jōnetsu no hana escrita por wolfnir


Capítulo 2
Parte II




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Parte II

 

É verão quando Dazai observa Atsushi desbravar algo novo. De primeira ele ignora o comportamento estranho do menino que começa após ele voltar de um trabalho com Ranpo. Mas então os dias passam e Naomi e Kyouka parecem saber de algo que todos os outros não sabem, sempre provocando o jovem e o fazendo ficar tão vermelho quanto uma pimenta. Além das provocações das duas meninas, Atsushi passa muito mais tempo ocupado em seu celular, parecendo quase sempre ansioso por algo. Essa ansiedade quase sempre desaparece com o vibrar do aparelho sinalizando uma nova mensagem.

Dazai já sabe o que está acontecendo, ele não é um dos poucos que podem acompanhar Ranpo em raciocínio por nada. Ainda assim, ele se deixa em negação por alguns dias, remoendo cada expressão e comportamento novo de Atsushi nessas últimas semanas. Ele sempre vem com a mesma conclusão; Atsushi está apaixonado.

Em algum lugar dentro de si Dazai sente que dói, como se algo estivesse sendo rasgado pelas garras de um tigre; talvez seja o que restou de seu coração, aquela parte de si que esteve sempre oco, como um teatro vazio e abandonado, velho demais para ainda receber qualquer tipo de espetáculo deslumbrante.

Ranpo é quem tira Dazai de seu estado patético, aconselhando-o a se declarar antes que seja tarde demais. Osamu nem mesmo se preocupa em se sentir surpreso com o conhecimento de Ranpo sobre seus sentimentos por Atsushi.

“Você vai perdê-lo.” Ranpo diz.

Dazai o olha. “Eu sei.”

Ranpo suspira, como se estivesse entediado, mas não diz nada. Não há mais nada a dizer, afinal.

E então Dazai simplesmente se torna um espectador. Ele observa Atsushi sorrir para uma tela de celular e depois sorrir para um homem de aparência tão comum como a dele próprio. Dazai, nesses dias, volta para casa e se imagina no lugar daquele homem, segurando a mão de Atsushi enquanto passeiam pelas cidades, compartilhando um jantar a luz de velas em algum restaurante; sendo ele a levar Atsushi para encontros depois do trabalho.

Ele observa até que a dor em seu peito seja demais para suportar, até que as noites insones e bêbadas tornem-se em noites insones onde ele se tranca no banheiro e sangra nos azulejos velhos e já manchados. O número de bandagens aumenta, seu atraso no trabalho se tornam dias sem sequer chegar a se levantar da cama.

Dazai se torna uma bagunça e ele não sabe como parar, não sabe como agir racionalmente; não quando estar apaixonado pela primeira vez em sua vida dói tanto quanto suas frustradas tentativas de suicídio.

Em algum dia qualquer Kunikida aparece. O loiro não grita e o bate por sua irresponsabilidade e estupidez, ele simplesmente suspira e então manda Dazai tomar um banho quente enquanto prepara algo comestível.

Quando Osamu volta para a cozinha, Kunikida está lá, pondo um prato de chazuke em frente ao moreno.

“Dazai.” Você precisa parar. É o que Kunikida não fala, mas a frase continua lá, pairando no ar. “Coma e depois vá dormir, Fukuzawa-san lhe deu dois dias de folga.”

Dazai se senta e passa a comer, lentamente, como se houvesse esquecido como mastigar e engolir. À sua frente Kunikida não comenta quando o moreno passa a fungar, lágrimas grossas e feias escorrendo por seu rosto. No final, Dazai é levado para a cama por Kunikida e depois é deixado sozinho, com algumas poucas palavras de despedida.

“Faça algo, o mundo não vai te esperar.” Pare de fugir. Ele não diz, mas Dazai ainda assim escuta em alto e bom som.

Dazai volta ao trabalho no dia seguinte.

 

x

 

Ainda é verão quando Naomi e Kyouka convencem aos outros a irem ao hanabi taikai daquele ano. Mais uma vez Atsushi é um dos mais animados para ir e, mais uma vez, Dazai se vê perdido com a beleza do jovem.

Dazai é arrastado e nem mesmo se preocupa em protestar, encantado demais com toda a inocência e alegria de Atsushi.

Todos parecem se divertir, Kenji e Kyouka são apresentados aos jogos e Atsushi entra em uma incrível batalha com Ranpo sobre quem consegue comer mais doces. Ranpo ganha, mas Dazai observa Atsushi rir como se ele houvesse sido o vencedor e quase se sente contagiado por toda a energia do mais novo.

Tsushima Shuji não está lá, preso no trabalho fazendo horas extras. Dazai não se importa, ele não acha que conseguiria passar aquela noite vendo Atsushi irradiar amor em direção a outra pessoa que não fosse da ADA, da sua família — egoistamente, Dazai pensa em como não conseguiria observar sua família ser manchada pelas mãos de um desconhecido.

Ele engole o sentimento podre em um gole de cerveja, sentindo-se sujo por deixar seu ciúme magoar Atsushi, mesmo que em pensamentos.

Em algum momento da noite ele próprio se envolve em alguma competição boba de bebida com Yosano-sensei e um forçado Kunikida. Não é surpresa que Yosano vença, mesmo que depois ela tem que ser impedida por Fukuzawa-san de balançar sua faca em alguma pobre alma que a ofendeu.

Dazai observa todo o pequeno caos silenciosamente, rindo de modo curto com toda a exibição de força de Yosano e do estado deplorável que um bêbado Kunikida se encontra. Então ele volta seus pensamentos — talvez pela centésima vez naquele dia — para Atsushi e seus sentimentos.

O moreno sabe que já perdeu suas chances, se é que em algum momento as tivesse. E, mesmo se houvesse alguma, Dazai não sabia se poderia usá-la, ele era danificado demais para ter esperanças de poder ser algo mais que um mentor para Atsushi, e Dazai sabia bem que o menino merecia alguém melhor. Alguém que não ingerisse álcool como se fosse água, que não passasse noites acordadas controlando a vontade de se auto mutilar até, finalmente, parar de respirar.

Alguém que não possuísse tanto sangue em suas mãos.

É durante a queima de fogos que Dazai finalmente se decide. Ele deve desistir daqueles sentimentos, deve deixá-lo ir. E o mero pensamento de não mais estar apaixonado por Atsushi dói, mas também lhe traz conforto — sem indecisões, somente um plano que ele fará ser um sucesso, afinal Dazai nunca faz planos falhos, foi algo que Mori o ensinou e que o próprio Atsushi sempre admirou.

No final da noite, com certa influência de Ranpo e Fukuzawa — e Dazai nem mesmo quer começar a pensar em como seu chefe sabe sobre seus sentimentos — ele acaba levando um Atsushi meio adormecido para casa. Kyouka foi junto a Yosano, que estava bêbada demais para ser deixada sozinha.

Essa situação o relembra de meses atrás, em um trem com a cabeça de Atsushi em seu ombro e a suavidade de seus fios de prata entre os dedos de Dazai. Mas enquanto naquele momento Dazai estava somente descobrindo seus sentimentos, desta vez ele está se despedindo silenciosamente de um amor que nunca foi feito para acontecer.

Então Dazai leva Atsushi para casa, o ajuda a tirar seus sapatos e a colocá-lo na cama e quando o menino finalmente se encontra debaixo das cobertas, seguro e aquecido, quase totalmente adormecido, Dazai se deixa amar Atsushi como ele nunca mais poderá fazer.

Ele acaricia os fios prateados como se estivesse tocando em seda, somente com a ponta dos dedos, como uma brisa de primavera em pleno verão. Osamu sente que fica horas ali, sentado próximo ao futon de Atsushi, observando a subida e descida do peito do jovem, provando com os sentidos que o menino está vivo, que ele existe e não passa somente de mais uma das ilusões e fantasias de Dazai Osamu, um maníaco suicida que sempre desejou a morte e uma amante para compartilhar tal beijo arrebatador.

Esta é a última vez que me apaixonarei por você. Dazai promete, enquanto acaricia os fios de luar de Atsushi, querendo manter esse sentimento para sempre em suas memórias, sabendo que, no final, ele tem que deixar ir.

Dazai Osamu sai daquele minúsculo apartamento, deixando para trás seu coração junto a um menino adormecido de fios de prata e olhos tão exóticos quanto uma flor de maracujá.

 


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Notas finais do capítulo

Hanabi Taikai (花火 大会) - é uma festa japonesa realizada durante o verão, em várias províncias do país, e no outono, onde muitos fogos de artifício são queimados.

Tsushima Shuji (津 島 修治) - é o verdadeiro nome do autor Dazai Osamu, Tsushima usou pela primeira vez em seu conto chamado "Ressha" ("列車", "Train") em 1933. Eu queria fazer uma pequena brincadeira de nomes nomeando o namorado de Atsushi com o nome real do Dazai :)



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