O Encanto da Serpente escrita por prongslet


Capítulo 1
Adhara, a sétima estrela do arco e flecha.


Notas iniciais do capítulo

Olá caro leitor ♥
Primeiro que tudo, obrigada por dar uma oportunidade à fanfic ♥
Espero que gostem tanto dela como eu estou a gostar de a escrever ♥



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“Você me ensinou a coragem das estrelas antes de partir e em como a luz continua a brilhar eternamente, mesmo após a morte. Com falta de ar, me explicou o infinito e o quão raro e belo é apenas o facto de existirmos.”

Saturn, Sleeping At Last

 I.

Adhara era a segunda estrela mais brilhante da constelação de Canis Major, perdendo apenas para Sirius. O seu nome vem do árabe e significa “as virgens”.  Na cultura ocidental é conhecida como a sétima estrela do arco e flecha e significa esperança. Reza a lenda que Adhara é, assim como a estrela de Bellatrix, uma estrela guerreira que luta eternamente para sobreviver à escuridão que a envolve.

Adhara Black Tonks era, assim como a estrela que lhe dera o nome, uma guerreira.

Tivera uma infância feliz, que recordava com carinho. O sorriso da mãe, os cabelos maioritariamente rosa da irmã ou o cheiro do bolo de chocolate delicioso que o pai, Ted, fazia sempre que ela regressava a casa depois de mais viagem no expresso de Hogwarts. Ainda podia sentir o quente do abraço do pai sempre que chegava a hora de partir, os olhos marejados da mãe e o sorriso traquina de Dora, pedindo que não fizesse mais estragos que o habitual. Adhara tinha uma família feliz, era um facto, mas não deixava de ter os seus demónios.

As noites mal dormidas, o temperamento explosivo que ironicamente explodia vezes demais, o ar superior que a acompanhava para todo o lado, fazendo jus ao nome de solteira da mãe e acima de tudo o mal que parecia formigar dentro dela, consumindo-a mais e mais com o passar dos anos.

Perdeu a conta de quantas vezes ao longo da sua não tão longa existência tinha ignorado o que sentia dentro dela. Mas a escuridão continuava lá, em cada frase cuspida com um ódio fora do normal, em cada gesto que fazia os seus olhos adquirirem um tom assassino. Sabia que seria apenas uma questão de tempo para que o que quer que fosse que estivesse dentro de si a levasse ao extremo. E ela não queria, de modo algum, deixar que o negro dos seus olhos passasse também para o seu coração.

Adhara Black não era um monstro. Nunca seria.

Gostava de acreditar que aquilo era apenas um teste de Merlim, para saber se ela era digna de um bem maior. Talvez fosse apenas uma forma um tanto quanto patética de acreditar que aquilo era apenas passageiro e que a sua luz nunca iria ceder à escuridão que caminhava lado a lado com ela.

Era a essa ideia que ela se agarrava em momentos como aqueles. Era naquelas palavras que ela procurava conforto quando acordava com gritos aterrorizados de mais uma noite cheia de pesadelos. Mas era pensando na luz da sua estrela já envolta em escuridão que ela colocava a cabeça entre as pernas e chorava, pedindo a Merlim que a poupasse de tal teste.

Agarrou as pernas com mais força, sentindo as unhas perfurarem a sua pele alva numa tentativa desesperada de trocar aquela dor por uma física. Ainda chorava quando a cortina da sua cama foi aberta e, em poucos segundos, foi envolvida por um abraço quente. Podia sentir os dedos de Rose nos seus cabelos ou os passos apressados de Tracey pelo quarto, à procura de um copo de água para lhe oferecer.

Não lhe disseram nada, nunca diziam. Era por isso que Adhara gostava tanto das duas. Elas nunca, em situação alguma, perguntavam o que a atormentava tanto a meio da noite para que ficasse naquele estado.

Sentiu o peso de Artemis sobre os seus pés, fazendo-a encarar a animal a sua frente. Iluminada pela luz verde proveniente do Lago Negro, os olhos de Artémis brilhavam num tom azul brilhante, tão igual aos dela. Deixou que o animal se ajeitasse no seu colo, procurando o conforto do calor que emanava da dona.

— Ela não parava quieta. — Tracey foi a primeira a quebrar o silêncio antes de se sentar ponta da enorme cama que Adhara ocupara desde o primeiro ano. — Estava preocupada — Referiu enquanto passava os dedos longos sobre o pelo do animal, antes de inspirar pesadamente ponderando se devia ou não continuar a frase. — todas nós estamos.

Adhara não respondeu, não conseguia. Sabia que os olhos de Tracey não seriam mais meigos se ela deixasse escapar os demónios que a atormentavam durante a noite. Fungou novamente, limpando as pesadas lágrimas que insistiam em cair, incapaz de formular uma resposta decente e assim ficaram durante longos minutos.

Tracey suspirou pesadamente, quebrando o profundo silêncio que se havia instalado no dormitório, cansada de controlar as palavras que finalmente pareciam querer sair.

Não podia dizer que eles as noites mal dormidas eram uma novidade porque não eram. Lembrava-se que, ocasionalmente, aconteceram algumas vezes durante o primeiro ano das três, mas com o passar do tempo ficaram cada vez mais esporádicos, caindo até no esquecimento. Mas desde que Adhara voltara daquele dia do ministério, depois de uma estranha demanda ao lado de Potter e dos seus amigos, episódios como aquele eram cada vez mais graves e recorrentes.

— Adhara. — Disse decidida, enquanto colocava a mão sobre a da morena. — É a terceira vez esta semana. Desde que você voltou do ministério que…

Tracey iria continuar, iria exigir uma explicação e ia, com certeza, querer saber o que tinha acontecido naquele maldito dia no ministério para que os pesadelos da Adhara regressassem daquela forma, mas as batidas na enorme porta negra do dormitório fizeram com que engolisse as palavras que há muito queriam sair.

Rose encarou as amigas, amarrou os cabelos ruivos num coque apressado e levantou-se da cama de Adhara, abrindo a porta do dormitório.

— Professor Snape. — Disse atónica, quando os seus olhos cor de avelã encontraram os do diretor da casa. O homem suspirou pesadamente, ignorando a garota, enquanto guardava a varinha nas vestes negras.

— Onde está a Adhara Tonks? — Perguntou rudemente e por momentos Rose considerou seriamente a hipótese de Adhara ter acordado qualquer outro aluno do quinto ano.

— Aqui. — Adhara apareceu atrás da ruiva, enrolada num robe negro.

— O profesor Dumbledore quer vê-la, agora. — Adhara assentiu e sem pensar duas vezes seguiu o homem pelo corredor escuro, incapaz de imaginar as palavras duras que ia ouvir momentos depois.

Foi nessa noite que Adhara Black descobriu que existem coisas mais negras que os seus sonhos. Foi ali, no gabinete do diretor, que percebeu que não existia dor maior do que a de perder um pai.

Ted Tonks tinha desaparecido naquela mesma noite, depois de uma emboscada ao ministério. E a filha mais nova, incapaz de saber iria voltar a ver o pai com vida ou não, partiu para casa duas semanas mais cedo que os demais, para junto da irmã e da mãe.

Curiosamente, foi no exato momento em que Adhara cruzou o portão de casa dos Tonks que a casa número doze de Grimmauld Place em Londres ouvia pela primeira vez em algum tempo, um barulho. E foi ali, no meio de um sótão empoeirado que Sirius Black caiu desacordado no chão, vindo de um estranho e velho véu.


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Notas finais do capítulo

Notas importantes:

(1*) - A Adhara e a Rose são personagens originais, assim como a Artémis.

(2*) - A Tracey é na verdade uma personagem do universo de Harry Potter. É mencionada no primeiro filme, com o nome de Tracey Davies. É uma meia-sangue que é selecionada para os Slytherin. Pouco se sabe sobre a personagem, mas achei legal inclui-la na história ♥

(3*) - Sempre considerei que os dormitórios dos Slytherin seriam muito mais luxuosos que os das restantes casas. Por isso e por serem um pouco menores, existem sempre menos ocupantes em cada um dos dormitórios. Assim em vez de 5 alunos, os de Slytherin tem três ou quatro alunos.

(4*) - A Rose e a Tracey são interpretadas por Sophie Skelton e Freya Mavor, respetivamente.



Espero que tenham gostado ♥