Scarlett, com um pouco de lealdade. Não era como se Alissa fosse burra. Ela nunca estudava e não estava nas turmas de estudos avançados, mas ela sempre conseguia se sair bem o bastante para participar da aula e escrever artigos meio decentes. Ela era inteligente, apesar de todos os professores se queixarem dela não utilizar todo o potencial desde que estava na segunda série. 

Mas a verdade é que seria injusto se Ali fosse bonita daquele jeito e ainda por cima só tirasse A. 

— E aí? O que a Senhorita Dabovich disse sobre o que você entregou para ela? — Perguntou Scarlett mudando totalmente de assunto. 

— Ela gostou — mentiu Sebastian, mesmo que esse não fosse um costume dele. — A gente se vê depois, tenho algumas coisas para fazer. 

— Peraí! — Gritou Sky.

Mas ele já havia virado o corredor e sumido. Foi quando Alexis passou por elas e Eleanor não se conteve, fez um “psiu”. Acima de tudo ela era uma jornalista e havia algo que ela tinha ouvido no auditório no outro dia que havia lhe deixado com uma pulga atrás da orelha. 

— Alexis!

Alexis se virou e esperou.

— O que é?

— É verdade que Alissa e Owen estão noivos?

Alexis mal conseguiu conter o riso. Ela sabia que devia contar a verdade a elas, mas seria muito mais interessante não contar.

— É — Disse ela, sacudindo a cabeça com um sorriso de descrença. — Não é uma loucura?


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Notas finais do capítulo

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