Querida Rosie,

Seu pai e eu não saímos do seu quarto. Todas as noites ele insiste em adormecer na sua cama. Ainda estou desacostumada de passar pela biblioteca da universidade e pensar em procurar um livro para te mostrar. Ou em ir até seu quarto com a intenção de te chamar para me ajudar em mais uma lambança na cozinha. E digamos que entre seu pai e você,como ajudante, mil vezes você. Acredita que ele colocou açúcar na carne ontem a noite?

Por falar nele, está do meu lado reclamando por ter te contado isso e está pedindo para que mande as comidas que tem por aí empacotadas para ele provar. Aproveitando esse assunto: que história é essa de que a torta de maçãs é melhor do que a minha? Já estive aí, e eu sei que todas as refeições são mesmo divinas, mas falar que superaram a minha receita é um absurdo!

Tyler esteve aqui em casa no mesmo dia em que você partiu, à tarde, para se despedir. Ele se inscreveu num concurso de Culinária,você sabia disso? A mãe dele me deixou escapar que as inscrições e audições começaram a mais de um mês. Não perguntei o porquê do segredo por estar sem graça, só que fiquei impressionada. Ele sempre foi tão a aberto conosco...

Seu amigo foi para Dakota naquele dia e a cada programa ele aparece na televisão com a equipe de Columbia numa nova província. Ele deixou um bilhete daqueles que vocês sempre compartilharam para que eu mandasse no envelope. Eu não olhei, prometo. Por mais que fique curiosa com o que vocês jovenzinhos andam conversando...

Suas primas também me pediram para mandar o que escreveram no mesmo envelope e seus avós queriam que soubesse que estão encantados com sua fotos da festa. Para ser honesta, todos estamos. Eu particularmente já comprei três edições: uma para levar na minha pasta de trabalho,uma para seu pai, outra para meu uso pessoal em casa...

 Não esperava que se aproximasse tanto da Princesa e do amigo dela(Stefan,certo?). Mas não me surpreende que tenham gostado de você.  Pode dizer a vontade que eu, como mãe, te valorizo,te superestimo, porém, fico feliz que eles,assim como suas novas amigas, estejam ficando  próximos de você.

Espero que isso sirva para que veja o quanto é especial e não continue a falar que é invisível para o mundo e ninguém liga para sua pessoa. Quero também  relembrar meus conselhos: não se preocupe não conquistar muitos amigos. Eles podem ser poucos e verdadeiros,mas bem melhor do que muitos falsos...

A outra coisa a dizer é:Não importa. Curta. Aproveite cada momento. Não deixe que as outras pessoas a impeçam de garantir seu espaço.  Não se compare a mim e ao meu suposto destaque na outra Seleção. Você não é obrigada a vencer,muito menos a mostrar para os outros o que conquistou.

Sei o clima por aí não é fácil. Peço que tenha paciência para suportar concorrentes que forem antipáticas, e desejo que tenha coragem para buscar sua felicidade.  Seja qual for seu caminho, se ficar no castelo, ou sair , trilhe-o com todas as suas forças. Lute pelos seus sentimentos e pelos seus sonhos. 

Mesmo que as coisas não aconteçam do jeito que quer,e você sinta que foi partida em um milhão de pedaços. Sempre há um jeito de recomeçar, de juntar os cacos e contruir um novo futuro. A vida nos prega peças,muitas vezes cruéis, mas temos que olhar ao nosso redor e enxergar coisas boas que possam nos reerguer. Às vezes são as que menos imaginamos...

Não tenho como expressar as saudades que sinto(sentimos), contudo, não quero que se sinta forçada a voltar para casa. Você merece um pouco de independência, um tempo para ver que consegue lidar com a vida por si própria. Por favor, não hesite em me procurar quando precisar de qualquer palavra!

Com um amor intenso e imensurável,

Kriss e Elliot.

P.s : O que te faz pensar que está proibida de ver Mylene? Fazemos questão de te levar,se for o caso.

P.s.2: Espero que essas fotos sirvam para você não morrer de saudades. (Se o envelope fosse maior,eu mandava muito mais).

...

Querida Prima, 

Estou escrevendo por mim e Hanna,porque no envelope que sua mãe mostrou tem muita coisa para colocar... Queremos saber se você já se encontrou com o príncipe. Por favor, me diga que vocês já se beijaram e estão a caminho do altar NESSE momento!Tudo bem,parei. Você tem ideia do quanto gritamos quando te vimos na primeira capa do jornal e de um monte de revistas?Andando pela rua e olhando as bancas,só dá o seu rosto!

Você vai ganhar a Seleção,sem dúvida ou discussão! O principe já deve ter percebido e ficado totalmente caidinho por esse seu jeitinho fofo... Te amo prima, quero o melhor para você! Eu li a sua carta. Sei que você costuma ser bem dramática e pensar que tudo vai dar errado,mas não pode desistir de nada! Foi muita sorte sua estar aí. Muita mesmo.

 Olha que não sou boa em matemática como você, só que sei que a probabilidade era absurdamente pequena de ser sorteada! Por favor, não desista, seja qual for a dificuldade. E quando você estiver noiva e mais próxima das outras realezas, pode tratar de promover eu e Hanna para todos os príncipes e reis que puder. Lembre-se que nós que te fizemos se inscrever e não desistir de ir. Vamos cobrar! 

Saudades, linda! Beijos nossos, da mamãe e do Donald!

Com muito amor,

Taylor/ Hanna.

P.S: Pode começar me promovendo para aquele LINDO do príncipe Lorenzo, que dançou contigo no baile, ok?

...

 Bati meus dedos mais uma vez sobre a mesa da biblioteca. A madeira era  um tanto escura e ressoou facilmente. A uns metros de mim,Jade e Clairy debatiam sobre o que seria bom revisarmos primeiro: Se as aulas do fim de semana que foram base,ou a de hoje de manhã que foi muito mais carregada de vocabulários.

"Sinceramente,não é melhor a gente procurar outro lugar? Daqui a pouco vou falar alemão até sonhando." Jade indicou  as garotas que treinavam conversação na outra mesa.

Bridget, Katie, Florence, Nita, Amelia e Karoline seguiram a orientação de Silvia para estudarem juntas, visto que eram de dois grupos que ficaram com a mesma língua.

"Eu também não estou aguentando mais estudar aqui." Clairy disse recolhendo as folhas. Ela ficou encarregada de para administrá-las para nosso trio." Podemos ir para o Grande Pátio, talvez. Ou para o quarto de uma de nós.O Salão de Mulheres deve estar bem pior..."

Aquilo era verdade. A maioria dos grupos decidiu estudar por lá. Estava uma mistura de vozes em espanhol, finlandês, francês, chinês e norueguês. Phoebe devia estar lá e provavelmente ainda  resmungava por ter que aprender símbolos e sons difíceis.

A menina quase teve um ataque na hora do sorteio. A sorte dela que não teriam que pronunciar tantas frases como os outros grupos, e ela também tinha Suki ao seu lado para tirar qualquer dúvida de chinês o maior prazer.

"Vamos para meu quarto. O sol do grande Pátio deve estar forte uma hora dessas. Anda logo, Rosie." Jade ordenou se levantando. Revirei os olhos.

  A entrada do príncipe Osten fez as  duas travarem a caminhada.

"Boa tarde,senhoritas." Sorriu.

"Alteza." Uma disse.

A maioria se curvou mesmo tempo. Eu já estava um pouco farta dessa polidez.

"Acabei de sair da minha última reunião e queria saber se precisam de ajuda em algo do estudo."

"Sim, e muito, Alteza." A voz era de Bridget. Minha raiva pelo que ela tinha feito à Adelaide só acrescia cada vez que a ruiva abria a boca para ser boazinha com qualquer pessoa da realeza.

Após o jantar de sexta, eu, Suki e Phoebe visitamos Adelaide. Fomos assim que Suki deu a ideia,mesmo que estivessemos curiosas para ver as cartas que, segundo Silvia, já tinham sido mandadas para nosso quartos.

Adelaide estava com os olhos inchados e encarava o teto imersa em seus pensamentos.Ela nos contou o porquê de ter sido eliminada: Bridget armou uma espécie de armadilha.

Uma fotógrafa que estava presente na sala do Jornal Oficial, e que eu realmente vi conversando com Osten,  provavelmente recebeu algo da atriz para tirar a fotografia. Conseguiu o momento exato de Adelaide cercando Bridget e erguendo a mão para bater em seu rosto.

Isso não aconteceu de fato. O flash a fez parar e a fotógrafa fugiu. Adelaide se justificou falando que estava com muita raiva por Bridget ter falado mal de sua irmã deficiente. Bridget caçoou da menina no Salão das Mulheres,quando tiveram a primeira briga, e repetiu isso no corredor, antes de descerem para o Jornal. 

O motivo do empurrão ainda era difícil de explicar. Talvez inveja. A garota disse que se arrependia de ter se gabado para todas em ser a única a ter dois encontros com Osten. Agora tudo estava acabado, porque não tinha prova alguma de que o Bridget fez aquilo com ela.

Eu disse que poderia falar com ele que eu e Clairy presenciamos o fato, mas ela garantiu que não adiantava. A foto estava a caminho das editoras de revistas.Todos pensariam que ela tentou agredir uma atriz renomada.

Osten conversou com Adelaide que seria melhor para ela sair da competição, fazer uma retaliação pública e torcer para que as pessoas,principalmente os fãs da atriz, esquecessem o episódio. Ele sugeriu que ela ficasse até o próximo Jornal Oficial.Adelaide poderia passar esse tempo descansando na ala hospitalar,mas a selecionada pediu para partir na manhã seguinte. Se não tivessemos ido vê-la de noite,nem teríamos nos despedido.

"Que línguas estão aprendendo?"

"Nós três italiano" Jade indicou nosso grupo" E elas, alemão."

Ele concordou cruzando os braços.

" E qual grupo precisa de mais ajuda?"

Sem demora, geral o cercou fazendo muitas perguntas. Ri do desespero delas. Osten não chamou praticamente ninguém para um encontro no fim de semana. Ele estava ocupado com diplomatas da Nova Ásia. Apareceram na hora do café da manhã do sabádo,e ainda deviam estar no Palácio.

Jade e Clairy ficaram frustradas quando Osten  escolheu auxiliar o grupo de alemão. A loira distribuiu os papeis novamente para estudarmos na biblioteca. Era óbvio que elas não iriam querer sair. Não com Osten ali.

Percebi ter o pior desempenho do trio quando as duas travaram uma conversação. Ou já tinham noção da língua,ou pegavam tudo bem rápido. Minutos depois, Jade não teve mais paciência para aguadar Osten e foi atrás dele. Clairy se juntou a ela de plantão ao lado de uma roda de garotas. Osten estava sentado no meio recebendo dúvidas de todos os lados. Balancei a cabeça e me concentrei no que estudava.

Murmurei depois de um bom tempo tentando achar uma palavra no dicionário italiano.  Uma vez minha mãe se animou de voltar a aprender  italiano. Ela tinha pegado o início durante a Seleção, porém como nem eu,nem papai quisemos acompanhá-la, ela desistiu.

Nunca me arrependi tanto na vida. Agora estava ferrada para o Jornal Oficial...

Uma mão pousou em meu ombro.

"Desculpe." Osten riu do meu grito. Tínhamos a atenção da sala. 

"Por quê você sempre se aproxima tão silenciosamente?"Falei baixo.Ele deu de ombros.

 "Sinto muito, se te incomoda.Só queria saber se precisa de ajuda" 

Fiquei em dúvida sobre aceitar ou não. Escolhi uma palavra para não parecer mal educada.

"Eu estava traduzindo algumas frases do italiano para inglês, mas ficaria feliz se me ajudasse a pronunciar isso."

"O que? Ensolarado?

"Sim."

" É Sollegiato"

" Soll..."digo tentando imitá-lo.

"Sollegiato." Repetiu. Fiz um esforço para falar. Acertei de segunda. Osten me pediu para pronuciar mais duas vezes.

"Agora tenho certeza que aprendeu." Retribui o sorriso." O que mais você tem de dúvida?"

Tentei fazer de tudo para ignorar os tiros invisíveis direcionados a minha pessoa,assim que ele puxou uma cadeira e sentou do meu lado.Osten não tinha ideia do quanto estava me lascando.

"Obrigada, mas não preciso de muita ajuda por enquanto. Só tenho que terminar de traduzir essas frases com o dicionário."

Sorri amarelo e ergui o objeto.Ele inspirou olhando brevemente para cima.

"E sabe pronunciar todas essas frases?"

" É... Mais ou menos."  

"Acho bom você aproveitar que estou aqui. Eu falo italiano desde os quatro anos de idade. Devo servir bem para te ensinar."

"Desde o quatro? Mentira!"

"Verdade."

"Céus, nessa idade eu mal sabia ler!"Ele achou graça."Estou falando sério. Minha mãe quase entrou em paranoia quando viu que vários colegas da minha classe conseguiram primeiro. Ela me deu aulas em casa só para garantir.Era uma tortura."

" Então era má aluna..."

"Acho que sim." Sorrio sem graça diante de seus olhos semicerrados."Eu tinha preguiça. Isso foi só no início.Depois eu meio que virei a mais desesperada da turma para dar conta da matéria e das provas." 

Ele se recostou na cadeira. 

"Eu demorei bastante tempo para gostar de estudar. Meus tutores me odiavam e eu odiava eles."

"Uh... que coisa." Ri.

 "Eu fazia pegadinhas com os que mais me irritavam." Fez uma cara divertida perante minha surpresa."Sempre gostei das idiomas. Esses professores não sofriam muito."

 "Você fazia que tipos de pegadinha?"

"Depende." Passou a mão na testa."Eram tachas e pregos na cadeira...Ingredientes estranhos no café... animais no meio de maletas e pastas... Essas eram as mais leves."Riu fraco da minha cara de choque."Vou parar por aqui.Se não, daqui a pouco, vai me achar um maluco. Relaxe, não sou mais assim."

"Você era muito malvado...Quantas línguas aprendeu desde pequeno?"

"Que eu lembre comecei com italiano, que nem Kaden. Quando fiz sete, fizemos francês como Ahren e, aos dez, eu estudei espanhol com a Eadyln. E, depois, com onze anos,resolvi acrescentar várias."

" E hoje você fala quais?" Eu estava intrigada.

" Inglês,alemão, chinês, japonês,  norueguês, finlandês, latim,francês, italiano, árabe, espanhol..."

Ele sabia até mais do que Suki...

"Chega." Levantei a mão." É muita humilhação pra mim, eu só falo inglês e francês."

Osten sorriu.

"Eu sei. Mas já está acrescentando italiano à lista. Então..."Apontou o papel."Acho melhor voltarmos a realidade. Não que não tenha sido bom conversar."

"Ah é"Tampei a boca rindo.

Eu me desliguei totalmente do foco.

"Vai querer que te mostre mais  pronúncias?"

Ele pareceu animado quando concordei. Dei de ombros internamente. Não custava nada. Quando iria ter sua ajuda de novo?

Scusami.Piacere di conoscerti. Come ti senti? Sto bene grazie. Sono cattivo ouvi. Sono stanco.

Com licença. Prazer em conhecê-lo. Como você se sente? Estou bem, obrigado. Estou mal hoje. Estou cansado.

Era esse tipo expressão cotidiana que Osten mais enfatizou. Ele se esforçava muito para não rir quando eu errava feio e me mandava continuar, por mais que eu  estivesse desanimando. Ficamos quase quinze minutos pronunciando, até que Katie e Florence chegassem dizendo que tinham dúvidas cruciais.

"Lembre de treinar bastante essas palavras que eu marquei com a caneta."Disse se levantando." Pode estudar todos os outros vocabulários,mas esses,eu acho essenciais." 

"Obrigada pela ajuda. Se não fosse por você." Sinalizei um corte no pescoço.

"Por nada."Riu e foi com as meninas para o lado oposto da biblioteca.

...

Rosie,

Sei que não estamos numa boa fase,mas preciso falar sobre algumas coisas. Peço perdão pela minha grosseria e pelas coisas que falei. Eu agi sem pensar,só que não posso controlar meus sentimentos, entende? Queria que você e Veronica, se conciliassem, de verdade. Torço por isso.

Não pense que me esqueci de você.É impossível arrancar alguém que criou raízes no fundo de seu coração, sem retirar um pedaço dele e deixá-lo ir à falência. Nada apaga o que vivemos juntos. Você,com raiva ou não de mim,é a garota que espero sempre ver e fazer sorrir.

Eu ficaria feliz se visse ao Programa de Culinária Juvenil de Illea. Estou dentro dele. Era para ser uma surpresa...porém, não pude contar como quis. Se quiser assistir(sei que no Palácio deve ter televisão),o canal está escrito no verso.

Com amor,

Tyler

Eu realmente gostava de Tyler? Era tudo tão novo,ainda tão difícil de aceitar. Eu já tinha chorado, sentia muita falta dele, até tinha feito uma carta de declaração. Só que,às vezes, era complicado compreender como meu melhor amigo havia trocado sua categoria, e se tornado algo mais para mim em poucos dias.

Refleti sobre isso por um certo um tempo deitada na cama, após o jantar. Eu teria que ir para o Salão de Mulheres, como combinei com Phoebe no café, para ver o primeiro programa de culinária da semana. Antes daquela carta  não queria, mas ela me trouxe uma mudança. Não seria mais impossivel olhar para o rosto dele.

Tyler ainda era meu amigo. Eu estava imensamente aliviada continuar tendo importância para ele, apesar de não estar muito contente com certo trecho de sua mensagem.

Dobrei e desdobrei o bilhete várias vezes.Ele tinha um formato peculiar. Sempre o fizemos em forma de um origami quadrado. A mensagem era no centro e dobrávamos de um jeito que ela não aparecia.

Isso era a nossa a forma de comunicação na escola. Quando queríamos marcar de ir a uma lanchonete, seus jogos... ou apenas para uma marotona de séries na casa de um dos dois,era só colocar na mochila do outro.

Tyler, às vezes, era de provocar. Escrevia no meio das aulas e jogava o papel na minha mesa durante a explicação dos professores. Ele quase se matava de rir, pois eu ficava maluca para enconder.

Os professores que pegavam os bilhetes gostavam de ler em voz alta e eu fui uma azarada de não conseguir camuflar um a tempo.A professora de matemática,do início ensino médio, leu palavras constrangedoras de Tyler para mim. 

A claridade do dia está deixando seu cabelo mais reluzente do que o ouro. Tem certeza que você não é nenhuma joia rara perdida? Te espero na entrada, após a aula.

Meus colegas debocharam de nós por um bom tempo. Tyler era de me escrever alguns elogios nos bilhetes, como se estivesse me cantando. Eu já estava até acostumada a brincadeira, no entanto fiquei muito envergonhada por isso ter se tornado público. Por sorte, o romance dele com a Holly, fez com que as chacotas parassem.

Suspirei ao ver que precisava me apressar para o Salão das Mulheres. Phoebe e Suki estavam conversando no sofá.

"Ah, até que enfim você saiu daquele quarto!"Phoebe ergueu as mãos,assim que me viu. Ri me sentando ao lado delas.

"A gente estava até comentando que se não tivéssemos sacado esse seu jeito reservado,iríamos achar que não gosta de nós." Suki disse.

"Desculpa. Mas vocês também sumiram o dia inteiro e na hora do jantar."

" Estávamos estudando."Phoebe deu língua."Jantamos no quarto da Suki com a Wendy. Está simplesmente muito difícil gravar tudo o que vamos falar."

O comercial acabou dando lugar à abertura especial do programa. Logo, um apresentador apareceu em numa sala de iluminação branca. Dois comentaristas estavam atrás dele em um dos sofás.

"Boa noite, queridos espectadores. Eu sou Gabbe Steven e, no programa de hoje, temos a participação de dois convidados especiais: Karl Sandler e Phill Dawn." Ambos acenaram para a câmera. "Vamos mostrar a seguir o resumo 'maratona da cozinha' de nossos grupos competidores. Eles passaram o dia fazendo pratos pedidos pelos jurados aqui na província de Kent. E as três equipes com maior desempenho estarão presentes conosco, no final,para uma entrevista."

Rodaram imagens de uma cozinha cheia de seções,uma para cada equipe. As cozonheiros brincavam com os repórteres. Os mais velhos tinham, no máximo,a idade das minhas criadas.

As meninas comentaram do penteado e maquiagem das cozinheiras e da beleza dos cozinheiros,como esperado. Fiquei inquieta as cenas da equipe de Columbia.

Fizeram um close no rosto de Tyler. Reparei em sua testa franzida. Ele cortava alguns legumes para jogar na sopa. Sempre o considerei bonito,mas vê-lo ali foi como se estivesse vendo-o pela primeira vez. Como aqueles garotos com quem que cruzava no meio da rua e simplesmente ficava tentada a olhar mais.

Reprimi esse pensamento passando as mãos pelo cabelo. O tempo passou e mostraram o que eles e outras equipes fizeram. Dois bolos e uma torta. No momento da prova final do dia um repórter abordou equipe dele.

"E então, Columbia,vocês ficaram com a sobremesa essa noite. O que vão fazer?"

"A receita de suflê de chocolate do Tyler." O que tinha  o nome Fred escrito no crachá apontou meu amigo, que deu um aceno de longe.

 Tyler estava com seu sorriso de sempre. Usava uniforme branco e um daqueles chapeis de chef. 

" Ah,receita pessoal.A maioria dos grupos está fazendo pratos sugeridos. É certeza que ficará bom?"

"Divino." Meu amigo sorriu. A cena foi cortada para o prato pronto. Sorri quando o avaliador mostrou de satisfação ao provar.

"Aí, agora eu que estou morrendo para comer esse suflê." Phoebe comentou. "Deve estar muito bom mesmo."

Ri.

Ela não fazia ideia do quanto. 

Eu vivia no pé de Tyler para ele fazer para mim. Me perdi nas lembranças e nem prestei atenção no trabalho de outras equipes.E logo a imagem dos apresentadores a sala branca volta.

"Como prometido, vamos receber as tres equipes mais bem sucedidas da prova de hoje. Em primeiro lugar, Waverly, segundo Columbia, terceiro Allens."

Vibrei por dentro ao ver Tyler entrar com o resto dos candidatos. Ele se sentou no meio de um dos sofás bem a vontade para trocar cotoveladas com Jean. Após diversos elogios e piadas com o números de cartas que fãs estavam mandando para os cozinheiros, iniciaram as entrevistas.

 A maioria tinha histórico como Tyler:incentivado pela famila a cozinhar  desde a infância. Um deles era filho de cineastas e outro filho de agricultores. Gabbe também perguntou sobre as expectativas dos participantes: onde pediriam para trabalhar se fossem os finalistas ou vencedores.

"Penso em Columbia, porque é a minha província de origem. E eu gosto mesmo daquele lugar. Mas, muito provavelmente, eu escolha Clermont. É onde minha namorada acaba de passar numa agência  de Modelos,e eu estou aberto a essa nova possibilidade."

O que me deixou sem chão foi a certeza no olhar de Tyler.

" Hum... parece que as coisas estão bem sérias entre vocês dois." Gabbe diz." Qual o nome dela?"

"Veronica Brooks." Tyler abriu um sorriso.

" Desejo o melhor e sucesso para vocês." 

"Obrigado"

...

 Desde criança, cresci assistindo professores chamando atenção de vários alunos que se dispersaram da aula. Eu, como uma aluna centrada nas explicações, nunca pensei que um dia fosse passar por isso. O som de um dedo estalando a minha frente fez a minha mente processar que tinha me perdido nos pensamentos por mais tempo que o normal.

"Senhorita Ambers, pode para voltar ao mundo real?" Grace,a tutora de meia idade,alta e morena que vinha dando aulas de italiano para meu grupo numa sala particular estava com o rosto fechado para mim. Mais uma vez.

Ouvi uma risada abafada. Sabia que era de Jade na cadeira ao lado. 

"Sinto muito,Grace. Não vai mais acontecer."

"Mesmo? Porque pelo o que percebi,você parece mesmo gostar de encarar essa lousa." Apontou para a parede atrás dela, onde um quadro improvisado num apoio de madeira e recostado na parede estava repleto de frases."Quero ver o seu caderno."Roubou do meu colo. "Você não anotou nem a metade.. Não é a primeira vez que te flagro com a mente longe nas minhas aulas. Você começou tão bem,garota. Já estamos na véspera do Jornal e está aí desinteressada?"

"N-não é isso, eu estou me esforçando,sim, tenho feito todos os seus exercícios.Só..."Parei reparando no olhar de Jade e Clairy sobre mim. Não poderia dizer que estava com problemas internos para elas fofocarem para as outras e inventarem histórias."Foram uns descuidos. Eu vou cuidar para que isso não atrapalhe sua  aula."

"Não atrapalha a mim. Atrapalha a suas colegas. Estão muito a sua frente. A diferença é mais de quarenta pontos!" 

Arregalei os olhos perante sua fala. Nos três testes de pronúncia que ela deu nos dias passados,eu sabia que não tinha sido lá tão boa. Não esperava estar tão ruim assim.

"Se me permite dizer, Grace," Jade interrompeu."Rosie tem errado bastante o diálogo que vamos ter que fazer. Todos os dias, ela é a primeira a ir embora da biblioteca. Depois do jantar todo mundo vai consultar livros e prefere o jardim ou para o quarto. Não parece estar estudando."

Eu engoli os mandos e desmandos da morena durante a semana inteira. Onde, e quando iríamos estudar, além do fato dela caçoar quando eu errava uma pronúncia e dizer que era a pior do grupo. Aceitei,pois era mesmo. Mas deixá-la denegrir minha imagem para a tutora, falando que eu não tinha em esforçado nem um pouco para melhorar,isso era demais.

"Eu estou estudando.Tudo bem que faço isso que está falando, mas você não fica do meu lado vinte e quatro horas para saber se estudo ou não."

"Se estivesse estudando de verdade,não estaria errando o que temos que falar amanhã.Grace,você podia ver como está o nosso diálogo agora mesmo. Ela está péssima."

"Não é tanto assim. E você e Clairy me disseram esses dias que já tinham estudado italiano."Me virei para Grace." A Jade já visitou a Itália para desfiles de moda e a Clairy aprendia italiano na escola. É por isso que erro mais que elas."

"Então devia, no minímo,estudar mais que nós, querida. Se você fizer feio,todas faremos."

"CHEGA, vocês duas. Vou ter que concordar com a senhorita Bennet. Você deveria estar mais empenhada se tem dificuldade. Ou não quer disputar o cargo de princesa?"

Balbuciei um 'desculpe'. 

"Desculpas não vão mudar sua penalidade." Se encaminhou até uma mesa. Anotou algo na prancheta."  Não seria justo com Jade e Clairy deixar registrar seu mal desempenho. Isso vai para relatório que o príncipe está requerendo dos tutores."

Jade me olhou com uma expressão debochada. Podia imaginar porquê:

Nas duas outras tardes,desde que Osten me ensinou na biblioteca,estudamos ali por causa de sua promessa de aparecer no mesmo horário para nos ajudar. E o príncipe veio falar comigo outra vez. Perguntou brincando se eu já estava 'dominando o italiano'. Eu disse que não tinha como fazer um 'milagre de um dia para o outro'.

Sentou ao meu lado e achou dois erros de ortografia italiana no meu caderno. Clairy e Jade se aproximaram enquanto ele explicava. Eu pude ver nos olhos da modelo o quanto ela estava com raiva da situação. Jade sugeriu que Osten avaliasse a pronúncia e escrita de todas ao mesmo tempo. E foi isso o que ele fez.

Percebi o quanto ela ficava feliz em demonstrar que era melhor que eu. Clairy não ficava atrás. E também vi os olhares de tédio toda vez que Osten parava tudo para que eu repetisse uma frase que não tinha ficado boa. Se não fosse por ele,eu estaria bem pior. O problema é que quando eu tentava repassar sozinha, algumas palavras do diálogo ficavam engasgadas. Eram muitos sons novos e eu esquecia vários.

Estava desconfiada de que Osten vinha falar comigo, porque queria apagar todo nosso desentendimento e que eu levasse uma boa impressão dele para casa. Nem precisava. Outra coisa que notei em suas ações foi pena.

No segundo dia, Osten me ajudou a levar pilha de livros em italiano para a mesa. Aproveitou para comentar que tinha reparado no meu rosto desanimado, desde que entrou na biblioteca. Eu realmente estava melancólica. Teimava em pensar no que me deixava triste.

O príncipe perguntou se tinha a ver com o episódio do banco. Respondi que 'mais ou menos'. Ele se justificou dizendo que queria confirmar se era algo errado com minha saúde ou família. Disse que sentia muito e não acreditava que uma amizade de uma vida podia se desfazer com um pequeno desacordo. Assenti agradecendo, apesar do problema não ser aquele.

Eu teria que fazer um resumo sobre a primeira página de cada um dos livros. Daria um bom trabalho traduzir tudo. Osten se ofereceu para fazer um. Os olhos da morena mostraram mais insatisfação ainda. Ela e Clairy pediram para que ele também as ajudasse. 

"Tem relatório sobre mim?" Clairy questionou. 

"Sim. É para cada uma, mas não se preocupe. Eu percebi uma clara diferença de esforço aqui." Me olhou séria."Vamos ver como está o diálogo de amanhã. Se você não estiver a altura, irá receber um discurso para recitar sozinha."

 "O QUÊ? Um discurso?"  

"Sim". 

"Mas..."

" Já está decidido, senhorita Ambers. Deseje que isso não aconteça."

Abri a boca,sem palavras, e sentindo meu coração acelerar. Estava muito em cima do Jornal para treinar outra coisa. Eu iria errar tudo.

"Por favor, Clairy,me passe uma cópia do diálogo para eu avaliar vocês todas falando".

A loira rapidamente atendeu ao pedido.

...

 "Você parece tensa. Está tudo bem para amanhã?" Phoebe me perguntou durante o almoço. Sempre aproveitávamos esses horários para falar sobre o estudos ou sobre as especulações para os próximos encontros.

Phoebe,finalmente,conseguiu oseu no dia anterior,porém, corria o boato de que as meninas que ainda não tinham tido o delas poderiam ser eliminadas. Era sobre isso que ela falava e eu alternava respondendo 'sim' e 'talvez'.

"Na verdade não." Respondi e expliquei os incidentes da aula." Vou ter que recitar o discurso sozinha amanhã. Não tem como mudar e eu estou nervosa."

"Ele é muito grande?" 

" Não sei. A Grace vai entregar hoje a tarde."

"Não fica assim." Segurou em meu ombro." Você consegue. Se estiver com dificuldade,só procurar a Suki. Ela te ajuda. Está fazendo uma milagre comigo. Consigo falar até paralelepípedo em chinês."

Não segurei o riso. 

"Sério?Mas vocês não tem que falar isso,né?"

"Não. Eu que perguntei."

Ela me ensinou essa e outras palavras novas em chinês.Algumas meninas ficaram estranho, e quem disse que Phoebe ligou?

Após a refeição, Phoebe e Suki foram estudar de novo com Wendy. Combinamos de assistir televisão a noite. Achei Clairy perto das escadas e perguntei das folhas do discurso.

"Está no meu quarto. Vem comigo."

Andamos em silêncio até lá.

"Fique a vontade. Vou pegar na pasta"disse vasculhando seu guarda roupas."Grace quer a cópia de volta para arquivar. Se quiser te dou uma folha para você copiar a mão."

"Obrigada."

...

" Até ele não é tão grande."Comentou. Eu escrevia em sua escrivaninha." Você vai conseguir falar,eu garanto."

"Espero." 

Trocamos um sorriso.

"Grace me mandou te ajudar a pronunciar. Sinto muito pelo o que está acontecendo. A Jade é uma completa víbora."

" E oportunista" completei.

" Tomara que ela não seja a próxima princesa. Do contrário, tenho pena de Illea."

"Eu também..." disse terminando de escrever.

Clairy me surpreendeu ao passar uma quase uma hora comigo corrigindo minha pronúncia. Agradeci no final e voltei para o quarto.

Guardei a folha na gaveta do criado mudo.Avaliei o relógio. Metade da tarde. As garotas já deviam estar indo para a biblioteca. Jade e Clairy repassariam suas falas agora sem mim. Eu poderia estudar mais meu discurso por lá ou ali no quarto.No entanto, estava cansada disso. Decidi sair para esfriar a cabeça. Mais tarde retornaria.

Estava tudo bem calmo no corredor do primeiro andar. Em breve, minha vida em Columbia seria assim:silenciosa. Em casa e na escola estaria mais sozinha do que nunca.

Suspirei cruzando os braços ao redor do corpo. Depois do concurso,Tyler iria para Clermont. Eu poderia pedir para trocar de colégio. Ir para o de Taylor e Hanna era uma boa opção.

Mas seria difícil convencer meus pais,visto que era do outro lado da cidade. E, embora eu conseguisse,nada seria como era, porque não haveria mais Tyler.

Não posso controlar meus sentimentos, entende?

Aquela frase infeliz estava de volta a minha mente para me importunar. Ela indicava que Tyler gostava mesmo de Veronica. E ver ele admitindo aquilo doía. Bastante.Isso até me atrapalhava a estudar e me concentrar nas tarefas,o que dava raiva. Parecia até que eu gostava de sofrer pensando sem parar no assunto...

Phoebe me informou, sem que eu perguntasse, sobre os resultados de outras três  edições do programa.A equipe dele continuava entre as primeiras.Não duvidava nem um décimo de que Tyler ganharia o emprego em Clermont,o suficiente para o fazê-lo criar raízes do outro lado do país...

Você,com raiva ou não de mim,é a garota que espero sempre ver e fazer sorrir.

 Aquilo,infelizmente,não iria ocorrer.  Tyler não faria mais parte da minha rotina.Eu tinha perdido ele para Veronica.

Passei pela porta de vidro. O aroma das flores do jardim me distraiu. A estufa não estava aberta como de costume. Girei a maçaneta e vi que, felizmente, não tinham trancado a porta. A pessoa que estava em pé junto a fonte se virou para mim de imediato.