Indignada escrita por prongslet


Capítulo 2
Indignada, parte dois.


Notas iniciais do capítulo

Primeiro que tudo, muito obrigada por todo o apoio no último capítulo ♥ Obrigada a quem comentou, favoritou e acompanhou! São os melhores ♥
Agora, deixo-vos com o último capítulo de 2018 e desejos de um ótimo 2019!
Beijos e até ao próximo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/772330/chapter/2

[1 de Novembro de 1982, Quarta - feira, Ministério da Magia da Grã-Bertanha]

Sentou-se confortavelmente na cadeira que lhe tinha sido indicada e esperou durante alguns minutos, enquanto observava o gabinete número nove dos ‘Advogados do Mundo Mágico’, no Departamento de Execução de Leis Mágicas. O nome de August Avery brilhava em letras douradas em cima da secretária à sua frente e ela não pode deixar de soltar um riso nasalado ao constatar que o Ministério não tinha sequer noção de quem colocava lá dentro.  "Um Ministério sem nada a esconder", diziam eles.

 Ao fim de algum tempo, começou a bater com o salto negro no soalho de madeira, enquanto encarava as unhas recém pintadas de negro. Tentou controlar a vontade de perguntar se não cumpriam horários naquele estabelecimento, mas lembrou-se do quanto Narcisa insistira para lhe fazerem aquele favor, especialmente em segredo do marido.

Era a única hipótese que Bellatrix tinha para apressar o seu caso, já que o auror responsável por ele era o mais incompetente do departamento inteiro... ou melhor, do ministério.

Bellatrix inspirou pesadamente e não conteve o revirar de olhos quando pensou no primo mais velho. Aquele traidor ainda ia pagar pelo que lhe tinha dito naquele dia no ministério. Claro que o bastardo ia arrastar aquilo o máximo de tempo possível e ela não queria ceder a tentação de (finalmente) atirar o primo do segundo andar do ministério.

— Desculpe pela demora, senhora Black. —  A voz de Avery ecoou pelos seus ouvidos e ela sorriu quando os seus olhos negros repousavam na figura de August. O homem sorriu para ela e deu-lhe um beijo na mão direita, como sinal de respeito, antes de se sentar na enorme poltrona do outro lado da secretária.

Ajeitou a gravata verde musgo no pescoço e puxou a manga da camisa branca, onde Bellatrix sabia que repousava a marca negra dele. O homem sorriu quando percebeu que ela o encarava, repousado depois os olhos verdes na pasta cheia de pergaminhos em cima da secretária.

— Estive a analisar o seu caso e já enviei algumas cartas ao departamento de aurores. —  Ele explicou, antes de abrir a pasta. — Não existem provas suficientes para avançar com o caso para julgamento, mas o departamento pode adiar o caso até prescrever. Aleguei que as provas eram apenas suposições e dadas as circunstâncias, — fez uma pausa e Bellatrix não pode evitar sorrir — não podemos considerar dois incapacitados como testemunhas em julgamentos. Isto nunca será o suficiente para condenar alguém a Azkaban.  

— E quando é que posso ter o acesso ao meu cofre? — Perguntou cansada de ouvir coisas que já sabia há meses. Avery arqueou uma das sobrancelhas e não pode evitar sorrir, os Black eram realmente estranhos.

— Quanto a isso, o ministério só pode levantar a ordem de restrição quando encerrarem o caso. Podemos tentar apressar o processo até ao fim do ano, mas nunca mais cedo.  Contudo, em casos como estes, o representante da família pode aceder ao cofre e levantar toda a quantia que precise até ao fim do ano, conforme consta no artigo doze da legislação, alínea quatro g).

— O representante da família está morto e enterrado. — A mulher informou com escárnio ao relembrar o seu não tão amado tio Orion. 

— Não necessariamente, senhora Black. — Avery disse, antes de retirar um pergaminho enorme de um rolo verde escuro, onde brilhava a letras prateadas o brasão da Mui Nobre e Antiga Casa dos Black. Bellatrix reconheceu de imediato a letra apertada do único tio que tinha e não se enganou quando Avery lhe passou para as mãos o testamento do mesmo. — Segundo o testamento do seu falecido tio, todos os bens devem ser repartidos de igual forma por todos aqueles que possuem o sangue dos Black mas a casa, que eu acredito ser um dos bens mais importantes por representar o representante da fortuna, — Ele explicou apontando para uma das alíneas do testamento — passará para o nome de Cynus Black, o seu pai e caso o mesmo faleça, passa para o seu herdeiro mais velho vivo que, neste caso, será a sua irmã Andromeda.

— Isso é impossível. —  Ela disse, antes de colocar o testamento em cima da secretária. —  A Andromeda foi expulsa da família e retirada de todos os testamentos. Para todos os efeitos, ela não é uma Black.

— Nesse caso, senhora Black, o representante da família passa a ser o membro mais velho depois da sua irmã que, se não me engano é a senhora, já que o seu primo foi igualmente expulso. Como neste caso não é opção, passa para a sua irmã Narcisa. Apenas preciso que todos os herdeiros válidos assinem este papel aqui e o entreguem no Ministério, para que possa ser carimbado. Depois, não haverá problema quando a sua irmã se dirigir a Gringotts e levantar toda a quantia que precise. Mas lembre-se que a lei só o permite fazer uma vez.

— E você percebe muito de lei, não é Avery? — Ela perguntou sorrindo antes de apertar a mão do homem a sua frente. Mas antes que ela se levantasse para sair do consultório e do departamento, o homem puxou de um pedaço de pergaminho das suas vestes e entregou-o para Bellatrix, antes de acrescentar.

— A sua irmã falou-me das suas… ideias sobre o Ministério. Não tenho poder suficiente para fazê-lo acontecer, mas acredito que vá encontrar aí tudo o que precisa para que o seu plano funcione.

 

 

 [5 de Novembro de 1982, Segunda-feira, Highlands - Vila de Hogsmead]

Bellatrix apertou a capa azul escura nos ombros e não pensou duas vezes em colocar o pesado capuz, protegendo os seus caracóis negros do manto branco que cobria a Inglaterra.  Apertou o tecido contra a sua pele e não conseguiu controlar os arrepios no corpo enquanto atravessava as ruas quase que vazias da pequena vila de Hogsmead. Conferiu novamente o endereço no pergaminho velho e com um toque da sua varinha o pequeno pedaço de papel pegou fogo, caindo já em cinzas na neve da calçada. 

Andou calmamente pelas ruas e sorriu quando os flocos de neve começaram a cair com mais intensidade. Se existia algo que ela amava naquela altura do ano, era a neve. Era, sem dúvida alguma, a sua coisa preferida na Inglaterra.

Apressou o passo a contragosto, afinal não se podia atrasar. Os Black eram conhecidos entre muitas outras coisas pela sua pontualidade britânica. Desde pequena que tinha sido educada, assim como as suas irmãs, para chegar sempre a horas. A sua mãe fazia sempre questão de a relembrar do quão deselegante era deixar os convidados à espera, mesmo que naquela situação o seu convidado não tivesse noção de que aquilo era, de forma alguma, um encontro.

Retirou um pesado relógio de bolso da sua capa e por breves segundos observou a beleza do aparelho de ouro branco, repleto de estrelas. No centro, o nome dela tinha sido gravado, a letras delicadas. Bellatrix abriu o relógio e suspirou aliviada quando constatou que chegara mais cedo ao local.

Empurrou a pesada porta do pub, ouvindo um sino em seguida. Entrou no local a passos largos, retirando a sua pesada capa da cabeça. Não se importou em sacudir a neve do tecido porque a qualidade do estabelecimento não era, de todo, digna de tal ação. Revirou os olhos quando sentiu os olhares presos na sua figura e sentiu uma vontade de vomitar, mas lembrou-se que estava ali por uma boa razão. Ignorou meia dúzia de comentários impróprios e inspirou pesadamente antes de se sentar numa mesa escondida do pub, encostada a uma velha parede de tijolos vermelhos.

Os seus olhos negros percorreram o pub várias vezes intercalando ocasionalmente com o relógio que repousava na sua mão direita. Se ela não estivesse enganada, a pessoa responsável pelo fim daquela vida miserável não demoraria a entrar por aquela porta. Esperou alguns segundos e, no entretanto, não deixou de observar o quão decadente era aquele lugar. Sabia que o Whyte Wyrm era conhecido por abrigar boa parte dos procurados pelo ministério da magia, mas era também um ótimo local para um casal de amantes se encontrar. Não pode evitar rir, os homens eram realmente muito previsíveis. Assim que o som do sino da porta de entrada ecoou pelo estabelecimento, os olhos negros de Bellatrix cravaram-se nas duas figuras que entraram, cobertas por pesados mantos, para que ninguém conseguisse ver os seus rostos. 

Suspirou pesadamente antes de deixar a mesa, seguindo o casal a passos rápidos. Subiu o lance de escadas de madeira que davam acesso aos quartos no andar de cima e não pode deixar de conter o riso quando abriu a pesada porta de um dos quartos, apanhando um casal mesmo na altura certa.

— Boa noite, senhor ministro. — Disse assim que entrou no quarto. Sentou-se calmamente na poltrona gasta e cruzou as pernas, ignorando os gritos da mulher loira de olhos azuis, que em nada se assemelhava à mulher do mesmo e o próprio ministro que balbuciava palavras sem nexo, numa tentativa falhada de a expulsar dali.

— O que é que quer daqui e de mim? Porque, em nome de Merlim é que… — O homem começou, mas Bellatrix levantou a mão, pedindo que se calasse.

— Pouco me importa o que acontece neste sítio reles, com esta prostituta igualmente reles. — Acrescentou, arrancando ainda gritos por parte da outra ocupante do quarto. Revirou os olhos quando a maldita a ofendeu e fez um esforço para não acabar com a sua raça naquele mesmo local. — O que eu quero, senhor ministro, é um pequeno favor da sua parte, para que conte com o meu silêncio.

O homem não lhe disse nada, ponderando a sua proposta e ela sorriu. Eram sempre os mesmos. Levantou-se da cadeira e aproximou-se do homem que riu, fazendo-a revirar os olhos.

— Quanto é que quer? —  Ele perguntou, segurando o pulso dela com força. Bellatrix resmungou e sentiu vontade de acabar com a vida do homem, mas conteve-se, rindo em resposta.

— Acha que eu preciso do seu dinheiro sujo? — Perguntou com desdém, retirando a sua mão do aperto do homem. — Eu quero apenas uma pequena ajuda sua, que nem se vai lembrar daqui a um mês. — Acrescentou, antes de se sentar novamente na poltrona. Sorriu falsamente, antes de se compor no assento. — Vamos conversar, Sr. Ministro? Ou devo fazê-lo com a imprestável da Skeeter? Tenho a certeza que a sua mulher ia adorar ler esta história na manchete no Profeta Diário de amanhã.

 

 

[6 de Novembro de 1982, Terça-feira, Whitehall – Ministério da Magia]

Bellatrix andou pelo enorme corredor do Ministério, com um sorriso que não lhe era característico. A sua pesada capa negra balançava pelos passos apressados que ela dava, o que lhe rendeu vários encontrões. Conteve a vontade de amaldiçoar meio mundo, mas limitou-se a encarar os demais com desdém. Aquilo não era uma forma de começar aquele dia especial.

Não era todos os dias que ela tinha a oportunidade de humilhar o primo traidor e, como bónus, todo o departamento de aurores. Conteve a vontade de rir alto e escolheu guardar o riso para a reunião que ia ter momentos depois.

Tudo a seu tempo. Relembrou, antes de entrar num dos enormes elevadores. Pressionou o número dois novamente e quando a voz mecanizada anunciou o departamento que desejava, saiu a passos largos, ainda com um enorme sorriso no rosto. Aquilo ia ser muito divertido, oh se ia.

— Tenho uma reunião marcada com o auror responsável pelo departamento. —  Disse com desdém, quando os seus olhos negros repousaram na figura de Vance. Os seus dedos bateram ritmadamente na madeira da secretária e, sob o olhar inquisidor de Vance, Bellatrix acrescentou. — Vai ficar aí o dia todo, querida? Ou vai chamar o seu chefe?

Vance inspirou pesadamente antes de se levantar, sob o olhar atento de Bellatrix e seguiu pelo enorme corredor do departamento, com a morena atrás de si. Não demorou muito a que estivessem em frente a uma porta (semelhante à que tinha visitado na semana anterior), Vance bateu algumas vezes na madeira escura e não demorou a que fosse aberta por uma figura esguia, que Bellatrix reconhecia muito bem.

Os olhos de James Potter piscaram várias vezes quando repousaram na figura de Bellatrix, encarando Vance momentos depois.

— Ela diz que tem uma renião com o Alastor. — Vance explicou baixo, para que apenas eles escutassem. O moreno abanou a cabeça e dispensou-a, mas não sem antes lhe sussurrar algo ao ouvido. Bellatrix sorriu com desdém quando a loira se virou para ela, desaparecendo segundos depois no enorme corredor negro.

James permaneceu com a porta entreaberta, sem saber o que fazer. O seu olhar alternava entre a figura de Bellatrix e alguém dentro do gabinete.

— O que está à espera, Potter? Abra a porta de uma vez. —  Uma voz soou dentro do gabinete e Bellatrix riu em resposta, antes de entrar no gabinete sem cerimónias, empurrando James na entrada.

Quando entrou no gabinete, sentiu todos os olhares presos na sua figura. Tinha a certeza que posteriormente iria rir muito da cara que Potter e companhia limitada (incluindo o seu priminho) faziam naquele momento.

O seu olhar recaiu no homem sentado na poltrona atrás da secretária. O brasão de auror brilhava no seu peito, contrastando com as suas roupas velhas e gastas. Segurava na mão direita a sua varinha e o seu olho de vidro rolava descontroladamente enquanto a encarava. Fez-se um longo silêncio no gabinete e por momentos tudo o que  se podia ouvir no gabinete principal era a respiração pesada dos oito aurores que tinham sido convocados naquela mesma manhã.

Bellatrix permitiu-se observar a figura do primo pelo canto do olho. Podia distinguir a face vermelha, resultado de uma possível discussão com o auror chefe e o seu distintivo de auror estava largado em cima da secretária do mais velho que não demorou a recolhê-lo, para depois o atirar para as mãos do primogénito dos Black. Sirius não teve dificuldade alguma em apanhar o objeto no ar, guardando-o a contragosto na lapela da capa negra.

— Nenhum de nós está contente com esta decisão. — Moody disse, antes de se levantar da secretária. — Mas são ordens do Ministro e por isso sugiro que engulam os vossos orgulhos e sejam profissionais, porque não aceito nada menos do que isso neste departamento. — Mancou até à figura de Bellatrix, que o encarou com desdém. Por breves segundos duvidou da sua sanidade. Mas depois lembrou-se das palavras debuxadas do primo no encontro anterior e não conseguiu deixar de sorrir. Seriam apenas um mês, mas ela pretendia torná-lo o pior mês da vida de Sirius.

— A senhora Black vai supervisionar o nosso esquadrão até ao final deste ano, para o relatório anual do Ministério. — Ele explicou novamente, enquanto encarava a iris negra de Bellatrix. — Sugiro que se comportem até lá. Estão dispensados. — Afirmou, batendo com a bengala que trazia na mão.

Rapidamente, todos os membros começaram a deixar a sala e, quando Sirius se preparou para seguir o bastardo do lobisomem que seguia na sua frente, Moody agarrou-o pela camisa e com uma voz rouca disse. — Você não, Black. Precisamos de conversar, os três.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(1)* - ‘Advogados do Mundo Mágico’, no Departamento de Execução de Leis Mágicas: Advogados para o Mundo Mágico é uma organização bruxa que oferece serviços legais, como defesa e serviços notariais. É muito provavelmente afiliada ao Ministério da Magia.

(2)* - August Avery: Os Avery são uma das famílias dos Sagrados 28. O Avery I é da geração do Lucius Malfoy e era apoiante do Voldemort. Decidi usa-lo como advogado porque why not?
.
.
Quero apenas dizer que NÃO, a Bellatrix não quer de todo trabalhar ali. Mas o orgulho fala mais forte e bem, ela jurou que se ia vingar das palavras do Sirius no último encontro dos dois. Por isso arranjou um "trabalho", mas não o que o Sirius esperava *oh well, karma is a bitch*
Espero que tenham gostado, este capítulo é mais uma ponte mas achei que tinha de ficar separado da próxima cena dentro do departamento. Juro que vou explicar melhor as coisas e atar as pontas soltas!
Beijinhos e bom 2019!