Uma Nova Amiga...? escrita por Dream


Capítulo 3
Uma Amiga




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Vários minutos se passaram, e nada de ela voltar.

—... ela não pode ter realmente...

... e se ela foi pega?!

Oh céus, era tudo culpa dele! Ela fizera isso por ele... ele tinha que ir procurá-la! Mas quando ele estava para abrir a porta, ele ouviu passos do outro lado.

—!!!

Será que era a inspetora do dormitório...? Se ela o encontrasse ali... estariam os dois encrencados... mas... não seria justo deixar apenas Chiaki se encrencar... seria...?

Ele estava quase abrindo a porta, mas... não. Não tinha coragem. E se odiava por isso.

Chiaki estava se arriscando por ele... e ele nem para retribuir o sacrifício. Ele realmente não merecia amigos, pensou, caindo de costas na cama em frustração.

Decidiu estabelecer um tempo limite. Cinco minutos. Se em cinco minutos ela não voltasse... ele iria atrás dela.

Tic. Tac.

Quatro minutos... e nada.

É isso, ele pensou. Já chega. Já deixara de ouvir os passos da inspetora do lado de fora. Já era hora de ele sair. Levantou-se, aproximou-se da porta e... mais uma vez, passos.

Dessa vez foi por muito pouco, ele pensou enquanto recuava. Esses passos eram bem mais suaves... será que... a inspetora estava se aproximando sorrateiramente...?

A maçaneta girou, e imediatamente Chihiro procurou um lugar para se esconder. Tarde demais. A porta se abriu... e lá estava Chiaki, com dois pacotes de sanduíches em uma mão e uma lata apoiada no braço.

—Senpai! Graças a deus, não aconteceu nada... – Ele deu um suspiro de alívio, com a mão no peito. –... E-Espera aí, você foi até o refeitório desse jeito?!

—Hm? – Chiaki fechou a porta, e olhou para ele, confusa. –É claro que não. Eu fui à lanchonete do dormitório.

—... Ah. – Chihiro esquecera que, além do refeitório, cada dormitório tinha sua própria lanchonete. A maioria do que serviam era só lanche, por isso raramente os alunos iam até lá para jantar. Mas...

—... E a lanchonete simplesmente te serviu um lanche como se não fosse nada?!

—Bem, a moça perguntou onde estavam minhas roupas, eu disse que tinha perdido a hora e não dava tempo de me vestir. – Ela respondeu, com a mesma naturalidade de quem comenta sobre o tempo. –O que não é exatamente mentira... eu acho.

—... E ela simplesmente aceitou isso?!

—Ué... – Chiaki parecia genuinamente confusa, enquanto colocava os sanduíches e a latinha na mesinha de cabeceira. –Quero dizer, ela ficou me olhando de um jeito esquisito, mas... não é como se tivesse algum garoto lá, então qual é o problema?

—Não é essa a questão... aliás, falando nisso, TEM um garoto bem aqui! Na sua frente! – Mais uma vez, seu rosto corava por falar naquele assunto.

—Eu confio em você, Fujisaki-kun. – Ela lhe deu um sorriso tranquilizador. –Por isso, não tem problema nenhum.

—Mas...!

—Além do mais, você já viu tudo o que tinha pra ver, então não é como se fizesse diferença a esse ponto, certo? – Ela deu de ombros e pegou um sanduíche. –Eu não sabia qual sabor você gostava, então peguei dois iguais, ok?

—...

Bem, uma dúvida a menos. De algum modo, no entanto, o fato de ela estar nua na sua frente voluntariamente... fazia seu coração bater ainda mais forte. Tentando ignorar aquilo, ele finalmente cedeu e deu uma dentada no sanduíche que lhe era oferecido.

Era muito bom. Chiaki dividiu o suco em dois copos descartáveis, e os dois sentaram no chão, comendo sobre uma mesinha muito baixa. Não era exatamente um jantar, mas quebrava um galho.

—Ei, Fujisaki-kun... – Ela disse, enquanto mastigava, e continuou depois que engoliu. – O que você acha de fazermos um jogo juntos?

—Huh? – Chihiro olhou para ela, como que encorajando-a a continuar.

—Bem, eu não sei se eu seria muito útil, já que eu só sei jogar jogos, mas... eu acho que entendo do que um jogo deve ter, e você sabe programar, não é...?

—Eu não sei, senpai... – Chihiro pôs a mão no queixo, pensando. –Você certamente entende muito mais de jogos do que eu, mas... é necessário muito mais do que programação para criar um jogo. É preciso design de personagens, de cenários, trilha sonora... dentre muitas outras coisas.

—Ah! Uma das minhas amigas da classe trabalha com música! – Chiaki estava claramente animada com a ideia. –Talvez ela possa nos ajudar com a trilha sonora! Eu tenho uma amiga fotógrafa que talvez possa nos ajudar com os cenários? Digo, ela entende de paisagens, eu acho? E, bem, outro amigo meu é animador, talvez ele também possa fazer design de personagens e cenários?

—... Ainda assim...

—Não precisa ser uma super produção! – Ela segurou as mãos dele, os olhos ainda brilhando de entusiasmo. –Alguns dos meus jogos favoritos são jogos indie... não precisa ser uma produção milionária, basta que o jogo seja divertido!

—...

Basta que seja divertido, huh?

Chihiro olhou no rosto dela. Ela parecia estranhamente determinada... com suas habilidades de programação, ele provavelmente conseguiria fazer algo simples. E, aparentemente, ela estava satisfeita com algo simples.

Sem contar que... seria a primeira vez que trabalharia em um projeto junto com uma amiga.

—... tudo bem, senpai. – Ele, por fim, sorriu. –Eu topo!

Ela deu o sorriso mais radiante que ele já a vira dar naquele dia. Aquele sorriso... seu próprio sorriso acabou se alargando, de tão contagiante que era. Definitivamente o primeiro em sua lista de sorrisos que deveriam ser protegidos.

Eles passaram um longo tempo conversando sobre as ideias de Chiaki, que eram muitas, mas certamente precisariam de muito planejamento em cima. Chihiro também dava alguns pareceres sobre o que poderia ou não ser feito, e o que seria necessário. Em algum ponto, no entanto, as luzes do lado de fora começaram a se apagar... o toque de recolher estava se aproximando.

—... Eu... tenho que ir...

—Se quiser dormir aqui...

—Não dá, o inspetor vai checar os quartos daqui a pouco, se eu não estiver lá eu vou ter problemas...

—Ah!

Chiaki se levantou e foi até a porta, parando para ouvir o outro lado. Sem ouvir qualquer barulho suspeito, ela abriu e olhou para os lados.

—Ok, caminho livre... sabe achar a saída?

—Uh? Eu... acho que sim...?

—É melhor eu ir junto, então. – Não seria legal se ele se perdesse.

 

Quando eles saíram, o corredor estava surpreendentemente escuro e quieto. Chiaki segurou a mão de Chihiro e liderou o caminho.

Os dois íam caminhando calmamente. Não era bom fazer muito barulho.

—... Nanami-senpai...

—Hm?

—As garotas... realmente vão dormir tão cedo assim?

—Eu acho que sim... eu nunca parei pra notar que horas as pessoas vão dormir, na verdade. Eu mesma sempre vou mais ou menos a essa hora.

—Hm... – No dormitório masculino, o inspetor sempre parecia dar uma certa tolerância aos garotos que ficavam na sala de jogos, para eles terminarem suas partidas ou qualquer coisa do tipo. O toque de recolher nunca era exatamente na hora marcada. Parecia que era diferente no dormitório feminino.

E ao pensar em diferenças do dormitório feminino, o rosto de Chihiro mais uma vez esquentou levemente quando ele olhou para Chiaki e viu que ela ainda estava nua. Horas e horas de conversa o fizeram se acostumar àquela visão, mas pensar sobre ainda era embaraçoso.

—... Nanami-senpai...

—Hm?

—... D-Desculpa perguntar, mas... v-você sempre anda por aí... assim...?

—Assim...? – Ela olhou para baixo e viu o que ele queria dizer. –Bem, na verdade não... é só que hoje à tarde eu precisava tirar você do banheiro depressa, então não havia tempo para me vestir.

—... e depois...?

—Depois...? – Ela pôs o dedo no queixo, tentando lembrar. –A gente chegou ao meu quarto na hora que meu jogo baixou, e eu queria jogar.

—... e depois...?

—Hm... depois você dormiu no meu colo, e eu não queria te acordar.

O rubor no rosto de Chihiro se intensificou, ao lembrar da cena. Aquela sensação... quentinha e... macia...

—.... e... e depois...? – Foco, Chihiro, foco!

—Depois eu fui correndo até a lanchonete para pegar um lanche para nós dois...

—... e depois...?

—... – Ela ficou pensando por alguns segundos. Depois de voltar para o quarto... houve bastante tempo, de fato. –... Acho que eu esqueci.

—...

Chihiro não conseguia acreditar. Ele nunca imaginara que conheceria alguém distraída ao ponto de esquecer de vestir uma roupa... e tranquila o suficiente ao ponto de simplesmente aceitar isso e andar pelada pelo dormitório da escola.

Finalmente, chegaram à entrada. Ao abrir a porta, o ar frio da noite fez Chiaki abraçar o próprio corpo. Chihiro virou-se para ela e se curvou.

—Muito obrigado por tudo, Nanami-senpai!

—Eu que agradeço, Fujisaki-kun! – Ela curvou-se de volta, com um sorriso. –Vejo você amanhã?

Chihiro demorou para responder. Ele já estava começando a ficar com saudades, e pensando quanto tempo levaria até ele vê-la de novo... não esperava que ela fosse ter a iniciativa de marcar! Não pôde conter o sorriso.

—É claro, senpai!

O sorriso de Chiaki, mais uma vez, foi lindo o suficiente para aquecer seu coração enquanto ele se despediu mais uma vez, virando-se para ir embora.

—Obrigado por tudo...

Ele continuou repetindo para si mesmo, enquanto voltava ao dormitório. Obrigado por tudo... essa expressão tinha mais peso do que Chiaki provavelmente imaginava. Ele não estava agradecendo apenas pelas ações dela. Era realmente por tudo. Pelo que ela fazia... e pelo que ela era.

E o que ela era?

Uma coisa que Chihiro sempre quisera dizer de alguém, e agora, pela primeira vez, podia dizer com certeza.

Uma amiga.


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