Punição divina escrita por Aislyn


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas voltei!
Boa leitura!



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A pequena cidade voltou a prosperar em pouco tempo, a ponte foi reconstruída e os moradores agiam como se uma terrível doença nunca os tivesse atingido. Nenhum vestígio dos desastres de semanas atrás podia ser encontrado. O único que parecia incomodado com aquela paz era o padre Akaashi, que andava sempre olhando para os lados, em buscas dos cantos escuros, como se algo fosse saltar das sombras para atacá-lo.

 

Akaashi considerava impossível que tivesse sonhado ou imaginado tudo aquilo. A seca era real, as reuniões e orações com o povo, as mortes e doenças… então o anjo também seria, não é? Mesmo que tivesse ido embora durante a noite. A pena, anteriormente pousada em seu travesseiro e encontrada naquela manhã, também havia desaparecido.

 

Podia ele ser o único que não havia sido de fato curado e continuava com a sensação de ter visto coisas?

 

— Padre Akaashi? – um dos colegas se aproximou quando ele caminhava para fora da igreja, encarando-o fixamente e pousando uma mão em seu ombro – Espero que seja impressão minha, mas você parece incomodado ultimamente. Aconteceu alguma coisa?

 

— Não, não aconteceu nada. Só… acho que ainda estou preocupado com tudo que aconteceu e como acabou…

 

— Ah, sim… entendo sua preocupação. Todos nós ficamos muito sensibilizados com esses problemas, mas também gratos por tudo ter acabado. Não fique se remoendo por isso. Não sabemos qual foi a causa, mas acabou. Isso que importa!

 

— Tem razão. Eu não devia ficar me preocupando. – mas não era exatamente com aquilo que estava preocupado. Akaashi queria saber do anjo, que havia desaparecido da mesma forma que surgiu – Vou caminhar um pouco para espairecer. Tenho certeza que vai me ajudar a melhorar.

 

— Faz muito bem! Por que não se confessa também? Sabe que pode contar com qualquer um de nós, não sabe? Desabafar tudo que está incomodando pode te ajudar a aliviar um pouco desse peso.

 

Akaashi saiu da igreja com aquilo em mente, pensando que seria realmente bom poder dividir o peso de suas dúvidas com alguém de confiança. Poderia garantir com isso que também não estava louco. Ele realmente havia visto o anjo, conversou com ele, teve-o ao seu lado durante uma noite inteira. Tinha certeza que não era uma alucinação.

 

Andou a esmo pela cidadezinha, cumprimentando e conversando com alguns conhecidos, confirmando a melhora de outros, aconselhando crianças a não correrem para longe, mas nada o distraía por completo. Sempre que olhava distraído para algum lado tinha o vislumbre de um brilho dourado lhe surgindo às vistas, mas nunca era o que realmente buscava.

 

Desistindo de procurar por sinais que não existiam, Akaashi voltou para a igreja e para suas atividades da tarde, decidido a seguir o conselho do colega. Logo após o jantar foi atrás do bispo, pedindo um instante para conversarem em particular.

 

— Realmente… foram acontecimentos estranhos, e alguns dos nossos, os mais sensitivos, ficaram incomodados com essa melhora repentina, mas ao mesmo tempo, ninguém soube explicar o que de fato aconteceu. – o bispo se acomodou em sua cabine no confessionário, esperando padre Akaashi ocupar o local ao lado para darem prosseguimento à conversa.

 

— Ninguém comentou nada a respeito, sobre ver coisas diferentes? – Akaashi já havia chegado àquela conclusão, mas queria confirmar novamente.

 

— Não que eu tenha ouvido falar… mas há que tipo de coisas diferentes se refere?

 

— Eu sei que em muitas das escrituras há relatos sobre… bom, seres alados, anjos, criaturas enviadas pelos céus, que entram em contato com humanos… Eu acredito que vi uma delas.

 

— Oh… isso é raro, padre Akaashi. Raro e um bom sinal! Não são muitos de nós que recebem visitas de anjos durante os sonhos. Você foi avisado sobre o que aconteceria?

 

— Não, não… eu… não foi em sonho. Num primeiro instante achei que era, mas depois percebi que era real.

 

— Um anjo… de verdade? Apareceu pra você?

 

— Sim. Ele disse que todos esses problemas aconteceram por ele estar aqui. Algo o seguiu e foi então que tudo começou… e agora, com sua partida, os problemas se foram também.

 

— Hmm… que curioso…

 

— O senhor já ouviu falar de algo assim? Alguém aqui já deu indícios de ver ou falar com outros seres?

 

— Bom… Se não me falha a memória, um antigo colega já mencionou visões do tipo… mas isso foi há muito tempo. Infelizmente, não podemos confirmar nada com ele, pois morreu há alguns anos, mas talvez tenhamos algo nos registros da igreja. Eu posso confirmar pra você.

 

— Seria uma grande ajuda. Ter a certeza que não estou delirando e que não foi algo da minha imaginação. Com todos os problemas que a cidade teve e a igreja funcionando sem parar, pensei que pudesse ser cansaço, mas fico mais tranquilo sabendo que isso já aconteceu antes com outra pessoa.

 

— Não sei se aconteceu da mesma forma que você me relatou, pois só ouvi rumores, então podem ou não ser verdadeiros. – o padre se levantou, dando a conversa por encerrada – Irei lhe procurar quando tiver notícias, padre Akaashi.

 

— Obrigado, não sabe o quanto isso me deixa tranquilo.

 

* * *

 

Akaashi não recebeu nenhuma novidade nos dias seguintes, como também não procurou por mais nenhum sinal nas redondezas. Ignorava qualquer vislumbre dourado e evitava até mesmo encarar os pássaros, pois as asas eram o suficiente para confundi-lo.

 

A movimentação na igreja diminuiu bastante depois que a calmaria retornou à cidade, em contrapartida, o comércio havia voltado com força total. Era possível encontrar os moradores vendendo e trocando itens de suas pequenas colheitas e produções caseiras, assim como peças de roupa e utensílios domésticos. Não importava para onde se olhava, era como se nada tivesse acontecido.

 

A novidade na região veio poucos dias depois, no começo da tarde, quando alguns operários começaram a construir uma espécie de palco ao lado da igreja. Padre Akaashi não era muito bom com as datas festivas locais, mesmo tendo crescido por ali, mas não se lembrava de nenhuma comemoração que aconteceria na véspera. Quando o sol começou a se pôr e todos recolhiam seus pertences para retornarem ao conforto de suas casas, um último objeto foi adicionado à construção: um tronco em posição vertical, com cordas na extremidade superior. Não era um palco para celebrar alguma comemoração e sim um palco de execução.

 

Um único pensamento cruzou a mente de Akaashi: o anjo havia sido encontrado. E a culpa era sua, por contar a um colega o que aconteceu, por revelar que o caos havia sido causado por aquela criatura mística. E agora iriam expor a existência do anjo, antes de acabarem com ele.


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Notas finais do capítulo

Continua...



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