The Last A: O Último Anis escrita por Hunterx


Capítulo 1
Prólogo




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Tokyo, 9:45 pm / Ano 2002

Carros trafegavam pelas ruas estreitas e barulhentas da cidade. Pessoas caminhavam pelas calçadas, voltando para casa depois de um dia cheio. O clima mostrava-se instável, com ventos fracos e ar fresco. Com o céu nublado e com relampejos que anunciavam uma precipitação futura.

Era um apartamento comum, daqueles pequenos, onde vivia a família Hawoen, que se estabeleceram no Japão depois de se conhecerem no exterior. Falkner Hawoen nasceu na Coréia e sua esposa, Christina Hawoen, nasceu nos Estados Unidos. Curiosamente, ambos tem descendência japonesa por parte de pai. Os dois se conheceram durante um congresso de medicina e desde então estreitaram o relacionamento até se casarem no início dos anos 90. Pouco tempo depois tiveram um filho. O batizaram como Jason Hawoen, em homenagem ao pai de Christina. Antes de se consolidarem em Tokyo, viveram por 8 anos em Etofuru, uma ilha de propriedade Japão-Russia ao norte do país. Foi lá que o jovem cresceu. Mesmo com os constantes pedidos de ficar, seus pais teriam de ir para a capital de qualquer maneira, a fim de adquirirem crescimento profissional. Porém muita coisa aconteceu desde então...

Durante aquela mesma noite, durante o jantar, a família estava sentada a mesa, e conversavam. Falkner diz:

—Diga-me Christina, como foi a reunião de ontem? Não consegui chegar a tempo pois a clínica estava cheia.

E sua esposa diz:

— Não perdeu muita coisa. Toda vez que Yoshida falava algo sobre o projeto, um de seus assessores interrompia e não o deixava continuar. Diziam ser de caráter particular. Muito estranho...

—Mas isso é muito comum deles. Por isso que Yoshida não os suporta.

—Sim, eu sei. Todo mundo não gosta deles, mas são os únicos que tem conhecimento daquele tipo de projeto.

 

E interrompendo a conversa, Jason diz:

— É sério mesmo que vocês vão ficar tratando de negócios a mesa?

 

E seu pai toma a palavra.

—Relaxe, Jay. É somente uma conversa informal, hehe.

—Informal, sei... Desde que viemos pra cá faz alguns anos vocês sempre ficam com essa informal. Estou ligado no macete de vocês.

—Então me diga, como foi na escola hoje?

—Finalmente uma conversa real... Bem, estou tentando entrar no time de basquete.

—É verdade? Seria muito bom.

—Sim. Eu também teria mais chances caso vá para a faculdade.

—Sim, é verdade. Mas o que falta para que entre?

—O capitão do time me recomendar ao treinador.

—Mas Jay, isso não seria trabalho para o técnico?

—Seria caso não houvesse panela naquela droga de time. Eles são muito fechados e não aceitam gente de fora sem aceitação do capitão. É um código de ética deles. Besteira...

—Paciência. Isso é política. Vá se acostumando...

—Eu sei, mas é um saco...

—Bem, você vai conseguir.

—Obrigado, pai.

 

Terminado o jantar, Jason, já em seu quarto, lia um livro. Sua mãe, percebendo, diz:

—Ainda acordado, às? Já está tarde.

—Vou terminar esse capítulo e já vou dormir.

—Muito bem então. Até amanhã.

 

Mas assim que sua mãe iria sair do quarto, ele a chama.

—Mãe...

—O que? Quer que te conte uma história?

—Já passei dessa idade, não acha?

—Sim. Só estou brincando com você. O que houve?

—Eu estou lendo agora pra poder ficar calmo pra amanhã.

—E o que te preocupa? O time?

—Sim... Isso é muito importante pra mim.

—Você tem tudo a ver com meu pai...

—Como assim?

—Ele amava basquete. Só falava disso.

—Legal!

—Mas o que te preocupa? Acha que não pode?

—Eu sempre leio pra conseguir as coisas, mas desta vez é algo além das minhas capacidades...

—Relaxe... Tudo vai dar certo. Você sempre consegue.

—Eu sei, mas... Fazer isso tudo e sozinho...

—Você nunca estará sozinho. Estaremos sempre com você, seja como for, onde for e com quem for. Sempre estaremos com você, fazendo a força de três pessoas em uma! Você sabe disso, não? Me diz a frase que te ensinamos! Vai!

— Preciso mesmo?

— Sim!

— No maior dos problemas, estaremos sempre juntos. Somos três, somos Hawoen!

— Isso! Não se sente melhor?

— É um pouco vergonhoso, mas sim... Me sinto melhor.

 

Logo seu pai aparece a porta, dizendo:

— Que vergonhoso que nada, rapaz. Amanhã você vai entrar para o time. Está escrito. Estaremos lá para te apoiar.

—Valeu pelo apoio, mãe. Adoro vocês.

 

O tempo passa. E Jason teve perdas...

 

Tokyo, 7:00 pm / 2006

Colegio de aplicação de Tokyo

“Hoje é meu dia... E hoje é O Dia.

Esperei muito por esse momento e lutei contra todos sem nem pensar em desistir. Na verdade eu nem conheço o que seria desistir. Nunca me passou pela cabeça ter de fazer algo tão covarde. Hoje irei disputar a final do torneio de verão de Tokyo e iremos vencer. Não menosprezo o time adversário, tampouco subestimá-los. Mas eu estou na quadra e nela sou eu que dito as regras. A primeira é que, se eu passar, é cesta. A segunda, se eu passar a bola, meu companheiro de equipe vai encestar, pois eu o colocarei na boa. E a terceira, se levarmos uma cesta eles levarão dez... “

 

Jason Hawoen, depois de entrar para o time da escola, conseguiu de fato, anos depois, de fazer parte do time do colégio de aplicação de Tokyo. Era uma agremiação das mais conceituadas, principalmente por futuros atletas. Após seu sucesso na escola, foi convidado a ingressar ao grêmio.

 

Desnecessário dizer que se tornou um dos melhores jogadores e até mesmo alguns clubes já estavam de olho em seu talento.

 

A grande final transcorreu exatamente como ele já pensava. Tudo foi dentro dos conformes, com seu time tomando conta do jogo desde o início. Apesar da diferença no placar, de escore 104 a 76, houve muito respeito por parte do time vencedor e principalmente por Jason, este que em nenhum momento facilitou nenhuma jogada, tendo desempenho em 100% do que poderia oferecer. Essa era sua especialidade: ele se entregava em quadra, jogando em praticamente todas as posições. O respeito era mútuo. Nem mesmo seus adversários o tinham como inimigo e sim como um rival a ser batido. Muitos diziam que continuavam a jogar basquete motivados a um dia poder derrotar Jason em quadra.

 

Ao fim do jogo, pois times se cumprimentaram, e após a merecida comemoração do time do colégio de aplicação. Todos comemoravam, mas Jason mostrava-se diferente dos demais. Embora ninguém o critique por seu desempenho em quadra, já fazia alguns meses que o jovem não sorria, mesmo em triunfos como esse.  Ao fim dos festejos, todos festejavam, com exceção de Jason. Já agasalhado com o uniforme do time, o jovem foi até a quadra, que já estava somente com iluminação pela metade.

 

Se dirige até o centro da quadra e, pensativo, fica alí imóvel. Logo ruídos de passos são ouvidos. Uma jovem, usando uniforme escolar, com curtos cabelos de cor preto, se aproxima do rapaz, e diz:

— O que faz aqui, Jay? Já está bem tarde.

 

Mas Jason fica mudo, sem nem ao menos olhar para a jovem, que insiste:

— Você não aparenta estar contente pela vitória.

Jason, de forma fria, continua a conversa:

— Não tente me agradar, Reika.

— Ah finalmente acordou. Já estava ficando preocupada.

— Com o que?

— Bem, nos já...

— Você desistiu, lembra?

— Sim, mas... Eu nunca esqueci você.

— Você teve sua chance.

— Então é assim? As coisas não funcionam como deveriam e você desiste de mim assim?

— Quem desistiu de tudo foi você, não eu.

— Então porque não arruma as coisas?

— Arrumar o que?

— Porque não volta pra mim?

— Reika, não entendo você. A todo instante você tenta jogar toda a responsabilidade em cima de mim e na verdade a perdedora aqui é você.  Explique sua lógica, porque tá duro de entender.

— Você não quer voltar pra mim, é isso?

— Entenda bem: como posso pensar em voltar quando eu nunca quis desfazer nosso namoro? Você desistiu, eu respeitei sua escolha. Não vou dizer que aceitei sem sentir nada, mas eu não fiz nada errado. Sempre estive com você, sempre te dei o que quis. Mas o perdedor aqui não sou eu. Tenha dignidade.

— Muito bem... Está bem... Está bem...

— E eu sei porque está aqui. E não há nada que possa fazer para me impedir.

— Você sabe que não tem de fazer isso... Pense em todos...

— E em mim? Eu não posso pensar? Eu devo mesmo me importar com as pessoas a minha volta mais do que a mim mesmo? Não, Reika... Não estou sendo egoísta. No momento todos vocês estão sendo egoístas. 

— Não diga isso!

— Digo sim. Durante todos esses anos que estive aqui todos foram praticamente uma família pra mim, mas eu preciso mesmo andar com minhas próprias pernas. Todos vocês me ajudaram de uma forma que nunca na vida poderei nem pagar a metade. Mas mesmo assim, seria egoísmo vocês exigirem que eu fique. Eu tenho minha vida. Respeite isso.

— Mas..

— Quero ser feliz, nada mais. Quero sair de toda essa bagunça e levar minha vida tranquila.

— Mas sua carreira como...

— Como jogador? Gosto muito de basquete mas não posso me resumir a ser somente um jogador. É um mundo de muita gente que só te abraça quando você tem talento...

— Mas você tem talento. 

— Por quanto tempo? Nada é pra sempre. Tudo muda com o tempo...

— Mas Jay...

— Eu não vou desistir dos meus sonhos.

 

Reika respira fundo, evitando a fala. Logo, olhando para o lado, diz:

— Quando eles se foram, você mudou um pouco...

— Eles nunca se foram. 

— Jay... Falo sério...

— Eu também. Porque brincaria com isso?

— Não sente falta deles?

— Como posso sentir falta de algo que nunca perdi?

— Hum... Vamos sentir..  Digo, vou sentir sua falta. Etofuro é o seu destino, não?

— Sim. Como disse, vou voltar minhas origens e construir minha vida por lá...

— E quer mesmo fazer isso tudo sozinho?

— Eu nunca estou sozinho...

 

                             Continuando...

 

Apartamento de Jason, 9:00 am

Tudo já estava devidamente arrumado. Já aprontando as últimas malas, Jason recebe a visita de seu tio, que diz:

— Jason, sem querer criticar sua escolha, mas não seria mais prudente terminar o ensino médio aqui em Tokyo? Já tem amizade por aqui e...

— Não. Essa mudança vai me ajudar.

— Como assim?

— Não tenho intensão alguma de voltar, tio. Guardo um carinho muito grande por todos vocês, mas não por essa cidade.

— Jason, você não teve culpa de...

— Não me interessa falar disso outra vez.

— Eu sei, mas...

— Eu entendo sua sentimentos, tio. Mas eu realmente estou focado na minha viagem.

— Já avisou a todos em Etofuru?

— Sim. Já conversei com minha tia.

— E o que ela disse?

— Bem, ela não esperava com isso, mas disse que poderia ir sem problemas.

— Você sabe que Azika iria te ajudar, seja pra o que for.

— Sim. A única coisa que vai me incomodar é a monstrinho, mas fazer o quê...

— Hehe. Está faltando da Iamiko, não? Vocês brigavam muito quando crianças.

— Não vai mudar muito. Eu ainda não gosto dela. Sempre falando besteira e me irritando.

— Mas ela é sua prima. Não faça nenhuma besteira, rapaz.

— Vou tentar.

 

Ao fim da conversa, Jason aprontava a última mala. Seu tio o aguardava, esperando-o em seu carro. Depois de alguns minutos, o jovem adentra ao veículo e coloca seu sinto. Seu tio, parecendo incomodado com algo, diz:

— Não vai se despedir?

— Bem, vou fazer isso no aeroporto.

— Não. Me referia a sua casa.

— E porque?

— Não preciso nem responder, não acha?

— Tio, já superei tudo isso. Não sou de ficar bancando o sentimental pra tudo. Estou ciente de tudo e é melhor que esse assunto acabe aqui, tudo bem?

— Tudo bem, Jason. Eu entendo.

 

Já no aeroporto, Jason e seu tio esperavam no saguão de embarque. Lá conversavam.

— Bem, Jason... Está sabendo que assim que chegar por lá você vai precisar tomar vacinas, não? Houve um surto de doenças lá nos últimos anos. E quando chegar no colégio, não esqueça de levar o documento de transferência. Lá também impuseram um toque de recolher as dez horas da noite para todos os jovens.

— E porque isso?

— Bem, pelo que Azika disse, houve uma onda de acontecimentos e geralmente aconteciam a esta hora mais ou menos. As autoridades colocaram então essa regra e somente adultos poderiam transitar pela cidade. Mas mesmo assim, pelo que sua tia disse, aconteceu certas coisas com adultos também.

— De que tipo?

—Muitas pessoas foram parar no hospital com perda de memória. E algumas, além desse detalhe, sofreram agressões. Então respeite tudo isso, está bem?

— Tudo bem. Se está acontecendo isso, nada mais justo que levar a sério.

— Exatamente.

 

Eis que enfim é notificado pelo auto falante do aeroporto o vôo para Etofuru, o qual Jason aguardava. Já na plataforma de embarque, o tio de Jason diz:

— Bem, é aqui que nos despedimos. Quero lhe desejar o melhor para você, que tenha sucesso em tudo que almejar e que tenha juízo. Esse mundo está louco. Tem muita gente que vai querer fazer coisas ruins com você, mas existirá sempre aqueles que estarão a seu lado até o fim, querendo o seu bem. Apóie-se nas reais amizades e tudo vai dar certo. Foi um orgulho cuidar de você depois que seus pais se foram...

— Obrigado por tudo, tio. E eu nunca estou sozinho.

 

E enfim embarca ao avião, com destino a Etofuro...


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Notas finais do capítulo

Jason escolheu seguir sua vida voltando para sua cidade natal. A perda de seus pais trouxe certas ideias na mente do jovem. Ele está determinado a seguir com esse ideal, mas mal sabe o que lhe aguarda em Etofuru. As palavras de seu tio terão um sentido muito maior pela frente..



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