Mudança. Argh. Uma pilha de caixas, caminhões, e um cara que dirige um caminhão mostrando o cofrinho. Dia feliz, muito feliz.

O número do meu apartamento é 71, será que a minha mãe comprou o apê da Dona Clotilde? Bem, contanto que o Satanás não esteja aí, ta valendo.

Mas até que é um apartamento bonitinho, paredes beges, dois quartos, um banheiro, uma cozinha, uma área de serviço e uma varanda com vista privilegiada para... o edifício do lado. Bom, pelo menos não é um velho tarado curioso ou um maníaco com mania de perseguição. Ook, vamos a arrumação.

Lenço na cabeça, rabo de cavalo, luvas de plástico e um avental com um coração vermelho no meio. Meu uniforme completo. Mãe eu te amo.

E com a disposição necessária para arrumar o meu querido buraco, estava prestes a começar, quando percebi que nem todo mundo é perfeito e que o juízo da minha mãe tava no último capítulo da novela das sete.

-Maravilha, vou vestir uma calça felpuda e varrer a casa com o meu bumbum.

Entrei e saí daquela caixa enorme com o nome LIMPEZA, isso aí, com letras garrafais. Nada, nem a sombra de uma vassoura ou algo parecido. Legal, vida nova, velha Sakura.

Tirei todo aquele traje power-ranger-clean e fui até uma sala no térreo com o nome limpeza. Lá com certeza tinha vassoura.

Abri a porta devagar, coloquei a cabeça dentro da sala e pude ver, não tinha ninguém. Entrei e adivinha o que eu encontrei ? Tadadadã... vassouras! Bocó. Peguei uma lá, igual a todas as outras pra mim, tudo varre igual né ? Mas quando eu virei para sair, lá estava aquele ser atrás de mim me olhando. Agora ferrou! Será que era o Caderudo ? Eu não enxergava quem era. Maldita hora a que eu larguei as aulas de boxe. E eu fiquei lá, intacta, olhando aquele negócio na escuridão. Eu prefiro morrer rápido ta!

-Ah... com licença? – falou aquela voz baixa- inaudível pra falar a verdade – que saía daquela escuridão.

- O-o-o quê ? – gaguejei mais do que o David Brasil.

- Desculpe, eu não sabia que tinha alguém aqui, eu só queria um espanador e... por favor me desculpe – se atrapalhou a dona da voz que era tão baixa; sim dona, porque aquela criatura que quase me causa um infarto, era uma garota, daminha idade, era o que aparentava, tinha longos cabelos com uma cor azulada , olhos perolados muito expressivos, uma face com uma cor rubra, o que indicava a vergonha que ela sentia.

- Anh? Que é isso! – falei coçando a cabeça – eu é que me assustei por nada. – continuei com um sorriso torto.

Mas a garota só ficou lá, parada, tipo estátua, batendo os dedinhos.

CLIMA PESADO NO AR

-Olha, olha pra mim, ó! Ta tudo bem , tudo em ordem, melhor impossível! – fiz uns gestos, umas caretas e tantas outras poses.

Ridículo eu sei, mas pelo menos ela entendeu.

- Você é nova no prédio ? – perguntou sem graça olhando pra mim, ainda com aquele ato de bater os dedos.

- Sim, sim. Prazer , Haruno Sakura – estiquei minha mão que estava livre ao me apresentar.

- Hyuuga Hinata, prazer em conhecê-la – ela apertou a minha mão com um sorriso tímido – Bem vinda.

- Obrigada – continuei depois de soltar a mão da minha mais nova conhecida.

- Mudança, hein ? Que chato. Quer ajuda ? – solidariamente se ofereceu.

- Ah, não valeu. – Sorri. Como assim ? Desde quando eu sou tão politicamente correta? Maldita seja, moral.

- Ook, então nos vemos. – falou se retirando da sala.

-Espera! – gritei dando um pulo estilo Jaspion entre ela e a porta – pensando bem, sabe, com alguém ajudando seria bem mais rápido e divertido. – terminei com um sorriso de orelha a orelha.

Ela apenas riu baixinho, se virou e pegou a vassoura-gemêa  da minha.

- Tudo bem , vou adorar ajudá-la – afirmou.

- Então senhorita Hinata, eu irei lhe mostrar como se faz uma vassoura dançar! – ri e a mostrei o caminho ao quarto 71.

Bom, pelo menos já não tenho que passar a “Tortura de verão” sozinha. Hinata ‘meu herói’ !

No caminho do quarto 71, eu contei para Hinata o por que dessa mudança em pleno período de férias. Subimos as escadas vagarosamente, sabe, ela parece ser uma pessoa legal até. E me disse que vive no apê 14 ( bom se eu sou a bruxa do 71 alguém tem que ser a Dona Florinda) , com sua amiga Tem Tem Mitsashi, a qual eu iria conhecer após uma faxina. Não se esqueçam amiguinhos , uma casa limpa é uma casa feliz!   /coisa mais nerd

- Bom, chegamos, número 71. – suspirei ofegante e abri a porta da terra dos condenados.

- Você é engraçada! – riu com a mão na frente da boca. Dava pra perceber que ela já estava mais à vontade.

A visão daquela sala parecia, tipo, uma visão aproximada do que seria o corredor da morte ou mais uma reprise do filme “Lagoa Azul 17 – the history continues” . Deprimente.

- Bom, Sakura-san, eu vou pegar uns baldes e limpar os quartos enquanto isso você poderia limpar a sala ? – falou aquela garota, totalmente diferente da Hinata que eu tinha visto, decidida ou com mania de organização mesmo.

- Bom, vamos fazer o que nós viemos fazer! – bati continência e Hinata adentrou os aposentos ainda rindo – é isso, desde os primórdios foi assim, então Haruno Sakura, é hora de abalar colega!

 Eu já disse pra vocês que no meu sub-consciente mora um gay-revoltado ? Pois é, mora. De vez em quando ele/ela  aparece e dá pitaco na minha vida.

A tarde inteira depois

- Hinata, você sabia que eu te amo ? Pois eu te amo, e até caso contigo. – agradeci sorrindo para a minha mais nova amiga-vizinha-companheira-faxineira-de todas as horas.

- Ah, Sakura-san! Você está falando isso porque eu te ajudei – respondeu encabulada.

- Não, Hinata! Você não ta entendendo! Olha, eu pensei que essas féria iriam ser uma merda, cara! E eu vejo que, não vai ser tão ruim assim se tiver pessoas como você perto de mim. Eu passei a tarde inteira conversando com você e, Hinata você é uma pessoa incrível, meiga e apaixonante – falei séria, olhando nos olhos da menina.

Ela ficou me encarando por um tempo , e depois ela me envolveu em um abraço.

- Obrigado, Sakura-san! Eu sei que você foi sincera e o mesmo vale para você! Obrigada mesmo!

- Poxa cara, eu nem me dei conta que eu sou tão sensível. Não chora Hina! Senão eu vou ter que pegar um balde! – falei brincando.

- Você não existe! – gargalhou.

- Claro que existo, ué! Me toca aí pra você ver! – respondi com uma carinha engraçada.

- Olha, se você quiser, eu posso te levar hoje lá na cafeteria, pra você conhecer todo mundo. – comentou comigo enquanto tirava toda aquela tralha de faxina e se arrumava.

- Claro! Eu adoraria! – ri e a conduzi até a saída.

- Então eu te encontro no térreo às 8:00 tá ?

- Com certeza eu estarei lá! Falou djow e valeu pela faxina aê! – imitei um cantor de rap enquanto ela já estava perto das escadas.

Vida estranha, meus caros, vida estranha.

Por volta das 7:30 eu já estava quase pronta , vestia uma calça preta, uma blusa branca estampada, dizia Don’t believe me, um all star preto, rabo de cavalo frouxo e como diria Godofredo – meu gay interior – só faltava sair e soltar purpurina! Como ainda não estava no horário, eu decidi olhar meus e-mails. Abri a caixa de mensagens: FIQUE MAIS MAGRA, AUMENTE O SEU PIU-PIU, NÃO, NÃO, NÃO , Opaa, e-mail da chefe!

    Sakura,

Eu sei que você não está gostando da idéia, mas o meu coração diz que tem algo de muito bom reservado para você. É hora de mudar, querida. Nada na vida acontece apenas para o pior lado, tire alguma lição e melhore como pessoa. Você é maravilhosa e saiba que te amo muito.

Saudades, mamãe.

Mas, se eu fosse parar para pensar, não podia ser tão ruim quanto a  minha mentezinha do mal tornava. Afinal, eu iria conhecer gente nova, pessoas como a Hinata e acabaria me apaixonando por essa nova vida. É hora de parar de chorar as mágoas e virar a página!