A Ascenção de Hades escrita por Sapphire


Capítulo 3
Helena I


Notas iniciais do capítulo

Olá galera! Desculpa a demora para postar.



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O som do rio correndo cercava os ouvidos de Helena, a garota havia acordado bem cedo e correu para tomar um banho. Precisava se manter atenta enquanto estava ali pois sabia que a qualquer momento poderia ser arrastada pelas águas para um lugar que ela não saberia, talvez fosse jogada para fora do Olimpo. 

Boiando na água, com seus olhos nas paredes da caverna, ela se lembrava de sua família. Gostava de correr pelos campos de Delfos atrás de seus irmãos levados, mas isso foi antes da guerra começar. Helena tinha 10 anos quando o sol foi engolido pelas nuvens, a marca do início da guerra, a cidade de Delfos caiu em declínio com a falta da luz, durante semanas as pessoas jejuaram para Apolo, recorreram até a Hélius, mas nenhum dos dois responderam, e isso não era nada bom. 

O sol havia sido apenas o começo de algo muito pior, depois vieram as moscas, os animais ferozes, as plantações morrendo e a inundação. As águas levaram tudo, mataram a maioria dos moradores da cidade, incluindo os irmãos de Helena. A inundação não foi como as grandes ondas que viriam anos mais tarde, mas sim foi causada pela quebra da represa, resultado de anos de chuva intermináveis 

Helena abriu seus olhos e quando olhou em volta as águas do rio haviam se tornado sangue, em um pulo começou a bater seu corpo procurando a terra firme novamente. Quando chegou se deitou no chão e permaneceu durante longos minutos com respiração ofegante. Mesmo depois de colocar sua roupa, continuou ali, sentada, fitando as águas do rio correrem, tentando não lembrar de sua família, de sua cidade, de sua vida sendo arrastada pelas águas. 

Passos lentos se moveram atrás dela, quando virou para trás viu Cadmo se aproximar.  

— Está tudo bem? - Perguntou. 

Ela pensou um pouco antes de falar. 

 - Eu não consigo parar de pensar nas águas daquele dia – Respirou fundo. - Não do dia das grandes ondas, mas quando a barragem se quebrou e destruiu parte da minha cidade.  

Cadmo se sentou ao lado dela, o filho de Poseidon era um grande amigo de Helena, não só ele, mas também Déspios, durante muito tempo haviam sido só eles nos caminhos da vida, por isso ela se sentia segura de conversar sobre qualquer coisa com ele. 

 - Eu gostaria de ter estado lá...talvez pudesse salvar sua família.  

— Tenho certeza que sim – Helena deu um sorriso e se levantou. 

Ela estendeu a mão para ajudar o garoto a se levantar, em seguida os dois saíram da caverna chegando ao campo, onde vários bonecos de pano eram atacados por semideuses, guiados por Órion, filho de Deimos. O lugar ficava nos limites da barreira do acampamento, sendo seguido por várias e várias montanhas, se você conseguisse atravessa-las talvez pudesse chegar a Cidade de Olímpia. 

 - Treinou hoje? - Cadmo perguntou.  

— Ainda não, prometi ajudar Déspios com as plantações, parece que Callisto está muito ocupada – Helena respondeu o garoto. - Você o viu hoje?  

Ele fez que não com a cabeça. Seus cabelos cacheados estavam presos de algum jeito que ela precisava aprender. 

A grama dos campos era amarela, e podiam ser consideradas bem altas, mas isso não impedia que todos os dias vários semideuses fossem naquele lugar para treinar suas habilidades. 

A área central do acampamento estava bem mais movimentada do que nos dias anteriores, e logo na saída do campo, Déspios encarava os semideuses com seus grandes olhos verdes, os olhos eram um contraste com sua pele negra, com um tom mais claro, quase igual ao de Cadmo. Agarrada ao seu braço direito estava uma cesta de madeira. 

 - Cadmo, vai com a gente? 

Helena olhou para o garoto, esperando que ele desse a resposta.   

— Ah, não, eu vou ficar aqui e treinar um pouco. 

 - Até mais tarde então - A filha de Afrodite deu um sorriso e seguiu Déspios pelo acampamento.  

Déspios e Helena se conheceram quase ao mesmo tempo que Cadmo. Déspios morava em uma das cidades sob o domínio de Atenas, após a morte de Deméter, eles foram requeridos para a capital, para que pudessem gerar alimento para todos. Assim como ele, Helena também se mudou após a destruição da sua cidade em Delfos e foi lá que eles se tornaram amigos, tal como Cadmo, que já vivia na cidade.  

Após alguns segundos em silêncio, ele virou-se para ela e perguntou:  

— Está tudo bem? 

 - Agora está – Ela deu um sorriso. 

Passos velozes vieram na direção dos dois, os cabelos loiros de Romeo se movimentavam de um lado para o outro enquanto ele se aproximava. A primeira coisa que Helena notou foi o papel em sua mão direita, provavelmente algum pedido para Déspios, ela estava certa.  

— Olá, Helena - A garota respondeu fazendo um sinal com sua mão direita.  - Ei, Déspios, eu preciso que você me traga essas ervas, sei que você já fez antes e...   

Antes que o jovem terminasse, o filho de Deméter respondeu.  

— Quando eu as pegar te entrego na enfermaria.  

Romeo era quem mais ajudava Étrus, um dos líderes do acampamento, na enfermaria. Ambos eram filhos de deuses da cura, um de Asclépio e o outro de Apolo, logo provavelmente se o acampamento perdesse os dois as coisas ficariam bem mais difíceis para todos, embora Étrus tivesse uma irmã, Calíope, também filha de Apolo, mas Helena nunca havia visto a garota na enfermaria ajudando, sempre estava com Ellaria, uma filha de Tiquê, que cuidava do reconhecimento dos semideuses para se certificar de que nenhum deles era um infiltrado dos menores. 

— Isso – Ele sorriu. 

Uma voz um pouco desesperada fez com que os três ficassem atentos, era Albus carregando uma pessoa com asas para dentro do acampamento, ele estava tão machucado que o sangue pingava pelo chão.  

Albus era filho de Hécate, os semideuses mais velhos haviam informado que foi ele quem criou a barreira em volta do acampamento, ela funcionava como um escudo invisível, defendendo e escondendo o Acampamento de qualquer praga criada pela morte dos doze olimpianos.  Ele era o que mais ficava na torre de vigia, então era normal vê-lo carregar um corpo moribundo para a enfermaria. 

— Oh droga – Romeo colocou a mão na testa. - Preciso ir – Ele correu atrás de Albus, deixando os outros dois para trás. 

Helena e Déspios trocaram um longo olhar antes de continuarem a caminhar.  

— Eu nunca conheci um semideus com asas – O rapaz disse, fitando Albus entrar com o corpo na enfermaria.  

 - Nem eu – Helena fitou a entrada cada vez mais próxima. - Mas quem disse que ele é um semideus? - Olhou para o amigo, juntando as sobrancelhas.  

— Para de falar essas coisas – O filho de Deméter riu dando um tapa no ombro da garota.  

— EI! - Ela respondeu o tapa. - Não me bata, eu sou uma princesa.  

— Só se for da morte – Ele riu.  

A única coisa que marcava a entrada era a estrutura em ruínas, que por um milagre possuía uma torre intacta, era de lá que os semideuses responsáveis pela segurança se revezavam dia e noite. E lá, parada observando o além, estava Mandy, uma filha de Circe. 

 - Olá, Mandy! - Déspios gritou.  

A garota de cabelos verdes olhou para o rosto do garoto lá de cima e não disse nem uma palavra.  

— Eu acho que ela não gosta de você - Helena riu. 

— É o que? Ela me ama! - Disse a última parte em voz alta para que ela ouvisse. - Não é Mandy? 

E mais uma vez ela ignorou.  

Helena pegou a cesta de Déspios e observou ele se ajoelhar no chão para gerar as várias ervas. Gostaria de saber o que ele sentia quando fazia isso, uma vez ele explicou que era como se conseguisse sentir o sangue correndo por cada parte do seu corpo, mas ela sabia que devia ser muito mais que isso, afinal, ele estava gerando vida. 

Após alguns minutos ele retirou uma pequena faca de seu bolso e retirou as plantas, fez um sinal para Helena que entregou a cesta, a qual em poucos segundos ficou cheia. Ele se levantou e sorriu. 

Helena respondeu o sorriso, mas um movimento atrás dele fez com que os olhos dela se desfocassem de seu rosto.  

— Déspios - Ela colocou a mão no braço dele.  

Era um corpo de armadura que tinha dificuldades até mesmo para se arrastar. Mandy surgiu ao lado dos dois.  

— Procurem alguém.  

— Vá, eu fico com ela – Helena olhou para Déspios e ele correu para dentro do acampamento. A garota colocou a mão em seu bracelete e o viu se transformar em um arco, com uma flecha de prata apontada para o homem que se aproximava. 

 - Quem é você?! - Mandy gritou. Suas mãos brilhavam em um tom de verde. 

Mas ele não respondeu. A filha de Circe gritou mais uma vez e ele mais uma vez não disse nada.  

— Não ataque, não vê que ele está ferido o suficiente para não conseguir falar? - Helena disse fitando os olhos assustadores da garota que devia ter a mesma idade que ela. 

Então Órion chegou correndo, quase ao mesmo tempo em que a pessoa que se aproximava parou de se arrastar.  O filho de Deimos se aproximou do corpo e por alguns minutos eles pareciam conversar sobre alguma coisa. Déspios ainda segurava a cesta, provavelmente era o mais nervoso de todos.  

— Filho de Deméter, pode me ajudar a leva-lo ? - Órion virou-se para Déspios.  

Mandy revirou os olhos e voltou para o topo da torre, Helena mais uma vez pegou a cesta das mãos de seu amigo e enquanto eles traziam o corpo do homem ela os seguiu para dentro do acampamento. Era sempre uma tensão quando chegava alguém novo, para ser sincero era bem difícil acreditar que existisse alguém vivo lá fora, então todos sempre esperavam o pior. 

Ela parou na frente da enfermaria, esperando que Déspios voltasse. Olhou para frente e viu o garoto com asas andando com algumas pessoas a sua volta, parecia que todos estavam curiosos em saber como era uma asa que não pertencesse a uma harpia ou quimera. 

Observou o acampamento, as pessoas andando de um lado para o outro, todos com seus afazeres.  Helena era uma garota esperançosa o suficiente para não se deixar levar pelas adversidades criadas na guerra. 

Minutos depois, Déspios saiu da enfermaria e ela se colocou de pé.  

— Para onde agora? - Perguntou. 

 - Vamos ao pavilhão, Callisto disse que estaria lá - Ele respondeu. 

O pavilhão ficava próximo dali, era apenas uma fogueira com vários bancos em sua volta, em uma cabana próxima ficava a cozinha, onde eles preparavam a alimentação para todo o acampamento. 

 - E como o homem está? - Helena se referiu àquele que eles haviam levado a enfermaria.  

— Vai ficar bem, Romeo é a própria cura em pessoa. 

O pavilhão estava vazio por enquanto e havia uma movimentação na cabana, então provavelmente havia alguém ali. Enquanto se aproximavam eles ouviram duas vozes conversando entre si, e quanto mais se aproximavam, mais ficava claro que eles não deveriam estar ali naquela hora. 

 - Ellaria, eu não acho que seja uma boa ideia – Helena reconheceu aquela voz, era Callisto, a última amazona.  

— Eu também não, mas é a única alternativa, essa é a nossa última refeição com carne, tudo está acabando – Quando Ellaria disse aquilo, Helena arregalou os olhos para Déspios. 

 - Eu sei – Callisto disse. 

Agora mais essa, os suprimentos do acampamento estavam acabando, e pelo que ela estava ouvindo a única alternativa era sair em busca de mais, a única pergunta possível na mente de Helena era: Quem se colocaria em perigo?


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Notas finais do capítulo

Iai, o que vocês acharam? Não deixem de falar, estou ansioso para saber :D

Beijos e até o próximo ♥



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