Les Crimes de Grindelwald escrita por themuggleriddle


Capítulo 4
De Nova York a Londres




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Quando Newt sugeriu que usassem o veneno de rapimônio para apagar as memórias dos trouxas de Nova York, ele sabia que Jacob Kowalski não se esqueceria de tudo que havia acontecido nos últimos dias. O trouxa havia ficado fascinado pelo mundo bruxo e aquelas eram, afinal das contas, boas memórias... Talvez com uma coisa ou outra meio traumáticas, como as ruas de Manhattan sendo destruídas por um obscurus, mas tirando isso, eram lembranças boas.

 

Newt, no entanto, tinha poucas esperanças de ver seu amigo trouxa novamente, muito menos em Londres, na soleira de sua casa. Mas ali estava Jacob, sorrindo e com os braços abertos, com Queenie Goldstein atrás dele, as mãos delicadas apoiadas em seus ombros e um sorriso esticando os seus lábios cor-de-rosa.

 

“Newt!” o trouxa falou, abrindo mais os braços em um convite.

 

Meio sem jeito, Scamander se aproximou e o outro homem o puxou para um abraço apertado que chegou a levantá-lo do chão. O magizoologista abaixou o rosto, desviando do olhar de Queenie, que os observava com as mãos juntas na frente do peito. Seu corpo continuava travado, ainda se acostumando ao contato, quando Jacob o soltou, apesar de manter as mãos em seus ombros.

 

“Quanto tempo!”

 

“Jacob, Queenie, que... surpresa,” o bruxo murmurou.

 

“Esse era o objetivo,” disse Queenie. “Achamos que seria interessante visitar a Inglaterra para... relaxar um pouco e conhecer um lugar diferente.”

 

“Chegamos hoje e queríamos passar aqui o quanto antes. Estava com saudades.” Kowalski deu um tapinha em seu braço.

 

Newt olhou rapidamente para a cama de casal estreita e desfeita dentro do apartamento. Quando ele estivera em Nova York com parte de suas criaturas perdidas e um trouxa enfermo a tiracolo, Queenie e Tina haviam lhe oferecido um lugar para ficar... Bom, Tina o estava observando, pronta para levá-lo novamente para o MACUSA, mas mesmo assim assim lhe oferecera uma cama e uma xícara de chocolate quente. O bruxo sentiu o rosto esquentar ao perceber que não tinha a mínima estrutura para receber hóspedes ali, afinal, nunca havia precisado receber ninguém.

 

“Entrem, por favor.”

 

Ele abriu mais a porta, deixando os dois entrarem no apartamento. Goldstein olhou em volta ainda com um sorriso no rosto, apesar do bruxo perceber que ela parecia estar analisando tudo com cuidado. Quando a mulher parou para olhar o prato meio comido de legumes em cima da escrivaninha, ela o olhou com o que parecia ser pena. Jacob carregou para dentro uma maleta, deixando-a encostada na parede ao lado da porta, antes de olhar em volta.

 

“Melhor que o meu cantinho lá em Manhattan,” o trouxa falou.

 

“Vocês podem, ahm, ficar aqui, se quiserem.” Scamander apontou a cama.

 

“Oh, Newt.” Queenie murmurou e o magizoologista sabia que ela estava em sua mente, vendo que ele provavelmente estava envergonhado de mostrar aquele canto de sua vida para eles. “Sua casa é adorável. Não vai se importar de...? Ah, sim, a maleta.” Ela torceu o nariz. “Mesmo?”

 

“Mesmo.” Ele sorriu. Realmente poderia dormir dentro de sua maleta, na cama menor que havia lá dentro e com a qual ele se acostumara depois de viajar por tanto tempo.

 

“Você é um doce.” A mulher girou nos calcanhares, antes de parar e bater as palmas uma contra a outra. “Agora... Você não pode passar a noite a base de legumes murchos. Se importa de eu dar uma olhada nos seus armários?”

 

Scamander apenas encolheu os ombros enquanto a bruxa ia até o canto da cozinha e abria os armários. Quando ela começou a sacudir a varinha para lá e para cá, fazendo latas de comida voarem por sobre o balcão, ele voltou a olhar o trouxa. Jacob estava ocupado olhando os adereços em cima do aparador da lareira: fotografias, livros, recortes de jornais e uma ou outra miniatura de animal feita em madeira, com traços infantis e pintura desbotada.

 

“Sua família?”

 

Newt observou a foto que o outro apontava. Sua mãe estava sentada em um banco de madeira, usando um de seus vestidos brancos cheios de rendas e com os cabelos ruivos presos no topo da cabeça, enquanto ele, com no máximo cinco anos, estava ao lado dela, enfiado em um conjunto de bermudas e terninho, uma fita ridícula prendendo o colarinho da camisa e os pés pendurados e balançando no ar. Theseus estava de pé ao seu lado, de queixo erguido e exibindo as calças compridas. Atrás deles, seu pai sorria por debaixo do bigode loiro enquanto apoiava uma mão no ombro da esposa. Na fotografia, a Sra. Scamander volte e meia ajeitava uma mecha de cabelo do filho e Newt tentava se escapar de seus dedos.

 

“Fenella e Daedalus Scamander, meus pais,” ele explicou. “E Theseus, meu irmão mais velho.”

 

“É ele aqui também?” Jacob perguntou, apontando para outra foto.

 

Theseus havia acabado de passar no seu exame de auror quando tiraram aquela foto. O bruxo tinha um sorriso enorme no rosto e abraçava o mais novo com um braço, de vez em quando aproximando-se dele para pedir que ele olhasse para a câmera. O Newt da foto mantinha o olhar baixo, raramente se atrevendo a encarar o fotógrafo. O magizoologista mantinha aquela foto ali apenas pela expressão feliz no rosto do irmão, algo que ele perdeu por alguns anos, durante a guerra.

 

“E essa?”

 

Scamander piscou uma, duas vezes, encarando a foto. Ele provavelmente deveria tirar aquela foto dali, mas... Qual era o problema? Ele e Leta haviam sido colegas de classe e todo mundo tinha fotos com colegas em casa. Aquela era uma das poucas fotos tiradas em Hogwarts que ele gostava. Eles estavam sentados perto do lago e Lestrange estava sorrindo enquanto acariciava um corvo que descansava no colo de Newt. Ele havia cuidado daquele pássaro por meses, até ele tomar coragem de se cuidar por conta própria.

 

“Amiga de colégio, Leta,” ele falou e indicou o corvo, ignorando o olhar rápido que sentiu vindo de Queenie. “E Lino, o corvo.”

 

“Do colégio de bruxos? Deve ter sido legal estudar num lugar assim,” o trouxa sussurrou, sorrindo fraquinho.

 

“Foi bem legal.”

 

“E isso...?”

 

“Ah.” Scamander riu, apanhando um dos animais de madeira, algo que parecia ser um hipogrifo deformado com o corpo pintado de roxo, as asas de verde e o bico de vermelho. “Meu irmão, a certa altura da vida, decidiu que queria ser escultor. Ele fez esses bichinhos e eu decidi que precisavam de mais cor. Ele tinha dez anos.”

 

“Ele é escultor hoje?”

 

“Não.” O bruxo viu o sorriso tremer um pouco no rosto de Jacob. “Ele é um auror... Como a Tina. Ele lutou na guerra também, é um considerado um herói por aqui.”

 

“Ora, ora.” Kowalski enfiou as mãos nos bolsos das calças e se balançou para frente e para trás. “Me admira quem volta da guerra e continua nessa linha de trabalho. Eu prefiro mil vezes fazer os meus doces.”

 

“Você seria desperdiçado em um exército, amor,” Queenie falou, fazendo os talheres, tigelas e copos se arrumares em cima da mesa com magia. “Seus pães e doces são muito mais importantes para o mundo.” Ela deu uma piscadela na direção deles. “A janta está servida: sopa, porque Newton parece não ter nada além de legumes na casa.”

 

A sopa estava deliciosa, muito melhor que os legumes cozidos. A bruxa tinha tido até o cuidado de cortar e torrar pequenas fatias de pão para comerem junto. Jacob parecia continuar se surpreendendo e adorando as habilidades culinárias de Goldstein e era interessante ver como eles pareciam se comunicar em um misto de conversa e leitura de pensamentos, uma interação que passava um sentimento aconchegante de intimidade, como quando Leta e Newt conseguiam se entender apenas por um olhar no meio da aula.

 

“Preciso te dizer, amigo, a sua ideia de usar o veneno daquele seu bicho? Perfeita!” disse Kowalski, a certa altura da janta. “Você sabia? Que a minha memória não iria embora?”

 

“Eu... desconfiava.” O magizoologista sorriu ao ouvir a risada de Queenie.

 

“Foi genial,” a bruxa falou, apoiando o cotovelo na mesa e esticando a outra mão para alcançar a do trouxa. “Ele me reconheceu quando fui na padaria. Ficou meio confuso, mas me reconheceu.”

 

“Então as coisas foram fazendo sentido: eu não tinha sonhado aqueles animais e as magias!” Jacob falou. “Queenie me ajudou a preencher as lacunas.”

 

“Não eram muitas,” ela continuou. “Engraçado como até mesmo ser perseguido por um erumpente foi algo bom para ele.”

 

“A primeira vez que vi uma manticora, quase perdi uma perna,” disse Newt. “Mas eu amo me lembrar de como foi ver uma pela primeira vez, como ela era bonita e como foi bom, depois, a seguir para vê-la tratando dos filhotes. É uma boa lembrança.”

 

Goldstein o olhava com um sorriso doce no rosto, enquanto Jacob parecia tentar se lembrar o que era exatamente uma manticora.

 

“E... Como vai a Tina?” o bruxo perguntou, empurrando para fora da boca a pergunta que estava querendo fazer desde que eles entraram pela porta.

 

“Oh, Teenie.” A mulher suspirou, apoiando o rosto na mão. “Trabalhando cada vez mais, alternando entre perseguir criminosos, cuidar da segurança de prisioneiros e ajudar o pobre Sr. Graves a se recuperar. Oh, você ouviu, não? Encontraram o verdadeiro Percival Graves.”

 

“Sim, meu irmão me disse. Ele conhecia o Sr. Graves de... antes.”

 

“Pobre homem. Tina disse que ele está um caco, com muito medo de tudo,” Queenie falou. “Pelo menos ela tem um namoradinho para distraí-la agora.”

 

“Como é?” Scamander ergueu o rosto e encontrou Queenie o olhando com uma sobrancelha erguida.

 

“Achilles Tolliver. Auror. Bem bonitinho. Ela não te falou? Achei que vocês estivessem conversando por cartas.”

 

“Ela não respondeu mais as minhas cartas,” Newt murmurou, empurrando um pedaço de cenoura de um lado para o outro do prato.

 

“Oh, bem.” Goldstein suspirou. “Ela ficou meio triste depois que, bom, depois que você não falou nada sobre o seu noivado.”

 

Scamander ergueu a cabeça e piscou, encarando a bruxa. Jacob olhava de um para o outro, parecendo ter medo de interromper a conversa.

 

“Noivado?”

 

“Com Leta Lestrange.”

 

“Oh, Leta, a menina da foto?” Jacob perguntou. “Por que não disse que ela era sua noiva?”

 

“Porque ela não é,” Newt respondeu, franzindo as sobrancelhas.

 

“Saiu em uma revista. Tinha a sua foto e tudo.” A loira pressionou os lábios um contra o outro e ergueu a varinha, sacudindo a rapidamente.

 

O magizoologista ouviu o fecho da mala do casal se abrir e, pouco tempo depois, uma revista flutuou até as suas mãos e se abriu, virando as páginas até mostrar uma reportagem encabeçada por uma grande foto do dia do lançamento do seu livro e que mostrava Theseus, Leta e o próprio Newt. Na legenda, lia-se: ‘Newt Scamander, magizoologista, acompanhado de noiva, Leta Lestrange, e irmão, Theseus Scamander’.

 

“Ah, não, não, não!” Ele riu, nervoso. “Theseus está noivo dela, não eu! Eles vão se casar em Junho. Eu vou ser só o padrinho, por mais irônico que seja.”

 

“Padrinho?” Foi a vez de Queenie o encarar, confusa, antes de erguer a mão e cobrir a boca. “Oh Morgana.”

 

***

 

Newt deslizou os dedos pelas penas delicadas do occamy que estava enroscado ao lado de sua cabeça. Sobre a sua barriga, Dougal, o semivisto, dormia sem se preocupar com mais nada, ressonando alto, e, nos seus pés, estava Bartemius, o amasso. Era bom dormir na maleta, onde alguns animais podiam se esgueirar para dentro da carroça que ele usava como quarto e laboratório lá dentro. Eles gostavam de se aninhar ao redor do homem e Scamander sempre achava aquilo aconchegante e tranquilizador, poder ouvir as respirações calmas deles até pegar no sono.

 

Fora bom rever Jacob e Queenie. Newt não havia percebido como havia sentido falta de seus amigos nos meses desde que deixara Nova York e, apesar do jantar ter sido um tanto constrangedor desde que descobriram a confusão com seu falso noivado, ele havia se sentido bem em ter alguém com quem conversar que não fosse Bunty ou Theseus. Havia sentido falta, principalmente, de Kowalski. Ele gostava de ver como até mesmo as coisas mais simples do mundo mágico podiam ser incríveis aos olhos trouxas do amigo, algo que fazia ele notar a beleza em coisas bobas do dia a dia.

 

O bruxo gostaria que Tina estivesse ali também. Ainda não sabia exatamente o que sentia pela bruxa, mas não era a mesma coisa que sentira por Leta, anos atrás, apesar de também ser algo bom. Queria poder conversar mais com ela, como haviam conversado por cartas por alguns meses, a fim de entender o que era aquele sentimento.

 

Bom, aquilo teria que esperar. A não ser que... Ele não podia sair do país, mas e se Queenie entrasse em contato com a irmã e pedisse para ela o visitar? Talvez a loira aceitasse ajudá-lo nisso. Teria que falar com ela no dia seguinte.

 

Scamander suspirou e sentiu Dougal se remexer sobre o seu abdômen.

 

 


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Notas finais do capítulo

Coisas alteradas:
1) Sem encantamento da Queenie, porque isso foi tão fora da personagem dela e, pra mim, ficou tão estranho no filme do jeito que decidiram filmar/editar;

2) Mais coisas sobre os irmãos Scamander porque você me coloca dois homens assim em um filme e não explora tudo o que tem pra explorar deles??? (mesmo tendo três filmes, eu queria ver mais dos dois como irmãos já nesse).

Se Newt vivesse hoje em dia, ele viveria a base de miojo ou pratos prontos que você esquenta no microondas.



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