Ponto de Encontro escrita por Leonardo Souza


Capítulo 1
Quando tudo estiver bem


Notas iniciais do capítulo

Essa musica não está relacionada com o capitulo, apenas escutei ela enquanto escrevia boa parte dele. É uma boa musica.

https://www.youtube.com/watch?v=BvkHa7s1yGc



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“Faz meia hora que você está encarando aquele cara.” Julia falou próximo ao ouvido de Bruno; o som da balada não estava muito alto, mas ela achou melhor não arriscar qualquer chance do amigo se dar bem.

“Acho que conheço ele de algum lugar” Ele respondeu e virou outro shot de tequila.

“Seus sonhos talvez, vai falar com ele.”

“Muito engraçado.”

“Estou falando sério, se não for você, outra pessoa vai.”

“Ele está usando camisa polo na balada, isso diminui bastante as chances de ele ser gay.”

“Mas não está com um grupo de amigos com três baldes de cerveja, eu diria que cinquenta por cento de chance.”

“Não importa, ele já está indo embora.”

“Pena, preciso ir ao banheiro, vem comigo.”

Os dois saíram do bar e começaram a se espremer no meio das pessoas indo em direção ao banheiro, no meio do caminho Julia encontrou um amigo, Bruno sabia que os dois já tinham ficado ou namorado, os detalhes da relação eram desconhecidos.

“E aí cara.” Bruno não se lembrava do nome dele.

“E aí.” Ele respondeu e o cumprimentou.

“Lembra dele?” Julia perguntou.

“Claro.” Bruno mentiu.

Os dois começaram a conversar no meio das pessoas, Bruno não sabia o que eles estavam falando, mas em menos de um minuto a mão do cara já estava na cintura dela e isso não era um bom sinal para a suposta noite apenas amigos curtindo o fim das provas. Bruno pegou o celular, sem sinal e nenhuma notificação.

“Bruno, ele sabe de outra festa, vamos?” Julia perguntou enquanto segurava a mão do amigo, aquilo era a versão olhos de cachorrinhos da amiga quando pedia algo.

“Lembrei que preciso levar minha mãe no hospital amanhã cedo, mas vocês dois podem ir.”

“Sério, está tudo bem com ela?”

“Sim, apenas exames de rotina.”

Os três saíram da boate, eram por volta das duas horas da manhã e ainda havia uma fila de pessoas querendo entrar. Além disso algumas pessoas sentadas na calçada, talvez estivessem na fila ou apenas se cansaram de ficar em pé lá dentro e queriam ficar mais confortáveis.

“Bruno, vou indo, mande um beijo para sua mãe.” Julia falou já indo embora.

“Pode deixar. Não beba muito.” Os dois riram e continuaram andando.

“Seus amigos te abandonaram?” O alguém perguntou e quando Bruno se virou reconheceu a camisa polo amarela, era o cara da balada. Por um segundo ele ficou sem saber o que responder, como uma pessoa conhecendo seu ídolo.

“É...” Ele limpou a garganta “Eu que abandonei ele, não quero atrapalhar o casal.”

“Não pareceu isso.” Ele tinha um sorriso de quem parecia estar se divertindo pelo fato de ter pego Bruno de surpresa, agora próximo um do outro Bruno percebeu que o cabelo dele era curto, mas bagunçado só que não de propósito. “Vai ter que acreditar na minha palavra.”

“Então, porque estava me encarando lá dentro? Tem alguma coisa no meu rosto?” Ele colocou a mão em vários locais do rosto enquanto ria.

“Não, apenas achei que te conhecia de algum lugar, mas agora que dei uma boa olhada em você percebi que nunca te vi.” Assim que Bruno falou “uma boa olhada” se arrependeu e considerou seriamente em sair dali sem dar nenhuma explicação.

“Não sei se deveria ficar ofendido por você não lembrar, mas nós estudamos juntos; mais ou menos.”

Finalmente Bruno conseguiu ligar o rosto a pessoa e local. “Segundo colegial? Felipe, certo?”

“Ding, Ding, Ding! Resposta correta.”

“Se me lembro bem, você ficou um mês na mesma sala que eu e depois sumiu.”

“Meu pai se mudava muito naquela época, era complicado.”

“Entendi, não precisamos falar sobre isso.”

“Obrigado. Vamos falar sobre o que fazer agora, tem essa festa de um amigo, que tal?”

“Você esperou aqui fora apenas para me convidar? Estou lisonjeado.” Bruno respondeu e os dois começaram a rir.

“Pelos velhos tempos, topa?”

“Topo. Precisamos achar um taxi, não tenho sinal para pedir um Uber.”

“Não, podemos ir andando, é apenas alguns quarteirões daqui.”

“Me mostre o caminho.”

Os dois foram caminhando e conversando sobre aquele mês em que estudaram juntos, sobre certos professores e como cada um incomodava de um jeito diferente. A festa era em uma casa de dois andares, eles chegaram, beberam, se divertiram, e conversaram com outras pessoas.

“Vou sair para fumar.” Felipe falou para Bruno.

“Te acompanho.”

Os dois subiram até o terraço, Bruno se sentou em uma cadeira e Felipe ficou próximo, apoiado na mesa, haviam duas pessoas ali com eles, mas foram embora. Talvez não fumassem e o cheiro incomodava, Felipe entregou um cigarro para Bruno que ficou apenas encarando. “Se você falar que é uma metáfora te jogo daqui de cima.” Felipe falou. “Não acredito que assiste romance.” O cigarro continuava na mão dele. “Tão difícil de acreditar?” Felipe se sentou na cadeira ao lado de Bruno, os joelhos deles estavam se tocando. “Um pouco.” Bruno mudou de posição na cadeira acabando com o contato e bem no fundo se sentiu culpado. “Qual o lance do cigarro? Alguma história triste?” Felipe não pareceu ficar triste por ele ter movido a perna. “Já fumei muito por um tempo, minha família tem um histórico de câncer então resolvi parar, mas sempre fico tentado.” “Me entregue seu cigarro.” Bruno estendeu a mão. “O que?” “Vamos, passe para cá.” “tudo bem.” Bruno entregou o cigarro, Felipe se levantou, foi até a beirada do terraço e arremessou o maço e o isqueiro. “O que está fazendo?” Bruno se levantou da cadeira e foi na direção dele. “Não vou ser o responsável pelo seu câncer.” “Só que não precisava fazer tudo isso.” “Melhor prevenir.” Os dois riram, talvez a bebida deixava tudo mais engraçado, mas naquele momento, Bruno não conseguia parar de rir pelo fato de um ex colega de escola jogar seu cigarro fora. Enquanto ria ele perceber que o céu estava ficando mais claro, em menos de uma hora o sol ia aparecer no horizonte.

“Achei que você ia me beijar nessa noite.” Felipe disparou.

“Esses lábios apenas para uma pessoa especial.” Bruno respondeu em tom de brincadeira, mas o silencio significava que ele e não estava brincando. “Desculpa, eu não sabia que você é gay.” “Não sou.” “Não?” “Bissexual, não importa agora; esquece que falei qualquer coisa.” “Você quer que eu te beije?” “Por pena? Não, obrigado.” “Em minha defesa você devia ter dado sinais mais claros” “Eu te esperei na frente de uma boate por quase vinte minutos!” Felipe gritou. “Você está usando uma camisa polo!” “O que?” “Não importa mais.” Felipe foi até a cadeira e se sentou, Bruno não sabia o que fazer, então não saiu do lugar.

“Olha. Esquece que falei qualquer coisa.” Felipe passou a mão no cabelo, deixando mais bagunçado.

“Eu não entendo d onde tudo isso está vindo, não passamos nem um dia juntos.”

“Para mim não faz um dia. Na escola eu já sabia que sentia algo por garotos e você já falava abertamente sobre sua sexualidade. Só que eu fiquei alguns anos sofrendo, não sabia onde me encaixava, se soubesse o tanto de pessoas que terminavam o encontro quando falava que também gostava do sexo oposto.”

“Se soubesse o tanto de pessoas que me bateram por gostar apenas de um sexo.” Bruno respondeu.

“Você está certo, não tenho direito de comparar nossas experiencias, é que hoje foi um péssimo dia de trabalho, antigo trabalho.”

“Demitido?”

“Infelizmente, e resolvi ir naquela boate para achar alguém e passar a noite. Só que encontrei você.”

“Não vou mentir e dizer que não pensei em beijar você durante essa noite” Bruno foi até a outra cadeira “Só que existiam apenas duas opções: a gente se beijava e você não era gay, ou a gente se beijava e só se via essa noite. Não quero isso.”

“Também quero manter contato.”

“Consegue fazer isso se a gente se beijar?”

“Podemos testar?” Felipe riu.

“Deixa eu ver seu celular.”

“Nada interessante aí.” Felipe entregou.

“Pronto.” Bruno devolveu o telefone “Te passei meu número, agora, quando estiver sóbrio ou não demitido pode me ligar e vamos combinar algo.”

“Posso mandar pelo menos mensagens antes disso acontecer?”

“Claro.” Bruno se levantou e foi em direção da porta.

“Banheiro?”

“Casa.”

“O que? Não pode ir embora agora.”

“Está amanhecendo, preciso ir antes que minha mãe se preocupe. Você tem meu número.”

Bruno foi embora e Felipe ficou sentado por dez minutos, com um sorriso no rosto, pegou o celular para mandar uma mensagem e percebeu que Bruno tinha salvo o número como “Quando tudo estiver bem” Felipe levantou e saiu correndo, quase caiu das escadas e trombou em algumas pessoas, quando chegou na calçada estava sem folego e com a camisa molhada por alguma bebida. Bruno estava na calçada.

“Antes de mais nada”, Felipe começou a falar “Isso não é um grande momento de filme romântico onde confesso meu amor por você.”

“Como sabia que ainda estaria aqui?”

“Seu celular estava sem sinal, torci pelo melhor.”

“O que é esse momento então?”

“É o momento que te agradeço pela noite e volto para casa.”

“Tudo bem.”

“Pode chamar um Uber?”

“Quase acabou bem seu discurso, quase. Já consigo ver o meu.”

“Tchau.” Felipe falou quando o Carro estacionou.

“Tchau.” Bruno abriu a porta.

“Quando tudo estiver bem?” Felipe perguntou.

“Quando tudo estiver bem.”

“Acho que tudo está bem.” Felipe se aproximou e os dois se beijaram, um beijo lento, como se os dois tivessem todo tempo do mundo.

“Realmente preciso ir.” Bruno interrompeu o beijo.

“Ou podemos entrar e continuar isso. A noite já acabou, então pode relaxar.”

“Isso foi uma metáfora.” Bruno entrou no carro e saiu. Felipe ficou observando até ele virar a esquina, seu celular vibrou com uma mensagem.

“Acho que agora vai ficar tudo bem.”

“Também acho.”

Felipe guardou o celular e voltou para dentro da casa, onde um deus seus amigos perguntou se aquele cara era seu namorado e no fundo desejou isso.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



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