Através da janela escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 2
II


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo e finalmente vamos ver o primeiro encontro dos nossos protagonistas, espero que esteja dentro do que você pediu, até aqui.



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Alguém estava tocando a campainha, Ginny o cutucou com o dedão do pé da poltrona em que estava, porque supostamente era sua vez de atender a porta. Devia ser um dos irmãos chegando mais cedo para fazer uma surpresa ou talvez os gêmeos finalmente tivessem conseguido ser expulsos da faculdade...

Rony bocejou e coçou a barriga, arrastando os pés até a entrada. Ainda era dia 23 de dezembro, mas aparentemente o barulho e a bagunça iria começar cedo na casa dos Weasley esse ano. Abriu a porta e congelou o movimento de coçar o olho, com preguiça, bem a tempo de ver uma garota de cabelos escuros e lisos o encarar com timidez.

— Oi, Ron, estava me perguntando se você poderia pedir uma pizza para mim... — Pansy Parkinson em carne, osso e pura beleza estava na sua porta, sorrindo com diversão e nervosismo, se seus pés inquietos queriam dizer alguma coisa. — Eu adoro pepperoni.

— QUEM É, RONY? — Ginny gritou como a bela lady que era, então o garoto fez uma careta de desculpas, antes de respondê-la, gritando também.

— O CORREIO, MAS O DINHEIRO DA TIA MURIEL AINDA NÃO CHEGOU.  — Ele inventou essa mentirinha de leve por uma série de motivos diferentes, que não cabia dizer a Pansy Parkinson na sua entrada da frente, então abriu a porta completamente para ela entrar.

Colocou a cabeça dentro da sala, para avisar a Ginny que não iria terminar de ver o filme com ela, pedindo para a vizinha o aguardar em silêncio.

— Vou aproveitar que tomei coragem de levantar e vou lá para cima tirar um cochilo, ok? — Ele falou como se tudo fosse verdade e Pansy ficou surpresa como o garoto era um excelente mentiroso, isso ele não dissera na carta.

— Te invejo, irmão, a maioria dos filme de Adam Sandler eu só assisto pela falta de força de vontade para mudar de canal. — Ginny falou, muito cômoda em sua posição com o balde de pipoca cheios de caramelos e confeitos apoiado na barriga, preguiçosa demais para olhar para a porta.

Rony não era o tipo de mentiroso cuidadoso, entretanto, porque nem se forçou a subir a escada para simular o que tinha dito que faria, observou Pansy. No lugar disso, a encaminhou para uma saleta matinal ou varanda coberta, ela não sabia dizer o que era, mas ao menos era aquecida. O garoto fechou a porta com cuidado e depois fez uma cara de pedido de desculpas de novo, ao olhar para ela.

— Desculpa por isso, mas é que minha irmã não deixaria a gente em paz nesse século se visse você aqui — O ruivo falou com um leve embaraço, então Pansy só sorriu para ele.

— Uma das desvantagens de se ter irmãos demais, imagino. — Ela falou com bom humor e ele deu de ombros, antes de apontar um lugar para ela sentar no sofá flutuante, quase um balanço.

— Uma de muitas, mas de toda sorte... Err... Oi. Você veio! Não esperava que você viesse... — Ele disse sem jeito, se sentando ao lado da garota com o máximo de distância que podia colocar, não queria que ela pensasse que ele estava tentando tirar proveito da situação ou algo assim.

— Você achou que eu riria da carta com minhas amigas. — Não foi uma pergunta, então Rony não respondeu, apenas ficou aguardando que ela continuasse a falar. — Bem, você fez disso algo impossível, quando colocou tantas coisas constrangedoras sobre mim, eu provavelmente não mostrarei essa carta a ninguém, nunca.

— Ótimo, adoraria dizer que foi de propósito, mas não sou tão esperto assim — Ele disse displicente, arrancando um riso leve da garota, parecendo bem diferente da imagem que ela geralmente projetava com estranhos. — Mas, e aí? Pepperoni, hum?

Era uma pergunta idiota, mas toda aquela situação era muito estranha, Rony não iria se desculpar ou se lamentar por isso, precisavam quebrar o gelo de alguma forma e se Pansy quisesse colocar suas garras de fora, essa hora era tão boa quanto qualquer outra.

— Foi um pretexto, obviamente. Na verdade, passei a madrugada toda dando uma olhada nas suas redes sociais, depois li a carta de novo, olhei pela janela e... Puta que pariu, o ângulo de visão da minha é péssimo para a sua mesmo, então cá estou eu! — Ela bateu nas pernas, como se não pudesse fazer ou dizer mais nada além disso. — Mas ainda espero conseguir minha dose extra de pepperoni algum dia, que fique bem claro.

— Justo, mas... Você olhou minhas redes sociais? — Rony perguntou, já se recostando desleixadamente no sofá, tapando o rosto com vergonha. — Eu devia ter previsto isso, o pior é que eu ia fazer uma limpa naquelas merdas!

— Seu Instagram tem muitas fotos de suas ex — Pansy avisou, contendo o riso maldoso e ele gemeu indignamente. — Principalmente de Lilá Brown.

— Ah bom, então agora você sabe que eu...  Olha, não importa o que eu prometi, não tenho condições nenhuma de te dar conselho, tipo, eu sou só um ouvido amigo, só isso! — Ele falou se eximindo antecipadamente da culpa por algum conselho bosta que viesse a dar, seu histórico de namoro estava aí para não deixá-lo mentir.

— Ainda bem, aceitar um conselho de alguém que pensou que namorar Lilá Brown era uma boa ideia… Eu teria que começar a enfeitar o fundo do poço com pisca-piscas natalinos! — A garota falou com seu tom habitual de deboche, arrancando uma careta de Rony.

— Ela não é tão ruim… E, se quer saber, a gente nem ficou tanto tempo assim, então...

— Esquece isso! Na verdade, fiquei surpresa mesmo ao saber que você namorou a Granger... Por duas semanas e meia, não foi? — Ela falou intrigada, porque Hermione Granger não parecia o tipo de garota que ficava com alguém por tão pouco tempo e Pansy Parkinson adorava saber das fofocas.

Gostava de saber de todas, mesmo das insossas, como essa.

— Não, não... Com Mione eu namorei por quase um ano, eu fiquei no grupo de debates dela por duas semanas e meia. — Ele corrigiu a informação, porque aquilo era importante, especialmente a segunda parte. — Inclusive não recomendo que você passe nem pelo corredor do clube de debates, porque, coincidência ou não, cabe a você decidir, meu namoro acabou no dia em que eu saí do grupo.

— Foi coincidência? — Ela ignorou a observação, curiosa e Rony a olhou com cinismo.

— Não, não foi, mas pelo bem da minha amizade com Mione desde os 11 anos de idade, eu vou jurar para sempre que foi! — Ele cruzou os dedos e beijou em uma falsa promessa, fazendo Pansy rir.

— Ainda é amigo das sua ex? — Ela perguntou impressionada e ele fez uma careta. — Isso depõe mais contra você, do que a carta de perseguidor e aquela declaração melosa de Brown no Insta. Como ela te chamava mesmo? “Roniquinho”?

— Está decidido: não vou apagar as postagens, vou deletar o meu Instagram todo!— Rony resmungou chateado, então Pansy apenas o olhou maliciosa.

— Não exclua, as pessoas precisam de um refúgio de vergonha alheia para acreditarem que suas vidas não são tão ruins. — Ela falou sem pena, mas depois amenizou, para evitar ser expulsa da casa, pelo garoto ruivo. — E por pessoas, me refiro a mim mesma.

Rony a olhou com uma condescendência que a irritou, mas não o suficiente para fazê-la investigar melhor o que aquele olhar queria dizer. Ele não deixou que ela acrescentasse mais nada, de todo modo.

— Bem, ignorando seus comentários lisonjeiros e respondendo a sua pergunta: não sou amigo de Lilá, porque ela é doida... Não de um jeito ruim! Longe disso, ela é só... Doida. — Ele terminou constrangido, porque não tinha muito a ser dito sobre sua primeira namorada, Pansy Parkinson tinha razão em lhe olhar toda metida. — Mas já está bom de falar de mim, não é? Vamos falar de você... Err... Vai passar o Natal na cidade?

— Vou. Ao que tudo indica mais um ano com os amigos ridículos de meus pais ridículos. — Pansy disse com tédio. Rony cruzou a perna para ficar mais confortável e olha-la de um ângulo melhor.

— Mas a comida ao menos é boa? — Ele perguntou com esperança e ela revirou os olhos.

— Péssima, tudo tem gosto de sabão, mas aparentemente eu é que não tenho paladar refinado. — A garota falou com deboche, acompanhando o sorriso de compreensão que ele lhe dirigiu. — E você? Vai passar com os irmãos?

— Com a maioria deles. Os gêmeos vão vir da faculdade, a qualquer minuto chegam. Percy, que trabalha na prefeitura, vem e Bill vai finalmente trazer a noiva francesa para conhecermos. — Ele informou o fato como um acréscimo interessante, mas não exatamente uma grande coisa. — Só Charles que não vai vir esse ano, mas a Romênia é muito longe para vir.

— Mais do que o Egito? — Pansy levantou uma sobrancelha cética, então Rony deu de ombros, porque havia um pouco de falta de interesse do irmão em vir também.

— Talvez Nova York se torne muito longe algum dia, quem sabe? Não me cabe julgar a decisão dos outros. — Ele falou simplista e ela revirou os olhos para isso.

— Devia fazer ele saber, mandar à merda os compromissos e arrumar as malas dele para vim ver a família que não visita há um ano! — Ela aconselhou com falsos ares de sabedoria e Rony a olhou ainda sem acreditar naquela versão de Pansy que estava ali, conversando com ele normalmente.

— Três anos.

— Olha... Seu irmão é um escroto, é oficial! — Pansy riu enquanto xingava o desconhecido Charles Weasley, mas antes que Rony o pudesse defender, a porta da varanda se abriu com brusquidão.

— Ah! Achei que tinha ficado doido de vez e estava falando sozinho — Ginny falou com um choque não de todo sincero, depois se dirigiu especificamente à convidada fora de lugar. — Olá, Parkinson, que surpresa te ver por aqui.

A caçula Weasley, Ginevra  – essa Pansy conhecia bem – se apoiou no marco da porta, de braços cruzados, seu moletom da Stanford sujo de alguma coisa que não dava para identificar. Ginny, como todos na escola a chamavam, parecia bonita e intimidadora, mesmo estando em roupas de dentro de casa meio desleixadas.

E não parecia nada feliz com sua presença ali.

— Vim apenas para dar um oi. Eu e seu irmão somos colegas em várias classes, sabia? — Pansy falou a título de explicação, mas isso não mudou a expressão inquisidora da artilheira do time de futebol feminino do colégio.

— Estou impressionada que você saiba disso, se quer saber... Mas então, fica para o jantar? — A ruiva falou, olhando para a vizinha e então para o irmão, com um sorriso cínico. — Vamos ter cascavel no cardápio. Eu vou filetar ela bem fininho e servir como sushi.

Rony olhou da irmã para Pansy sem esboçar nenhuma reação para indireta, então a garota mais velha apenas deu um sorriso sarcástico, se levantando para ir embora.

— Acho que vou deixar para a próxima, embora tenha ficado tentada em provar essa sua iguaria. — Respondeu com ironia, Rony continuou sentado, pouco abalado pela dinâmica tensa entre as duas garotas.

— Eu também estou curiosíssimo para provar essa comida. Cobra? Não me lembro de já ter comido uma... — Ele disse sonso e Ginny o olhou com veneno.

— Vamos manter assim, Ron, porque ouvi dizer que tratamento contra DST é bem ruim. — A ruiva falou com crueldade e dessa vez Pansy riu com sarcasmo.

— Eu já vou indo mesmo. — Falou encarando a dona da casa, depois se virou para Rony, com um pouco mais de simpatia. — Foi um prazer conversar com você, Weasley.

— Te acompanho até sua casa. — Ele falou, enquanto se levantava e a garota fez que não com a cabeça, pronta para negar verbalmente. — Eu insisto, a gente precisa falar mal de Ginny e é melhor quando a indignação está fresca.

A aludida o encarou com desdém e deu as costas para os dois, enquanto Pansy o olhou impressionada de verdade, não esperava isso dele.

— Não precisava se desentender com sua irmã por mim, eu sei me defender muito bem sozinha. — Ela disse com impaciência, porque realmente aquele era o tipo de coisa que dois estranhos não deveriam fazer um pelo outro, brigar com pessoas que amam, no caso.

— Você obviamente não tem irmãos — Rony falou divertido, abrindo novamente a porta da varanda, que havia se fechado com a saída de Ginny. — Vamos falar mal de você quando eu voltar.

Pansy não pôde evitar, teve que dar risada da cara de pau do garoto em admitir isso, sem o menor constrangimento. Os dois saíram da varanda e então da casa, antes que ela voltasse a falar. Abraçou a si mesma por causa da diferença de temperatura no lado de fora.

— Eu tenho quase certeza que sua irmã me odeia porque eu transei com o namorado dela... Potter. — Ela acrescentou o nome, como se Rony não soubesse de quem ela estava falando. Ele fez uma cara que a garota julgou bastante engraçada.

— Eu não... Ãhn... Eu não acho que ela saiba disso, porque, eu, por exemplo, não sabia. — O garoto ruivo cruzou os braços, desconfortavelmente e completou o final da resposta baixinho. — E preferia continuar sem saber.

— É claro que ela sabe, Potter é do tipo que gosta de falar no sexo, “Nossa, eu nunca estive com uma garota tão gostosa quanto você” — Ela imitou o que supostamente seria Harry no meio de uma transa e Rony teve certeza que a vida era muito criativa na forma de constranger uma pessoa. — Deve ter falado algo sobre mim na hora H com ela também.

— E esse é o tipo de informação que eu não preciso ter sobre o meu melhor amigo e minha irmã. — O ruivo falou, colocando a mão nos bolsos para aquecê-las um pouco, havia saído completamente despreparado para o frio. Pansy o olhou, curiosa.

— Se a gente quer mesmo que uma amizade ou o que quer que seja dê certo entre nós, acho que você precisa me dizer o nome de todos os seus amigos, para saber quais já me viram nua. — Ela falou como se não fosse nada demais, mas obviamente a garota só queria chocá-lo.

Rony passou por trás de sua própria lata velha, antes de chegar à calçada que dava no acesso a casa de sua vizinha. Pansy esperava uma resposta e de alguma forma o garoto sentia que isso definiria o relacionamento deles daqui para frente, então parou para pensar no que dizer na interseção entre as duas casas.

Os mundos não podiam ser mais diferentes - o seu e o dela - porque enquanto sua casa parecia grande e desengonçada, cheia de consertos e marcas de uma vida familiar agitada, a dela era elegante e sofisticada, pertencente à uma família que sabia muito bem o seu lugar na sociedade.

Pansy queria chocá-lo, como chocava os pais e se provava diante dos amigos, mas a verdade era que Rony não se sentia tão ingênuo e inocente como deveria parecer aos olhos dela. Sorriu ao pensar em uma resposta boa o suficiente.

— Não se preocupe com isso, todos os meus amigos já te viram nua. — Ela o olhou de sobrancelha levantada em questionamento, então ele continuou. — Para ser sincero, eu também já vi.

— Que? Quando? Eu já tomei porres, mas não o suficiente para esquecer para quem eu dei ou deixei de dar! — A garota falou indignada, com direito a mãos na cintura e tudo, igualzinha a dona Molly Weasley.

Menos na parte de dar para todo mundo, claro.

— Teve aquela festa de Zabini, que você subiu na mesa e começou a cantar a música tema do...

— Ah, mas aquilo ali foi só a parte de cima, as garotas da América fazem topless sem problema o tempo todo! —Ela se justificou como se Rony a tivesse acusado de um crime grave, quando era apenas uma coisinha de nada. Rony riu.

— Vimos a parte de baixo também, naquele acampamento em comemoração ao título do time, lembra? Você disse que estava morrendo de calor e começou a tirar a roupa e...

— Meu Deus, que memória! — Ela falou em tom de crítica e o garoto a olhou, sem se sentir culpado.

— Eu não estava bêbado no dia e juro que só olhei o tempo necessário para o meu cérebro compreender do que se tratava. — Ele falou sonso e ela lhe dirigiu um olhar mortal. — Mal me lembro dos detalhes, mas acho que é o suficiente para tirarmos isso do caminho: você não precisa se preocupar com o que eu penso ou deixo de pensar de você.

Já estavam na grande porta clara, com detalhes em vidro da casa dos Parkinson. Pansy o olhou desconfiada, então assentiu com a cabeça, porque, embora não se importasse com o que as pessoas pensavam sobre si, ainda assim era mais fácil quando elas não tinham expectativas muito altas.

— Bom saber... — Ela falou ainda avaliadora e Rony a olhou, nada intimidado.

— Agora vou deixar você aqui com suas próprias conclusões e vou lá ouvir Ginny defendendo seu ponto de vista com bastante paixão. — Ele falou, Pansy sorriu maldosamente para o sofrimento falso dele.

— Boa sorte.

— Sim, você vai precisar, ela vai te xingar bastante. — Ele falou já de costas para a garota, indo em direção a uma conversa que não estava particularmente ansioso para ter com sua irmã caçula.


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