Apenas Escritos escrita por Th Roberta


Capítulo 8
Apenas 8 - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Bem, essa aqui não é animada ou inspiradora. Bem, tudo pode ser inspirador se nos abrimos para ver as entrelinhas de tudo o que nos é apresentado; tudo pode nos servir de lição se refletimos um pouco mais nas coisas. Essa história de hoje talvez te traga uma lição, talvez não. Depende do seu olhar kkk Ele ficou bem grande e vai ser dividido em duas partes, uma postada hoje e outra amanhã c=



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Caída sobre a areia, toquei meu abdômen.

“Droga! Você me paga...”.

Me levantando com dificuldade, me esforcei para me manter de pé. Percorri os olhos pelo local cuidadosamente; qualquer movimento errado e seria o meu fim. Tensa pela adrenalina que percorria meu corpo sem muita piedade, paralisei por breves instantes ao ver uma silhueta se aproximar de mim.

— Consegui imobilizá-lo!

Sorri satisfeita pela vitória. Realmente, formávamos uma boa dupla. Ele segurava o rapaz que nos atacara. Ignorando a dor da ferida, me aproximei dos dois.

— Difícil? – Perguntei examinando-o com o olhar.

— Na verdade, ele estava distraído. Deve ter esquecido que éramos dois contra um. – Ele respondeu tranquilo.

— Ele é muito desatento. – Concluí relembrando sua falta de atenção momentos atrás. Ele era bom, rápido, mas parecia não conseguir se concentrar por completo na luta.

— De fato, mas me diga: mato ele?

Olhei para ele por alguns segundos sem entender a pergunta. "Como assim, 'matar' ele?".

— Matar...?

— Sim. Uma palavra e acabo com tudo.

Observei o rapaz desacordado nos braços de meu parceiro. Jovem, experiente, não era feio. Se treinasse mais, talvez fosse melhor, menos distraído. Tinha uma vida toda pela frente... Que poderia acabar aqui... Bastava uma palavra minha.

— Está me ouvindo? – Ele perguntou, me tirando de meus pensamentos.

— Hum? Sim, sim, estou. É só que...

— É só que...? – Ele perguntou segundos depois, já que eu não havia completado minha frase.

— É só que... Precisamos mesmo fazer isso? – Indaguei olhando para os lados, desconfortável com a situação; eu já sabia a resposta, mas...

— Você sabe que sim. São as regras. Quem não é nosso amigo, é nosso inimigo; não tem meio termo. – Ele foi firme.

— Sim, mas... – Comecei sem saber o que dizer.

— Mas o quê?

— E se levássemos ele com a gente?

— Você sabe que não podemos.

— Ele pode ficar na prisão.

— Não podemos.

— Poderíamos interrogá-lo...

— Não podemos...

— Ou a gente pode...

— Nós NÃO PODEMOS! – Ele gritou as palavras devagar para que eu entendesse.

— Mas...

— Você sabe das regras, sabe que isso é proibido.

Abaixei o olhar deixando ele continuar.

— Você tem ideia de quantas pessoas já morreram nas mãos deles? Tem ideia do quão fiéis eles são a esse grupo? Ele não vai nos dar informações, nem que o torturássemos até a morte!

Ainda olhando para o chão, respirei fundo, pronta para respondê-lo, mas ele me interrompeu.

— "Homens, mulheres, idosos ou crianças... Se não confiam, matem". Por acaso se esqueceu de que você votou a favor disso?

Engoli em seco.

— Sim, mas eu... Eu não sabia...

Ele não me interrompeu, esperando que eu continuasse.

— Eu não sabia como era matar alguém, eu...

— Você nunca presenciou algo do tipo?! – Ele perguntou praticamente gritando comigo, como se eu tivesse dito algo extremamente tosco.

Deixei meu silêncio falar por mim.

— Eu já disse milhões de vezes que as votações não deveriam ser abertas para qualquer pessoa... – Ele resmungou.

Me sentindo pesada, voltei meu olhar para o chão, passando minha mão no meu braço.

— Se nunca presenciou algo do tipo, por que aceitou vir? – Ele perguntou. Sua voz ressaltava sua impaciência.

— Eu não aceitei, eu fui obrigada a vir. E me disseram que eu não passaria por uma situação dessas ao seu lado.

— Realmente, você não passaria nem perto da morte ao meu lado, o que não quer dizer que não teríamos que matar outras pessoas.

Sua voz estava fria e ele não demonstrava muitas emoções em seu rosto. Segurava a faca com firmeza contra o pescoço do jovem rapaz que nos atacou. Ele respirou fundo e me encarou apertando a faca contra o rapaz, fazendo um pequeno filete de sangue escorrer por sua pele.

— Eu preciso de uma resposta.

— Eu sei... – Disse baixinho.

— Se sabe, então me diga qual é.

Cobri meus olhos com as mãos.

— Se eu pudesse, nem teria trago você comigo, mas já que não pude evitar, que tal colaborar comigo? Sabe que eu não tenho paciência, e se você não decidir, eu decidirei.

Ainda com as mãos sobre meus olhos, senti seu olhar impaciente sobre mim. Ele é o melhor guerreiro que temos, mas deve obedecer minhas ordens. Por algum motivo, nossos chefes acreditam em mim, na minha intuição e por isso não deixaram que ele viesse sozinho. Disseram que nossas habilidades “se completam”.

— Você não pode decidir isso.

— Se você não decide, alguém tem que tomar a decisão por aqui, não?

— Alguém que não seja você. – Disse olhando-o.

— Eu não me importo com o que possa me acontecer. O importante é fazermos alguma coisa com ele agora. O que vem depois não importa.

— Importa sim. Ou você vai negar que não teme o que pode ser feito com a sua família caso desobedeça às regras?

— Minha família não me importa. – Ele deu de ombros.

— Importa e muito. Eu sei que importa, mesmo que você fique bancando o durão.

— Já se decidiu?

— ...Não.

Ele suspirou impaciente. Olhou para o céu por alguns segundos e depois me encarou.

— É tão difícil assim fazer isso?

— ... Sim...

— É só você dizer uma palavra. UMA PALAVRA!

— Não é tão simples assim! É uma vida!

— Não é a sua, então pare de drama e decida!

— Não é drama! – Gritei com fúria. – Ele é jovem, tem tanta coisa pela frente... Deve ter uma família, amigos para quem voltar... Não posso lhe tirar isso... – Completei observando o rapaz desacordado.

— Você não vai tirar tudo dele, apenas sua vida.

— “Apenas”? Uma vida é importante! Você sabe o quanto vale uma vida?

— Você sabe quanto vale?

— ...

— Não sei uns tempos atrás, mas hoje, não vale nada. – Ele disse com um olhar vazio.

Apenas o observei, contendo meu espanto.

— Hoje você conhece alguém, amanhã essa pessoa está morrendo na sua frente. Hoje você se diverte e amanhã é você quem está sofrendo. Com uma facada você deixa de existir; uma vida não vale nada além de poucos momentos de diversão e outros de sofrimento. E você ainda quer vir me dizer que uma vida vale muita coisa?

— ...

— Se é tão difícil para você pensar que ele perderá tudo, pense que estará libertando-o do sofrimento, das guerras, das lutas, desses acordos que são sempre quebrados, das pessoas que ele pode perder com esse tempo de instabilidade entre os reinos. O que me diz? Pode fazer isso? – Ele me perguntou com um tom mais calmo na voz.

— Pensando assim...

— Então, qual a sua decisão? Posso?

Olhei para meu companheiro e depois para o rapaz desacordado.

— Eu...

"Vamos... É só dizer 'sim'..."

Ele esperava minha resposta com paciência.

Ainda observando o rapaz, busquei forças para dizer meu 'sim', mas não consegui. Como poderia eu, uma simples pessoa, definir o destino de alguém? Com que direito posso tirar dele a chance de viver, de ter amigos ou família ou até mesmo de fugir dessa guerra? Com que direito posso decidir algo que não me diz respeito? Eu, pessoa como ele, se depender, menos experiente até... Com que autoridade eu posso decidir se ele vive ou morre?

— Não é possível que não consiga dizer uma palavra!

— Eu não posso dizer! Ele merece viver! Não tenho o direito de lhe tirar a vida!

— E no entanto ele tirou a vida de vários de seus amigos! De famílias inocentes! Ainda acha que ele merece viver?!

— Mesmo a pior pessoa merece uma segunda chance. – Respondi com firmeza e um pouco de medo.

— Esse é o problema: ele já aproveitou a segunda chance dele e fez merda! Ele já teve várias chances e não as aproveitou!

— Talvez não tenha tido as pessoas certas ao seu lado...

— Não se trata das pessoas, mas de si mesmo. Eu preciso da sua confirmação!

— Eu já disse que ele vai viver!

Ele me olhou furioso.

— Você sabe que essa não é a resposta certa!

— Mas é a que eu escolho e você deve fazer o que eu decidir.

Nos fuzilamos com nossos olhares por alguns instantes.

— Não sei o que viram em uma garota estúpida como você para te aceitarem no reino. Nem tudo é um conto de fadas.

— Eu sei disso.

— Então me mande matá-lo. Você sabe que não podemos deixá-lo solto, ele é uma ameaça.

— Eu não vou fazer isso.

De repente, toda a calma ou decência que lhe restavam se esvaíram e ele disse com brutalidade na voz:

— Garotas burras como você não deveriam viver. Escolha agora: ou ele ou você! Um de vocês vai morrer!

Em choque, apenas sussurrei:

— Você não pode me matar...

— Acha mesmo? – Ele bufou lançando a faca que apertava contra o pescoço do rapaz na minha direção. Por pouco consegui desviar, voltando a olhar para ele assustada.

Ele tirou a espada da bainha e a colocou contra o pescoço do rapaz novamente.

— Escolha! Você ou ele!

— Você não pode me matar! – Gritei incerta sobre o que dizia.

— Já disse que você não merece viver. Posso muito bem mentir sobre sua morte e não ser culpado. Escolha!!

— Eu não posso escolher! – Soltei as palavras com dificuldade; as lágrimas começavam a rolar por meu rosto.

— Essa é a última vez que te pergunto: você ou ele?

Desesperada, deixei meus joelhos caírem no chão. Chorava descontroladamente, sentia que sufocaria se não me controlasse. Tentei acalmar minha respiração, sem sucesso. Sem conseguir controlar meus impulsos, tentei dizer alguma coisa.

— Eu...

— Você o quê?

— Eu morro no lugar dele.

— Fale mais alto! – Ele gritou parecendo não acreditar no que eu havia dito.

Encarei seus olhos raivosos e disse mais alto para que até os pássaros que voavam ao longe ouvissem minha resposta:

— Eu morro no lugar dele!

Senti a ira dele subir, era visível. Com a espada em uma mão e segurando o pescoço do rapaz com uma força desnecessária na outra, ele caminhou na minha direção a passos firmes. Seu ódio me atingiu primeiro, congelando meu coração através de seu olhar. Quando finalmente encurtou a distância entre nós, levantou a espada e fechei meus olhos. Podia sentir a lâmina fria cortando meu pescoço, rasgando minha carne, minhas veias; podia ouvir meus ossos se quebrando com sua pisada forte contra meu peito. Podia sentir seu cuspe sendo lançado sobre minhas roupas ensanguentadas como forma de demonstrar seu desprezo. Podia, mas não senti.

Ouvindo sua risada, abri os olhos com medo do que veria. Vi ele rindo com uma expressão de nojo para mim. Sem dizer nada, ele jogou o rapaz no chão violentamente ao meu lado.

— Vocês dois são inúteis, estúpidos. Merecem morrer. De frio, de fome, de medo, de tudo! – Ele cuspiu as palavras na minha cara.

Com três passo para trás, nos olhou com uma expressão de superioridade.

— Machucado como está, ele não vai muito longe. E você - ele continuou me olhando nos olhos - é burra demais para que saiba se localizar por essas regiões. E caso volte para o reino, farei questão de te receber da melhor forma possível. - Ele completou olhando a espada com ironia e prazer.

Sem dizer mais nada, ele partiu, me deixando com o rapaz.

Vi meu companheiro partir segurando minhas emoções. Quando o perdi de vista, chorei tudo o que não chorei antes. Chorei por todas as vezes que quis dizer alguma coisa e deixei para lá, pelas vezes em que me xingaram e me humilharam, e várias outras coisas que queria esquecer.

Quando consegui me esvaziar de tudo o que me sufocava, voltei meu olhar para o rapaz.

“Pelos deuses, me esqueci dele!”.

Com rapidez, me coloquei ao seu lado, virando-o de barriga para cima. Procurei por cortes e ferimentos, que eram vários, mas nada tão profundo ou sério. Talvez tivesse levado uma forte pancada na cabeça quando meu parceiro... ex-parceiro o lançara no chão. Com esse pensamento, procurei alguma marca entre seus cabelos escuros.

“Achei. Mas não há nada que eu possa fazer... Só esperar que acorde”.

Olhando em volta, procurei pela faca que meu ex-companheiro jogara ao tentar me atingir. Guardei-a comigo e abracei minhas pernas, sem saber ao certo o que fazer. Parada não podia ficar. Decidida a não morrer ali, me levantei ignorando minhas dores. Segurei um dos braços do rapaz, carregando-o comigo.

Andei por horas lutando contra as dores, o meu peso e o dele, o sol escaldante e o calor. Estava começando a pensar em desistir quando ouvi o som de água.

“Um rio? Talvez tenha um rio aqui perto...”, pensei agitada.

Com dificuldade, segui o som da água. Quando encontrei o rio, deixei que o desconhecido e eu caíssemos no chão.

“Pensei que morreria!”.

Bebi da água e lavei alguns dos meus ferimentos. Fiz o mesmo com os do rapaz. Um pouco mais descansada, deixei o desconhecido próximo ao rio e procurei algumas ervas que pudessem me servir de comida ou remédio as feridas dele.


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Notas finais do capítulo

Isso terá um final feliz? O que acham que vem a seguir? Comentem aí S2



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