Laços Cruzados escrita por Cukiee


Capítulo 6
Capítulo 6 - Haruno Sakura


Notas iniciais do capítulo

Perspetiva de Sakura Haruno.



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6

Sakura Haruno

~*~

— Como conhecias o Itachi?

Não acredito no destino, mas na vida, sempre existem situações que nos tiram da razão do nosso próprio mundo e, no fundo, pela surpresa que se apoderou de mim, esta era uma dessas alturas. Talvez fosse este o momento que deveria enfrentar verdadeiramente depois de tudo. Por mais que nenhuma palavra parecia ter força para sequer se fazer ouvir; por mais que a dor fosse menor se fugisse daquela pergunta; por mais que tivesse a hipótese de fechar simplesmente a porta, pelo menos ali devia uma explicação, pelo seu ar preocupado e a postura cansada, não podia ser mais uma vez egoísta ao ponto de decidir tudo por mim e, ali, fechei os olhos e decidi por ele, decidi por Itachi e pelo que lhe devia, abri passagem e ele adentrou no apartamento.

— Chá? – Perguntei enquanto o via sentar-se numa das poltronas da sala

— Café – Respondeu-me meio mal-humorado, ao que eu prontamente ignorei e ainda que fosse clara a sua falta de cordialidade, trouxe-se o seu pedido, um chá! Ignorando o desagrado da sua rápida reação à minha clara cordialidade. E após aquele começo azedo e um silencio abismal, dei um gole no meu chá procurando a coragem nas palavras que teriam de ser ditas e, enfim, quebrei o silêncio:

— Conhecia Itachi há algum tempo – Disse distraída e percebendo a insatisfação pela minha resposta na expressão irritada que me olhava, continuei – Costumava-mos jantar de vez em quando, éramos bons amigos… - No final tinha solto um pequeno sorriso nostálgico sem sequer me aperceber.

— Nunca me falou de ti. Sabes quem sou? – O tom acusatório dele mantinha-se, sempre desconfiado, sempre incerto em cada olhar direcionado a mim, tal como no primeiro encontro que tivera com ele com hospital.

— O irmão – Respondi sem mais explicações e ele sempre naquela postura rígida.

— Como se conheceram? – Comecei o irritar-me o questionário sem explicações, sem reações da parte dele, eram só perguntas feitas a mim, tinha vindo a minha casa e estava a esquecer-se que a minha boa vontade não era infinita.

— Conhecendo! – Respondi sem pensar rispidamente, mas mais uma vez tentei suavizar as coisas – No hospital, cruzamos-nos na simulação de um novo protocolo de segurança lá e daí fomos saindo

Pude ouvir um longo suspiro vindo dele e mais uma vez tínhamos ficado em silêncio.

— Como – Ele começou em voz baixa, ainda que o tivesse ouvido sem que nenhum dos nossos olhares se cruzasse – Como aconteceu?

Percebi de imediato o que aquela pergunta implicada e foi impossível controlar o ritmo acelerado a que pude sentir o meu pulso.

— Ele fraturou o fémur e por isso depois da confirmação da família foi sujeito à primeira operação – Ele voltou a focar-se em mim como se indicasse para continuar a explicação – A operação parecia ter sido bem-sucedida, mas claro ainda teriam de ser feitos exames para confirmar isso mesmo, ainda que a segunda operação à coluna tivesse alguma urgência – Naquela altura baixei o meu próprio olhar para o chão, era difícil não regressar àquele dia no hospital enquanto falava – Tudo parecia estar de acordo com o cenário ideal e então ele foi novamente para o bloco operatório para ser operado à coluna, era uma operação minuciosa e a meio ele começou a ficar agitado com dificuldade em respirar – naquele momento senti a voz falhar e pensei em não continuar – quando tentávamos perceber o que se estava a passar foi imediato… De uma forma muito resumida, um coágulo de sangue formou-se nos seus membros inferiores após a primeira operação, com as movimentações para a preparação da segunda operação este deve ter-se soltado e viajado pela corrente sanguínea, e como era de grande dimensão obstruiu todo ou quase todo o sangue que fluía do lado direito do coração, resultando numa morte súbita – Por mais que tentasse puxar o lado mais racional, era notória a dor que carregava nas palavras que eram proferidas e já tinha desistido de tentar esconde-la.

Ele permaneceu em silêncio, como estivera desde o inicio da minha explicação e parecia ainda assimilar tudo o que tinha explicado.

— E ele, como aconteceu? – Perguntei meio receosa.

— Tínhamos bebido e – Ele hesitou como se tivesse vergonha de continuar – Eu conduzi na mesma, não me recordo do resto, quando acordei já estava no hospital – Imediatamente compreendi a sua hesitação, uma estupidez que tomou um custo tão elevado, tão duro.

— Ele não levava cinto? – Perguntei quase que imediatamente, afinal comparativamente a Itachi, ele nem parecia ter sofrido de quaqluer tipo de acidente.

— Não me recordo – Disse baixo – Mas foi confirmado que não e o seu airbag não disparou também.

Podia ver o seu ar triste. Era realmente doloroso. Um acidente tão fatal para um, tão misericordioso para outro, como podiam as circunstâncias ser tão injustas.

— Como foste tu a opera-lo? – Aquela pergunta veio como uma bala contra a minha consciência, não sabia o que podia responder àquilo, enchia-me de vergonha pelo sentimentalismo que me preencheu.

— Ninguém sabia que nos conhecíamos e – Disse tão rapidamente como se não o quisesse ouvir sair por entre os meus lábios – havia possibilidade do médico responsável demorar a regressar – E mesmo que houvesse algum fundo de verdade naquilo, apenas me soava a uma desculpa ridícula.

Ele não disse mais nada sobre aquilo e eu agradeci internamente.

— Gostava de levar-lhe uma flor – Arrisquei receosa da reação que viria dele.

Ele esteve calado um bom tempo e por momentos pensei que não responderia nada e eu nem tinha feito uma pergunta para que fosse respondida, mas quando desisti de esperar por uma resposta, pude ouvir a sua voz calma:

— Amanhã podemos ir lá, de manhã – Pela primeira vez naquela noite tinha me surpreendido por uma vaga simpatia da sua parte, talvez até o seu próprio mau-humor estivesse cansado e magoado com tudo aquilo.

Assenti e vi-o ir até à saída, despediu-se e eu acenei-lhe sem me levantar e quando pude ouvir a porta a fechar-se, deixei-me relaxar sobre a poltrona e senti aquilo que há dias se tinha esgotado dentro de mim: um pequeno alívio. Talvez fosse como Tsunade tivesse dito.

“Não corrigir os erros que cometemos é o mesmo que estar a cometer novos. (…)

Não existem erros imperdoáveis…”

Talvez esta fosse de alguma forma uma pequena correção daquilo a que tanto me culpava. O Itachi não estava cá para me perdoar, mas havia outras formas de encontrar o seu perdão e naquele momento senti que o Sasuke poderia ser uma delas, mesmo que ele me olhasse como se nunca me pudesse perdoar.

 

~*~

— Tu? Flores? Tas doente? – Ino conseguia irritar-me com a coisa mais mínima deste mundo.

— É assim tão estranho vir comprar flores? – Estava ligeiramente mal disposta porque tinha acordado muito cedo para comprar as flores de Itachi e graças à visita de Sasuke no dia anterior, o número de horas de sono não foi o suficiente.

— Sakura Haruno da vida. Conheço-te desde sempre e nunca, jamais, em tempo algum, compraste uma flor! O que deu agora para vires às 7 comprar? Ficaste louca de vez naquele hospital? Eu avisei-te que as doenças te iam afetar o cereb-

— Ino! – Interrompi aquele falatório todo sem nexo que não estava capaz de ouvir àquela hora – É para Itachi. Ontem o irmão dele foi até minha casa e concordamos em ir hoje visitá-lo, de manhã. Gostava de ter estado no funeral, mas como era uma cerimónia de família não me pareceu correto aparecer lá assim, até porque seria indelicado, já que para eles sou uma estranha qualquer. Ainda assim, indo com Sasuke não me parece ser uma invasão tão grande – Disse assentindo aquelas palavras para mim própria.

— O IRMÃO DO PACIENTE QUE ESTAVAS ENROLADA FOI A TUA CASA?! – Não consegui evitar e bati com força no seu ombro, repreendendo-a irritada. E ela ainda olha para mim com cara de inocência, como se aquela reação foi aceitável. De tudo o que tinha dito é aquilo que aquela loira doida retinha. É que nem andava enrolada com Itachi, nem o Sasuke tinha ido a minha casa por cenários loucos que de certeza que ela já magicava na sua cabeça.

— Pronto, pronto – Desculpou-se, fingindo-se ofendida.

— Só preciso de uma flor simples – Não percebia nada de flores e, bem, Ino era perita por isso estaria em boas mãos.

— Certo, certo, para o paciente.

— É Itachi – Corrigi sem muita paciência.

— Aí desculpa se ofendi o seu espírito – Ignorei a sua estupidez enquanto agarrava no bonito arranjo de fores de cerejeiras que me entregava

— Para combinar contigo! – Ela acrescentou sorrindo e eu assenti sorrindo-lhe de volta carinhosamente.

Despedi-me da loira e regressei ao meu apartamento enquanto pensava exatamente a que horas Sasuke planeava aparecer.

— Yo! Bom dia Sakura! – Assustei-me um pouco de tão distraída em pensamentos.

— Bom dia Kakashi! – Sorri cumprimentando-o.

— Err – Ele parecia meio tímido e apenas esperei que continuasse – Queria pedir desculpa pelo comportamento do Sasuke no outro dia, ele é meio que – Vi-o procurar o melhor termo possível – mal-humorado de natureza – Completou sorrindo meio que forçosamente.

— Não tem problema, pude perceber que além de defeito também é feitio! – Ele soltou um riso alegre com a minha análise.

— É isso mesmo – Despediu-se entre risos animados e eu acenei-lhe de volta divertida.

 

~*~

Estava há duas horas à espera de algum sinal de vida de Sasuke e começava a ponderar se ele realmente iria aparecer. Na verdade, não tinha existido uma hora e local exatos para que fossemos ver Itachi, tinha ficado de ser pela manhã e da forma como eramos tão desconhecidos, não existiam números trocados, não sabia onde estava, nem sequer onde morava e por isso presumi que seria ele a vir ter ao meu apartamento.

Passou-se mais uma hora e nem sinal dele. Estava a começar a ficar impaciente, tinha turno no hospital de tarde e não contava de desperdiçar a manhã daquela forma, simplesmente à espera.

Passou quase mais uma meia hora e naquele momento tinha me convencido: ou se esqueceu ou arrependeu-se e não quis vir.

— Seria de bom senso ao menos ter avisado – Resmunguei sozinha enquanto saía de casa. E precisamente quando abro a porta está ele a subir vagarosamente as escadas. Respirei fundo para não me irritar ainda mais com a sua calmaria toda.

— De manhã hã? – Perguntei enquanto lhe mostrava as horas no meu relógio de pulso. 12:17. Era hora de almoço!

— Atrasei-me, vamos – Ele deu as costas e começou a descer ignorando totalmente a minha revolta face à hora em que se tinha dignado a aparecer. Não respondi, bufei bem alto para que tivesse a certeza de que ouviria agarrei nas flores ainda dentro de casa e comecei a descer logo atrás dele.

Na viagem até ao cemitério nenhum disse uma única palavra. Era estranho. Não que houvesse uma razão para o ser, ou melhor, havia e era tão simples quanto o facto de sermos completos estranhos um para  outro, com um ponto em comum, então não havia mais nada a ser falado que não fosse relacionado.

Quando chegámos até Itachi, já estavam dispostas várias flores e molduras e o frio interior que senti foi tão desgostoso que fechei os olhos.

Estou aqui. Não vim sozinha. Neste enlace de coisas que aconteceram acabei por cruzar-me com ele e mesmo que ele não esteja agradado com a minha pessoa, sou-lhe grata por me ter deixado tentar despedir-me de ti mais uma vez.

Reabri os olhos e coloquei as flores de cerejeira junto das restantes. E logo a seguir pude ver Sasuke deixar uma pequena moldura que exibia uma foto dele e Itachi, bem pequenos e com um sorriso gigante nos lábios de cada um.

Sasuke já começava a andar de volta seguia a seu lado, poucos passos depois parei e olhei de volta breves instantes.

Acho que falhei de novo… Talvez numa próxima vez eu consiga despedir-me, Itachi.

Regressei ao caminho junto de Sasuke e saímos e naquele momento já nem me lembrava do tempo que tinha esperado, senti um pouco mais as coisas a aliviarem. Depois daquilo fui almoçar com Ino e de lá fui direta ao hospital e já iria chegar atrasada.

~*~


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Quero saber tudo nos comentários!!

Desculpem veio com um atraso de um dia que ontem tive um assunto de última hora para resolver, mas cá está ele!

PRÓXIMO CAPÍTULO: [28/02/2019] Capítulo 7 - Uchiha Sasuke



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