Apenas Escritos escrita por Th Roberta


Capítulo 6
Apenas 6


Notas iniciais do capítulo

Bem, esse "capítulo" surgiu enquanto ouvia a música "Let her go" (uma das minhas preferidas). Um trecho da música diz: "Everything you touch surely dies" (tudo o que você toca certamente morre). Esse trecho me deu inspiração para esse capítulo de hoje. Projetei uma situação em torno desse trecho da música enquanto a ouvia. O resultado está aí.
(Aliás, não ter um dia fixo para postar as histórias é chato... Ainda vou organizar isso).



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771980/chapter/6

Por que isso mais uma vez? Por acaso se esquece de que sou gente como você? De que sou sua filha?... Quantas vezes me magoaste, pai... Quantas vezes você me feriu... Ainda não entendo bem o porquê. Quem sabe não seja por causa do seu perfeccionismo? Não, talvez seja seu desespero... Desepero em ser reconhecido, em ser "alguém" aos olhos dos outros, do mundo. Mas de que adianta ser alguém para os outros e ser nada para mim? Você não é nada, você é meu, meu pai. Era isso, seu desespero o consumiu.

Para você não bastaram as horas que dediquei aos seus projetos - horas essas que eu investiria em meus estudos e trabalhos de escola, horas que dedicaria ao meu descanso. Para você não bastou o meu esforço; o importante era sua pequena fama, sua inútil fama, seu reconhecimento lá fora (e estranhamento aqui em casa).

E quanta paciência busquei e inventei em mim para não estourar contigo, para não piorar a situação. Quando buscava manter a calma, pensava não apenas em mim, mas na mamãe que, tentando me defender (ou te explicar o que eu já havia dito mil vezes), acabava ouvindo suas reclamações por mim. Aquilo me doía mais do que ouvir suas palavras esfaqueado meu (fraco) ser.

Tantos foram os momentos em que o travesseiro e as paredes de meu quarto foram minhas únicas companhias, meus mudos ouvintes que, se tivessem consciência, lamentariam por mim. Tantas outras foram as vezes em que me imaginei longe, em qualquer outro lugar que não fosse ao seu lado. Foram muitos os planos criados na minha cabeça, todos com a sua ausência; minha cabeça já entende o que me faz feliz e o que ameaça minha alegria.

Lembro de todas as vezes que neguei minhas vontades para fazer as suas, dos meus momentos perdidos para que você os ganhasse sem muitos esforços. Lembro de quando quis esquecer: esquecer da minha vida por alguns poucos instantes - instantes esses que seriam valiosos, pois recobraria minha calma. Vou mais longe: lembro de quando tudo começou.

Me recordo de quando te pedia ajuda e você não me ajudava da melhor forma possível ou quando você me exigia perfeição em tudo o que eu fizesse. Você era seu melhor modelo de perfeição; eu, a sua pequena obra. Pobre obra desobediente. Pobre obra que almejava liberdade. Pobre obra que quis seguir seus próprios traços, e não os seus. "Olha aqui, filha! Essa nota aqui é o dó, esse é o ré...". Notas aprendidas para te satisfazer em primeiro lugar (você em primeiro plano sempre!). Que bom que a música não te obedecia. Quando eu e ela podíamos trocar algumas ideias, as ideias projetadas não eram suas, mas minhas. Unicamente minhas. E foi ali, meu pai, que eu percebi (e aprendi) que sim, eu poderia (e posso) errar, que é de uma sucessão de erros que sai uma melodia agradável aos ouvidos (aos meus ouvidos); que o "modelo de perfeição" não é igual para todos e que nunca vou chegar à perfeição, mas que pouco a pouco eu vou evoluindo.

Assim, cresci me corrigindo daquilo que percebia que não era bom e aprendi a lidar com suas exigências. Mas em algum momento - perdoe-me, mas não consigo recordar esse momento - isso não prevaleceu, e a parede invisível que mantinha o equilíbrio de nossos pensamentos divergentes se rompeu (e quem diria, ela caiu em cima de mim).

Te aguentar não era mais um desafio cumprido em instantes, mas um martírio que se prolongava por dias. Minhas paixões tinham que ser deixadas de lado para que os seus planos fossem postos em prática - e adivinhe por quem? Por sua criança. Te ajudar e fazer seus planos saírem do papel não me doía; o que me doía era ter que dar preferência a você. O que me doía era ter que matar meus programas para fazer os seus ganharem vida. Somente os seus. E quando eu conseguia fazer um dos meus saírem do papel, os outros ainda estavam na lista de espera, completamente atrasados.

Por muito tempo pensei que tudo o que eu tocava acabava morrendo. Por mais um tempo pensei que eu era um problema, que nada do que eu fazia era bom ou dava frutos. Qual foi a minha surpresa ao perceber que a culpa não era minha, mas sua, que se colocava no centro de minhas ações. Tudo o que eu fazia para mim acabava falecendo. Enquanto seus jardins eram criados por mim, belos e fortes, o meu próprio jardim estava destruído, esperando por reconstrução - nunca feita por falta de tempo. Que tempo eu tinha, se ele era todo dedicado a ti?

Por muito tempo permaneci assim. Por muito tempo não encontrava as respostas. Quando entendi "o x da questão", não tinha a solução. Por pouco tempo minha alegria viveu. Por pouco tempo me dediquei a mim. Para que você vivesse, meu pai, só você e seu egoísmo.

O importante não era a minha felicidade, mas a sua fama diante de quem te fez mal, sua vontade de "passar por cima". O importante era seu ego, seu trabalho bem apresentado (e, quem diria, feito por mim). Eu não mais te importava. Você bastava a si mesmo. E eu... Bem, eu estaria sempre ali quando você precisasse. Só não garanto que isso durará muito tempo. Então se prepare, pois estou em constante evolução. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários? Confesso, é difícil postar coisas aqui e não receber comentários... Enfim, se vocês leram os capítulos, acho que já é muito. Então, obrigada a quem leu S2