RESTAURANTE O MARCIANO

CENTRO DA COLÔNIA RÔMULO,

MARTE

Dentre todas as cidades erguidas em Marte, Rômulo era a mais imponente. Seus prédios altos e de paredes brancas feitas de polímero de platina pareciam um pedaço do paraíso em meio ao deserto vermelho. A cidade fora projetada em seus mínimos detalhes, para se assimilar a, como os mais velhos dizem; “um relógio suíço”.

—É inacreditável… — exclama um militar de cabelos ondulados até os ombros, eram como um campo de batalha entre fios brancos e cinzas bem como o cavanhaque que tão orgulhosamente exibia. Trajava o uniforme azul escuro exigido pela Federação Galáctica; composto por calça e blazer, no qual se pendurava uma medalha dourada. —Por que construímos essa cidade no meio dessa merda de deserto vermelho, eu nunca vou entender… — estavam na sacada de um restaurante em Rômulo; a capital marciana; sentado, se deliciava com frango “A La Mars”, a sua frente, uma mulher com um brilho admirável nos olhos, seus cabelos já viram diversas cores e agora ostentavam a cor castanha avermelhada, vestia um blazer vermelho grosso onde brilhava uma insígnia única; um broche de ouro Venusiano no formato do brasão da Federação Galáctica.

—A Terra sofria com a superpopulação. — ela diz agitando sua taça, seu olhar estava pesado e distante. —Você sempre foi incrédulo, meu amigo. —acusa com um sorriso irônico nos lábios finos. Nesse momento uma mecha de cabelo se revolta e sai do lugar. —Sabe, Christian. Eu sempre tive esperanças que depois da Guerra nós ficaríamos juntos. – confessa depositando a mão sobre a mão do militar, que para de devorar a ave assada.

—“Sabe”, Katherine. — diz puxando a mão para longe da dela, com um reflexo. —Também sempre imaginei que ficaríamos juntos. Teríamos uma casinha em uma das luas de Saturno, — ele dá uma garfada no acompanhamento. —uns quatro filhos e — outra garfada. —um cachorro... Mas você foi se envolver na merda da política! —com aquela resposta ele morde violentamente um pedaço do frango.

—Eu não tive opção. —rebate se esquivando do assunto porque, na verdade, nunca gostara de sofrer por causa do passado.

—Engraçado, nos seus discursos você sempre parece ser cheia de opções. — caçoa limpando a boca com um guardanapo.

—Não irei discutir isso com você. —Katherine lhe adverte com um olhar mortal. Realmente não queria ter aquela discussão; pelo menos não ali, não naquele momento, e se arrependera do comentário inocente que os fez começar o bate boca.

—Está bem, Senhora Presidente. —Christian responde com sarcasmo, até lhe reverenciou levemente com a cabeça. Ele a conhecia como ninguém, todas suas inquietações, valores e todas suas curvas. —Não irei te distrair de sua comemoração tão importante. — de certa forma dizia a verdade; aquela comemoração era muito importante, poderia decidir o futuro não só da Federação Galáctica, mas também da “Guerra Fria Espacial”.

A Colônia Marciana fazia aniversário naquele dia, e diferente de sua “irmã”, a rebelde Júpiter. As Colônias de Marte sempre tomaram o partido da Terra, mas nos últimos dias, alguns grupos idealistas queriam mudar isso, por isso era de extrema importância que ela estivesse ali; ou pelo menos durante a maioria dos dias de comemoração.

—Você não sabe o quão difícil é estar na minha posição. — Katherine fala entre os dentes, como se quisesse enfiar o prato na garganta do antigo amor de sua vida.

—Você quis estar onde está. Se me lembro bem, eu te esperei, mas quando foi sua vez de me esperar… você nem estava lá pra me receber. — pela primeira vez ele conseguiu calar a mulher, de início o homem se assustou, até a olhou discretamente por baixo da mesa para saber se não estava armada, por fim, decide aproveitar o silêncio. —Não sei por que ainda tenho esperança de que você vai largar essa merda e voltar pra mim. Sabe, — homem dá uma garfada no acompanhamento, enquanto a comida estava em sua boca, aponta o garfo para ela, que parecia ter perdido a voz. —Você mudou muito, principalmente depois da morte de Dyo. — o olhar dela muda, como se aquele nome a colocasse em transe, um transe imerso em lembranças dolorosas do passado. —Ótimo, conseguiu. Perdi meu apetite. — o militar empurra o prato com a mão, e se levanta, balança o guardanapo, limpando-se de possíveis restos de comida, já estava pronto para deixar a mesa quando...

—General Stracker! Eu não vim até aqui para remoer o passado, nem para vê-lo comer um maldito frango apimentado. — o tom de fúria rompe as cordas vocais da mulher. Christian não esperava aquilo, mas serviu para lembrá-lo da razão de Khaterine ser a Presidente da Federação Galáctica. —Sente-se… — Christian lhe obedece, ao se sentar pôde se ouvir um som duro, em sua face via a expressão de uma criança irritada por ter sua atenção chamada por seus pais. —Como sabe, estamos na corda bamba, Júpiter tenta influenciar algumas cidades de Marte a lutarem por independência. É por isso que estou aqui, para aumentar o sentimento de “unidade”, para fortalecer os laços Terra/Marte, e é claro que Júpiter está atenta aos acontecimentos mês aniversário de Marte.

—E o que eu tenho com isso? — aquele tipo de resposta era o que ela odiava, e Christian sabia disso, mas seu jeito despreocupado era um disfarce para sua curiosidade.

—Eu posso perder meu titulo… não, eu posso ser sentenciada a morte se essas informações caírem nas mãos erradas. — Katherine diz quase como sussurro, pega um na pasta digital que carregava consigo, como se fosse sua agenda pessoal.

—Agora sim, está falando na minha língua. — enfim Christian iria saber o motivo de estar ali.

—Leia isto…

ESTAÇÃO ESPACIAL PALAS,
LOCALIZAÇÃO: CONFIDENCIAL

A gigantesca Estação Militar, o orgulho da Federação Galáctica. Lar de mais de trezentos mil oficiais e funcionários militares da Federação Galáctica. Havia certa ansiedade no ar, pois alguns dos nascidos em Marte obtiveram permissão para participarem dos trinta dias de comemoração do aniversário de seu planeta natal, porém outros tiveram seu pedido negado por razões diplomáticas. Esse foi o caso de Ludi Desher, o jovem teve seu pedido aceito e depois negado, e depois aceito, e por fim negado após uma pesquisa de seu histórico familiar, sua irmã mais velha, Luda morava em Júpiter. Mesmo com todas as explicações de Ludi, ele foi levado à cela e interrogado diversas vezes.

—Eu já falei, não sou espião jupiteriano! — grita exasperado dentro de sua cela branca e vazia, a não ser por uma cama tão branca quanto as paredes da cela. Ele tinha o cabelo bagunçado, olhos castanhos claros e sua pele era levemente bronzeada, assim como a da maioria dos nascidos em Remo.