I'm sorry escrita por Lyhshi


Capítulo 2
Outro ponto de vista


Notas iniciais do capítulo

obrigada, mesmo a todos os comentários no capítulo anterior. Eu não esperava tantos (na verdade, esperava nenhum). Todas as críticas foram muito importantes para que eu perceba os meus erros. Todos os elogios são importantes para me motivar a escrever.
Agradeço, mesmo, a cada um de vocês.
*os agradecimentos são sobre o outro site, infelizmente nesse ainda não houve nenhum comentário. Mas tudo bem. De verdade.

Continuo aceitando críticas construtivas, correção em erros de português. Tudo isso me ajuda a seguir em frente, e me tornar uma escritora cada vez melhor ♥



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ᨖ Kirito ᨖ

 

 

Bip... Bip... Bip...

Esfrego os olhos, em seguida abrindo-os e encarando o teto. Este som. Todas as manhãs.

Bip... Bip... Bip...

—Que insuportável. – Digo em alto e bom tom, acompanhado de um suspiro irritado.

Procuro meu despertador ao lado da cama, ao alcança-lo, aperto no botão que dá um fim a este barulho irritante.

Me sento na cama, sentindo um vento gelado entrar através do vidro – muito - rachado da janela do meu quarto. Estava com sono, estava cansado, mas precisava levantar para não acabar se atrasando. O relógio marca 06:01 da manhã.

Me sentei na cama e coloquei os pés no chão, colocando meu chinelo preto com uma tira arrebentada. Não posso esquecer de colocar um prego aí depois.

A primeira coisa que faço ao levantar é abrir as cortinas cinza escuro – na verdade, deveria ser preto, mas estão desbotadas – da janela que fica à direita da cama, atrás de uma cadeira e permito a luz do sol iluminar o – pequeno – ambiente, o que faz as paredes da cor bege parecerem ainda mais claras.

Me viro, e resolvo me olhar no espelho levemente sujo do meu quarto. Há quanto tempo não presto atenção na minha própria aparência? Penso, enquanto analiso meu próprio reflexo.

Minhas olheiras estão mais fundas e escuras, e uma espinha está surgindo no lado esquerdo da minha bochecha. Meu cabelo, preto, está crescendo aos poucos – o que me lembra que tenho que corta-lo, sozinho, mais tarde -. Meu corpo, magro está sendo disfarçado por roupas brancas, velhas e desbotadas, as quais utilizo como pijama.

Ainda no espelho, foco minha visão no que está atrás de mim, sob minha cama de solteiro feita de madeira havia o lençol creme e o cobertor preto, desarrumados. Ao seu lado, em cima de uma cômoda pequena de quatro gavetas - tão simples quanto a cama – estava o meu Nerve Gear ganhado em um sorteio, o qual salvava minhas tardes. Junto do Nerve Gear está meu pequeno despertador preto com ponteiros, marcando 06:04. Ao lado direito da cama, há uma cadeira coberta por roupas sujas, que sempre esqueço de colocar para lavar.

Suspiro alto enquanto caminho de volta para minha cama, ainda mal-humorado. Tenho que a arrumar antes de sair. Começo a dobrar o cobertor enquanto sou perturbado por mais pensamentos. Como será que é saber que, no final do mês, você ainda vai ter dinheiro na conta? Como será que é não precisar acordar cedo para pegar ônibus, e mesmo assim caminhar alguns km?

Agora, sacudia e esticava os lençóis da forma mais perfeita que podia.

Como é ter um quarto no qual a tinta das paredes não fica descascando, ter uma janela direitinha?

Não era nenhum miserável, e sabia disso. Tinha consciência da existência de pessoas em situações muito piores, e, que mesmo assim, viam as coisas de forma positiva. Eu tenho uma casa, não tenho? Tenho um quarto e uma cama para dormir, só passo fome algumas vezes, então, o que me torna tão infeliz e desanimado?

Abro a porta, feita do mesmo material da cama e da cômoda, e sigo meu caminho, pensando: Talvez um banho me ajude a afastar estes pensamentos.

 

...

06:18

 

 

Saio do banheiro já com o uniforme escolar – uma camisa social branca, casaco e calça da cor azul escuro, com detalhes em branco. Uma gravata vermelha, e o símbolo da escola sendo exibido do lado esquerdo do peito - e com os cabelos penteados e ainda úmidos. Meu corpo está mais relaxado desta vez, consequentemente, minha mente também. A rotina me cansa. Fazer as mesmas coisas, todos os dias, em busca de um futuro melhor – que pode não chegar – me irrita.

Me dirijo a cozinha, pensando em tudo que ainda preciso fazer. As sete horas, preciso pegar o ônibus. Preciso me apressar, ainda falta o café da manhã, escovar os dentes e caminhar até o ponto. Parece pouca coisa, mas quando temos horário marcado o tempo passa voando.

 

...

06:30

 

 

Com um prato – isso mesmo, um prato de vidro transparente –  com um pão francês com margarina, e uma caneca totalmente branca com café preto, me dirijo ao quarto dos “meus pais”.

Por que as aspas, você pergunta?

Porque só tenho, na verdade, uma mãe, chamada Midori. Mas posso dizer que ela também foi pai. E também foi tudo que eu precisei na hora certa. Criou dois filhos sozinha, eu e minha irmã, que se chama Suguha.

Uma mulher incrível, que sempre lutou para conquistar a liberdade de seus filhos está presa a uma cama, como um criminoso em uma cela. Irônico, não?

 

—Bom dia, mãe. – É a primeira coisa que digo ao avista-la ainda acordada, mas permanecia deitada – Fiz o seu café.

—Bom dia, meu amor. – Disse ela, pálida, enquanto sentava-se com um pouco de dificuldade na cama. Ainda estava fraca, e por mais que tentasse esconder, sua voz a denunciava.

 

Sorri sem mostrar os dentes para ela e me retirei do quarto. Ainda precisava tomar o meu café, caso contrário, passaria horas sem poder comer.

Já na cozinha, comecei a comer o meu pão, que estava duro, velho. Não tinha outra opção, comprar pães velhos fazia seu preço cair significativamente, e garantia que iriamos ter o que comer até o fim do mês.

Já me acostumei com isso, não é nada tão ruim que eu não possa engolir.

 

 

...

07:00

 

 

Em pé dentro do ônibus, me perco em devaneios observando a janela. Todos os dias, tenho esse momento para pensar sobre a minha vida, sobre a dos outros, a escola, o trabalho. Eu penso sobre tudo.

Principalmente sobre a escola e sobre quem eu sou para os outros.

Eu não sou uma pessoa boa, na verdade, acho que jamais fui. Tenho pouca empatia por quem mal conheço, e as vezes me divirto na desgraça alheia. Não que eu goste de ser assim, eu queria mesmo é ser aquelas pessoas que parecem um anjo. Mas eu não consigo evitar.

ou..

Eu não quero evitar?

Eu não sei. Mas eu sei o que me deixou assim.

Ver minha mãe se sacrificando pelos outros.

Ver minha irmã sendo da mesma forma.

Todos sacrifícios em vão.

Eu não quero que o mesmo aconteça comigo.

Sou egoísta ou o único com juízo?

 

 

...

07:34

 

Após quase 40 minutos, finalmente chegou minha hora de descer. Um ato que faço com um pouquinho de dificuldade, afinal, passei a viagem inteira em pé, o que fez com que minhas pernas parecessem um pouco... duras?

Assim que desci os degraus, o ônibus partiu com pressa na direção oposta a qual devo ir. Sempre sou o único a descer neste ponto, o qual não é muito perto, mas é o mais próximo que consigo descer. Agora, vem uma caminhada de 3km.

Sigo meu caminho em passos rápidos, se eu chegar atrasado, vou ter ido atoa. Eu sou bolsista, não posso ter tantas faltas quanto os riquinhos.

O barulho dos carros me segue durante todo o percurso.

Ando pela calçada, com diversos carros passam pela rua ao meu lado. Percebo uma sorveteria diferente, de uma cor rosa bebê e enormes vidraças. Na porta de vidro, um aviso dizendo “Horário de atendimento 08:00 ~ 21:00”. Uma decoração com o formato de um sorvete de casquinha enorme chama minha atenção para o nome do local, “Wox”. Isso sempre esteve aqui?

Ir para a escola é mais uma coisa que eu faço no automático. Se me perguntarem o que existe no caminho, eu nem sei o que responder.

 

 

...

08:00

 

 

Pontualmente chego na escola, na hora exata em que o sinal para entrar tocou. Provavelmente esse é o local mais chique que vou entrar a vida inteira. A frente da escola, no pátio, tem algo como uma floresta/bosque? Eu não faço ideia de como ou porque resolveram fazer uma escola em frente a um local ótimo para sequestrar ou assaltar um aluno, mas aparentemente deu certo. A escola em si é uma estrutura grande, sendo toda – inclusive o ginásio – em um tom creme, o telhado é em um marrom escuro. São dois andares com tantas salas de  ̶t̶o̶r̶t̶u̶r̶a̶ aula que mal consigo contar. A diretoria fica localizada no primeiro andar.

 Os portões são abertos, possibilitando a entrada de centenas de alunos. Eu sou um deles. Dentro da escola o conselho estudantil está entregando folhetos para todos, pego um enquanto continuo caminhando para a sala e o lendo. Era uma matéria da Dove, sobre o que fazer quando sofre bullying, os motivos que isso pode acontecer, e etc. Nela dizia:

 

 

“[...] O que faz com que alguém pratique bullying?

Às vezes, os motivos que levam alguém a praticar bullying são mais sérios, como problemas em casa ou em outra parte de sua vida [...]. Todos esses fatores podem fazer com que provocadores se sintam bravos ou vulneráveis. 

Quando Judith ajudou sua filha Bruna a enfrentar a criança que a estava provocando, acabou descobrindo o motivo por trás desse comportamento. "A criança contou à minha filha que ela havia feito isso porque a Bruna tem pai e mãe e uma casa boa," conta Judith. [...] como reconhece Judith, o incidente foi "claramente motivado por inveja". “

 

 

Não consegue evitar um pequeno sorriso, uma mistura de deboche e graça. Quanta coincidência, não é mesmo? Se não conseguia encontrar a resposta de meus atos sozinho, um folheto aleatório me responde.

Então é isso que me faz ser assim? Eu sou invejoso?

—Tsc, boa piada. – Falei baixinho para mim mesmo, enquanto amassava o folheto e o transformava em uma bolinha, o jogando no lixo da sala.

Me sento no fundo da sala, como sempre no penúltimo ou antepenúltimo lugar. Não temos lugares fixos.

Chega de pensar sobre isso. Pelo menos por hoje.

Minha atenção se volta para a minha frente, ora, ora.... Quem resolveu sentar perto de mim, não é mesmo? Minha presa favorita. A garota ruiva. Procuro com o olhar o lugar que ela sempre senta, mas já está ocupado. Aparentemente, esse é o único que restou... talvez hoje seja um dia um pouco interessante.

Você tem inveja dela?

Meus pensamentos me atormentam, por que parece tão difícil fugir deles hoje?

O professor ainda não chegou na sala de aula. Talvez seja legal fazer umas brincadeiras com ela enquanto isso.... Mas o que eu posso fazer? E rápido?

Você pratica bullying?

Não, são só brincadeiras. Ninguém ficaria ofendido com isso, muito menos levaria a sério.

Já sei! Arranco rapidamente uma folha do meu caderno, pego um lápis e começo a desenha-la de uma forma rabiscada e feia, exaltando todos os defeitos dela que consigo me lembrar.

Você pratica bullying.

Não. São só brincadeiras.

Cutuco suas costas, o que a faz me olhar por cima de seu ombro, com uma cara intrigada. Lhe entrego o desenho, dobrado.

Ninguém ficaria chateado de verdade com isso.

Ela pega-o e vira-se para frente novamente, consigo ver apenas suas costas e seu longo cabelo a minha frente. Ouço o barulho do papel sendo desdobrado.

É só um desenho. Talvez ela ache até engraçado.

Abruptamente o barulho que o papel estava fazendo muda. Desta vez, é o barulho de uma folha sendo rasgada com raiva e força no meio.

Ela está sendo exagerada.

Agora, meu “presente” está sendo amassado por sua mão fina. Reviro os olhos.

Precisava de uma reação dessas? Dramática.

—Kirigaya Kazuto. – Escuto minha voz sendo chamada em um tom sério. Era o professor, que está parado na porta. Sua cabeça estava refletindo a luz – era careca – e sua barba grisalha denunciava sua idade, estava vestindo uma calça jeans azul escuro, uma blusa social branca e uma gravata vinho. Tinha por volta de 1,76 de altura, e eu chutaria que uns 64 anos – Preciso conversar com você. Agora. – e fez um sinal com uma de suas mãos para eu ir acompanha-lo fora da sala.

Fudeu.

Passo ao lado da mesa da garota, e não consigo conter a curiosidade: me viro apenas para olhar sua expressão. Deve estar vermelha de raiva, e...

Ela está...

...chorando?

Nossos olhos se encontram, e apenas com um olhar eu consigo entender ver o que ela sente. Mágoa? Raiva? Uma mistura dos dois.

“Ninguém ficaria chateado de verdade com isso.”

As pessoas são diferentes, idiota.

Já fazem três meses que a trato assim, e ela nunca pareceu se importar. Eu nunca fiz uma brincadeira realmente pesada.

Agora ela vai contar para o diretor.

Desvio o olhar, mantendo o foco na porta da sala enquanto caminho.

Você vai levar uma advertência e perder a bolsa.

Eu acho que a mais pesada foi quando colei um chiclete no cabelo dela. Talvez quando a empurrei “sem querer” a fazendo virar o copo com refrigerante que carregava em si mesma.

E todos riram dela nas duas vezes.

Talvez quando tropecei nela na escada, e quase a fiz cair. Ok, essa foi realmente sem querer, mas ela com certeza pensou o contrário.

A raiva se acumula...

Estou chegando na porta da sala, chegando no professor – que estava distraído lendo um cartaz na parede. Ele não viu. Vale a pena fazer isso? Vale a pena? Valeu?

...até o dia em que chegamos ao nosso limite.

 

 

 

 

 

A dignidade anseia por vingança.

 

 

 

 

 

Em um surto de coragem repentino, ela levanta e fica em pé, parada, recebendo diversos olhares de nossos colegas. Ao escutar o barulho desta ação, viro o rosto novamente para ela e paro de andar. Era quase possível ver chamas saindo de seus olhos. Seus lábios abrem-se, prontos para chamar o professor e contar o que ocorreu hoje. E ontem.

E tem ocorrido desde o início do ano.

Não sei se meu rosto me denuncia – mas me esforço para que não. Estou apavorado. Não me importa o que ela sente, ou o que os outros sentem.

Eu não quero sair dessa escola.

Eu não posso sair.

O que minha mãe vai pensar quando eu perder a bolsa na melhor escola da cidade? Ainda mais sabendo o motivo?

As escolas públicas que tenho acesso estão totalmente sucateadas, o ano inteiro sem professores. Sem uma escola de verdade, não conseguirei passar em uma faculdade ou em um emprego descente. Como vou pagar os remédios dela? Cada vez ela precisa de mais...

Nossos olhos se encontram novamente, e, como se tivesse retornado à realidade, vejo sua boca se fechar novamente. Nenhuma palavra é dita. Senta-se novamente, com uma respiração tensa, finge olhar algo no caderno. Suas mãos tremem.

Todos se entreolham.

Sigo meu caminho.


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Notas finais do capítulo

****Novamente: continuo aceitando críticas construtivas, correção em erros de português. Tudo isso me ajuda a seguir em frente, e me tornar uma escritora cada vez melhor.

O link da matéria da Dove (realmente existe): https://www.dove.com/br/dove-self-esteem-project/help-for-parents/teasing-and-bullying/why-do-bullies-bully.html



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