7

Sasuke Uchiha

24 de Março de 2018 | Domingo

~*~

— E adivinha? Ela aceitou!! – Mais uma vez o idiota do Naruto fizera o favor de detalhar-me a sua vida amorosa sem eu lhe perguntar o quer que fosse – Namoramos!

— Boa – Disse desinteressado, aquele domingo estava demasiado chato.

— Quanto entusiasmo Sasuke! – Fez a sua birra do costume, ao que eu simplesmente fiz o favor de ignorar e mudar aquela conversa.

— O Shikamaru e o Sai chegavam a que horas mesmo?

— O Shikamaru está a chegar, o Sai disse que só vinha logo, estava com a namorada – E quando se fala neles, eles aparecem, ou pelo menos um deles: Shikamaru tinha tocado na campainha e rapidamente o atendi.

— Só os dois? O Sai? Pensei que era o último – Shikamaru perguntou surpreendido.

— É parece que está com a namorada – Respondi de volta à sala.

— Se soubesse também tinha feito planos – Naruto dizia mais para si próprio que propriamente para nós.

— Tantas saudades de Hinata já?! Não sufoques a donzela, capaz de morreres nas mãos dos Hyuga's – Shikamaru comentou rindo e ainda antes que Naruto tivesse tido tempo para refilar, interrompi-o:

— Hyuga's?!

— É, isso mesmo! Herdeira direta da tua empresa preferida – Ironizou para mim, enquanto Naruto assistia a tudo de braços cruzados.

— O idiota meteu-se na toca dos lobos – Ri enquanto relembrava daquela gente maldita.

— É, mas surpreendi-me. Ontem tive oportunidade de a conhecer e bem não sei como uma pessoa tão delicada atura um desastre como o Naruto – Voltou a rir-se na cara de Naruto e, daquela vez não demorou um segundo para que os berros da indignação começassem.

~*~

Já tinha anoitecido e quando a campainha voltou a soar fui até lá para que o Sai finalmente chegasse, mas quando abri a porta surpreendi-me quando o vi acompanhado. Franzi o cenho imediatamente e ele explicou-se:

— Err…Cheguei! A Ino veio ajudar-me a trazer as pizas para o jantar – Traziam três pizzas cada e de repente Shikamaru e Naruto tinham vindo curiosos até à porta, inspecionar a tal namorada de Sai que nunca ninguém tinha conhecido pessoalmente – Bom aproveito para apresenta-los: Ino este é Naruto, Sasuke e Shikamaru – Dizia apontando para cada um de nós – Esta é a Ino, a minha namorada – Cumprimentamos-nos todos e rapidamente entramos para jantar deixando Ino e Sai despedir-se mais privadamente.

~*~

25 de Março de 2018 | Segunda-feira

Não é como se soubesse exatamente onde me estava a meter, e apesar de passar a vida toda, desde que me lembro de existir, naquela empresa, consegui contar numa mão as vezes que fora ao piso 5. O desenvolvimento de dispositivos físicos de segurança nunca esteve entre os meus cargos, aliás, até mesmo em vistorias gerais ou novos lançamentos, ou era Itachi ou Fugaku que estavam dentro do assunto. A meu cargo estava toda a parte ligada ao desenvolvimento do software e, mais recentemente, à formação humana de segurança, mesmo que esta fosse cada vez menos utilizada hoje em dia.

— Bom dia – Cumprimentei a equipa que estava presente e todos pararam aquilo em que estavam concentrados para dirigirem a sua atenção para mim.

— Bom dia senhor. Temos alguns resultados em relação a testes de terreno que provavelmente veio verificar, certo? – Sasori, como representante principal do projeto, rapidamente se chegou à frente com alguns documentos.

— Exatamente – Respondi, enquanto passava pelos vários documentos entregues, sem grande atenção. Nada chamava realmente a atenção, eram só testes e mais testes, uns dentro da própria empresa mais controlados, outros em locais públicos, para uma simulação mais real; nada parecia anormal e mesmo que parecesse, para alguém como eu, tão descontextualizado daquilo, duvido que me apercebesse. De qualquer forma, sob pressão, teria de pôr-me a par de tudo o que se passava naquele piso.

— Avaliando de um modo geral, são resultados bem mais positivos, face à versão anterior. Nos últimos testes outdoor conseguimos ajustar todos os sensores – Continuou a explicação sobre o pronto de situação do projeto, enquanto eu tentava acompanhar tudo o que era descrito.

— Versão anterior? – Estava completamente perdido naquilo. E, por um segundo, lembrei-me de Itachi, ele certamente era a pessoa indicada para estar ali, não eu. Mas por mais que fosse negado, não havia outra opção ali.

— Sim – Notei a confusão na sua expressão com a minha pergunta – A versão anterior foi parada há cerca de 1 mês, depois da instabilidade que os testes lá fora revelaram, foi necessário até pelo interesse em corrigir más decisões que foram tomadas inicialmente – Explicou-se mais calmamente.

— Muito bem, irei analisar estes documentos com maior detalhe – Finalizei enquanto olhava em redor, observando o ambiente de trabalho – Esta será a última semana de ajustes até ao lançamento correto? – Questionei ao que ele rapidamente confirmou com a cabeça – Muito bem! Quero que me envie também o planeamento dos testes, possivelmente irei acompanhar um ou dois para confirmar se está tudo pronto.

— Estamos a acertar os horários dos últimos – Franzi um pouco o cenho, afinal faltava muito pouco tempo para ainda estarem a tratar de detalhes de planeamento, mas ele pareceu continuar com tranquilidade – Mas, ainda hoje, os terá! – Garantiu.

~*~

Já estávamos na hora de almoço e o dia parecia não acabar. Acabei por ir ter com Kakashi para almoçar e também para que discutíssemos acerca da empresa. No fundo, tanto pedia para que ele trouxesse boas notícias ou qualquer tipo de avanço, como pedia para que a situação dele fosse semelhante à minha, precisava que alguém compartilhasse da mesma inutilidade que se abatia sobre mim em relação àquilo.

— É, verifiquei o elevador de acesso, todos os dispositivos no nosso piso que pudessem ter sido ligados ou que estivessem conectados à rede antes ou depois da falta de registos e nada! Não existe qualquer anomalia e, aliás, se os registos não fossem verificados, nunca sequer a falta de 30 minutos seria notada – Kakashi estava claramente indignado com a falta de resultados e eu não podia compreende-lo da melhor forma.

— Mais então espera, como é que essa falta foi ao menos identificada? – Como tinha sido descoberta uma ação tão bem encobrida e silenciosa? Kakashi pareceu intrigado durante uns segundos, sem qualquer resposta.

— Perguntas bem. Honestamente não sei bem, quando o Itachi me informou e e depois o teu pai ainda detalhou melhor o que se tinha passado, eles já estavam a par de que tinha havido fuga. Agora, como? Bem… s – Ele pareceu procurar algum tipo de justificação – Consigo acreditar que Fugaku é desconfiado o suficiente para se manter a par de t-u-d-o – Disse, enfatizando o “tudo” – o que acontece ou deixa de acontecer e, pronto, também é bem consciente que olhos tortos de inveja à empresa não são poucos – E no fundo, era bem verdade, não havia nada que passasse ao lado de Fugaku.

~*~

Estava de volta ao escritório, sem vontade nenhuma de passar o resto do dia a avaliar cada membro do piso 5, até porque da última vez que fizera uma investigação mais profunda na vida das pessoas daquela empresa, acabei a descobrir coisas das quais era mais feliz não ter o conhecimento. E no meio da preguiça e aborrecimento, fui tremendamente surpreendido pelo que vira bem na sua frente:

— EXIGO UMA EXPLICAÇÃO! – Arquei imediatamente uma sobrancelha face ao espetáculo que tinha surgido mesmo no meio da minha sala:  novamente aquela médica decidiu aparecer onde menos a esperava encontrar. Estava visivelmente descontrolada e, por vias do melhor, decidi dar-lhe um tempo para se acalmar, não respondendo nada à sua “exigência”.

— Estás surdo?! – Recompôs-se ligeiramente, mas embora o seu tom tivesse bem amis reduzido, o estado descontrolado mantinha-se e depois de puxar a maior das calmas do meu ser, respondi:

— Não, não estou. Queres fazer o favor de explicar o que raio estás aqui a fazer? – Mesmo me controlando, a falta de paciência para escândalos daqueles era notória. Kurenai ainda apareceu na porta, incerta sobre o que falar, mas apenas dei a indicação que saísse, assim como fez, fechando a porta do escritório.

— Não comeces com essas manias – Manias? Eu e que estava com manias ali? Eu?! – Vai, podes começar que a minha paciência para lidar com essa má génese já está a acabar! – Ameaçou elevando novamente a voz e eu permaneci igual, sem reação ao que acabara de ouvir.

— A minha já acabou mesmo… Olha, Sakura, eu tenh-

— NÃO BRINQUES COM A MINHA CARA, UCHIHA! – Interrompeu-me de forma ainda mais irritada e, quando tinha perdido toda a calma para aturar aquilo, ainda por cima, no MEU escritório, decidi que aquela palhaçada iria acabar ali agora mesmo.

— VAIS CALAR A B-

— Querem explicar-me, os dois, o que se está a passar aqui? – Fui novamente interrompido, mas desta vez por Fugaku e, naquele momento, senti a sua aura negra sobre mim. Ia sobrar para mim aquele filme todo.

— Olá, boa tarde, Sr. Uchiha – imediatamente a sua voz tomou um tom doce e calmo totalmente diferente do anterior. Espertinha – Queira desculpar-se, sou Sakura Haruno, tinha um assunto extremamente urgente a discutir com o seu filho – Fez uma careta quando se referiu a mim e continuou o seu discurso amavelmente – e como ele não teve a cordialidade de facilitar o nosso contacto este era o único sítio onde o poderia encontrar. Peço imensas desculpas pela intromissão brusca na sua empresa, sem dúvida foi um ato impensado sob o nervosismo do momento e a urgência no assunto. Mais uma vez, apresento as minha sinceras desculpas senhor – Aquilo saiu tão fluido como se tivesse treinado aquele discurso a vida toda, não sabia se ficada impressionado ou irritado pela mudança drástica na forma como se dirigiu a minha e a Fugaku.

— É um prazer, Sakura Haruno! Bom, se é tamanha urgência e esta foi a única forma, penso que possa ser justificado – Dizia meio incerto – Agradeço só que moderem o tom, não estão sozinhos e dispenso ouvir comentários desnecessários sobre algo que é alheio à empresa – Quando penso que vão voar cadeiras ele reage assim?!

— Com certeza, senhor! Mais uma vez, peço desculpa por este comportamento – Fungaku apenas assentiu e saiu, enquanto eu ainda lidava com o choque de encenação daquela criatura. Mas não houve muito tempo para processar tudo, pois mal a porta se fechou, o bicho voltou a revelar-se:

— A-g-o-r-a f-a-l-a! – Ordenou devagar impetuosamente.

— Como eu tentei dizer, estou ocupado demais para lidar contigo agora – Bufei sem paciência.

— Oh agora estás ocupado? – Soava irónica – Tão ocupado. Mas para ir na casa dos outros já tens todo o tempo do mundo, ne!? – Fiquei totalmente sem entender o que queria dizer com aquilo.

— Ao menos se dissesses do que raio estás a falar, acredito que pouparias imenso do meu tempo que já estás a desperdiçar há demasiado.

— Não te faças de desentendido – Ficou mais irritada, cuspindo as suas palavras na minha cara.

— Olha Sakura sais sozinha ou é preciso levar-te? – Desisti naquele espetáculo sem mais sentido e voltei a sentar-me na frente do computador para regressar ao trabalho. E, aí, a bomba que ela carregava estourou completamente:

— Olha, vou sair apenas por respeito a Fugaku, unicamente, esta conversa ainda não acabou! E é bom que a tua explicação seja MESMO muito esclarecedora! – Saiu de forma brusca sem sequer esperar por uma resposta da minha parte, talvez já soubesse que provavelmente não a teria, e ainda sem entender absolutamente nada do que acabava de acontecer, depois de uns momentos em completo silêncio, resolvi ignorar  voltei ao trabalho.

~*~

— Como assim apareceu no teu escritório?

— Olha, com as pernas, andando, sei lá eu – Naruto era estúpido demais para ter algum tipo de conversa.

— Mas vocês conhecem-se? Não era o Itachi que se dava com ela?

— Mas tu ouviste alguma coisa do que eu disse!? – Bufei irritado, falar para uma parede qualquer daquele apartamento seria mais acertado do que para Naruto. Mas de longe, mais acertado.

— Ouvi, ouvi, mas sei lá não entendo – Ele parecia perdido em tentar montar uma lógica de raciocínio na sua própria cabeça e estava bastante evidente que não estava a resultar.

— Pois, exato, não se entende mesmo! Não entendo o que Itachi tinha com esta médica – Nunca havia proferido uma palavra sobre ela, nem o seu nome fora ouvido alguma vez, não entendia o envolvimento e muito menos o secretismo todo envolvente – Com que propósito…? – Sussurrei sem me aperceber.

—  Err… O propósito era bem claro – Naruto comentou malicioso e eu apenas lhe devolvi um soco leve no braço que ele fez questão de se queixar infinitamente.

Não fazia sentido, ainda que fosse esse o motivo, Itachi tinha tido outros casos no passado, qual era a diferença agora? Tinha vergonha dela? Ou era especial demais? Nenhuma das hipóteses parecia ser muito provável, Sakura apesar de irritante, não era uma vergonha completa como pessoa que fosse um incómodo para a família; mas também não via Itachi tão encantando por ela para manter um segredo disso mesmo.

— EI! SASUKE! – Naruto berrou bem perto e só pude voltar a devolver-lhe um soco no mesmo sítio onde já tinha batido – O QUE É? – gritei de volta.

— A porta! Estás aí parado sem reação nenhuma e a campainha já tocou umas 20 vezes – Verifiquei que realmente a campainha soava continuadamente e despertei dos meus pensamentos indo até lá.

— Finalmente! – E pronto, a chave dos problemas acabara de dar entrada! A esta hora da noite era tudo o que se podia querer! Enfim…

Ia fechar a porta bem na cara dela, quando do nada e sem qualquer consentimento da minha parte, dá entrada na minha, reforço MINHA, casa  e quando se ia preparar para começar a descarregar em cima da minha pessoa é interrompida pela surpresa ao encontrar a presença de Naruto na sala.

— Olá! Deves ser a Sakura, muito prazer – Naruto rapidamente se apresentou alegremente, o que me irritou, aquilo era tudo menos motivo de alegria – Sou Naruto Uzumaki, amigo ali o mal-criado – Revirei os olhos com aquilo. Agora tudo era razão para todos decidirem me enxovalhar.

— Olá – Ela começou meio tímida, nada do que esperava vindo dela – Muito prazer em conhecer-te Naruto.

— Podem ir continuar essa linda conversa para fora do meu apartamento – Acrescentei baixo, ainda que logo em seguida sentisse um olhar reprovador do demónio dos cabelos rosas como sinal de que tinha ouvido o meu comentário bastante bem.

— O quê Sasuke? – Já o Naruto que estava mais longe não se podia dizer o mesmo.

— Nada, não foi nada – Esclareci. E quando pensei que não iria parar de me chatear até que repetisse, novamente, nada do que esperava vindo dele acontceu:

— Bom, já está tarde, vou deixa-los conversar – Despediu-se, enquanto se levantava do sofá – O meu tempo de aturar o Sasuke já acabou, boa sorte aí Sakura – Terminou entre risos e piscando o olho de volta para ela que lhe sorriu. Já eu, não disse nada, apenas o fulminei como os olhos.

E depois de alguns segundos de silêncio, a conversa veio da parte dela, como que um esclarecimento, ou pelo menos era um esclarecimento que eu esperava que viesse.

— Estou à espera – Exigiu enquanto batia com o pé no chão repetidas vezes, exibindo claramente a sua irritação.

— O que queres? – Fui direto, fruto do meu cansaço.

— Uma explicação!

— Acerca de…?

— Podes parar com essa conversa de desentendido – Ficou mais irritada – Já de disse de manhã! Eu sei que foste ao hospital, o que queres de lá de mim?

— Endoideceste de vez Sakura – Nada fazia sentido naquela conversa.

— Já me estás a fazer perder a cabeça Sasuke!

— Primeiro, não fui ao hospital. Segundo, não faço porra de ideia nenhuma do que estás a falar

— Deixaram chocolates no meu cacifo e depois de ameaçar todas as recepcionistas do hospital descobri que a pessoa que os trouxe se identificou como vindo em nome de “Itachi Uchiha” e não sou par-

— O quê? – Iterrompi-a a meio surpreso.

—  O quê digo eu! – Gritou irritada

Ficámos os dois em silêncio um bom tempo. O ar estava tenso entre a irritação dela e a falta de paciência da minha parte.

— Já pensaste de talvez esse “serviço de entrega” tenha chegado atrasado.

— Itachi nunca se atrasava em nada!

— Não fales de quem não sabes - Estava visisvelmente irritado já com toda aquela história com Itachi. Principalmente por não ter nunca sabido de nada.

— EU SEI DE QUEM FALO! E ao menos o Itachi era prestável! – Cuspiu aquelas palavras da forma mais dura que poderia o ter feito e eu só pude retorquir no mesmo tom:

— Eu não sou o meu irmão! – A partir dali, inconscientemente tanto eu como ela tínhamos perdido toda e qualquer calma que pudesse ali pairar. Assim, só restou o descontrolo de ambas as partes, sem filtros, sem limites; no fundo ainda consumidos pela mesma mágoa.

~*~