—Hey Potter, acorde. –Mandou Remus, jogando o travesseiro no amigo, fazendo-o resmungar.

—Me deixe em paz. –Murmurou, cobrindo o rosto com o cobertor.

—Não vou me atrasar por sua causa.

—Deixe-o dormir mais um pouco, Lupin.

—Escuta Peter, você não cansa de puxar o saco do James? –Sirius perguntou fazendo Remus rir. Ele se aproximou da cama do amigo preguiçoso, parando ao seu lado. –Levanta logo ou você vai se arrepender. Sabe que eu falo sério.

Bufando James se levantou. Da última vez eles o deixaram amarrado à cama a manhã inteira. "Se quer tanto ficar aí, daremos um jeito nisso", eles disseram; então achou melhor se levantar mesmo que estivesse exausto pela noite mal dormida.

Quando todos – exceto o cabelo de Sirius – ficaram prontos, uma batida na porta foi ouvida. Curioso, Pettigrew se aproximou, não se surpreendendo ao ver a garota loira, cheia de sardas e com os olhos incrivelmente azuis, na porta.

—Bom dia, Marlene. –Disse dando-a espaço para entrar.

—Bom dia, Marotos.

—Bom dia. –Os outros dois responderam, mas Sirius não. Continuou concentrado em seu cabelo. Os outros três trocaram olhares confusos.

—Prontos? –Perguntou quando seu cabelo finalmente ficou como queria. Nenhum deles respondeu e McKinnon cruzou os braços, então ele soltou o ar, seguindo em direção à porta. –Vamos logo.

Com medo de serem estuporados caso o contrariassem, todos se levantaram, mas Marlene segurou o braço de Black, fazendo-o parar.

—Podem ir na frente, preciso falar com ele.

—Sinto muito, eu estou com fome.

—Passamos na cozinha depois. –O castanho fixou seus olhos nos da loira e, vendo que ela não desistiria, bufou.

—Alcanço vocês.

—Fiquem longe da minha cama. –Potter mandou antes de sair. Todos sabiam que deixar aqueles dois sozinhos no mesmo cômodo só podia resultar em uma coisa.

—Vejo que ainda está irritado pela noite passada.

—E por que estaria? Eu me diverti bastante. –Disse se sentando em sua cama, observando a garota a sua frente com os braços cruzados.

—Posso apostar que sim. –Marlene respondeu com uma risada enquanto se aproximava. Ela puxou a gola de sua camisa, revelando o roxo em seu pescoço. Parecia ainda pior do que na noite anterior.

Sirius empurrou sua mão e ela revirou os olhos, se jogando de braços abertos na cama que estava diante da dele. A cama de Potter.

—Me desculpe por tê-lo deixado esperando. –Murmurou após soltar um suspiro. Quando ele continuou em silêncio, a loira pegou o travesseiro de James, jogando-o direto no moreno. –Droga, Black! Eu não devia estar aqui me sentindo mal por sua causa, então pode, por favor, parar de me ignorar e voltar a sorrir daquele jeito irritante?

Como ele continuou em silêncio, Marlene se levantou irritada, marchando em direção à porta. Não conseguindo se segurar mais, Sirius se levantou e a puxou antes que alcançasse a maçaneta, deixando seu rosto a poucos centímetros do dele.

—Vai precisar de mais do que isso para ver aquele sorriso outra vez. –Disse, mas ele já estava em seus lábios daquela forma presunçosa que McKinnon conhecia muito bem.

E enquanto iniciavam um beijo intenso, os dois caminhavam as cegas pelo quarto. Caíram direto na cama de James – não que um deles fosse se importar. O corpo pequeno dela estava por cima do dele, de uma forma que já havia estado tantas vezes que ela tinha certeza, eram como peças de quebra-cabeças.

Soltando um pequeno riso, Marlene levantou o rosto, olhando atenta para os olhos escuros de Sirius, se lembrando da primeira vez em que o beijara, logo no segundo ano.

Estar próxima a ele era excitante, perigoso, intenso. Ele a entendia mesmo quando ela própria estava confusa e nunca impôs regras ao relacionamento deles porque sabia que aquilo só a espantaria.

Marlene McKinnon era como um pássaro, não havia nascido para ficar presa. Ela queria ver o mundo, viajar, se apaixonar várias e várias vezes mesmo que nunca fosse realmente entregar seu coração. Ele não fora feito para ser entregue, pertencia unicamente a ela e a suas aventuras. Marlene não precisava de alguém para limitar seus horizontes. Por isso havia ficado com Sirius por tanto tempo. Diferente dos outros ele a incentivava e apoiava mesmo quando não fazia parte dos planos. Ele era o único que não a puxava para baixo, mas sim impulsionava seu voo.

—No que está pensando? –Ele perguntou com um sorriso, tirando-a dos devaneios.

—Nada, só estava tentando descobrir qual é o seu problema.

—Qual é o meu problema? –Questionou com as sobrancelhas arqueadas, fazendo-a rir.

—Você não estraga tudo tentando me prender ou rotular o que temos, diferente de todos os outros homens existentes na face da terra.

—Talvez porque eu sou incrível. –Disse com um sorriso convencido nos lábios enquanto cobria o corpo da garota com o seu.

—Eu acho que não. –Marlene murmurou pensativa e ele fez uma expressão ofendida levando-a a gargalhar.

—Não está em posição de me contrariar, McKinnon. Tem que concordar com tudo o que eu disser para que então eu possa pensar em perdoá-la.

—Primeiro, pensei que eu já estivesse perdoada; e segundo, tenho que concordar com mentiras?

—Sou do tipo que guarda rancor então não, você não está perdoada. –Disse em seu pescoço entre um beijo e outro. –E sim, tem que concordar com as minhas mentiras, agora repita comigo: Sirius Black...

—Sirius Black...

—Você é o mais bonito, atraente, inteligente e sexy de toda a Hogwarts. Nenhum dos idiotas com quem saio chega aos seus pés.

—Eu sou a mais bonita, atraente, inteligente e sexy de toda a Hogwarts. Nenhuma das idiotas com quem você sai chega aos meus pés. –Ele estreitou os olhos, mas continuou sorrindo. Ela segurou seu rosto, lhe dando um selinho. –Obrigada, estava mesmo precisando dar uma levantada na minha autoestima.

—Como se ela já não fosse elevada o bastante. –Retrucou, rindo. –Eu odeio você.

—Tenho certeza que sim.

...

—Acho que dessa vez nós nos empolgamos um pouco. –Disse Marlene enquanto, apressada fechava os últimos botões de sua blusa.

—Droga, eu estou faminto. –Murmurou Sirius, se afundando no travesseiro.

—Se não começar a se mexer vamos perder o almoço também.

O castanho se levantou resmungando e rapidamente se vestiu. Quando se aproximou do espelho para arrumar seu cabelo, Marlene o puxou. Sabia que ele ficaria um século ali se não fizesse nada. Juntos os dois desceram as escadas do salão comunal vazio e, com um último beijo, saíram em direção ao salão principal.

—Seu cabelo está bonito assim. –Ele disse ao vê-la tentando dar um jeito nos fios rebeldes enquanto andavam.

—Considerando o fato de que aparentemente você gosta quando ele está parecido com uma vassoura acho que não devo confiar em você.

—Estou falando sério, Lene. –Black riu, segurando sua mão e a puxando para perto enquanto depositava um beijo em seus lábios.

—Se continuar assim nós não vamos chegar nunca.

—Então vem. –E ele saiu correndo-a ainda segurando sua mão. Ela riu enquanto tentava acompanha-lo.

—McKinnon e Black são um casal! McKinnon e Black são um casal! –Gritou Pirraça a plenos pulmões para quem quisesse ouvir, mas os dois simplesmente ignoraram.

Não demoraram a chegar ao salão, onde quase todos os alunos já estavam no fim de suas refeições. Antes de entrar, Sirius soltou a mão de Marlene e, lado a lado, eles entraram, se apressando para ir até a mesa da Grifinória, onde seus amigos já reviravam os olhos.

—Espero que tenham ficado longe da minha cama. –Potter murmurou quando os dois se sentaram.

—Com certeza. –Disse Black após trocar um olhar com McKinnon.

—Se eu sentir cheiro de cachorro antes de dormir eu juro que farei você se arrepender. –Avisou e ele revirou os olhos.

—O que perdemos? –Ela perguntou a amiga ruiva.

—Nada, só a introdução de uma das matérias mais importantes deste ano. –Lily respondeu.

—Que minha querida Evans terá o prazer de me explicar com muita calma e paciência. –Completou, fazendo-a revirar os olhos.

—Você deveria ser mais responsável, sabia? Os NIEMs estão cada vez mais próximos e seu futuro depende disso.

—Ainda temos um ano antes dos NIEMs, se acalme, não é como se fossem amanhã. –Marlene rebateu se servindo. –E Lily, você está falando como a minha mãe, sabe o que isso significa?

—Já sei o que vai dizer e discordo totalmente. Não preciso de nada.

—O que isso significa? –Peter perguntou.

—Que a Lily precisa urgentemente de uma distração. –A ruiva soltou o ar, cansada. –Eu falo sério, você está sempre sozinha com seus livros quando Dorcas e eu não estamos por perto. Precisa de aventura, Evans e já!

—O que houve com o papo da mulher independente que não precisa de um homem para se divertir porque no fundo tudo o que eles querem é prendê-la e impedí-la de conquistar o mundo?

—Não estou falando para você entrar em um relacionamento, sabe que eu nunca aconselharia isso. Só estou dizendo que um pouco de agitação te faria bem. E eu falo sério, você vai acabar tendo um ataque de nervos de tanto estudar. Quem sabe você encontre o amor da sua vida por acaso.

—Exceto que você não acredita que o amor exista.

—Não, mas o significado que essa palavra tem pra mim é diferente do que tem pra você.

—Às vezes fico me perguntando o que aconteceu pra você pensar assim, Lene. –Dorcas disse olhando para a amiga.

—Eu sou realista. O que eu quero dizer é que o conceito de felicidade varia de pessoa pra pessoa, assim como o de várias outras palavras. Para mim significa conhecer o mundo, aproveitar minha vida ao máximo, essas coisas. Já pra você e Lily tem um sentido diferente. No final cada um vai ser feliz do seu jeito.

—Então você não acredita no amor porque ele não faz parte do seu conceito de felicidade? –Dorcas perguntou.

—Não, não é por isso. –Ela murmurou. –Hey Potter, já convidou a Lily pra ir a Hogsmeade hoje? Ela precisa de distração, aventura, loucura, essas coisas e eu sei que você é perfeito pra isso. –E a loira piscou o olho para o castanho.

—McKinnon! –Repreendeu a amiga, fuzilando-a com o olhar ao ver o sorriso nos lábios de James.

—Pode não acreditar, mas como eu já disse mais de uma vez, Potter é o cara pra você.

—E-eu... Com licença. –Pediu Meadowes, saindo rapidamente do salão.

—Não adianta me olhar assim, a culpa não é minha se vocês são um excelente casal e por esse motivo o Potter não corresponde aos sentimentos da Dorcas. Eu já disse a ela para seguir em frente, até me ofereci para encontrar alguém novo, mas ela não quis.

—Você é inacreditável, sabia? –Lily bufou se levantando e seguindo pela mesma direção que a outra.

—Uma hora ela vai ter que desistir! –A loira disse ao ver que os Marotos mantinham os olhos fixos nela.

James sorriu, desviando o olhar da porta por onde a ruiva acabara de passar e grudando-o em Lupin. Por um momento questionou sua sensatez por fazer aquele pedido, mas não aguentaria mais a tortura que era não ter nenhuma resposta.

—Hey Moony, eu preciso falar com você. –Disse lançando um breve olhar ao monitor, que rapidamente entendeu que aquele era um assunto sério. Com um aceno de cabeça os dois se despediram dos outros e juntos, seguiram em direção à sala da próxima aula.

—Você está me assustando, Prongs. –Murmurou quando, ao chegarem na sala, Potter começou a andar de um lado para o outro pensativo, sem nem ao menos dizer uma palavra. -Prongs?

—Eu preciso que entenda que o que eu tenho para pedir é algo muito difícil. –Começou, sem dirigir o olhar ao outro enquanto levantava os óculos com o indicador. –E que eu nunca pediria isso se não confiasse em você.

—Tudo bem, agora você me deixou apavorado. Fala logo.

—Quero que convide a Lily para ir a Hogsmeade.

—Acho que receber o convite por outra pessoa não vai fazê-la aceitar. Sabe que ela vai me mandar gritar com você, não é? –Perguntou franzindo o cenho.

—Não estou falando de convidá-la por mim. Quero que a convide para ir com você. –Falou.

—O quê? Você por acaso enlouqueceu?

—Eu sei o que parece, mas preciso que faça isso.

— Por que me pediria algo do tipo?

—Quero testar uma teoria. Vai convidá-la ou não?

—Não!

—Por favor, Moony! Pela minha sanidade eu preciso que a convide para ir a Hogsmeade com você.

—Por que não estou surpreso, Prongs? –Sirius disse entrando na sala ao lado de Peter, com um sorriso divertido no rosto.

—O que eu perdi? –Peter perguntou, confuso.

—Prongs quer que eu chame a Evans para sair.

—Precisamos levá-lo para a enfermaria.

—Concordo.

—Sabe que vai se arrepender, não é? –Black avisou sentando-se sobre uma mesa de braços cruzados e com um sorriso divertido no rosto.

—Eu preciso saber, Padfoot.

—Primeiro de tudo: Por que está me pedindo isso? –Questionou Lupin.

—Ele acha que Lily não aceita sair com ele porque gosta de você. –Esclareceu o castanho.

—E preciso da sua ajuda para saber se é verdade. Vai convidá-la ou não? –Pediu mais uma vez, olhando bem nos olhos do amigo.

—Tudo bem. –Soltou um suspiro e cruzou os braços. James soltou o ar e colocou uma das mãos no ombro de Remus.

—Sabia que podia contar com você.

A sala se encheu de alunos da Corvinal e Grifinória para a aula de Transfiguração. A ruiva se sentou bem na frente da professora e assim que ela passou, Potter a indicou com um movimento de cabeça. Remus rapidamente se apressou e sentou-se ao seu lado e, mesmo que achasse estranho, ela não disse nada.

Marlene sentou-se ao lado de Sirius, logo atrás dos dois e James se sentou com Peter, bem ao lado. Não demorou para que Lupin recebesse um bilhete mandando-o se apressar.

—Lily? –Chamou e ela mirou seus olhos verdes em sua direção.

—Sim? –Perguntou, quando ele continuou em silêncio.

—Eu... Eu queria... Você...? –Os olhos de James estavam fixos nele, atentos a todos os seus movimentos.

—Algum problema, senhor Lupin? –A professora Minerva perguntou, fazendo com que todos se virassem rapidamente.

—Nenhum, professora.

—Então como eu estava dizendo, animagos são bruxos capazes de se transformar em animais sem o uso da varinha. –Continuou a bruxa. –Pode me dizer por que é diferente de um bruxo transfigurado em um animal, senhor Potter? Vejo que assim como o senhor Lupin, o senhor está bastante interessado na senhorita Evans esta manhã.

—Não só esta manhã, professora. –Sirius acrescentou e a mulher ignorou.

—O animago mantém a consciência quando transformado. –Respondeu, forçando-se a se virar para frente.

—Correto, dez pontos para a Grifinória.

Remus então apressou-se para pegar um pedaço de pergaminho, molhando a pena na tinta e escrevendo um "Preciso falar com você" antes que se arrependesse de ter concordado com aquilo. Empurrou para Lily, que assentiu logo que o leu.

Com o fim da aula todos os alunos, exceto os Marotos e Marlene ficaram na sala. Lily disse que eles poderiam ir na frente, pois precisava falar com Remus sobre a monitoria e, um tanto contrariados todos se apressaram para sair.

—O que houve? –Disse juntando suas coisas.

—Gostaria de ir a Hogsmeade comigo? –Convidou, olhando para qualquer lugar que não fossem seus olhos verdes.

Um sorriso divertido se formou nos lábios da garota e, ao não obter resposta, ele se forçou a encará-la. Tinha as bochechas vermelhas e o olhar apreensivo. Se a resposta dela fosse sim, James com certeza o mataria.

—Por quê? –Ela perguntou, analisando-o.

—Como?

—Quero saber por que está me convidando.

—P-porque você é bonita e inteligente... Gosto de você.

—Então o Potter não tem absolutamente nada a ver com isso? –Ela cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas.

—Não. Sabe que ele gosta de você, não vejo motivos para fazer isso.

—E ele vai ficar bem com isso?

—Somos amigos, ele vai entender. –Disse dando de ombros.

—Tudo bem, então eu aceito.

—O quê? –Arregalou os olhos.

—Eu aceito.

—Espera, você tem certeza? –Perguntou preocupado.

—Tenho, por quê? Você não? –Percebendo que ele não responderia, a ruiva se aproximou e beijou-lhe o rosto, saindo e seguindo em direção à próxima aula.

James com certeza o mataria por isso.