Uma Seleção com Rosie Ambers escrita por ANA


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Minha mãe atendeu na segunda chamada.

"Oi, meu amor, eu estava prestes a te ligar agora mesmo! Acabamos de chegar de uma excursão na reserva. Como você está? Já jantou? Bem que deve estar tarde por aí..."

"Estou bem, mãe. São quase dez horas aqui. Comemos pipoca e chocolate."

"No jantar? Mas isso por acaso é refeição?"

Lá vinha a dona Kriss. Toda preocupada com minha saúde e bem-estar. Tive que rir.

"É que elas quiseram comemorar, você sabe..." Disse um pouco lento já sentindo um revirar do estômago. Eu estava ansiosa, melhor, nervosa para saber o que minha mãe tinha achado de tudo aquilo.

"Comemorar o quê?"

A minha ficha caiu. Ela não assistiu o Jornal Oficial às oito horas. Estava na floresta!

"Ah... É que..." Dei uma pausa olhando para cima.

"Rosie?"

"Você viu ou ouviu as notícias do Oficial de hoje? Alguém comentou algo por aí?"

"Não. O que houve? Espera, não era hoje que eles iriam anunciar as selecionadas?"

"É."

"O que isso tem a ver com comemorar?" Engoli em seco. Era a hora. "Alguém que vocês conhecem foi sorteada?"

Suspirei. Tinha que dizer. Mas como?

"Mais ou menos."

"Como assim?"

"Eu fui." Disse de uma vez.

"O QUÊ? Nossa, acredita que eu ouvi que..."

"Mãe, EU FUI SORTEADA." Meu tom alto assustou Hanna e Taylor que conversavam no sofá. Elas me olharam curiosas. "Mãe? Você ainda está aí?" Falei depois de alguns segundos.

"Isso é algum joguinho que você e suas primas inventaram para me fazer surtar? Porque, se for, não tem graça!"

"Eu não estou mentindo! Se quiser, eu passo o telefone para a tia Lizzie confirmar e se você abrir qualquer jornal que sair amanhã na banca, meu nome vai estar lá. Me sortearam, mãe. Sem brincadeiras. Aconteceu."

"Céus!"

"Eu sei, era matematicamente impossível eu ser escolhida. Não acreditava e agora eu...estou morrendo de medo."

"Céus!"

"Mãe, por favor, fala alguma coisa que não seja repetir 'Céus'. Eu preciso de ajuda."

Ela arfou do outro lado. Ouvi ela respirar fundo algumas vezes.

"Rosie, não vá para o colégio amanhã. Me espera chegar na casa de sua tia. Se eu conseguir um voo cedo, posso chegar à tarde."

"Você vai voltar agora?" Me espantei. Lizzie que passava perto e as meninas se aproximam.

"Escuta, Rosie, eu tenho que desligar. Avisa a sua tia sobre isso e não vá ao colégio amanhã."

"Por que não?"

"Beijos, filha. Eu tenho que ir." Ela desligou o telefone na minha cara. Fiquei em choque. Tinha sido uma boa ou péssima reação dela?

...

Me encarei no espelho já vestida com o uniforme. Camisa branca, calça preta e uma flor hortênsia branca no cabelo, proveniente da minha província. O sapato era uma sandália de salto baixo bege que minha mãe me ajudou a escolher.

Faltavam vinte minutos para que o carro do governo estacionasse em frente de casa. Corri para meu lugar preferido para pensar e passar o tempo. A pequena estufa que meu pai construiu. Ele, como um botânico obcecado, sempre trazia amostras de suas viagens.

O hobbie dele e de minha mãe era colecionar plantas exóticas, mas haviam espécies da região ali também. Observar aquelas plantas e seus detalhes era uma distração que costumava me acalmar. Meu corpo, no entanto, dava sinais de desespero naquele dia. Tinha boca seca e uma sensação de enjoo.

A vida que eu levava mudou drasticamente naquelas últimas duas semanas. Recebemos visitas do governo quase todo dia. Médicos para me examinar; alfaiates para tirar as medidas de minhas novas roupas; homens para repassar as regras da Seleção e o que mais me chocou: guardas. Eles estavam cercando a minha casa 24 horas por dia.

Minha mãe contou que o mesmo acontecera em sua Seleção. Mas, naquela época, as coisas eram piores. A monarquia não era bem vista e os rebeldes, que queriam derrubá-la, planejaram muitos ataques ao palácio e às casas das Selecionadas. Ser parte da Seleção já era um motivo para ser alvo desses homens.

A violência em Illea já não era tão avassaladora quanto antes. Porém, era notório que a família real queria ter certeza da segurança de cada uma das garotas. Entendi porque minha mãe me proibiu de ir à escola assim que soube de tudo.

No dia do sorteio, eu custei a pegar no sono. Ouvia Hanna e Taylor tagarelando sobre a revista e tentando me animar para a competição.

"Será que eu não posso abdicar de ir?" As duas me olharam como se eu tivesse passado maionese no cabelo.

"Você está doida? É claro que você vai! Não pode simplesmente desistir de uma sorte dessas." Hanna disse.

"Mas vocês sabem que eu não tenho interesse nisso. Me inscrevi porque... sei lá... Eu estava curiosa. E também não esperava que pudesse ganhar."

"Mas ganhou. E quem em sã consciência não quer se casar com Osten Schreave?" Taylor pôs as mãos para o alto. Ri disso.

"Eu não sei."franzi a testa" Ele é lindo, mas é só isso que sei sobre ele e..."

"Você está gostando de algum garoto?" A pergunta de Taylor me fez olhá-la sem graça.

"Não." Meneei a cabeça. "Eu não tenho olhado para ninguém ultimamente."

Taylor e Hanna se entreolharam.

"Foi o Tyler?!"

"Não, gente!" Ri afônica."Não tem nada a ver com ele. Eu já falei mil vezes isso pra vocês."

"E a desculpa de amizade nunca colou."Hanna rebateu. "Vocês cresceram juntos. É normal que você tenha se apaixonado por ele."

"Um processo de anos." Taylor completou pondo as mãos nos meus ombros. "Prima, por que então que você sempre odiou a Veronica?"

Cerrei os olhos. Depois da minha mãe, agora elas com esse argumento?

Fiquei de pé.

"Primeiro: Pela milésima vez, não sinto NADA por Tyler. Segundo, eu não sei o que passa pela cabeça de vocês ao apoiarem a ideia de eu ganhar essa Seleção e ao mesmo tempo tentarem me convencer de que gosto dele."

"A gente não disse que você precisa ficar com o Tyler." Hanna disse me surpreendendo. "Pra começar, ele te magoou muito. Não devia ter ficado do lado daquela garota... E você não conheceu o príncipe Osten. Você pode gostar dele e esquecer o Tyler bem fácil."

"EU NÃO GOSTO DO TYLER! E tenho certeza que o Príncipe Osten não vai me chamar a atenção." Esclareci. "Uma coroa na cabeça, um rosto bonito e dinheiro no bolso não são pré-requisitos para que eu caia de amores."

Taylor bufou.

"Então prefere ficar encalhada?"

"Não! Assim que for eliminada da Seleção vou estar livre para ficar com quem eu quiser. E não se assustem se eu encontrar um namorado mais cedo do que vocês."

Dei uma piscada.

"Quem é você e o que fez com minha prima Rosie?" Taylor balançou a cabeça.

"E quem disse que você não vai ganhar a competição?" Hanna semicerrou os olhos para mim."Você tem o dever de jogar na cara da Veronica que consegue coisa melhor do que ela e a gente vai garantir isso! Vamos voltar a falar da revista." Determinou. "A gente precisa estudar todas as concorrentes que ficaram por muito tempo na competição."

"Que tal perguntar à Kriss Ambers?" Disse irônica.

"Isso aí. Boa ideia. Vamos ter uma conversinha com a tia Kriss quando ela chegar" Taylor bateu palmas.

Suspirei e deixei elas continuarem a fofocar sobre as reportagens e fotos divulgadas. O dia seguinte passou se arrastando. Eu estava ansiosa pela chegada de minha mãe. Ela me lançou um doce sorriso e correu em minha direção para um abraço assim que abriu a porta.

"Meu amor, parabéns. Eu queria ter falado antes, mas estava em choque."

"Você está mesmo feliz?" Eu virei a cabeça para encarar seu rosto sorridente.

"Claro que estou! Você vai passar por uma experiência incrível e eu vou ajudar! Porque, caso não saiba, EU estive no castelo e sei TUDO sobre isso."

Tive que rir do seu entusiasmo. Ela me levou para a casa e desde aquele dia se encarregou de me instruir e me ajudar a receber todas as visitas, além de atender telefonemas. Taylor e Hanna passaram uns dias lá em casa se entusiasmando mais do que eu ao ouvir sobre o palácio e a competição. Alguns amigos da minha família, além dos meus avós maternos, vieram me visitar (meu pai e a tia Lizzie eram órfãos de pai e mãe)

Logo na primeira semana, recebemos a família de Tyler. Sua mãe Brianna, o padrasto Lou e seu irmão mais novo Douglas. Brianna me deu um forte abraço sussurrando que já me via como a nova princesa.

Eles se sentaram na mesa de jantar conosco. Fiquei tentada a perguntar onde Tyler estava. Dias passaram desde que brigamos. Eu não tinha falado com ele desde então. Minha mãe, no entanto, foi quem perguntou sobre Tyler.

"Tyler está chegando. Ele estava na casa de um jovem de sua turma hoje."

Minutos mais tarde, a campainha foi tocada e minha mãe me pediu para atender. Andei até a porta a contragosto. Pensei no que dizer primeiro ao vê-lo.

'Desculpe pela grosseria?' Apenas um 'oi'? Ou 'precisamos conversar a sós mais tarde'?

Todas essas ideias foram por água abaixo quando abri a porta e me deparei com duas figuras: Tyler e Veronica. De mãos dadas. Quase abri a boca. Não sabia nem o que dizer diante dessa cena.

"Boa noite, Rosie." Tyler sorriu bem rápido.

Veronica apenas me encarou.

"Oi." destilei a falsidade em um sorriso. "Podem entrar." Dei espaço para que eles entrassem e desviei o olhar para o lado oposto a ambos. Minha vontade? Era de passar com um trator por cima daqueles dois.

Meu pai não demorou a comentar sobre as mãos dadas deles.

"Estamos namorando." Tyler disse se sentando com Veronica ao lado.

Travei o maxilar ao ver que meu lugar ficou de frente para ela. À expressão de divertimento de Veronica, lancei o meu melhor olhar de tédio. Em seguida, mantive a expressão amigável e ignorei eles pelo resto do jantar.

Depois que terminamos de comer, os adultos foram para a sala conversar e eu pedi licença para ir ao banheiro. Estava contando os segundos para que aquela visita acabasse. Antes de entrar, porém, senti uma mão segurar meu pulso.

"O que é Tyler?" Me virei torcendo para ter autocontrole e não gritar nada de ruim. Ele pareceu tentar escolher as palavras.

"Por que sumiu da escola?"

Ergui as sobrancelhas.

"Por acaso não viu a quantidade de guardas rodeando minha casa? Eu faço parte da Seleção agora, corro risco de qualquer mal intencionado querer me machucar para atingir o governo. Não posso me arriscar em lugares públicos."

"Desde quando é tão mal educada?" Cruzou os braços me encarando.

"Ah, não liga."rolei os olhos. "Isso é só desgosto por te ver perder o tempo com quem não vale a pena."

"EU GOSTO DELA." explodiu. "Não dá para respeitar?"

"Meu querido, nem amigos somos mais." Disse a frase com um sabor amargo na boca. "Não preciso te aconselhar de não fazer burrada."

"Você nem entrou no palácio e está agindo como uma esnobe. Já posso até ver, vai começar a se achar uma garota rica e mimada no pouco tempo em que ficar lá."

"MINHA MÃE passou por lá. Eu e você sabemos muito bem que ela não é assim. Se eles por lá são, o problema é deles."

Vi um certo arrependimento nos olhos de Tyler, no entanto, a minha mágoa era muito forte para perdoar.

"Saia da minha frente antes que eu faça um escândalo e peça que os guardas te expulsem daqui."

Apontei para a saída. Tyler ergueu as sobrancelhas.

No fundo, eu não queria ter agido daquele jeito, mas...

"Viu, já está até mandona como os monarcas. Seu lugar deve ser o castelo mesmo."

"Sai."

Repeti e não esperei ele ir: me tranquei no banheiro decidindo ficar ali até que todos os convidados resolvessem sair. 

 


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