O Voador escrita por Gabriel Gorski


Capítulo 9
Um Passado A Ser Lembrado




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Devido a este incidente, partiram dois dias depois, num navio de modelo diferente ao que seu pai criara. Os aprendizes foram despertados durante a madrugada para abastecer os navantes com alimentos, mantimentos, barris de água e cimélia, os pertences de cada tripulante e outras tantas necessidades. Ainda de madrugada foi feita uma divisão dos grupos, onde um poderia escolher seus companheiros de viagem, antes de partirem logo em seguida, ainda sonolentos. As panelinhas se mostraram úteis para compor quatro grupos de oito, nove, doze e treze aprendizes.

O navante suavemente flutuava nos céus. Já era dia e Ecco tentava parecer firme, mas segurava com ainda mais firmeza na amurada, usando ambas as mãos. Observava o oceano, admirado, tão longe quanto Erall, e ainda mais imenso. Por um instante, porém, imaginou o que aconteceria se caísse daquela altura. Ecco se afastou da amurada e decidiu focar em todos ali.

Os testes, Capitão Gage explicara, já haviam se iniciado no momento em que pisaram dentro do navante. Avançariam para o leste, a favor do vento.

As asas laterais azuis do navante foram esticadas, retesadas através das muitas cordas presas ao mastro principal ou aos ganchos próximos à amurada. Nos mastaréus, três grande velas triangulares ajudavam o barco a se mover. Rezz e Lièspe foram encarregados de ajustar a posição delas. Naquele instante, porém, tudo que tinham que fazer era admirar a viagem. Ecco admirava a visão que tinha da popa, onde estava. O convés, longo como uma espada, estava cheio de caixotes e barris. A meia nau, duas enormes rodas de madeira, uma de cada lado, ornamentavam a embarcação. A tripulação se dispersava entre conversas e meios de se passar o tempo.

Yearnan estava sentado, quase escondido, entre dois barris de rum, sem enjoo, pelo menos. A sorte não era a mesma para outros três que se debruçavam sobre as amuradas para vomitar. Lièspe era o único dos treze garotos a não demonstrar nenhum temor, tremor ou enjoo. O Capitão Gage estava de pé na popa do navante, controlando o navante pelo timão e por um painel de controle avançado, tecnologia de Nethora.

— Capitão Gage. – Ecco o chamou.

— Sim.

— Por que vocês não se vestem como nas histórias?

Gage riu. Não esperava uma pergunta tão inútil.

— Nós não somos piratas, garoto. Somos a Armada das Ilhas Voadoras. Somos os mocinhos na história.

Gage usava um longo sobretudo azul, camisa de cetim abotoável, calças de linho, talvez e botas negras, além de um chapéu tricórnio característico. Ecco, assim como todos os outros, usavam camisas folgadas

— E o que faremos?

— Vamos distribuir toda esta carga para muitas ilhas, desde Forgspeek até as que ficam acima do Reino da Garra.

— Não sabe o nome delas?

— Eu trabalho por aqui, em Forgspeek. É uma vasta área, e cada um é encarregado de trabalhar dentro de alguns limites. Não existe nenhuma ilha que não possamos chegar. – Gage claramente se orgulhava daquilo. – Quando digo distribuir, quero dizer que deixaremos na metrópole. Lá, outros navantes farão o resto do serviço.

— Aonde vamos?

— Porto Lendário.

Ecco se impressionou. O Porto Lendário não havia recebido este nome à toa. Diziam que era a cidade mais alta do mundo ínfero, com suas torres e mais torres, conectadas por pontes e passagens secretas. Os Portões do Mar, que tinham este nome pois foram construídos antes de Agheor existir, eram tão altos que até os icanes sentiam-se intimidados quando os viam. Animou-se, mas decidiu que se conteria.

Ecco fez uma série de perguntas sobre o navante, para focar a mente noutra coisa. Gage lhe explicou sobre a proa e a popa, a função do burro e como se abaixavam as velas. Era um processo muito complexo e Ecco não aprenderia tão rápido.

— Como funciona o motor? – Perguntou.

— O motor é alto tão incrível que não se deve simplesmente falar, terá que ver de perto. – Explicou. – Ratoeira. Assuma o comando.

Ecco se assustou com o nome Ratoeira. Um rapaz em pé no mastro saltou para o convés e subiu até a popa.

— Ora, se não é o azarado Ecco. – Ele disse ao reconhecer o garoto.

Ecco o ignorou.

— Permaneça no comando e nada além disso. – Disse Gage, também ignorando aquela frase que, a ele, soou sem significado.

O Capitão Gage apontou para a tubulação de ferro na amurada de trás da popa, que vinha de debaixo do chão.

— Esses canos são carregados de vapor. – Começou. – O vapor é essencial para o movimento do navante. Ele que impulsiona a máquina, gerando energia. Energia é movimento.

— Não entendi.

— Vá chamar os outros para descerem. Eu esperarei lá dentro. – Disse, pacientemente.

Ecco e os outros aprendizes logo estavam no interior do navante. Era uma lugar escuro, sujo, quente, coberto com fuligem, carvão e tinha cheiro de fumaça. Toda a carga que não estava no convés estava ali. Uma única luz brilhava do outro lado do recinto, abaixo da proa, além da luz que vinha de dentro da fornalha, através de uma fresta por onde era jogado o carvão. Ela era alimentada esporadicamente por um homenzinho parrudo que estava sentado à beira de uma mesa, lendo alguma coisa à luz de uma vela. Quando viu o Capitão, pôs-se pé e tirou um pano do bolso para limpar as mãos. Ecco então pode ver que era um balute, com uma longa barba trançada e com o rosto cheio de fuligem, ou carvão, talvez.

— Meu bom capitão. – Ele disse. – Como posso ajudar?

— Dwanthar, relaxe. – Disse o Capitão. – Trouxe os aprendizes para conhecerem o motor do navio. Poderia explicar como é?

— Ah, claro. – Disse o balute, levantando a mão num aceno. – Sou Dwanthar, o Maquinista. Muito prazer. Alguém sabe o que é isto?

— Uma fornalha. – Respondeu Casiraghe.

— Muito bem, muito bem. Funciona assim: Se eu jogar carvão ou lenha aqui dentro... – E jogou um pedaço para demonstrar. – Veja só, está queimando. Esse calor esquenta o metal que reveste as caldeiras aqui e aqui. Dentro delas está a água.

Dwanthar indicou as duas caldeiras posicionadas nas laterais. Eram longas e tinham formas de cilindro.

— Água do oceano? – Perguntou Nthaír.

— Sim, sim. É muito boa para isso. Além disso, quando a água acaba, deixa uma coisa pastosa, sal impuro. – Gesticulava para representar. Dwanthar era inquieto, visivelmente. – Esse sal é ótimo para os negócios. Nós vendemos por um bom preço para os Saleeiros, no mundo ínfero e no súpero.

Existe salinas no mundo súpero? Ecco se questionou. Decidiu que procuraria saber disto depois quando ouviu a pergunta de Yilen.

— O que é a energia destrutiva?

As expressões no rosto de Dwanthar se amarguraram.

— A energia não é boa; não, não é. – Disse.

— Quero entender como ela funciona. – Rebateu.

— A energia é inexplicável. Não há como saber o que é ou o que faz. – Disse Gage, claramente incomodado.

— Que perda de tempo. – Disse Rezz, retirando-se. Vários outros o acompanharam, mas Yearnan, Nthaír, Zaia, Lohan e Arphel continuaram ali.

— Como a energia possui utilidade se não conhecem a serventia? – Ecco indagou.

O Capitão Gage sentiu-se encurralado, mas percebeu ali um traço muito característico de um velho amigo de infância. Não demorou para associar os pontos.

— Você é um Adahryn.

Tanto Ecco quanto Dwanthar e os outros se surpreenderam.

— Como... como é que...

— Eu conheci o seu pai.


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