1979

O céu estava muito escuro naquela noite. Parecia muito mais escuro do que o habitual. Observar o céu pela janela do quarto havia se tornado um hábito desde que entrei para os Comensais da Morte. Sempre gostei de notar os pequenos detalhes das coisas. As cores presentes no céu, as estrelas que apareciam e sumiam (e então reapareciam) constantemente, os pássaros que voavam, às vezes em bando, às vezes sozinhos, em meio a tudo isso ela aparecia. 

A Marca Negra. Cravada em meu braço esquerdo a ferro e fogo. 

E só de lembrar de sua existência, aquela sensação horrível voltava. Meu coração batia descompassado, doía, conseguia sentir o sangue correndo em minhas veias, jurava que o céu iria cair sobre a minha cabeça. Era uma daquelas ‘crises’ novamente. 

— Colloportus — conjurei em direção a porta. 

Me sentei no chão, inspirando o mais fundo que podia e então soltando o ar pela boca, respirar, eu precisava me lembrar de como era respirar. Contando mentalmente de um a mil. Era um pequeno truque que eu costumava fazer comigo mesmo, um jeito que me fazia sentir útil em meio a esses terríveis ataques. 

Nem sempre funcionava, mas nunca deixei de tentar. Eu já havia me acostumado, afinal, não são todas as batalhas que eu poderia vencer. 

Quando a crise finalmente chega ao seu fim eu simplesmente me levanto e abro a porta. Como se nada tivesse acontecido a poucos minutos atrás. Simples assim.