Sonic The Hedgehog: Outside N'Counter escrita por Hunterx


Capítulo 6
Engrenagens Metálicas (parte 1): "ele sempre esteve com você"


Notas iniciais do capítulo

Sonic e seus amigos seguiram então para Oil Ocean para trazerem de volta Bunnie, como assim investigaram.

Vicent finalmente irá conhecer a cidade de Nova Mobotrópolis e pelo visto terá alguns desafios...



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Nova Mobotrópolis, futuro.

Silver, acompanhado por seu mestre, Mamute Mogul, iam até a porta da sala reservada. Mas antes de saírem, Mogul diz:

— De fato, seu raciocínio estás correto, jovem aprendiz. Porém devemos ter os devidos cuidados.

— Mestre, temos que agir agora! Metal Sonic está preso nesse castelo.

— Há de planejar com antecedência, jovem aprendiz. Vamos soltá-lo, mas não com excessos.

— Como assim?

— Iremos nos separar. Você irá até o salão principal, próximo ao portão de entrada. Quero que saía do Castelo em seguida. Irei libertar Metal Sonic. Só temos uma tentativa.

— Mestre, porque está dizendo isso?

— Um de nós três irá cair, jovem aprendiz. Metal Sonic me avisou que um viajante do tempo havia morrido em três tentativas atrás. Esse viajante era você.

— Então eu já tentei e fui...

— Exatamente. Porém dessa vez você não irá cair...

— Mas mestre, isso quer dizer que...

— Sim. É um sacrifício necessário para o sucesso de sua missão.

— Eu... Eu nunca vou poder deixar que isso aconteça.

— Suas tentativas de me salvar são esperadas. Mas o fim será o mesmo.

— Como pode dizer isso com tanta naturalidade? Você está prestes a dar a vida.

— Digo isso porque o sucesso de sua missão fará com que nos vejamos novamente.

— Mestre...

— A partir do momento que sairmos dessa sala, haja como se estivesse se despedindo. Não me faça perguntas e seja cortês. "A pessoa que não sabemos o nome" nos observa o tempo todo nesse castelo.

Assim que os dois saem da sala, Silver logo diz:

— Bem, eu gostei muito de suas obras. E obrigado por me recompensar, nobre ancião.

— Graças, jovem cuidador. É de extrema satisfação saber que nosso benfeitor nutre alegrias e realizações. No instante, peço que se retire em segurança e que tenhas uma excelente viagem de volta a sua terra natal.

— Muito obrigado mais uma vez.

Ambos caminham em direção ao grande corredor, com Silver indo até o portão de saída do castelo.

Mogul então segue até a câmara de prisioneiros, na ala onde ficava os robôs insurgentes. Chegando lá, Mamute Mogul vai até um dos guardas e diz:

— Leal soldado, estou exigindo a liberação desse espécime metálico para averiguação imediata.

— Vossa alteza, sabes que o protocolo é para aniquilação nessa mesma cápsula. Não poderei liberá-lo.

Mogul então, emanando uma aura em um de seus olhos, consegue, mesmo que com dificuldades, por estar com seus poderes limitados, controlar mentalmente o soldado, que diz:

— Pensando bem, o senhor tem permissão para prosseguir. Irei providenciar o transporte.

Mas Mogul sabia que era questão de tempo para que fosse descoberto. Seu semblante já dizia por si só que sua preocupação era grande. Com Metal Sonic em uma plataforma móvel, Mamute Mogul trata então de tirá-lo dalí o quanto antes. E assim que adentra ao salão principal, logo trata de soltá-lo. O robô assassino logo ativa todas as suas armas, dizendo:

— Código um: conseguir o modulador. Neutralizar o rei.

Mogul logo retira do seu bolso o suposto modulador: era na verdade um mecanismo que expandia o poder da pedra de espaço tempo que pertencia a Mogul, que diz:

— Não temos tempo para um embate, ouriço de metal. Este é o modulador. Preciso tirá-lo daqui junto a meu aprendiz.

— Seu plano de me enganar não irá funcionar.

— Não o estou ludibriando. Vamos, não podemos perder tempo.

No lado de fora, Silver aguardava seu mentor. O ouriço prateado, tremendo pelo pior, diz:

— Isso não está certo. Porque ele disse pra que eu esperasse aqui? Eu poderia facilmente tê-lo ajudado...

E de forma adrupta, uma imensa explosão destrói o portão principal do castelo, com Mogul e Metal Sonic aparecendo logo em seguida. Os guardas já estavam se posicionando para atirar, mas Silver pensou rápido e, usando de seus poderes psíquicos, inibe a todos antes que fizessem o disparo. O ouriço prateado, assustado com tudo aquilo, diz:

— Mestre, o que está acontecendo?

Mogul, em disparada, sendo acompanhado por Metal Sonic, diz:

— Rápido, vocês precisam sair do castelo!

— Mas mestre...

E num momento de puro desespero, Mogul empurra Silver para fora das dependências do castelo, fazendo cair longe. O ouriço, se levantando lentamente, via que Metal estava a seu lado, observando Mogul, que estava imóvel atrás dos portões do castelo. Silver, sem entender ao certo, diz:

— Mestre, o que significa isso tudo?

— Silver, fuja com Metal Sonic daqui o quanto antes.

— Mas mestre...

— Queria poupá-lo da tragédia conpleta, mas eu consegui salvá-lo a tempo.

— Me salvar?

— Metal Sonic, fomos inimigos no passado, mas somos aliados agora. Ajude meu aprendiz. Eu lhe peço.

— MESTRE!?

— Salvem o passado, para que esse futuro maldito nunca se realize. Eu conto com vocês...

Enquanto Mogul falava, seu corpo logo começava a ficar mais rígido, mudando até mesmo de cor. Aos poucos, por suas pernas, começava a se petrificar, indo até seu dorso. E antes que completasse até sua cabeça, teve tempo de suas últimas palavras a Silver.

— Você aprendeu bem, se esforçou, cresceu e se tornou um viajante do tempo pleno, Silver. Eu sei que terá sucesso... Nunca... é... um... adeus...

Mogul foi completamente transformado em pedra. Era como uma imponente estátua, que agora passou a adornar os jardins do castelo de Nova Mobotrópolis do futuro. Silver caía em prantos enquanto Metal Sonic o carregava, fugindo a toda velocidade de Nova Mobotrópolis...

Foi um acontecimento traumático ao ouriço prateado.

Nova Mobotrópolis, presente.

Vicent, ainda sentido pelo ocorrido mais cedo, caminhava até a cidade. Já pelas ruas de Nova Mobotrópolis, pôde ver que era um lugar aconchegante, com praças floridas e bastante verde. Riachos cortavam os bosques, com crianças mobianas brincando a margem. Caminhando um pouco mais, viu que havia comércio farto e variado, de venda de frutas a mercearias. Pôde ver até mesmo um shopping center, com lugar para lojas de conveniência que estavam bem movimentadas. Ao longe Vicent também percebeu que os habitantes tinham acesso a vida acadêmica, com um prédio que arremetia a um centro de ensino, possivelmente de forma completa. Ele, ao ver o tamanho da cidade, diz:

— Minha nossa. Isso aqui é grande mesmo!

Mas antes que pudesse dizer outra coisa, ele também percebeu outra coisa: as pessoas que transitavam pelas ruas começaram a olhar para o jovem. Ele, calmamente, começou a acelerar um pouco os passos, a fim de evitar problemas.

Logo a frente avistou um banco de praça a margem de um riacho. Vicent caminhou até lá e se sentou. Mas talvez devesse ter continuado a sua caminhada, pois logo crianças mobianas se aproximaram dele e começaram a ficar o olhando. O jovem, estranhando tudo isso, diz:

— Ei... O que foi, galerinha? Nunca viram alguém como eu não?

Um menino esquilo, segurando uma bola, diz:

— Grátis não.

— Piada mexicana barata, hein.

— Que você tá falando, tio?

— Esquece. E eu não sou seu tio.

— Tá, mas... Porque você tem esse cabelão todo? E porque você tá andando por aqui?

— Que tem eu ter cabelo grande? E qual o problema de eu andar por aqui?

— É que gente como você traz problemas.

— Quem te disse isso, moleque?

— Meus pais.

— E porque eles disseram isso?

— Porque você é um estranho.

— Eles estão te ensinando direitinho. Continua assim, tá?

Uma coelha, mais velha que o menino, diz:

— Moço, a gente não gosta de gente como você, tá?

— Porque?

— Porque você é como o doutor Eggman. É da espécie dele.

— Olha, não me compare a esse cara, tudo bem? Eu sou de paz.

— Mesmo assim. E porque você tem esse cabelo grande?

— Eu gosto de deixar ele assim. Só isso.

— Mas só menina usa cabelo grande.

— Cadê sua mãe, garota?

— Ela tá vindo logo alí.

E logo se aproxima uma coelha, usando um vestido longo, segurando uma cesta com frutas. Ela, estranhando as crianças conversando com Vicent, diz:

— O que vocês estão fazendo? Vocês sabem que não devem falar com estranhos, ainda mais sendo overlanders. E você Beatrice, vamos pra casa pra gente se preparar para o festival.

— Tá, mãe. Mas olha só o tamanho do cabelo dele.

— Beatrice, deixa esse esquisito com suas esquisitices. Não se misture com overlanders.

— Ei moça, quem a senhora está chamando de esquisito? - Disse Vicent, um pouco irritado.

— Você, ora essa. Vocês sempre gostam de aprontarem contra nós daqui de Nova Mobotrópolis.

— Mas eu não fiz nada, senhora.

— Ainda. E vocês crianças, fiquem longe dele!

Não demora muito e um aglomerado de mobianos começa a se formar em volta de Vicent. Enquanto alguns somente observavam, outros ficavam cochichando sobre o ocorrido.

— É, ele apareceu do nada aqui na cidade.

— Que cara esquisito!

— Ele deve ter vindo de fora!

— Eu sabia que isso iria acontecer!

— Não toquem nele. Deve ser radioativo!

Vicent já estava perdendo a paciência de tanto que ficavam falando a seu respeito e isso aumentava cada vez mais. E para dar um basta, logo esbravejou:

— AH CALEM UNE BOUCHE! ("Calem a boca!" em francês)

Um silêncio momentâneo é ouvido, sendo interrompido por alguém que estava tentando se aproximar.

— Com licença... Com licença...

Era um canino musculoso, um dos guardas do reino. Logo se aproxima do rapaz e diz:

— Quem é você e o que quer aqui?

— É quem é você, maromba?

— Eu sou um guarda do reino, é o que você precisa saber.

— Putzgrila... Dessa vez me ferrei.

— Eu ouvi relatos sobre um overlander por essas bandas, mas não imaginava que fosse um garoto. O que você quer aqui? E quem é você?

— Olha, eu não quero problemas, sério. Só estou de passagem...

— Não importa. O que eu quero saber é...

E logo a conversa é interrompida por uma mobiana adulta. Uma gata rosa que usava um vestido azul logo clama por socorro.

— Guarda, um grupo de crianças caiu no lago da praça do castelo! Acudam!

O guarda logo corre até a direção indicada pela mulher, sendo seguido por algumas pessoas. Chegando lá, algumas crianças acompanham a margem o desespero de quem estava sendo levado pela correnteza. Logo a mulher diz:

— Rápido, faça alguma coisa!

— Eu? Mas... Mas...

— Mas o quê? Eles estão se afogando.

— Eu... Eu não sei nadar.

— O QUE?

E entre eles, como se fosse mágica, surge Vicent, correndo em direção aos pequenos. Ele mergulha no lado, nadando até eles. A correnteza era demais para os pequenos, mas Vicent mostrava um bom preparo físico e consegue alcançar um deles, dizendo:

— Rápido, agarra mas minhas costas!

— Moço, eu estou com medo...

— Só se agarre em mim! Vai!

O garoto, que era um cachorro, logo segura com força em Vicent, envolvendo seu pescoço com seus pequenos braços. Vincent então segue para o segundo, que estava próximo. Exatamente como o primeiro, o rapaz pede para que o segue com força junto ao amigo.

— Segura firme. Vamos juntos pegar o amigo de vocês!

— Moço, ele tá longe - Disse o segundo, um gato. Possivelmente o filho da senhora que pediu ajuda.

Logo Vicent, mostrando certo cansaço, vai em encontro ao terceiro. E mesmo diante da correnteza, eis que alcança, pedindo para que o garoto, a exemplo de seus outros amigos, o segure. Mas Vicent não pode evitar de fazer um comentário, sabendo a natureza do garoto:

— Segura firme em mim... Pera... Você é um pato!

— Sou sim, me ajuda!

— Como que você sendo um pato não sabe nadar?

— Eu tenho medo de água também!

— Meu, que lugar maluco... Vai, segura em mim forte!

O jovem de longos cabelos, mesmo diante do desgaste de ter de nadar e carregar três crianças, conseguiu chegar até a margem com os pequenos são e salvos. A senhora gato vai até seu filho, com outros indivíduos ajudando as demais crianças. O guarda, vendo o quão esgotado Vicent estava, lhe ajuda a recobrar as forças, o levantando gentilmente. Ele, com um sorriso no rosto, diz:

— Você é bom, hein. Salvou aqueles três na força e na coragem.

— Eu... Eu fiz curso de salva vidas e faço natação desde meus sete anos. Finalmente o que meu pai...

Vicent logo interrompe suas palavras, incomodado com algo. Mas mesmo assim, ficou feliz ao ver que os meninos estavam todos bem. E logo, mais uma vez, um aglomerado de mobianos se forma, só que dessa vez de forma mais calorosa.

— Cara, ele salvou os meninos!

— Ele arriscou a vida pra salvá-los!

— Nossa, ele nadou como um marinho!

— Ele é um herói!

— Um viva para o overlander gente boa!

As pessoas estavam mesmo felizes e gratas pelo que Vicent havia feito. O jovem, sem entender tanto frisson, diz:

— Meu, essa gente é louca. Eu não sou herói!

Era inútil por parte do rapaz recusar a gratidão. O povo de Nova Mobotrópolis estava carente de proteção e um simples gesto altruísta já bastava para que todos no mínimo respeitasse tal ato.

Enquanto isso...

Zona Norte de Mobius, caminho para Ocean Oil.

A caravana liderada por Sonic seguia normalmente pela estrada improvisada do lugar. Já bem distantes de Nova Mobotrópolis, Rotor e "Goeffrey" guiavam seus veículos naquele lugar desolado e inóspito, onde o pouco verde que ainda lhe restava eram vistos como miragens, embora fossem bem reais. Tails então abre uma conversa com Rotor, onde o menino raposa lhe fazia companhia na cabine do veículo:

— Rotor, não me lembro de ver a Sally tão irritada com alguém desde que a gente se encontrou pela última vez com a Fiona...

— Não estava nesse dia com vocês, Tails. Mas ela estava mesma furiosa com o Vicent.

— Mas ele estava falando coisas muito ruins...

— Estava mesmo, Tails. Mas fico imaginando o lado dele. Estar num lugar onde tudo é diferente, com pessoas estranhas, depois de passar por um experiência terrível com o Dr Eggman... Não é fácil manter a quietude.

— Mas isso não justifica entre agir daquela forma com a Sally.

— Eu concordo, mas a Sally não deveria tê-lo estapeado. Ele deve estar muito mal agora. Você viu o rosto dele? Parecia que ele iria morrer.

— Pode crer. Não queria estar no lugar dele.

Sonic, que estava acompanhando sem dificuldades os veículos, pôde ouvir a conversa. Não tardou em dar sua opinião:

— Vicent é o típico cara que fica de boa quando as coisas estão favoráveis e vira um babaca quando é contrariado. Rola um pouco de egoísmo sim, a Sally acertou. E ele parece fazer as coisas só por conveniência.

— Mas Sonic, entre salvou a Sally na Death Egg 2.0. Como você explica isso? - Disse Tails, olhando para Sonic.

— Eh... Bem... Talvez no momento ele tinha mesmo interesse em ajudar, mas nós não o conhecemos bem.

— Ele disse que era médico. Na verdade ele é um estudante de medicina, mas agiu como um.

— Isso se chama ética, Tails. Vicent pode até ser... é, bem... Ele pode até ser "egoísta e mesquinho" mas ainda assim manteve seus juramentos e ajudou a Sally - Disse Rotor, prestando atenção na estrada acidentada.

— Um egoísta mesquinho péla saco esquentadinho médico com honra. Que combinação explosiva. Esse vai ser muito popular, hehehe.

— Pode até ser, Sonic. Mas devemos muito a ele por ter salvado Sally.

— Tem razão, Rotor. Depois disso tudo, vamos ajudá-lo no que for preciso. Devemos isso a ele e com muitos juros...

Os amigos continuavam conversando enquanto "Geoffrey" pensava, guiando seu veículo e sendo acompanhado por Amy em seu veículo.

— *Hahahahahahaha! Eu nunca imaginaria que meu plano estaria funcionando tão perfeitamente. Esses idiotas nunca saberão o que aconteceu. E quando voltarmos, eles estarão tão desesperados e tristes que só a minha presença já irá emocioná-los! Naugus, o soberano! O mago Ixis supremo, líder do reino Acorn! Hahahahaha! Isso será lindo! Pronto, agora é questão de horas pra ativá-los. Não vejo a hora de voltarmos! Hahahahaha!*

Voltando...

Nova Mobotrópolis, ao entardecer.

O centro da cidade estava em festa. Estava acontecendo um featival e sua temática eram frutas. Os habitantes de Nova Mobotrópolis traziam várias frutas aos estandes alí presentes para comerem enquanto se divertiam com os festejos. Gincanas, brincadeiras, rodas de conversa, sorteios de prêmios etc. Era uma verdadeira festa. Nem é preciso dizer quem foi convidado, não?

Vicent, ao ver tanta variedade de fruta em um dos estantes, logo fica com os olhos brilhando de tanta satisfação.

— Cara, olha só que coisa maravilhosa! C'est l'heure de manger! ("Hora de comer" em francês)

Ele então se serve, pegando um pedaço de fruta. Logo ele pergunta àquela mesma menina coelha de mais cedo:

— Beatrice, isso aqui tá muito bom. Parece pêra de onde venho. Qual o nome?

— Pêra.

— Ah óbvio.

Ele logo pega outra fruta, perguntando:

— Essa tá ótima. Parece mamão. Qual o nome?

— Mamão.

— Sério?

— Sim. Esse é o nome dessa fruta.

— Ah sim... Ok.

Se serve de mais uma, pegando um pedaço mais generoso.

— Essa tá bem doce! Parece manga. Qual o nome?

— Manga.

— Peraí... Peraí... Tem o mesmo nome de onde eu venho essas frutas todas.

— Que tem? Porque deveria ser diferente? Manga é manga em qualquer lugar do mundo, igual as outras frutas.

— Sim, mas... Por eu ser de outro "lugar", pensei que essas frutas teriam outros nomes por aqui.

— Moço, você tem algum problema de cabeça?

— Não. Olha, esquece. Esquece...

— Moço, você é estranho.

Não demora muito e Beatrice pega em uma das mãos de Vicent, o puxando para o centro do festival.

— Vem, ô esquisito. Vou te mostrar o resto do festival.

— Espera. Eu estou com fome.

— Depois você come mais, seu esfomeado esquisito.

— E Beatrice, eu tenho nome! É Vicent!

A menina coelha então mostra a Vicent que havia um tipo de concurso de "tiro ao alvo". Um senhor canino, vestindo uma camisa azul, diz:

— Quer tentar a sorte, overlander?

— Sorte? Isso aí não tem nada com sorte.

— Ah então temos um confiante aqui. Gosto disso. Acha que consegue acertar três vezes seguidas?

— Espera, você está me desafiando?

— Ora, mas é claro. Jovens sempre precisam de desafios pra superarem.

— Você está falando igual ao meu...

No mesmo momento que iria dizer tal palavra, Vicent novamente evita pensar em seu pai. Mas mesmo assim aceita o desafio. Ele pega uma das bolas e começa a se concentrar. Os alvos eram três cilindros a mais de cinco metros de distância em uma plataforma. Beatrice logo o provoca.

— Haha! Vai errar!

— Menina, para com isso!

— Vai errar, esquisito!

— Já disse que eu me chamo Vicent!

— Vai errar, Vicent! Haha!

Beatrice deve ter ficado bem frustrada: Vicent acertou de primeira o cilindro. O senhor logo diz:

— Você é bom, campeão. Vai no segundo agora.

— Acertou o primeiro na sorte. Vai errar o seg...

Beatrice nem completou a frase e Vicent acertou mais uma. Até mesmo o senhor canino não estava acreditando.

— Nossa, você é bom nisso. Já vi gente tentar e acertar as três, mas nunca dessa forma.

— Teve sorte! Na terceira ele não vai...

Beatrice se surpreende ao ver que o rapaz acertou a terceira, de forma confiante e convicta.

— Jovem, você conseguiu! Tome aqui seu prêmio!

O senhor o presenteou com um urso de pelúcia, entregando-o em seguida. Beatrice, parecendo estar envergonhada, diz:

— Você ganhou o ursinho...

— Tá vendo, menina? Eu acertei tudo mesmo com você pentelhando no meu ouvido.

— Você teve sorte, só isso.

— Não. Eu sou campeão de acerto de dardos do meu colégio. Eu fiz curso de arco e flecha. Meu...

Mas uma vez Vicent interrompe sua frase, evitando novamente proferir seu pai. Beatrice, mesmo com a mudança súbita de comportamento de Vicent, parecia se preocupar mais com o urso de pelúcia que Vicent havia ganhado. O jovem, depois de perceber isso, diz:

— Tá querendo alguma coisa, não?

— Nem tô, seu bobo.

— Tá sim que eu sei.

— Não tô...

— Você parece a irmãzinha da minha ex namorada.

— Porque?

— Porque ela sempre ficava com esse seu rosto de pidona toda vez que eu chegava com um presente.

— Eu não sou isso aí que você disse, seu bobo.

Sem perder mais tempo, o rapaz então entrega a pelúcia a Beatrice que, ainda mais envergonhada, diz:

— Porque meu deu, hein? Porque?

— Porque você é fofinha.

— Seu bobo esquisito!

— Hehehe! De nada, tá?

Vicent então voltou sua atenção para as festividades em seguida, mas houve tempo para o agradecimento envergonhado de Beatrice.

— Vicent?

— Diga, Beatrice.

— O... Obrigada.

— Relaxa, fofinha. Vai lá pra perto da sua mãe e divirta-se.

Mas parecia que o rapaz não tinha controle da situação. Assim que se despediu da menina coelha, um grupo de mobianos jovens o puxa contra sua vontade até próximo a um pequeno palco.

— Ei, quem são vocês? Porque que estão fazendo isso? O que houve?

— Fica frio, over. Só queremos que você faça parte da festa. Sabe dançar?

— Sei sim, porque?

— Partir você vai precisar fazer isso. A Mina Mangusto vai tocar pra gente agora!

— Mina Mangusto? Quem é?

— Que? Você não a conhece? Que isso, cara!

E no palco humilde do festival de frutas, eis que Mina aparece, vestindo uma camisa branca, com o símbolo do festival, usando uma saia preta e botas azuis. A mangusto logo diz:

— Olá povo de Nova Mobotrópolis! Como vocês estão? Vamos tocar agora uma música pra todo mundo requebrar geral, falei? Não quero ver ninguém parado! Vamos lá... Um, dois, três, quarto!

O som de Mina Mangusto era mesmo contagiante. O ritmo agitado de pop rock que tinha como marca registrada conquistou a todos do lugar, inclusive Vicent, que tratou de entrar na festa.

— Cara, ela é boa mesmo! Tava precisando disso!

O rapaz comecou a dançar e pular junto com os demais alí presentes, com Mina Mangusto continuando a empolgar a todos com sua energia junto com sua banda. Vicent estava mesmo se divertindo. O rosto fechado de outrora deu lugar a um semblante completamente diferente. Ele parecia estar despreocupado e até esqueceu por um instante que estava sozinho em Mobius. Seu sentimento era de alegria e descontração, confraternizando com todos ao redor.

O show não se estendeu muito, durando um pouco mais de meia hora. Já estava anoitecendo, com os festejos diminuindo de ímpeto. O rapaz voltou ao estande de frutas em seguida ao show, sendo acompanhado pelos mesmos jovens de Nova Mobotrópolis. Um deles, um felino, diz:

— Cara, tu é maneiro a beça. Esse teu cabelo grande aí é show, tá ligado?

— Valeu, cara.

— Tu tá de passagem, gente boa?

— Estou sim. Mas em breve vou voltar de onde eu vim.

— Se liga, vê se aparece mais vezes. A gente gostou de você pacas. E valeu por ter salvado aqueles moleques lá no lago. Galera aqui se amarrou em você ser um herói.

— Olha, eu agradeço mesmo pela força, mas eu não sou um herói.

— Claro que é. Não precisa ser modesto, gente boa. E tu dança bem pacas também, falei?

— Ah sim. Eu fiz aulas de dança porque meu...

Por mais uma vez Vicent interrompe o que iria dizer. Parecia mesmo evitar a todo custo colocar seu pai na conversa. Mesmo o jovem mobiano não entendendo bem porque havia parado de falar, continuou:

— Cara, esqueci de falar meu nome. Me chamo Denzel Gato. Teu nome é Vicent, não é?

— É sim. E prazer em te conhecer.

— Tu é um cara bem formal. Relaxa, camarada. Pode falar tranquilo.

— Tá beleza, cara. Eu tô ligado que vocês curtem festejar. Eu também. Enquanto eu ficar por aqui, vamos marcar com sua galera pra nos reunirmos outra vez.

— Já é então. Bem, tô indo nessa. A turma tá me chamando. Até a próxima, Vicent!

— Até e obrigado pela festa.

— Tamo junto!

Cai a noite em Nova Mobotrópolis. Embora o dia todo foi de muito sol e calor, as noites da cidade eram frias. Vincent sentiu isso na pele, já que os festejos já haviam terminado e todos foram os suas casas. Ele ficou ali na praça, sozinho. Sem ter para onde ir, tratou de se deitar no pequeno banco que estava a margem de um riacho. Ele, descansando, diz:

— Cara, essa gente dessa cidade é muito louca. Mas cara... Eu me diverti tanto aqui... Pela primeira vez pude fazer parte de uma festa com pessoas da minha idade...

E para sua surpresa, a mãe da Beatrice logo se aproxima de Vicent, dizendo:

— Garoto, vai pra casa. Tá ficando mais frio aqui. Vai pegar um resfriado.

— Não se preocupe, dona.

— Claro que preciso me preocupar. Vai pra casa!

— Tipo, eu não tenho nenhum lugar pra ir. Só estou de passagem por essa cidade e...

— Não tem um lugar pra ficar? Vai, levanta...

— Ei, porque devo me levantar?

— Porque estou te convidando pra passar a noite em minha casa. Um herói como você não deve ficar ao relento. Sua mãe falaria a mesma coisa.

— Ela... Ela falaria sim. Mas eu não quero incomodar a senhora.

— Me incomoda ver você encolhido aí sentindo frio. Vamos, minha casa é logo alí.

— Tudo bem. Obrigado.

A casa era mesmo próxima. Vicent logo adentra a casa. Era uma construção rústica, mas era bem aparelhada, com móveis pela sala que tinham algumas fotos, supostamente de parentes da senhora, três sofás até bem espaçosos e confortáveis, mesmo para Vicent. Ao centro da sala havia uma estante com uma TV. Beatrice assistia o noticiário, quando avistou Vicent entrando.

— Vicent? Mamãe, você trouxe ele pra ficar aqui?

— Sim. Está muito frio lá fora e não seria certo deixá-lo lá.

— Legal! Seja bem vindo, esquisito!

— Beatrice, tenha modos!

— Desculpa, Vicent.

— Não, relaxa senhora... - Disse o rapaz, querendo saber o nome dela.

— Ah e me chame de Betina - Disse, lhe estendendo a mão.

— Prazer, senhora. E obrigado pela hospitalidade - Disse Vicent, beijando a mão de Betina, como manda a etiqueta.

— Que cavalheiro. Você é um rapaz bem educado. Seus pais devem ter muito orgulho de você.

— Minha mãe sim.

O tempo passa. Beatrice já havia ido para a cama. Vicent estava sentado em um dos sofás, enquanto Betina Coelho servia chá. Ela coloca a bandeja sobre a mesa do meio da lata. Logo o rapaz pega uma das xícaras, dizendo:

— Nossa, que chá gostoso.

— Obrigado, jovem.

— Fazia tempo que eu não relaxava assim.

— Porque diz isso?

— Minha vida de onde venho é bem cheia.

— Muitos compromissos?

— O tempo todo.

— Isso é bom, sabia? Ajuda a organizar melhor a vida. Quando se é jovem se tem muito tempo livre.

— Isso eu vou concordar com a senhora. Mas...

— Mas o que?

— Preferiria ter uma vida simples como a que vocês tem aqui.

— Porque está dizendo isso, Vicent?

— Senhora Betina, eu de onde venho não tenho tempo pra fazer quase nada pra me divertir.

— E porque? Toda pessoa precisa de tempo pra se distrair.

Ele então coloca a xícara sobre a mesa, ficando com o semblante um pouco mais fechado.

— Senhora, quando me elogiou sobre eu ser educado, eu disse que minha mãe teria orgulho de mim.

— Sim, eu lembro.

— Pois bem... Minha mãe morreu quando eu tinha dez anos.

— Nossa, Vicent. Eu sinto muitíssimo por você. Um jovem como você não merecia essa dor.

— Agradeço, senhora Betina. Eu sempre penso na minha mãe. É como se ela estivesse ao meu lado sempre, me protegendo.

— Eu entendo, jovem. E fico feliz que tenha encontrado forças para continuar e seguir em frente. Seu pai deve ter orgulho de você.

— Não... Ele não tem.

— Vicent...

A senhora Betina Coelho percebeu que o rapaz estava desconfortável ao citar o próprio pai. Ela, como mãe devota que é, diz:

— Porque você acha que seu pai não sente orgulho por você?

— Pelo simples fato que ele não me deixa ficar quieto um segundo sequer.

— Como assim?

— Eu não posso nem ao menos sair com meus amigos. Simplesmente porque meu velho acha que eles são má influência.

— Pais vêem muito além, Vicent. Há um bom motivo para ele fazer isso...

— Ele quer me transformar na versão 2.0 dele. Ele se acha a perfeição, o soldado que todo país quer.

— Entendo. Ele é de algum exército. Mas o que ele te fez?

— Sempre que eu ia fazer alguma coisa com meus amigos do colégio, ele me colocava em um curso específico.

— O que você fazia?

— Hã? Como assim?

— O que você fazia com seus amigos?

— A gente ficava conversando na escola, só isso.

— O que mais?

— Andando pelas ruas, indo ao parque, praças, etc.

— Isso não é motivo pra seu pai te perseguir tanto como você fala. Beatrice pode ser levada às vezes, mas ela sabe que não deve caçoar das pessoas, falar com estranhos, sujar o chão, desenhar nas paredes da cidade entre outras coisas...

Bastou Betina falar sua última frase para Vicent ficar ainda mais desconfortável. A senhora coelha, por seu instinto maternal ser bem significante, logo percebeu que algo não estava certo. Tratou então de pressionar o jovem:

— Porque ficou calado tão repentinamente?

— Por nada... Eu seria mais feliz se meu pai sumisse da minha vida.

— Como você pode falar uma coisa dessa, Vincent? Nenhum filho em sã consciência diria uma coisa tão horrível como essa.

— Meu pai vive me desafiando, pensando que eu sou um inútil. Mas eu sempre consigo ir até o fim em tudo que eu faço. Mas ele não. Sempre o trabalho em primeiro lugar. Nunca tem tempo para o próprio filho...

— Se você diz isso, Beatrice na maioria do tempo sempre fica sozinha em casa.

— O que tem?

— Ela fica sozinha porque sabe se virar sozinha. Mas no final do dia a gente se encontra e mesmo que eu não converse muito com ela, pois eu preciso trabalhar, ela entende bem o compromisso que eu tenho.

— Que compromisso?

— De ser mãe. Se eu trabalho é para que ela possa ter o que comer, vestir, brincar, estudar e viver. E existe um outro ponto...

— Qual seria?

— Meu esposo morreu a muito tempo por causa do Dr Eggman. Vivíamos em um vilarejo aqui próximo chamado Knothole. Meu marido, Benjamin Coelho, foi robotizado e destruído por ele. Beatrice era muito pequena na época. Eu a criei sozinha. Eu sinto muita falta dele, mas segui em frente como você seguiu.

— Senhora, eu sinto muito.

— Tudo bem, Vicent. Como eu estava dizendo, Beatrice aprendeu a se cuidar sozinha, mesmo sendo muito jovem. Aqui as crianças aprendem a importância do conhecimento.

— Como assim?

— Todos nós o tempo todo estamos prestes a sofrer ataques do Dr Eggman. Ele quer nos robotizar pra nos ter como  seus escravos. Por isso há muitos órfãos em Nova Mobotrópolis, porque seus pais foram levados e robotizados por ele.

— Mas isso é terrível, senhora!

— Onde eu quero chegar, Vicent: a maior herança que seus pais podem te deixar é o conhecimento de como se deve viver em um mundo caótico sobre as leis da natureza. Posso estar sendo intrometida, mas seu pai parece mesmo se preocupar com você. Pode ser de uma forma não muito agradável, mas creio que ele pensa como eu quando se refere ao próprio filho.

— O que seria, senhora?

— Não falhar como pai ou mãe. Nós protegemos nossos filhos com conhecimento e não com amor. Nós sempre vamos amar nossos filhos, mas nada substitui conhecimento para vencer os desafios da vida.

As palavras de reflexão de Betina Coelho deixaram Vicent em uma situação ainda mais desconfortável. Era visível que o rapaz não gostava de seu pai, mas ele não conseguia proferir nenhum argumento para debater. Mesmo que não admitisse a suposta "derrota", se convenceu em seus pensamentos:

— *Odeio admitir, mas ela me venceu. Xeque mate, senhora Betina. Mas ainda assim, ele não é um bom pai pra mim...*

Enquanto isso...

Quartel General dos Lutadores da Liberdade, noite.

Somente Sally e Nicole permaneceram na base. A princesa verificava em seu computador tudo que havia acontecido em sua ausência. Desde a fuga de seu irmão, a posse de Naugus como rei e até mesmo o sacrifício de Antoine por seu irmão e família. Sally, estranhando o silêncio de Nicole, diz:

— Nicole, está tudo bem?

A IA lince, em um dos monitores, diz:

— Está sim. Sally.

— Você está muito quieta.

— Somente monitorando a cidade.

— Não só a cidade, eu imagino. Bem, aparece aqui. Vamos conversar, você está precisando.

Logo Nicole se materializa ao lado de Sally, se sentando ao seu lado. A princesa então pergunta:

— É sobre o Vicent, não?

— Sim. Ele estava diferente depois daquilo...

— Do corretivo que o dei, é isso?

— Exato. A atitude dele foi imatura, mas não creio que deveria chegar a isso.

— Ele me ofendeu, Nicole. Não só a mim mas a meus amigos também. Se tive essa atitude foi para defender a honra de meus amigos. Eu não gosto de falar assim, mas eu sou a princesa. Não admito que falem ou até mesmo insinuem contra meu povo, principalmente meus amigos.

— Vicent não é daqui, está sozinho. Está isolado de tudo que conhece. Somos estranhos pra ele. Embora não concorde com os comportamentos que tomou contra nós até agora, eu compreendo sua aflição perfeitamente.

— O que quer dizer, Nicole?

— Ele está com medo.

— Medo? Não pareceu estar com medo da forma que falou comigo.

— Ele está com medo de você também. Por isso ele saiu do QG sem falar nada.

— Porque diz isso?

— Porque ele sabe que você é uma princesa. Ele conhece sobre nobreza. Ele tem noção que desafiou uma representante mor do reino Acorn. Agora ele está na cidade, sozinho. Ele preferiu enfrentar o desconhecido ao ter de confrontar com você.

— Então ele é mais inteligente que imaginava. Mas isso não apaga o que ele disse e o que fez, Nicole.

— Não, Sally. Mas você sabe muito bem que ele não foi o único que foi assim no passado.

Sally, depois das palavras de Nicole, reflete um pouco sobre tudo. Aconteceu com Tommy Tartaruga, que entregou a vida para deter A.D.A.M; o mesmo aconteceu a Macaco Khan, que invadiu o reino para exigir atenção e ajuda para deter o domínio da Rainha de Ferro, Regina Ferrun. A princesa, percebendo que cometeu alguns excessos, diz:

— Talvez eu tenha exagerado um pouco, Nicole. Talvez... Porém Vicent mereceu. Estava ficando fora de controle.

— Ele percebeu isso no momento que sentiu sua mão no rosto dele.

— Nicole!

— Você sabe que é verdade. Ninguém irritado e furioso o suficiente teria o sangue frio de sair de cabeça baixa sem dizer uma palavra sequer depois de levar um tapa. Ele agiu errado com você? Sim, agiu. A pergunta que faço a você é: ele agiu errado em sair dessa sala?

Sally ficou em silêncio. Embora o rapaz tivesse agido de forma inapropriada com uma princesa, ele deixou bem claro que não iria ir além do que foi. Ele mesmo impôs um limite e pagou por isso. Sally sabia desse fato, mas preferiu deixar a última palavra a Nicole, que diz:

— O que aconteceu, aconteceu. Não dá para voltar atrás. Deixemos assim. Tudo vai ficar bem, Sally.

— Obrigada por conversar comigo, Nicole. Você é mesmo a melhor. No fim, fui eu quem precisava conversar...

— Que nada, minha amiga. Deixa eu te dar um abraço!

Enquanto isso...

Proximidades de Oil Ocean, em plena noite.

Todos estavam até chegando ao destino. Rotor e "Goeffrey" diminuíram a velocidade de seus veículos para não chamar a atenção. Até porque além do exército de Eggman havia outro problema: alí próximo também eram terras de Jack Coelho, um ex lutador da liberdade. Renegado, tomou controle de uma parte do mar de terra nas proximidades de Oil Ocean e tem uma rixa ferrenha com Beauregard Coelho, legionário a serviço de Eggman e tio de Bunnie D'Coolette. E é justamente com ele que nossos heróis estão querendo se encontrar.

Porém a preocupação com isso no momento ficará em segundo plano. "Geoffrey", que todos já devem saber que se tratava de Naugus, que dominou o corpo do gambá, estava com um sorriso tímido no rosto, disfarçando para que Amy não desconfiasse de nada.

— *Hahahahahahaha! Chegou a hora. Hora de ativá-los e deixar o pandemônio tomar conta daquele lugar. Quando voltarmos tudo será diferente e eu serei ainda mais rei daqueles lacaios malditos. Hahahaha! É agora!*

"Geoffrey" então, de forma discreta, pega um dispositivo de seu cinto e aperta. Não emitiu nenhum som, mas era perceptível a satisfação de "Geoffrey" ao ativar.

Um grande evento está para acontecer. O plano de Naugus havia começado e ninguém suspeitava...

Nova Mobotrópolis, noite adentro.

Já estava tarde. Poucas pessoas passavam pelas ruas da cidade, ficando desertas que que por completo. Guardas do reino patrulhavam os bosques tranquilos. Uma brisa fria era sentida, com o barulho dos riachos da praça central denunciando a quietude. Tudo estava tranquilo.

Vicent e a senhora Betina Coelho conversavam ainda, com o jovem dizendo:

— Estou com um pouco de sono...

— Ah se quiser pode dormir no quarto de hóspedes, Vicent. Tem tudo lá que você preci...

Surpreendendo os dois, um temor é sentido. Vicent logo olha para Betina, dizendo:

— O que foi isso?

— Devem estar fazendo algo no castelo.

E novamente é sentido mais um temor, dessa vez mais forte.

— Isso é mesmo normal?

— Não necessariamente.

Senhora Betina olha pela janela e nota que há pessoas no lado de fora. Algumas estavam até correndo. Algo de estranho estava mesmo acontecendo.

E, de repente, um grande estrondo é ouvido, fazendo com que o chão tremesse ainda mais que antes. E eis que, ao fundo, é possível ver pessoas correndo desesperadas, pedindo pra socorro. Vicent, assim como senhora Betina Coelho e Beatrice, saem da casa, tentando saber o que está acontecendo. Mas não demorou muito e veio o fato que mudaria pra sempre aquela noite: um robô medindo em torno de uns cinco metros de altura logo pousou próximo a eles de forma ameaçadora. E com um soco tenta atingir a todos.

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?

— Rápido, Vicent. Vamos entrar. Ele ainda não nos viu!

— Mas o que é essa coisa?

— Eggman deve estar nos atacando! Rápido, vamos nos esconder em casa!

— Tudo bem...

No Quartel General dos Lutadores da Liberdade, Sally e Nicole estavam completamente desorientadas do que estava acontecendo. A princesa, olhando para todos os monitores, diz:

— Nicole, o que está acontecendo?

— Sally, estamos sendo invadidos!

— Invadidos? Mas como?

— Embora os radares não mostrassem nada vindo de fora, algo está se aproximando...

— Mas como, Nicole?

— Sally... Isso partiu de dentro da cidade!

— Da cidade? Rápido, Nicole. Faça uma varredura em todos os perímetros. Precisamos saber o mais rápido possível o que ou quem está entrando.

E logo Sally e Nicole, por um dos monitores, conseguem ver com clareza os invasores. O rosto de aflição e desespero de Sally dizia tudo.

— Minha nossa... Que tudo de mais sagrado nos proteja...

— São vários, Sally! Estou fazendo o máximo para proteger as pessoas.

— O que esses robôs estão fazendo?

Nicole, ao entender o grau de perigo, indaga:

— Eles estão atirando contra as pessoas, Sally?

— Atirando?

— Estou colocando barreiras para protegê-los, mas a energia está limitada.

— Faça o que for preciso, Nicole! Eu vou chamar Sonic! Abra o canal com eles agora!

— Certo!

Voltando a Vicent...

Os três então correm para dentro de casa, se escondendo onde podiam. Logo se ouviu um breve silêncio, com Vicent comentando baixo:

— Senhora, acho que não deveríamos ficar aqui...

— Precisamos. Em breve os guerreiros da liberdade irão nos ajudar. Sonic vai acabar com eles em segundos.

— Sonic, o ouriço azul?

— Esse mesmo. O conhece?

— Sim, mas tem algo muito ruim pra te dizer...

— O que?

— Ele não está na cidade.

— O QUE?

O grito de desespero de Betina chamou mesmo a atenção do robô e, antes que eles percebessem, o grande robô, usando suas mãos, retira parte do teto da cada, surpreendendo a todos. Ele, ao avistá-los, diz:

— Prioridade um: aniquilar a todos.

Vicent logo corre até onde estavam Betina e Beatrice, puxando-as antes que o robô as pegasse. Mas a intenção do robô era outra: começou a armar uma abertura em sua mão e começou a desferir tiros contra os três, que por um milagre conseguiram evitar a saraivada de projeteis. A situação era crítica, com perigo de morte evidente. Vicent, desesperado, diz:

— ESSA COISA QUER NOS MATAR! TEMOS QUE SAIR DAQUI!

Mas Betina e Beatrice estavam amedrontadas demais para correrem. Era visível isso pois a pequena já dava sinais de desolação.

— Mãe, seja o que acontecer, eu te amo. Mas eu não quero morrer... Eu não quero morrer...

— Calma, minha querida... Tudo vai ficar bem... Eu amo você também... Tudo vai acabar bem...

— Mãe, eu não quero morrer...

— Calma... Eu vou te proteger...

— Tá todo mundo aí fora sofrendo... Eu ouço gritos... Eu não quero morrer... NÃO, POR FAVOR!

Betina abraçou forte sua filha, tentando confortá-la e acalmá-la, mas o risco iminente era algo duro demais para aceitar e não parecia que ajuda viria. Vicent havia avisado que Sonic não estava na cidade. As coisas não estavam boas. Era questão de tempo até que o robô os acertassem, já que a casa toda estava ficando completamente perfurada pelas balas. Vicent, ao vê-las daquela forma, pensa:

— *Isso não está certo. Eu deveria fazer alguma coisa. Nossa, como sou idiota. É claro. Esse poder que eu tenho. Eu posso tentar usar contra essa coisa e salvá-las! Mas a Nicole disse que eu ouviria aquela frase pra poder ativar depois... Mas porque essa coisa não ativa? Ah sim... Eu preciso estar com fúria... Mas eu... eu não estou mesmo com fúria... Esse momento de crise... Eu não sei o que fazer...*

Vicent na verdade estava com medo. Toda aquela visão aterrorizante fez com que ficasse amedrontado, assim como as duas. O rapaz nunca havia passado por tamanha situação, esta que mais parecia uma guerra. Vários ruídos de tiros e explosões podiam ser ouvidas pela cidade nitidamente, demonstrando a falta de defesas contra esses robôs. Vicent estava confuso, sem saber que fazer. Sua falta de calma trazia-lhe ainda mais temor. Tinha tudo a perder. Seus novos amigos, a cidade, sua própria vida. Não havia ninguém a recorrer. No momento, estava praticamente esgotada todas as possibilidades de fuga. Era o mais próximo do fim de sua vida que Vicent havia chegado. E a cada segundo que passava, se aproximava do fato fúnebre.

— *É o fim. Eu estou com medo disso tudo... É um inferno... Uma sensação ruim... Eu não sei o que fazer...*

O tempo pareceu parar para o jovem, que se ajoelhou, prostrado frente ao robô, que estava prestes a acabar com todos. Mas foi nesse momento que Vicent só pensou em um alguém. Uma pessoa que lhe trazia raiva e desaprovação. Ele via a imagem do seu pai. O jovem então começou a sentir uma forte fúria quando se recordou dos momentos ruins com ele, com várias imagens de quando sua mãe morreu. Seu pai sequer esteve presente em seu velório, aparecendo dois meses depois em casa. Vicent então se lembra de cada palavra que disse naquele dia:

— Onde você estava? Ela aguentou o que pôde... Porque você não apareceu? Porque não se despediu dela?

Uma ira começava a contagiar a alma de Vicent, que mudava de semblante no mesmo instante do ocorrido.

Mas toda essa aflição lhe fez abrir todas as portas de sua mente. Ele pôde ver praticamente todos os fatos que estavam ocultos em suas memórias, relembrando de fatos que de longe seriam vistos como equívocos:

O motivo pelo qual seu pai não esteve no velório foi porque ele estava a serviço do exército. Seu pai salvou um vilarejo de um país subdesenvolvido, assim como vários soldados aliados e até inimigos. Recebeu honras e glórias, mas ignorou todas somente para poder voltar para casa e honrar sua esposa.

Vicent parecia ter recebido um golpe poderosíssimo em sua alma, que só não se desmanchava porque tudo estava aflorando naturalmente. O rapaz estava vendo toda sua vida durante de seus olhos. O tempo a sua volta havia parado, com ele mergulhando ainda mais em memórias que até então estavam escondidas em seu subconsciente. Se recordou então da última conversa com seu pai antes de de aparecer em Mobius. Vicent havia se trancado em seu quarto, com seu pai atrás da porta, dizendo:

— Você esteve com esses arruaceiros porque quer ser um revolucionário? Muito bem então: eu te desafio a passar seis meses em um curso de debate. Se você quer ser mesmo um revolucionário, então vai aprender a respeitar as pessoas, independente do que eles acreditam ou pensam. Você só poderá ser um revolucionário se tiver razão em tudo, sem artimanhas nem parcialidade. Tudo que dizer será de forma justa e correta! O certo sempre será certo e o errado sempre será errado! Foi por esse motivo que te coloquei no curso de redação e escrita, filosofia, diplomacia, línguas, geopolítica, etiqueta e seja quantos mais forem necessários. E daí que não te deixei praticar artes marciais? Você não precisa disso. Você é muito mais forte usando palavras do que seu punho. Mas mesmo assim você sempre superou minhas expectativas. Você se destacou no clube de arco e flecha e se formou em Parkour lá, se tornando até referência. Então abre essa porta e vamos conversar!

— VÁ EMBORA!

— Não me importa se você me odeia. Eu nunca vou deixar que esses delinquentes influenciem você. Você é tão pleno e auto suficiente que se eu não tiver a oportunidade de estar sempre com você, então farei com que você tenha tido o conhecimento e meios possíveis para mudar o mundo, começando por seus "amigos". Você é tão maravilhoso que será você o influenciador e vai mudá-los! Faço isso porque eu acredito em você e você é o maior tesouro que me sobrou nessa vidaEu sempre estarei com você, seja como for!

Vicent sentiu no fundo de sua alma o significado de tanta cobrança por parte de seu pai. Pôde ver então a natureza de seus supostos amigos: Vicent fazia parte de uma gangue em seu colégio. Aprontavam várias confusões e traziam desordem por onde passavam. Ele se uniu a essa turma meses depois de sua mãe falecer. Seu pai, distante por causa do seu trabalho, passou a ser enérgico com o rapaz. Vicent logo entende o porquê disso tudo. 

O rapaz fincou essa sua lembrança com o que Betina Coelho havia lhe dito mais cedo:

— Vicent, a maior herança que seus pais podem te deixar é o conhecimento de como se deve viver em um mundo caótico sobre as leis da natureza. 

Começando a chorar, Vicent logo vai na real sobre toda sua ira desnecessária:

 *... Ele sempre quis me proteger. Ele sempre esteve comigo.*

Lágrimas logo escorriam pelos olhos do jovem que, tentando entender de uma vez pra todas toda sua ira pelo pai, continuou:

 *Eu estava me sentindo bem em fazer parte daquela gangue, mas eu sempre soube que era errado... Mas meu pai sempre foi contra tudo isso... Porque... Porque ele nunca desistiu de mim... Ele sempre me desafiou pra me proteger... Como eu fui cego a ponto de não perceber isso? Ele estava sendo... sendo um... um pai verdadeiro. Ele sempre esteve comigo... Ele sempre esteve comigo...

ELE SEMPRE ESTEVE COMIGO!*

Vicent retorna a realidade. Mostrando estar revigorado, fecha os dois punhos, apertando-os com força, como se fosse mesmo lugar contra alguém. Ele, se levantando lentamente, indaga:

— EU NÃO VOU DESISTIR DA MINHA VIDA! NÃO VOU ENTREGAR A VOCÊ TÃO FACILMENTE! PELA MINHA MÃE E PELO MEU PAI... E POR TODOS DESSA CIDADE, EU VOU TE DERROTAR, SEU MISERÁVEL!

Vicent então recorda de quando sua mãe lhe colocava na cama, para lhe contar uma história. Em sua mente, ele lembra exatamente o que sua mãe dizia:

— Está pronto pra uma história cheia de ação e aventura, meu amor?

— Estou sim, mãe.

— Então eu vou dizer a frase de início. Você tem que dizer a frase pra começar. Do jeito que a gente combinou, tá?

— Tá, mãe. Pode começar. Tô pronto!

 Lá vai... Como no vídeo game que eu adorava jogar nos anos 80...

E pelo inibidor, que se iluminou ao chegar ao limite da fúria de Vicent, o rapaz ouve uma voz feminina metálica dizer:

— "Wellcome to the fantasy zone"

— GET READY! - esbravejou Vicent, com toda força e vontade, com seu ímpeto restabelecido ao máximo.

O rapaz pula contra o robô com toda sua força. Um combate épico está prestes a eclodir...

Continua.


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Notas finais do capítulo

Next Stage:

Nova Mobotrópolis Act 1



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