Like a Vampire 3: Lost Memories escrita por NicNight


Capítulo 22
Capítulo 22- Alphabetta


Notas iniciais do capítulo

Meu deus que dificuldade pra postar esse cap, a internet aqui ta horrível hauheeheuhe
Enfim, espero que gostem desse cap e boa leitura ♥



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Narração Lua

—Alguém pode me explicar o que tá acontecendo aqui?- Eu questionei,meio sem querer botando as mãos na cintura.

Até pra mim, receber um bilhete no meio da madrugada falando que durante o anoitecer eu deveria estar na sala de prisão da Nikki e encontrar com a pessoa, é bizarro. Tive que explicar muita coisa pra Subaru de manhã.

Mas eu fui. O que era o pior que podia acontecer? Um sequestro? Um assassinato? Nenhuma das opções parecia muito surpreendente.

E chegando lá, eu tenho que admitir que ver Sofie e Jackson reunidos conversando com Nikki era meio assustador. E como se não bastasse o combo, Shu estava lá. Ele não era tão assustador assim, já que visitava a namorada (aka minha irmã) todo santo dia.

—Ah, finalmente a belezinha resolveu aparecer- Nikki revirou os olhos. De alguma forma, ela parecia pior do que da última vez que eu havia a visto. Seu cabelo azul parecia um pouco mais comprido, ela parecia mais magra e mais pálida.- O que foi? Não conseguiu dar adeus pro namorado tão cedo.

—Há. Divertido.- Fiz uma pistolinha com as mãos na direção dela- Mas e aí? Qual é a boa? Ou melhor, por que diabos eu recebi um bilhetinho anônimo me dizendo pra vir pra cá?

—Ah, fui eu.- Shu admitiu como se não fosse nada demais- Sofie e eu visitamos Nikki todo dia, então ela pediu pra eu te avisar e avisar seu irmão sobre esse encontro. E cá estamos.

—Tá. Mas por que só nós? Tipo... e Marie, Victoria, Sarah?- Jackson parecia confuso.

—Eu amo as três, e sei que elas só querem nosso bem.- Sofie se virou pra nos encarar.- Mas sinceramente, eu sinto que elas pensam muito pouco de nós ás vezes. Somos os quatro mais novos... os mais fortes.

—Achei que você nos considerava traidores.- Eu disse, meio triste.

—Ah, por favor.- Sofie revirou os olhos e se levantou, sacudindo o longo vestido azul- Eu só sou uma boa atriz. Eu sei que caras como Robert só podem ser derrotados se eles acharem que estão no comando. E ele não deixa eu ir pra Mansão Sakamaki mais, então eu digo que faço trabalho voluntário na prisão e venho conspirar com Nikki.

A de cabelos azuis acenou da jaula.

—E os guardas? Não deveriam falar pra ele da mentira?- Jackson questionou novamente.

—Ela paga eles com dinheiro dos Rosemary.- Shu respondeu- Eu disse que ela era mais esperta do que todo mundo. É divertido ver ela atuando como noiva submissa do Robert.

—Eu não entendi até hoje por que diabos você ficou noiva do Robert em primeiro lugar.- Insisti mais ainda.

—Ela acha que pode descobrir mais coisas da mamãe se ficar do lado dos Rosemary, já que ela era noiva do Robert também.- Nikki respondeu. Olhei confusa pra ela.- Sim, eu também sei que mamãe era feiticeira e todo aquele negócio. Sofie me contou.

—Pera aí, mamãe era o quê?- Jackson arregalou os olhos.

—Eu te explico mais tarde.- Me justifiquei- É uma longa história e eu ainda quero saber porque fomos chamados aqui.

—Conspiração. Duh.- Shu disse como se fosse óbvio.

—Por que ele ainda tá aqui?- Jackson perguntou- Achei que era uma reunião dos irmãos.

—Ele é meu namorado.- Nikki parecia brava- E uma das poucas pessoas que realmente se preocupa em me visitar, aparentemente.

—Todos sentimos muito pela sua posição, irmã.- Sofie sacudiu o vestido de novo- Mas eu, Nikki e Shu estávamos discutindo sobre KarlHeinz antes de vocês dois chegarem.

—As duas estavam. Eu só observo.- Shu corrigiu.

—Se você continuar reclamando, pode ir embora se quiser.- Nikki brigou, e Shu levantou e saiu da sala- Era brincadeira... Enfim, agora temos mais privacidade! Eu e Sofie acreditamos que estamos perto de descobrir sobre o Plano Eve do reizinho.

—Ainda não sei o que eu tenho a ver com isso.- Jackson parecia perdido. Coitado.

—Deixa ela falar.- Sofie deu um sorriso.- Observem nossa genialidade.

—Então. Um dia desses eu estava conversando com um dos guardas daqui. Na verdade tentando manipular ele. Até ofereci mostrar um dos meus peitos pra ele, mas acaba que ele é gay então não adiantou muito. Mas eu consegui ter uma amizade com ele.- Nikki ia explicando, sob os olhares cada vez mais confusos de mim e Jackson- Quando pude pedir um favor, pedi algum tipo de guia sobre as leis do Mundo Vampiro. Ele me deu uma Constituição do Mundo Vampiro.

—O que é bizarro, já que monarquias não costumam ter constituições, mas ok.- Sofie interrompeu.

—Você podia ter usado um favor pra qualquer coisa e pediu a droga de um livro de leis?- Eu estava abismada.

—Relaxa. Vai fazer sentido.- Nikki prometeu- Eu li tudo. E isso não é algo que eu faria normalmente, mas era por uma boa causa. Acaba que pessoas como eu, culpadas de genocídio, tem uma pena: de morte. Mas a pena de morte vampira é meio estranha, já que é você ir pra prisão e ficar até morrer de inanição. Ou seja, você fica sem alimento, água e tudo isso até falecer.

—Que legal.- Jackson ironizou.

—Mas aí que está.- Nikki se levantou.- Eu estou sendo alimentada. Nos primeiros dias, inclusive, eu estava deprimida e me recusava a comer, mas os guardas enfiaram comida na minha boca e me obrigaram a engolir. Me falaram que eram ordens diretas do KarlHeinz. Ou seja, por algum motivo ele não quer que eu morra. Eu matei a guarda inteira dele, mas alguma coisa que eu tenho de especial impede que ele me mate.

—Talvez ele só seja babaca, também.- Opinei.

—E ontem, ele me disse para que eu guardasse meu ventre pra um bastardo, e não um príncipe.- Sofie continuou o raciocínio- Ou seja, ele disse para eu não ter filhos com Robert. Mas ele queria que eu tivesse filhos com outra pessoa fora do casamento.

—É só pensar no nome. Eve e Adam. Eva e Adão. Nenhum de nós é católico, mas todo mundo aqui sabe de todo aquele papo de que eles foram os primeiros humanos, que se renderam ao pecado ou sei lá o que, e os filhos deles foram criando a raça e toda aquela loucura sem sentido.- Nikki explicou.

—Achamos que o plano Eve de KarlHeinz tem alguma coisa a ver com uma de nós ter filhos com um dos filhos dele. Ou... outra pessoa. Não tenho muita certeza de como isso funciona ainda.- Sofie terminou o raciocínio.

—Uma pergunta- Levantei a mão- Os meninos sabem dessa história?

Nikki e Sofie concordaram com a cabeça ao mesmo tempo.

—Shu ficou calado quando conversamos isso pela primeira vez.- Nikki disse- Mas tenho certeza que todos eles sabem, só não querem admitir. Uma prova disso? O Azusa. Ele chama a gente de Eve. Não acho que ele só acredite que esse seja nosso nome.

—Prova número dois, a gente achou papéis na biblioteca do Ruki e ouvimos os meninos falarem de mudanças que simbolizariam “Eve”.- Sofie continuou- Eu, sendo a irmã esperta que sou, guardei os papéis que Nikki fez favor de guardar no bolso do moletom meu naquele dia.

Ela então tirou dois papéis do decote do vestido.

Nos reunimos perto da jaula para lermos juntos.

“Senhor Ruki Mukami,

Já está no momento de informar-lhe que já se passaram quase dois meses  desde que as Irmãs Herbert e as Irmãs Hudison chegaram em sua moradia. Desde o último mês você não me manda notícias sobre como está o processo de transformação delas. Seus relatos sobre mudanças em seus corpos não foram relevantes, e ainda precisamos decidir através das Herbert se  as Hudison seriam ou não peças importantes para o Projeto Eve.

Se alguma das senhoritas falharem em nossos experimentos, você sabe o que fazer. Porém essa regra apenas equivale ás Hudison, já que as Herbert são importantes para minhas alianças e contatos.

As dez são mais fortes do que qualquer um de vocês ou de meus filhos podem pensar, não se enganem pelos seus olhos brilhantes e corpos fracos. Além disso, vale lembrar que a Senhorita Victoria Herbert Sakamaki deve permanecer viva e intacta sob qualquer circunstância, não se atreva a fazer nada que prejudique quaisquer uso futuro de si ou de suas irmãs.

Espero as notícias do experimento,

Rei KarlHeinz Sakamaki”

—Aqui está.- Sofie foi apontando pra diversas partes do texto- Foi quando estávamos a dois meses na casa dos Mukami. Ele também diz que nós somos a chave pra descobrir se as Hudison poderiam ser Eve.

—O que faz sentido, já que agora sabemos que ela nasceu pra ser uma profeta super poderosa.- Nikki continuou.

—Ele também diz que eles “saberiam o que fazer” caso as Hudison falhassem no experimento. Mas isso não valeria pra gente, já que somos “importantes pros contatos dele”.- Sofie continuou- O que é suspeito, já que descobrimos que somos alguma porcentagem feiticeira graças á nossa mãe que ele sequestrou. Ele diz que Victoria, acima de nós mesmas, deve ficar viva e intacta. O que é também suspeito, já que ela havia acabado de casar.

—Ele pode estar esperando...- Jackson começou- Um herdeiro. Heisuke.

—Exatamente- Sofie tirou outro papel do decote- Agora esse.

“Senhor Ruki Mukami,

Não entendi claramente sua última carta. Se suas observações significam o que eu imagino significar, parece-me que seus irmãos lhe disseram que o sangue das Hudison não tem nada de diferente. Estranho, todas minhas anotações seguem para o fato de que as quatro irmãs seriam Eve também. Apesar do sangue de Cordelia não estar correndo pelas veias delas como nas das Senhoritas Herbert( não literalmente, claro. Me refiro ao despertar do ano que passou) elas apresentam comportamentos dignos de Eves.

Serão de grande ajuda para você se eu lhes disser alguns dos comportamentos possíveis de serem apresentados pelas Eve.

— Mudança súbita e brusca no sabor ou odor do sangue;

—Modificações aparentemente sem sentidos no corpo

—Mudança estranha ou exótica no comportamento ou jeito de pensar e agir;

—Mudança estranha em hábitos de sono ou sonhos estranhos;

—Desregulamento em seus períodos de ovulação e da abertura de suas flores vermelhas.

Espero que o resultado seja digno,

Rei KarlHeinz”

—Isso mostra várias coisas- Nikki- O mais óbvio, é que Ruki mandava cartas mensais falando sobre nosso progresso. O que não faria sentido em condições normais. Ele diz que o sangue das Hudison não tem nada de diferente, o que talvez tiraria a possibilidade delas como Eve, se não fosse por um “comportamento digno de Eve”.

—KarlHeinz também fala que o sangue de Cordelia no nosso corpo por causa do despertar pode ajudar em alguma coisa.- Sofie continua- E todas essas coisas podem ser relacionadas a gravidez, se pensar bem.

—Quando voltamos pra Mansão Sakamaki, ano passado, Shu me disse uma coisa, meio sem querer.- Nikki sussurrou- Que os Mukami eram idiotas demais se achavam que poderiam ser Adam.

—Eu tive um sonho.- Eu me lembrei, assustada.- Na noite de natal de 2017. Lembra? Das maçãs caindo. Eve. Eu sonhei com as Hudison.

—Eu tinha... esquecido disso.- Sofie pegou um lápis do decote.

—Cabe tudo nesse seu decote, por acaso?- Jackson questionou.

—É porque tem espaço demais por causa da falta de peito.- Brinquei

—Vocês fiquem calados.- Sofie revirou os olhos, e anotou algo no papel- Eu preciso de um bloco de notas. Nikki, na próxima, pede pro Shu roubar o da Sarah pra mim.

Nikki concordou com a cabeça.

—Vocês acham que o noivado de sacríficio era só uma primeira etapa pro que realmente importa?- Nikki questionou- KarlHeinz só queria uma mulher forte pra... o que quer que isso seja.

—Talvez. Mas isso não justificaria o porquê das Hudison serem uma possibilidade.- Eu respondi.

—Daayene é uma profeta. Talvez as Hudison tenham sangue mágico e a gente nem tá sabendo.-  Sofie deu de ombros.- Mas enfim, preciso elaborar melhor essa parte. Agora chega onde você e o  Jackson entram.

—Aleluia.- Jackson comemorou- O que é?

—Você trouxe sua caminhonete?- Nikki questionou- Eu até ia falar pra você ir com o conversível da Marie, mas ela fez o favor de não trazer.

—Se tá falando da roubada, sim.- Jackson concordou- Pra onde querem que eu vá?

—Vocês dois vão pra tribo Alphabetta.- Sofie respondeu- Lembra de quando fomos pra nossa casa de verdade, Lua? A casa da nossa família? Tio Edward disse que Molly foi achada dois dias depois da grande batalha entre Robert e KarlHeinz aos cuidados dessa tribo. Talvez foi por isso que ela deixou Jackson lá depois que ele nasceu. Eu acho que eles sabem de algo que a gente não sabe ainda.

Eu olhei pra Jackson, que foi rápido em se levantar e disse:

—Você vai ter que me explicar tudo isso no caminho.

A viagem pra Alphabetta foi mais longa e cansativa do que eu esperava. Depois de explicar toda nossa situação de família pra Jackson, eu acabei dormindo por cerca de uma hora e meia, apoiada na janela da caminhonete.

Quando acordei, já estava escuro e meus óculos haviam caído no chão. Me abaixei pra pegar eles, e me senti ficar com sede.

—Já estamos quase chegando.- Jackson instruiu, e eu concordei com a cabeça, ainda lenta pelo sono- Só mais um pouco.

E lá fomos nós. Não sei ao certo se passaram uma ou duas horas, já que eu estava sem celular ou relógio. Mas quando chegamos, foi rápido de saber. Jackson estacionou o carro na frente de uma floresta fechada, e saiu do carro. Dando a volta, abriu a porta pra mim. Agradeci e saí, me sentindo de repente com frio.

—É por aqui.- Jackson apontou pro caminho fechado pelas árvores. Fiz uma cara estranha, mas resolvi não questionar meu irmão.

Ele morava lá, afinal.

Atravessamos os caminhos entre as árvores, e com dez minutos de trilha chegamos numa espécie de vilarejo. Todo o caminho era de terra, e cabanas, chalés e barracas envolviam um grande território. No meio, havia uma grande fogueira.

Eu sentia um cheiro de frutas e carne bem de perto estando lá, e conseguia ouvir barulho de água, então imaginei que havia algum rio por perto. Eu e Jackson então descemos uma pequena colina, para chegarmos á Alphabetta de verdade.

Comecei a me questionar se era uma boa ideia eu ter ido. Tudo bem que eu era uma irmã de lobisomem, mas eu não era exatamente um deles. Sei lá, vai que eles acabam sendo xenofóbicos.

—JACKSON CHEGOU!- Ouvi uma voz de criança gritar, e levei um susto- E ELE TROUXE UMA GAROTA!

—Uma outra garota?- Uma menina, pouco mais velha que o menino de antes, se aproximou.

—Relaxem, essa é a minha irmã.- Jackson disse, divertido enquanto me puxava pelo ombro- Lua, essa é a minha segunda família.

—...Legal.- Foi tudo o que eu conseguia dizer.

Mas o que diabos ele queria que eu falasse? Eu tava lá pra descobrir coisas sobre a mamãe, não vim emocionalmente preparada pra conversar com outras pessoas.

—Ela tem namorado?- Ouvi um cara perguntar na distância.

—Sim.- Respondi meio francamente- E estou feliz com ele, pessoa que perguntou.

—Gostei dela.- Uma mulher de cabelos azuis claros e olhos dourados se aproximou de mim.- Parece bastante com a sua mãe, Jackson.

—Você conheceu a minha mãe?- Fui na frente do meu irmão- Vim aqui pra procurar sobre ela. Soube que ela se abrigou nessa tribo por um tempo.

—Devíamos consultar a Grande Senhora sobre isso.- A mulher me segurou pela mão- Venham.

Jackson parecia querer me seguir, mas um menino com cara de lobo (há, agora isso parecia engraçado) o puxou pela blusa, e ele suspirou:

—Vai na frente, eu te encontro depois!

Ajeitei meus óculos meio decepcionada. Poxa, eu era novata lá, a mulher queria me puxar pra um lugar já, e Jackson nem ia estar lá pra me ajudar? Valeu, irmão.

A mulher me puxou pelo braço. Parecia ter idade pra ser minha mãe, mas parecia bem... vigorosa, além de ser bem musculosa e suas roupas estarem estranhamente rasgadas.a

Ela me levou numa cabana feita de madeira e algo que parecia palha. Abrindo, vi uma mulher bem velha deitada.

—Quem é?- Questionei.

—A Grande Senhora.- A mulher me respondeu- É uma das mais velhas mulheres entre os lobisomens. Um grande poço de sabedoria e conhecimento, deve ter as respostas pro que busca.

—Senhora?- A mulher se aproximou da velha, a pegando pela mão.- Temos uma visita.

A mulher me olhou. Não era tão velha quanto eu esperava que fosse, dado o apelido. Usava um vestido de tecido pesado com estampas de folhas na cor marrom claro. Seu cabelo parecia grisalho, mas a maior parte estava coberta por um pano azul.

Ela me escaneou por completo, como se necessitasse de beber da minha aparência para adivinhar o que eu queria.

—Filha de Molly Herbert.- Ela apontou pra mim, e vi seus olhos tendo um certo brilho.- Estou certa?

Concordei com a minha cabeça, como se aquilo fosse algo inédito pra mim.

—Veio descobrir mais sobre sua mãe, não veio?- A velha me questionou, e então gesticulou para a cadeira em sua frente- Imaginei que já era hora. Alguma vez uma filha dela tinha que vir aqui.

—Grande Senhora é cheia de conhecimento, como eu disse.- A outra mulher disse, com um sorriso virado pra mim- Ela deve saber várias coisas sobre sua m...

—Sem formalidades, Koharu- A velha revirou os olhos- Sou Hiromi. Agora vai embora, tenho coisas pra discutir com a menina.

Fiquei automaticamente nervosa. Enquanto eu olhava pra baixo e deixava meus dedos baterem na mesa, ouvi Koharu murmurar um pedido de desculpas e correr até o lado de fora, batendo a porta.

—Agora, onde estávamos?- Hiromi pensou- Ah, é claro! Você, filha de Molly. Estava com os Sakamaki, não estava? Conseguiu matar eles? Como veio parar aqui?

Fiz uma cara confusa.

—...Ainda estou com eles.- Conversei.- Estão melhores do que alguns anos atrás. Eu vim parar aqui com meu irmão, Jackson.

—Ah, Jackson.- Hiromi disse alto- Bom menino. Sua mãe deixou ele aos meus cuidados quando era um bebê. Naquela época eu ainda era bem jovem. Estava grávida do meu filho, Igor.

Quase engasguei:

—Ah, você é a mãe do Igor?

—Sim. Ele era lobo-alfa daqui, mas sabíamos que ele pararia com suas tarefas depois de casar com a Sakamaki mulher.- Hiromi me explicou com calma- Quer dizer, uma delas. Uma das suas irmãs casou com um dos príncipes, né? E ouvi que outra menina foi legimitada como filha do rei. Com licença, poderíamos ter um pouco de queijo?

—O queijo vai ser servido mais tarde, senhora.- Um homem se aproximando com uma garrafa de vinho disse. Ele posicionou a garrafa na mesa, junto com duas taças.

—O queijo vai ser servido quando eu quero que seja servido, e ele vai ser servido agora.- Hiromi mandou, e o cara logo foi embora. Dei um sorriso- Você bebe, querida?

—Só quando eu tenho que beber. Tenho 17 anos.- Respondi- Mas sobre minha mãe...

—Ah, sim.- Hiromi serviu vinho pra nós duas.- Sua mãe era muito nova quando veio aqui pela primeira vez. Tinha o que? Vinte anos, no máximo. O rei vampiro a deixou na porta e ela foi obrigada a fazer todo o caminho até aqui e pedir ajuda sozinha. Ela era feiticeira, então quase morreu. Foi só quando ela explicou que estava acontecendo uma batalha contra a família dela que a deixamos entrar.

—Você sabe o porquê da minha mãe vir pra cá?- Questionei.

—Claro que sei.- Hiromi me respondeu, tomando um gole grande de seu vinho- Estava grávida, a pobrezinha. Tivemos que levar ela pra uma casa de profecias feiticeira mais longe do reino, pra receber a benção como diz a tradição da raça dela. Uma palhaçada. Teve que beber sangue, acredita? Dizem que fortalece o bebê. Eu achava que isso de beber sangue era coisa de vampiro...

Eu estava tão chocada que parecia que tudo ao meu redor tinha se mutado.

Se minha mãe tinha vindo aqui grávida na época da guerra de KarlHeinz e Robert, e o rei vampiro era o que tinha sequestrado minha mãe até esse ponto...

Senti a vontade de vomitar subindo pela minha garganta.

—Está bem, querida? Quer descansar? Você está com aparência terrível!- Assim que Hiromi disse isso, o homem chegou com o queijo- Onde você foi pegar esse queijo? No Reino Humano? Que demora! Agora vai, xô!

O homem saiu correndo de volta.

—Eu acho que preciso ir.- Me levantei de repente- Foi uma honra, Himori. Seu filho é uma pessoa honrada, também.

—Tão honrado que tiveram que arrancá-lo de seu lar na própria lua-de-mel.- Foi a última coisa que eu ouvi, antes de sair correndo.

—LUA!-Ouvi a voz de Jackson- Tenho que te levar pra casa agora!
—Eu digo o mesmo!- Respondi- Espera, por que você tem que me levar pra casa?

—Estamos sob ataque!- Jackson me respondeu, me agarrando pela mão- Não posso te deixar aqui, Sofie e Nikki vão me matar!

—Mas que ataq...- Não tive tempo de terminar, já que um ser encapuzado simplesmente pulou em cima de mim e me prendeu contra o chão- SANTO POSEIDON, QUE MERDA É ESSA?

A pessoa prendeu meu quadril com as duas pernas, e simplesmente posicionou as duas mãos no meu pescoço, os polegares prendendo qualquer movimento que eu pudesse ter.

De repente, num piscar dos olhos, vi um rosto desconhecido por trás daquele capuz. A mulher que havia me encontrado enquanto eu estava saindo com Subaru no dia do nosso primeiro beijo.

—Eu falei que a união de vocês dois só ia trazer sofrimento.- Ela me disse, antes de desparecer no rosto de quem estava me enforcando. Eu dei um grito de dor, mas consegui dar uma joelhada entre as pernas da pessoa quando senti que me faltava ar.

Eu o joguei (na verdade, ainda não sabia bem se era um homem ou uma mulher) pra baixo e tentei me levantar, mas ele puxou minha perna e me fez cair.

Bem, era definitivamente um homem.

Comecei a me debater, mas ele me segurou por trás contra o chão e prendeu meus cotovelos. Tentei chutar ele de novo, mas dessa vez não tive sorte.

Eu comecei a gritar, tentando chamar a atenção de alguém, já que Jackson estava tentando defender crianças dos outros homens encapuzados, mas o homem então enfiou quatro dedos na minha boca:

—Fica caladinha que eu faço sua morte ser rápida, criança.

E aí fiz a primeira coisa que deu na cabeça:

Eu mordi ele. Com a maior força que eu conseguia.

Ele afastou a mão da minha cara com dor, e eu aproveitei a oportunidade pra me levantar e dar mais um chute na barriga dele:

—CAÍ DENTRO, MERMÃO, CAÍ DENTRO!

Quando ele começou a se levantar pra me atacar de novo, Jackson me jogou pra trás, o que me fez cair no chão de novo.

—CARAMBA, JACKSON!- Levei um susto.

—Vai, Lua!- Jackson se virou pra mim- Isso é uma batalha dos lobisomens.

—Eu quero ajudar!-Pedi.

—Isso é loucura.- Jackson suspirou, aproveitando que outros lobisomens haviam vindo como reforço.

—Sabe o que é mais loucura?- Sussurrei- Estamos aqui. Não sabemos o que fazer. Eu posso ser morta. Divertido.

—É exatamente por isso que você tem que ir.- Jackson me pegou com delicadeza pelo braço- Sério, isso aqui não envolve você.

—Mas claro que me envolve!- Bati pé- Olha pra essa bagunça! Com certeza eles só vieram aqui porque eu estava aqui, no final das contas.

Jackson me encarou por longos segundos.

E foi assim que eu acabei no banco de trás da caminhonete, atrás de um Jackson bem tenso e estressado de ter que me levar pra casa quando tava rolando uma batalha na casa dele.

Não conversamos durante todo o trajeto de volta. Eu nem consegui dormir, na verdade. Fiquei deitada, ocupando todo o banco e olhando pro teto do carro tremendo enquanto passávamos pela estrada.

Vários tempos depois, Jackson me deu um boa noite meio estressado e me avisou que tínhamos chegado. Retribui o boa noite e saí da caminhonete, esperando o carro do meu irmão desaparecer de vista antes de eu entrar no castelo.

Assim que abri a porta (com cuidado pra não fazer barulho, já que já era tarde), senti uma presença atrás de mim. Foi por isso que não me assustei quando ouvi meu namorado:

—Ei, onde você estava? Tá todo mundo preocupado com você!

Me virei pra ele e, julgando pelo seu tom de voz e expressão, eu conseguia entender bem que num dia normal ele estaria berrando comigo, mas tentou manter o tom baixo pra não me assustar.

—Eu... saí com o Jackson.- Menti, na esperança de me dar bem com aquilo.

—Deve ter sido um rolê intenso então, já que você voltou nesse estado.- Ele apontou pra mim de cabeça aos pés. Me olhei.

Ele estava certo. Além de eu estar toda suja de terra por ter rolado muito, meu cabelo parecia uma palha de tão sujo, e eu estava até que bastante machucada e vermelha pelos ataques e vezes que eu fui jogada no chão.

—Pois é, né.- Dei de ombros, sem ter muito o que fazer.

—Você sabe que pode me contar tudo, né?- Subaru se aproximou de mim- A não ser que você esteja me traindo. Se for o caso, prefiro não saber.

—Uhm... Primeiro, tenho quase certeza que se eu estivesse com o meu amante, eu não voltaria nesse estado- Apontei pra mim mesma- Segundo, eu nunca te trairia.

Subaru pareceu não acreditar em mim, e eu suspirei:

—Eu não sei nem como eu consegui fazer você gostar de mim, imagina arranjar uma segunda pessoa pra gostar de mim.

—Seria fácil pra você.

—Não seria não.- Coloquei as mãos na cintura e me deixei sorrir pelo que parecia uma das primeiras vezes na vida- Espera aí, você tá com cíumes?

—Pra ter cíumes precisa ter motivo.

—Concordo.- Me aproximei dele- Por isso que você não precisa ficar desconfiado de mim. Se um dia eu parar de gostar de você, o que eu duvido que aconteça, eu te falo no primeiro segundo.

Subaru escondeu um sorriso que ameaçava aparecer em seu rosto, e só se curvou pra me dar um beijo bem suave nos lábios. Não satisfeita, eu o peguei pelo colarinho e aprofundei o beijo.

Senti como se eu estivesse flutuando de felicidade. Simplesmente não havia lugar mais perfeito pra mim do que entre os braços de Subaru. E, apesar de inesperado, isso também era maravilhoso.

Eu era realmente sortuda por poder chamar ele de meu primeiro e atual namorado.

Quando os dedos dele passaram no meu quadril, subindo um pouco minha blusa, eu senti um arrepio subir pelo meu corpo ao mesmo tempo que um calor se espalhava por mim. Nunca havia sentido aquilo antes.

Logo quando eu havia começado a relaxar, deixando as mãos do meu namorando descendo e subindo pelo meu corpo enquanto eu mesma deixava as minhas bagunçarem seu cabelo albino, senti uma vontade imensa de me afastar.

Nojo.

Era tudo que eu sentia, inexplicavelmente.

Não de Subaru, claro. Eu gostava muito dele, não teria nojo dele a não ser que ele fizesse algo horrível.

Abri os olhos e o encarei, completamente confusa pelo sentimento que me dominara.

Ele era idêntico ao pai dele. É claro.

Sinceramente, quando eu ouvia meus colegas de classe reclamarem sobre sogros e sogras, eu achava que era exagero. O pai ou mãe do seu parceiro ou parceira não devia mudar seu relacionamento com o dito cujo.

Mas no meu caso, mudava.

Caramba, o pai dele se relacionou com a minha mãe. Tipo, sexualmente.

Eles iam ter um filho ou filha juntas.

Eu e Subaru por pouco não fomos meio-irmãos.

O que podia não ser uma coisa grande por aqui (Subaru não era filho de uma prima e um primo?), mas no Mundo Humano e na minha família, era.

—Eu acho...- Me afastei dele- Que eu preciso dormir um pouco. Tô cansada, e tals.

Eu não queria contar isso pra ele. Pra nenhum dos garotos.

Nikki e Shu, eu e Subaru e Victoria e Reijii estavam em relacionamentos sérios... Sarah e Kanato estavam numa fase estranha de saírem juntos sem muito comprometimento. E até parece que Laito e Marie estavam começando a ficar juntos desde ontem.

Querendo ou não, isso ia causar uma grande estranheza entre todos os casais.

Tipo, quem é que fica “Ok?” de saber que o seu pai sequestrou, estuprou e ainda engravidou a sua sogra?

—Você quer que eu te acompanhe?- Subaru sugeriu, e eu não soube dizer se ele tinha alguma segunda intenção ou não, mas fiquei vermelha do mesmo jeito.

Mas, felizmente, nem tudo estava perdido.

O relacionamento meu e das minhas irmãs podem estar quase á falência, mas eu sabia de uma irmã completamente solteira- a única, na verdade- que estaria satisfeita com a descoberta.

—Acho melhor não.- Eu disse, sorrindo de forma falsa e simpática- Amanhã teremos um longo dia.

Dei um beijo de boa noite na bochecha dele, e subi minhas escadas pronta pra tomar um bom banho e dormir.

Eu não havia mentido.

Amanhã eu teria um longo dia.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam das revelações nesse cap hein?? Não esqueçam de comentarem suas opiniões e teorias que eu amo ler ♥
Até o próximo cap e besos de cupcakes :3



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