Através da janela escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
I


Notas iniciais do capítulo

Vamos começar a brincadeira! Eu jurei que seria algo pequeno, mas como a vida é muito cruel comigo, Michelle, vamos começar a explorar o seu presente, feito com muito carinho!



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Você sempre andou com os populares, olhando a todos com superioridade e eu não vou fingir que aquela não era você ou que você não estava fazendo algo meio que reprovável, porque você merece mais do que minha gentileza, você merece minha honestidade.

Pansy, você construiu sua vida em cima de belas roupas e belos sorrisos e não me leve a mal, a beleza não é ruim, o que é ruim mesmo é a falsidade. E com isso não quero dizer que sua beleza é falsa, longe disso, mas ao que parece, a importância que você dá a ela não parece nada verdadeira.

Cada belo sorriso, cada bela imagem nas fotos, nos vídeos, no cotidiano... A beleza empalidece quando não é real, você não concorda?

Você deve estar se perguntando o que eu entendo de beleza, o que seus pais entendem de beleza, “Piercing no nariz? O que você é, uma vaca leiteira?”, eu ouvi eles gritarem com você da primeira vez que você os mostrou seu novo acessório. Agora eu que te pergunto, você entende de beleza? Gosta do piercing porque seus pais não gostam ou por que o seus amigos e namorado gostam?

Não, antes que se irrite, não acho que você goste desse seu acessório novo, porque ele é a primeira coisa que tira quando chega em casa, seguida do sutiã - não se preocupe, nunca vi nada demais - mas no colégio adora falar que colocá-lo nem doeu muito, que a cicatrização foi rápida...

Leu tudo no Google, não foi, Pansy? Porque eu sei que o piercing que você usa não é de verdade.

Acho que menti ali em cima, então deixa eu me retratar: não vi nada demais do seu corpo, mas vi muita coisa que você adoraria manter para si e isso é errado, por isso peço perdão, eu não tenho o direito de te ver, não é mesmo?

Mas é que os poetas dizem que os olhos são a janela da alma e eu aqui, tão longe de ser poeta, encontrei uma janela para sua alma, uma janela tanto literal como metafórica, louco, não? Ainda assim, isso não me dá o direito.

Ok, vou tentar te convencer agora a não rasgar essa carta, mostra-la à polícia ou ao Malfoy, então se prepare, porque eu vou usar tudo que aprendi nas duas semanas e meia que consegui me manter no clube de debates de Granger e meus 17 anos lidando com cinco irmãos e uma irmã para argumentar a meu favor:

Você não acha extremamente louco dois construtores, em épocas diferentes, construírem duas casas em um ângulo tal, que a minha janela e a sua ficam alinhadas de um jeito que me permite vê-la perfeitamente, enquanto você não me vê?

Tá, que pergunta longa, vou tentar de novo:  Você acredita em algo acima de nós? Alguma coisa poderosa, que criou tudo isso aqui dessa exata forma por algum motivo? Independente da sua resposta, que pode dizer que foi o acaso, coincidência, destino, azar...

Que seja azar então, mas que azar é esse em que nos encontramos, que nossas vidas foram alinhadas de um jeito tal, que você se tornou o ponto focal da minha e eu o ponto cego da sua?

Eu acordo e vejo que você pôs algo novo no seu quadro de avisos, parece uma foto com suas amigas, significativa o suficiente para você se dar ao trabalho de imprimir e colocá-la ali e fico feliz por você, amigos são importantes, afinal, e bons amigos, então, essenciais.

E aí vivemos nossos dias separados, nem sequer penso em você e quando eu vou me deitar, agora é a luz da luminária de sua escrivaninha que não me deixa dormir.

Não se preocupe, a claridade não me incomoda, o que me inquieta mesmo é saber que, às 3 horas da manhã, você ainda está acordada. Por que ainda está acordada, Pansy? Você vê, tem respostas que eu simplesmente não tenho como alcançar, as molduras das nossas janelas delimitam até onde eu posso ir.

Parece patético e é, que eu passe tanto tempo refletindo sobre uma garota que nem sequer percebe minha existência e não, isso não te faz melhor do que eu, só nos coloca em uma ingrata posição desequilibrada na vida um do outro.

Todos nós somos invisíveis para muitos e suponho que tenha que ser assim mesmo, porque somos únicos para poucos, mas cada pessoa devia ao menos ser valorizada e celebrada na sua genérica posição de ser humano, já que não dá para sermos únicos para todos, não é verdade?

Então que grande azar o seu, porque de todas as pessoas do mundo, é a mim que você fascina de uma maneira que te torna única e é por isso que eu estou te escrevendo essa carta.

Olha, eu pensei um milhão de vezes antes de escrever isso e ainda agora, enquanto escrevo, não sei sequer se vou te envia-la, porque as chances de cair nas suas mãos erradas, naquelas da Pansy dos meus pesadelos, onde você vai rir com suas amigas do pobre e patético vizinho, são bem grandes.

Pansy, você sabe ser muito cruel quando quer e infelizmente para mim, você não faz isso poucas vezes.

Eu entendo que é bem melhor ser a boca que ri do que o ouvido que ouve os risos, mas se tiver a mais remota chance de você não mostrar essa carta as suas amigas ou ao seu namorado, eu peço que não faça, não mostre a carta a eles, eu ficaria extremamente grato.

Eu não sou um perseguidor e não fico te vigiando o tempo todo, gravando seus detalhes como um cara obcecado que precisa te ter. Não, eu realmente... Olha, nem sei o que se passa, você apenas faz parte da minha rotina, tipo um banho matinal ou a maratona de séries que eu faço com minha irmã caçula às vezes.

É normal e bom e estranhamente faz eu me sentir eu mesmo, então veja o tamanho do meu sacrifício, porque eu sei muito bem que, revelando essa parte da minha rotina, automaticamente eu a estou destruindo, afinal, você não vai me deixar mais ter acesso a você, não é? Não desse jeito tão unilateral, pelo menos.

Mas a verdade é que eu nunca tive esse direito e ainda assim, quem deveria ter? Os construtores do destino fizeram as nossas casas e as nossas vidas assim, lembra? Eu te disse que usaria meu melhor argumento para te observar sem escrúpulos e infelizmente ele não é muito bom, mas é o que eu consegui pensar.

A essa altura, na melhor das hipóteses, você deve estar se perguntando, o que mudou? Por que hoje, por que agora, por que está me escrevendo esse monte de baboseira?

Porque algo mudou em você, essa é minha resposta.

Acho que a maioria das pessoas tem pelo menos dois jeitos de ser, a personalidade da janela para fora e a personalidade da janela para dentro, usei e vou usar janela a exaustão, porque a metáfora soa mais legal quando a gente usa elementos reais, assim disse a professora McGonagall, lembra?

Enfim, a sua personalidade da janela para fora sempre foi confiante, bonita e até mesmo cruel. Em um filme de adolescente, você talvez estivesse na turma dos vilões. Mas, em sua defesa, a personalidade da janela para dentro sempre pareceu vulnerável, criativa e sensível, de um jeito que a maioria das pessoas que te conhecem talvez não consigam conceber juntas.

Você ri do lado de fora, ri bastante, ri dos outros, mas no lado de dentro você sorri e dança e lê e às vezes, não raramente, você chora.

Todo mundo chora de vez em quando, eu quase nunca, mas você, por outro lado, chora bastante, não sei se é algo de garotas, hormônios ou se é só algo só seu mesmo, mas você chora e faz isso com o som ligado no máximo, grande parte das vezes parece um choro furioso, mas deixa eu te dizer uma curiosidade, embora eu já tenha te visto chorar incontáveis vezes, eu nunca ouvi você chorando, não te parece estranho?

Esquece, tenho certeza que tudo que eu escrevi aqui te parece estranho, mas o que eu quero dizer é que seus choros são sempre mudos para mim, mas ultimamente eles tem sido silenciosos de outra forma e foi isso que me fez mudar as coisas hoje.

Você tem chorado bastante e de uma maneira muito diferente do que estamos, eu e você, acostumados. Tem sentado na janela, sempre de costas para mim, cobrindo o rosto com o moletom e deixando esse desespero estranho balançar todo o seu corpo.

O que mudou, Pansy?

Você vê? Minhas limitações espaciais, sim, as janelas, agora tem me mostrado todas as outras limitações que antes não pareciam tão importantes. Antes eu conseguia associar indiretas nas redes sociais, com boatos da escola, com o que quer que você estivesse dançando no seu quarto, mas agora eu não consigo mais fazer isso.

Eu não sei mais dizer os “como", os “porquês” e os “quem”, eu só vejo as lágrimas e o desespero e isso tem me incomodado mais do que a luz na escrivaninha às 3 horas da manhã. Eu poderia me contentar e entender de uma vez por todas que, para sempre, estou condenado a estar do lado de fora da sua janela, mas quer saber? Resolvi fazer diferente.

Talvez eu não possa fazer absolutamente nada para te fazer sentir melhor, mas que se dane, se eu não posso mais entender o que está acontecendo desse lado de cá do mundo, talvez esteja na hora de misturar os nossos mundos.

Agora estou corajosamente saindo da posição de espectador para a posição de ator e isso está custando tudo que eu tenho.

Então para você não se sentir desconfortável e cogitar aceitar me incluir na sua vida da forma que você achar mais pertinente, eu não vou reclamar, aqui vai um pouco de mim, para que você não se sinta exposta sozinha:

Sou o sexto de sete filhos e isso talvez seja a coisa mais relevante sobre mim no mundo inteiro, porque isso tem sido a fonte de todos os meus problemas e soluções, fato. Não acredita? Eu tenho exemplos sólidos, a começar por essa invasão de privacidade que eu insisto em te vender como algo bom.

Nossa casa, por exemplo, é considerada grande, principalmente agora, mas quando se tem nove pessoas morando nela, o normal é ter sempre alguém se metendo em sua vida e se fazendo necessário quando obviamente a saída mais fácil e confortável seria ficar sozinho.

Acho que isso faz sentido para alguém que é filha única não é? Mas não é assim que funciona quando sua família é grande como a minha.

Está triste? Conversa com um de seus irmãos.

Está feliz? Vai animar um de seus irmãos.

Está com medo? Ah, essa é a melhor parte... Você nunca fica sozinho, não realmente e nunca fica sozinho do único jeito que importa e assusta de verdade.

Hoje somos só eu e Ginny, os gêmeos saíram para a faculdade há dois anos e às vezes parece que o mundo todo foi colocado no silencioso de repente, mas de alguma forma, quando você cresce em uma família grande e unida, você sabe que o silêncio é só uma situação passageira.

Sem Fred e George, os últimos a saírem e os mais bagunceiros de todos, meus pais começaram a se tocar que em breve será só eles dois, então eles têm intensificado, de maneira constrangedora, todos os nossos momentos em família, momentos esses que ficarão gravados a ferro e fogo, literalmente eu diria, nem pergunte, mas isso não vem ao caso hoje, porque estamos falando de mim e não deles.

Essa é uma tarefa difícil, se quer saber... Você consegue se descrever com facilidade, Pansy? Estou encontrando uma enorme resistência da minha própria consciência nisso, o quão patético uma pessoa tem que ser a ponto de não saber muito sobre si mesmo?

Aparentemente só me conheço como parte de um todo, talvez resida aí essa invisibilidade forçada dos construtores, talvez não tivesse muito para você descobrir todos esses anos, que deprimente, mas ainda assim, insisto que a gente trave algum tipo de comunicação bilateral, para sermos mais do que meros desconhecidos daqui a uns 10 anos.

Ah, uma coisa legal sobre mim: estou cogitando ir para Nova York no próximo ano, estudar na Universidade Columbia. Minha mãe não gosta nem de ouvir falar em uma coisa dessas, mas outros filhos já fizeram pior, tenho um irmão arqueólogo no Egito e outro veterinário da fauna selvagem na Romênia, Nova York é um passeio no parquinho comparado a isso.

Bem, nada disso está realmente decidido, então deixa eu te falar outras coisas legais, afinal, não vou contar vantagem sobre algo que ainda não pus as mãos sobre, né? Então vejamos....

Ok, uma coisa boa! Meus irmãos disseram que eu tenho a sorte dos irlandeses herdada dos nossos antepassados por parte de mãe, mas veja bem, não é tão impressionante quanto soa, eu apenas levo vantagem em tudo que eu peço ou faço para comer e beber, coisa que adoro fazer, a propósito.

Por exemplo, noite passada pedimos pizza de pepperoni e por algum motivo que nenhum cientista conseguiu comprovar, e nem tentou, haviam tantas fatias de pepperoni naquela caixa, que eu e minha irmã até tiramos metade para comer em sanduíches mais tarde.

Então, se você topar ser minha amiga, talvez ganhe creme extra em seu café da Starbucks ou até soja extra no seu leite de soja, se você for dessas garotas que gostam de beber esse treco, eu não sei muito bem como funciona isso.

Além das comidas pedidas, também sou muito sortudo nas comidas feitas. Você já comeu um biscoito de gengibre que derrete na boca e que ninguém tem coragem de pendurar na árvore de Natal? Eu faço uns incríveis, ainda que os críticos digam que são meio desfigurados.

E cookies? Acho que já vi você comendo cookies na cantina da escola... Pois esqueça aquelas porcarias! Meus cookies são crocantes por fora e molinhos por dentro e quando você parte e vê aquelas gotas de chocolate derretido se esticando, é como se eles te implorassem para serem afogados em um enorme copo de leite morno.

Maldade falar isso em pleno inverno, quando a neve está congelando as nossas orelhas só de olhar para ela se acumulando do lado de fora da janela, né?

De toda forma, só queria deixar bem claro que, se você estiver chorando porque não tem com quem falar ou se você acha que ninguém na sua vida é capaz de te ouvir ou de te entender... Lembre-se do seu vizinho ruivo da casa ao lado, saiba que eu vou ao menos tentar.

A propósito, vizinho do lado direito, não esquerdo. Seu vizinho da outra casa, Jason Anderson, é um babaca, eu o vi roubando o jornal da senhora Martins para encerar a moto dele, no outro dia. Enfim, isso não vem ao caso, e na verdade estou falando essas besteiras porque não sei como encerrar essa carta, porque, para ser sincero, eu nunca tinha escrito uma carta antes.

Mas ela tem que acabar, porque já está grande demais, então lá vai um final forçado:

Espero falar com você em breve, pessoalmente, se não ficou bem claro. Do seu vizinho, o legal, que não rouba jornal de senhorinhas idosas,

Ron Weasley.

P.s.: Se estiver na dúvida de qual dos irmãos Weasley eu sou, espere até a véspera de Natal e bata na minha porta, eu serei aquele com o grande suéter feito à mão, com um R bordado na frente.


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Notas finais do capítulo

Os capítulos serão liberados pouco a pouco, mas como vocês está viajando, tenho certeza que vai dar tudo certo, Michelle!

Bjuxxx



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