O Voador escrita por Gabriel Gorski


Capítulo 7
O Cais




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Dertang os levou pela mesma porta de onde vieram. Entraram num salão de tamanho mediano. Nas paredes estavam emparelhadas várias garrafas de vidro, com miniaturas de vários navantes diferentes dentro de cada uma delas. Aquilo era absurdamente inexplicável. Como aqueles navios foram colocados dentro da garrafa?

Para a infelicidade dos curiosos, Dertang logo virou à direita indicando uma passagem estreita. As escadas à frente eram longas e as paredes se estreitavam pouco a pouco.

— Valha, vamos ao subterrâneo! – Disse Yearnan aos burburinhos de todos ali presentes.

Ecco optou por permanecer calado. Dertang dividiu os aprendizes em cinco grupos, de acordo com a vila de onde vieram, multiplicando-se para coordenar cada um dos grupos. O grupo de Aerisco ficou por último.

A escada seguia em linha reta por alguns degraus antes de virar à direita num longo corredor. Ao final do corredor, outros degraus iam à direita duas vezes consecutivas. O padrão de espiral retangular se repetiu mais uma vez antes que chegassem ao lugar mais incrível que Ecco já havia visitado.

Era como uma gigantesca e extensa galeria, com a parede direita e o teto esculpidos na própria rocha, que se estendia tão longe quanto o olho poderia enxergar, antes que acompanhasse as paredes numa curva à direita. Entretanto, o que mais impressionava era o lado esquerdo e tudo abaixo deles. Não havia uma parede daquele lado ou um chão abaixo deles. Apenas a vastidão dos céus, abundante em nuvens grandes e pequenas, longas e curtas, nos mais diferentes formatos. Para baixo, tão longe quanto uma estrela, um vasto azul, brilhante e escuro, que se movia e reluzia com a luz do eda. Era aquele abundante azul que chamavam de O Grande Mar de Talassos. Os exorys deram um nome mais genérico; oceano, eles diziam.

A mente de Ecco era uma confusão de perplexidade e admiração. À direita, próximo à parede, tábuas bem organizadas e encaixadas formavam uma passarela para que pudessem andar pela através da galeria. Dispostos em apenas uma fileira rente ao adarve haviam vários navantes, das mais variadas pinturas e tamanhos. Homens e mais homens trabalhavam e mexiam-se para lá e para cá, dentro e fora dos navantes que ficavam presos a grossas barras de ferro fincadas no teto e na parede, abaixo deles. Várias cordas também eram amarradas, por garantia.

Dertang não parou de andar para que todos pudessem admirar a visão. Ecco, apoiado no parapeito, logo ficou para trás.

— Ei, criança. – Disse um homem em pé no convés do primeiro navante. Cabelo curto e meio grisalho, com barba semicerrada. Usava calças de couro e um tecido marrom amarrado ao redor da cintura. O homem jogou uma corda e disse. – Pensa rápido.

Ecco pegou a corda e olhou em volta. Subiu num caixote e então num barril para alcançar uma estaca onde amarrou a corda conforme seu pai lhe ensinara muitas vezes. O homem pareceu surpreso.

— Como é teu nome? – Perguntou.

— Ecco, senhor.

— O último nome. – Insistiu o voador.

— Adahryn. – Respondeu, contrariando o próprio querer.

O homem arqueou as sobrancelhas em surpresa. Ecco permaneceu parado por algum tempo, esperando que o homem dissesse algo, até lembrar que os outros se foram, então correu, sem dizer nada. Passou por alguns barris, caixotes, cordas e estivadores trabalhando antes de alcançar o grupo. Dertang falava.

— Esse é o modelo mais recente de navante. Não é grande, nem tem três andares no interior, como as caravelas. – Então reparou que Ecco chegou. – Está atrasado. Me diga, Ecco, qual é o nome deste modelo?

— O senhor ainda não disse. – Brincou com a própria sorte.

— Se não responder corretamente, quem sabe não te transformo num pássaro?

Todos se viraram para Ecco, desafiantes, temerosos ou intrigados. Pareciam até mesmo se divertir com a possibilidade. Um estivador deixou cair uma caixa ao lado dos aprendizes, assustando a todos, mas aquilo não serviu de distração para Dertang ou à resposta que ele tanto esperava.

— Este é um Adahryn, um navante criado por Qlarem Adahryn há doze anos, com um motor avançado giratório que produz a energia destrutiva.

Dertang sentiu um fundo de raiva. Talvez ele realmente quisesse transformá-lo num pássaro.

— Muito bem. – Falou. – Alguém pode me dizer o que é a Energia Destrutiva?

Ninguém respondeu, nem Ecco, que não quis bancar um sabe-tudo. Quando Dertang fez menção de falar novamente, um homem saiu de dentro do navante e o impediu de falar.

— A Energia Destrutiva é inexplicável. Não tentem cair nessa brincadeira. Ela consome tudo o que se aproxima dela, exceto – Hesitou. – o cristal castelar. Jamais ousem se aproximar do gerador, ou vão acabar perdendo partes de si.

— Aprendizes, este é Gage Vomthire, Capitão do Toliq Vermelho. – Dertang explicou.

O homem era forte e esbelto. Devia ter uns trinta anos, mas seu corpo era rígido como o de um jovem de vinte e poucos. Tinham, amarrado na cabeça, uma bandana vermelha, amarrado com um nó na parte de trás. Usava calças de couro e botas marrons que iam até o joelho. Uma camisa de mangas longas e folgada estava presa dentro das calças, com o colarinho frouxo. A maioria dos homens ali estava vestida assim. Eram verdadeiros érujos.

— Eu guiarei alguns de vocês na primeira missão. Apenas os melhores. – Ele disse, instigando-os a serem os melhores.

Um sentimento de competividade surgia dentro de cada um dos aprendizes, mas permaneceram quietos. Dertang foi direto ao tomar a palavra.

— Ainda não estão prontos. Porém, logo estarão.


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