O jantar seguia com uma nuvem de tensão e medo, pairando sobre todos no castelo. Os alunos só falavam sobre a morte misteriosa no Expresso, e questionavam se o assassino estava entre eles.
— Um Sonserino morreu por magia das trevas. – Stiles Stilinski conversava com seu melhor amigo Scott McCall. O rapaz magro, de cabelos castanhos escuros e olhos marrons, estava muito interessado naquela morte. Simplesmente não podia evitar, adorava mistérios, e sendo filho de um dos aurores mais famosos do mundo bruxo, não podia ignorar aquilo.
— Será que Hogwarts é segura? – Scott indaga, pensativo. Ele havia ajudado á combater as aranhas, e elas eram realmente malignas. Não hesitou em matá-las.
Não muito longe, absorvendo a conversa na mesa da Grifinória, Alisson Argent continha um sorriso incrédulo. Era mais que óbvio que Hogwarts não era segura. Não estava com medo – não por ela – mas pelos outros do castelo. Havia sido treinada pelo seu pai, e não só em magia. Os bruxos não eram tão diferentes dos animais. Quem estivesse por trás daquilo, matara por diversão, por puro ódio. E faria de novo. Aquele tipo de magia era rara, fácil de ser percebida. Talvez tenha sido a primeira vez que o bruxo fizera aquilo, estava descobrindo do que era capaz... Não pararia agora. Apenas seria mais cauteloso.
— O que você acha, Alisson? – Scott McCall pergunta, se virando na direção da garota.
Alisson faz um careta involuntária, ao ser chamada pelo primeiro nome pelo grifinório.
— Acho que está apenas começando. – Argent murmura, com a feição séria.
Os dois se encaram em silêncio por alguns segundos, até Alisson desviar o olhar para sua comida.
Depois do jantar, finalmente a diretora Néfitis Decoge aparecera, e todos se calaram imediatamente para ouvir o que a mulher diria.
— Uma boa noite á todos. – A bruxa começa, com um sorriso sério. – Pena que seja nestas circunstâncias. Todos devem saber do que aconteceu no Expresso de Hogwarts, uma tragédia, e está sendo levada com seriedade. Peço á todos que não perambulem pelo castelo sozinhos. Todos devem estar nos dormitórios ás nove e meia.
Os alunos começam a murmurar, Néfitis sabia que aquela ordem não seria muito aceita, mas não importava o que eles queriam. Somente a segurança importava.
— Aqueles que infligirem as regras serão severamente punidos. – A diretora continua. – Medidas serão tomadas para a segurança de todos.
Assim que o discurso termina, todos se recolhem para o dormitório. Stiles e Scott seguem junto, trocando um olhar preocupado.
Scott sabia no que iria dar aquilo: ele e Stiles investigando, como sabia que o rapaz não desistiria. Era melhor o seguir, caso o pior acontecesse.

Lydia Martin se revirava na cama do dormitório da Corvinal, suando frio.
Ela lentamente saía de seu corpo, e podia ver a si mesma dormindo. Agora, seu corpo físico não revirava mais, parecia em paz.
Se aproximando do teto, agora via perfeitamente sua colega de quarto, Veronica Meyer dormir, na cama ao lado. As outras duas garotas também dormiam tranquilamente. Ela o atravessa, saindo dali.
Percorreu rapidamente pelos corredores, se aproximando da biblioteca. Stephanie Prescott – também da corvinal- estava ali, guardando alguns livros na estante. A biblioteca de Hogwarts estava escura, e havia somente ela ali.
Lydia se perguntava o que Stephanie fazia ali depois do toque de recolher. Naquele momento, um vento frio adentra a biblioteca, mesmo sem corrente de ar.
Ao se virar, Lydia nota uma sombra se aproximando. Era literalmente uma energia escura, rodeando alguma pessoa, e a ocultando.
Ela queria gritar, avisar Stephanie do que viria. Mas a garota não podia escutá-la, e continuava a guardar os livros.
Um sussurro estranho se é ouvido. A corvina pareceu ouvir também, derrubando o último livro no chão. Ela se vira, gritando com a visão das sombras.
Então, era como se Stephanie tivesse presa á estante, com uma força invisível a segurando ali, suspensa no ar.
Os sussurros continuam, e Stephanie arregala os olhos, gritando de dor. Aranhas começam a surgir, saindo de dentro de sua pele, a rasgando.
Lydia se afasta horrorizada, vendo as aranhas saírem da boca da colega, como se esta estivesse dando um grito mudo.
Parando de se debater e com os olhos inteiramente brancos, Stephanie Prescott finalmente morre. Lydia fica paralisada, diante da cena horripilante.
Então, a figura de sombras se vira para ela, parecia a encarar. Lydia sente um arrepio percorrer todo o corpo, recuando.
A última coisa que Lydia Martin vê antes de retornar bruscamente ao seu corpo, são um par de olhos predadores e amarelos.
Ela quase solta um grito pavoroso ao retornar, dando um pulo na cama. Por sorte, se conteve.
A ruiva rapidamente se levanta, tirando o pijama e colocando uma roupa simples, calça de moletom roxa escura, e uma blusa de manga comprida da mesma cor.
Então, sai do quarto.
Ela sabia que certamente levaria uma bronca se fosse vista escapando – os corvinos eram extremamente rígidos com regras – mas tinha que avisar a diretora, tinha que contar que Stephanie Prescott estava morta.
Lydia sai do dormitório, tentando ao máximo não fazer barulho. Apenas tinha que chegar ao andar da sala da diretora, ou então poderia chamar algum professor. Não estava raciocinando direito, esqueceu até de calçar um sapato, ainda estava em choque com o que vira.
Aliviada por conseguir chegar as escadas, ela se agarra fortemente ao corrimão da mesma, quando esta começa a se mover.
A ruiva se surpreende quando a escada faz conexão com outra, onde havia dois alunos da grifinória.
— O que estão fazendo aqui?! – Ela pergunta, já imaginando se os dois tinham algo a ver com a morte que acabara de ocorrer. Era no mínimo, estranho.
— O que você está fazendo aqui? – Stiles Stilinski retruca, com o mesmo ar de suspeita.
Lydia suspira. Em breve todos saberiam da morte, mas não sabia o que pensariam dela se contasse que sabia que alguém havia morrido.
— Isso não é da conta de vocês. – Lydia o corta.
— Mas é muito suspeito. – Stiles responde, encarando a ruiva com intensidade.
— E vocês dois não são suspeitos? – Ela retruca com um sorriso, pronta para sacar a varinha, se preciso.
— Estamos investigando. – Scott McCall diz.
Lydia os encara em silêncio, pensativa.
— Uma garota morreu. – Ela finalmente conta. – Acabou de acontecer.
— E como você sabe disso? – Stiles pergunta, e as escadas começam a se mover novamente. Os dois rapidamente se aproximam de Lydia, se segurando.
— Eu vi. Eu... Sonhei. Algo terrível a matou... Sombras.
— Você está bem? – Scott pergunta, notando que a garota tremia, e estava descalça.
As escadas param em um corredor escuro e deserto.
— Preciso avisar á diretora. – Lydia diz.
— Então vamos com você. – Scott fala.
Os três saem da escada, caminhando pelo corredor.
— Então... O que mais você viu? – Stiles pergunta.
— Eu não vi seu rosto. Apenas olhos amarelos... Ele me viu. Eu estava fora de meu corpo. Vocês sabem o que é viagem astral?
— Sabemos. – Stiles murmura.
— Ele sussurrava palavras em uma língua estranha. – Lydia conta, sentindo um arrepio ao se lembrar da cena. – Eu já ouvi aquela língua, mas parecia distorcida. Eu conheço.
Os três continuam andando em silêncio, caminhando pelo corredor.
— Estamos perto da sala do Hale. – Stiles informa. – Parece que há uma vela acesa.
Os bruxos batem na porta, que se abre segundos depois.
Derek Hale os encara com surpresa.
— O que estão fazendo aqui?! – Ele pergunta, desconfiado.
— Professor, algo terrível aconteceu. – Scott diz em tom de urgência.
— Stephanie Prescott. – Lydia conta. – Está na biblioteca, ela...
— Está morta. – Stiles completa, vendo que Lydia estava prestes a desmoronar.
— Vou chamar os outros professores. – Derek diz com a expressão séria. – Voltem para os dormitórios imediatamente, e esperem ser chamados pela diretora.
Engolindo em seco, os jovens bruxos saem dali, enquanto Derek corre com pressa para longe.
— Então realmente temos um assassino em série. – Stiles murmura.
— É mais do que isso. – Lydia fala. – Ele é poderoso. Perigoso. A energia que carregava... Parecia sufocante.
— E ele viu você. – Stiles afirma.
— Acham que isso me torna uma vítima em potencial? – A ruiva indaga, assustada.
— Provavelmente. – Stiles responde com naturalidade. – Acho que agora terão que chamar os aurores.
Eles voltam a caminhar em silêncio, pensativos.
— Acho que é aqui que nos separamos. – Lydia diz, parando de caminhar, e lançando um olhar sério para os dois. – Tomem cuidado.
— Você também. – Stiles responde de imediato. O rapaz parecia um pouco nervoso, e Scott notara. Sabia que o amigo tinha uma queda de anos pela garota.
Depois que se separam, os dois amigos voltam para o dormitório da grifinória.
Ao entrarem pela passagem do retrato da mulher gorda, Scott e Stiles encontram Alisson Argent sentada no poltrona em frente á lareira acesa, dormindo, com um livro no colo.
— Pode ir subindo. – Scott sussurra. – Eu acordo ela.
— Claro. – Stiles responde com um sorriso sugestivo, sabendo do interesse do amigo. Era difícil não notar os olhares entre os dois.
Scott se aproxima da poltrona, enquanto Stiles sobe as escadas para o quarto.
— Alisson. – O rapaz a chama, tocando levemente em seu ombro.
Segundos depois a bruxa abre os olhos, se assustando e puxando rapidamente a varinha, a apontando para o rosto de Scott.
— Está tudo bem. – O rapaz diz, levantando as mãos em rendição.
Alisson suspira, abaixando a varinha.
— Achei que... – Ela murmura, mas depois se cala. – Não importa. Que horas são?
— Tarde. – Scott sorri, notando que a garota o analisava.
— Por que está com o uniforme? – Alisson pergunta.
— Uma aluna morreu. – Scott conta. – É melhor você subir.
— Morreu? Como morreu? – Ela pergunta se levantando.
— Não sei dos detalhes... Eu e Stiles saímos depois do toque de recolher, queríamos olhar o corpo do sonserino antes que os pais viessem para buscar...
McCall se cala, pensando que provavelmente não tinha sido boa ideia contar sobre o corpo.
— Estávamos investigando. – Ele completa, tentando parecer menos estranho.
Alisson dá um passo a frente, se aproximando mais do rapaz.
— E o que aconteceu? – Ela pergunta, o encarando fixamente.
Sob o olhar da garota, Scott sabia que não poderia ocultar nada.
— Encontramos uma garota da Corvinal... Lydia Martin. – Ele conta. – Ela disse que sonhou com a morte. Foi na biblioteca...
— Seja quem for, deve estar dormindo tranquilamente agora. – Alisson responde, cerrando os punhos e com raiva.
— Lydia disse que ele era envolto por sombras. – Scott fala. – Seja quem for... É perigoso. Já fez duas vítimas.
— Está apenas começando. – Alisson murmura. – Melhor eu ir dormir. Boa noite, McCall.
— Boa noite. – O bruxo responde, vendo Alisson subir as escadas para o dormitório feminino.

Uma hora depois, até mesmo Lydia Martin dormia.
Mas além dos professores que se reuniam com a diretora para chamar os aurores, um aluno estava bem desperto em sua cama. Na verdade, seu coração estava acelerado, e ele se sentia agitado.
Agora as coisas começavam a fazer sentido... Sempre se sentiu diferente dos outros. Sempre foi excluído e tido como estranho, mas era mais forte que todos eles.
E havia a garota... Ela havia o visto. Não o reconheceria, claro. Mas não era a hora de Lydia Martin saber de tudo, ainda não. Mas com certeza a ruiva ficaria ao seu lado, e se não quisesse ser rua rainha... Bem, poderia matá-la.
Estava ficando bom em matar, e se sentia muito bem. Ver a vida deixar os olhos de alguém, a magia sumir do corpo de um bruxo... Aquilo era incrível, se sentia forte e imbatível. Completo.
O rapaz deixa escapar um sorriso, se lembrando da cara de Stephanie Prescott. Aquela vaca recebera o que merecia.
Ao seu lado, seus colegas de quarto roncavam, não sabendo o quão próximo estavam do perigo.
Em breve todos saberiam, todos veriam do que ele era capaz! Todos pagariam. Todos sangrariam...
Uma nova era estava se aproximando do mundo bruxo. E Hogwarts estava bem no começo dela, onde o verdadeiro mal surgiria.