Like a Vampire 3: Lost Memories escrita por NicNight


Capítulo 13
Capítulo 13- Vermelho-sangue


Notas iniciais do capítulo

Oieee, mais um cap saindo do forno pra vocês!!!! Mas e aí, como estão nessa fase de fim de ano? Eu, maluca com as provas e LAV hauehuehe
Enfim, espero que curtam e bezos ♥



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Narração Daayene

Não dormi naquela noite.

Na realidade, não havia dormido em quase nenhuma noite desde o começo do festival. Ou dormia pouco, com apenas breves cochilos no sofá ou na cama. E sempre quando eu estava com alguém por perto.

A verdade é que, desde o ano passado, eu tenho notado sonhos estranhos que eu tinha. Sobre coisas do passado. E algumas vezes, do futuro.

Eu tinha sonhado com os Sakamaki, e eu nem os conhecia naquela época. Já tinha sonhado sobre os Mukami. E desmaiei um dia tendo algumas visões sobre o futuro de Victoria.

A verdade é que aquilo estava começando a me assustar, principalmente quando aquela carta sobre uma profeta ainda não despertada apareceu no casamento da Lilith. E eu sinceramente estava sentindo cada vez menos conforto pra dormir. A falta de respostas chegava a me dar ânsia de vômito.

E eu sabia que as meninas estavam começando a notar isso. Eu não era muito fã de café, mas chegava a tomar três xícaras de manhã pra me manter animada durante o resto do dia. E o corretivo que eu usava pra tampar minhas olheiras estava começando a acabar.

E só pensar nas coisas que eu já tinha visto em meus sonhos... Coisas incontáveis, coisas que me faziam querer sinceramente vomitar minhas tripas.

Eu não era assim. Eu nunca fui assim. Mas algo em saber tanta tragédia sobre meus amigos me deixava mal.

Era meio da madrugada, então resolvi que precisava de alguma companhia para relaxar um pouco. E eu fui obrigada a ir na única pessoa que eu sabia que ainda poderia estar acordada naquele horário.

Saí do meu quarto e fui nas pontas dos dedos até o lance de escadas que levava até o terceiro andar. Não queria arriscar a chance de acordar minhas irmãs, alguma das Herberts ou Mun.

Subi cada degrau com a maior delicadeza que eu podia. Ao chegar no segundo corredor, bati numa porta que eu conhecia bem e já entrei.

Não era a primeira vez que eu via aquela cena.

Aquela figura familiar com o torso nu, pálido e magro, parado na frente daquele espelho oval de madeira. Outros podiam pensar que ele só estava sendo narcisista. Eu me sentia ainda parte daquelas pessoas, mas existia alguma coisa por trás daqueles cílios longos que era quase indecifrável e sombrio.

Ódio. Insegurança. Nojo.

—Olá, MNeko-Chan~- A voz do idol me tirou de meus pensamentos- Veio para me alimentar?~

Algo nele deve ter suspeitado do meu olhar. Ou talvez ele tenha notado minha expressão de pura exaustão e desespero.

—Você não devia ser inseguro de si mesmo.- Eu respondi, percebendo que minha voz estava um pouco grogue- Não sei se seu trabalho te menospreza pelo seu corpo, ou se suas marcas servem como gatilho pra certas lembranças. Ou os dois. Mas são sinais de quão forte você é. E eu acho isso bonito, se quiser minha opinião.

Kou deu uma risada tão fingida que doeu no fundo do meu coração:

—Mas do que está falando, MNeko-chan?~ Por que este rosto lindo está tão exausto?

—O seu olho.- Continuei, não me importando muito com o fato de Kou ainda estar em sua fachada- Você arrancou o seu olho, não foi?

Algo em Kou pareceu estralar com a minha pergunta:

—Quem te disse isso?

—Ninguém.- Eu respondi, engolindo em seco e resolvendo contar o que estava preso em minha garganta por tanto tempo- Eu vi.

Kou parecia ter desistido de fingir ser o rapaz animado e doce de antes, e seu olhar era tão frio que me dava arrepios.

—Viu como?- O loiro me questionou.

—Sempre que eu durmo e sonho... eu vejo coisas.- Expliquei, espremendo minhas mãos na tentativa fraca de não chorar- Sobre o passado das pessoas. E sobre o futuro, ás vezes.

Kou pareceu se assustar, mas não disse nada.

—Eu não sei o que tá acontecendo comigo.- Abaixei minha cabeça em uma redenção quase patética, deixando algumas lágrimas se soltarem dos meus olhos- Por favor. Eu nunca implorei nada pra ninguém, mas estou te implorando agora. Por favor, me ajuda.

Passamos um tempo assim. Nós dois em pé, no quarto escuro, eu de cabeça baixa e chorando, enquanto ele me olhava tentando absorver o que eu havia acabado de contar pra ele.

Eu senti sua mão magra passando de forma delicada e quase sem-graça pela minha cabeça, bagunçando meus cabelos.

—É. Eu arranquei meu olho.- Kou suspirou, seu tom tão derrotado quanto o meu.- Depois que me tiraram do buraco que eu vivia, me entregaram pro orfanato. Lá eles começaram a separar as crianças mais bonitas pra... entreterem os nobres, se é que me entende.

Olhei pra ele, limpando minhas lágrimas e tentando esconder meus berros interiores e toda minha fraqueza, implorando pra que ele continuasse.

—Eu costumava pensar que o orfanato era o paraíso, o céu azul que eu sempre sonhei em ver.- Kou riu de si mesmo- Eu fui chicoteado, cortado, espancado e torturado. E eu tirei meu olho num desespero de fazer eles me abandonarem, mas na verdade eles só me quiseram mais ainda.

Deus, eu mal conseguia segurar minha vontade de abraçar ele.

—Eu tentei tirar minha vida naquela época.- Kou suspirou- Não consegui. Foi aí que encontrei Ruki, Azusa e Yuma. Nós fugimos. Fomos pegos. Eu quase morri de tanto que apanhei. Estava literalmente na beira da morte. Isso é, até KarlHeinz nos salvar e nos transformar em vampiros. E ele me deu um olho de vidro. Disse que ele brilharia em vermelho quando eu visse alguém mentindo.

—...Você é feliz agora?- Me peguei perguntando.

—Agora eu estou vivo e tenho família, pelo menos.- Kou deu de ombros- Tenho a adoração de milhares de fãs.

—Fãs que só te adoram pela sua aparência- Retruquei- Quando você é muito mais que isso, e eu sei disso porque estou na sua frente nesse exato momento, e você acabou de me contar uma das coisas mais díficieis da sua vida.

Kou sorriu:

—Você não passou por coisas fáceis também. KarlHeinz nos passou uma ficha de você e das suas irmãs antes de virem pra nós.

—Eu sabia lidar com isso.- Eu suspirei de forma tão profunda e triste que faltei desabar- Eu sabia que era errado e que eu era muito nova pra vender meu corpo, mas eu tinha consciência do que estava acontecendo comigo, pelo menos. Por isso eu nunca me revoltei quando fui expulsa de casa pelos meus pais ou... por todo o resto.  Mas isso que estou sentindo agora... Acho que nunca me senti tão desesperada e insana.

Kou segurou minha mão, e eu senti pela primeira vez em quase dois anos que eu estava encarando o verdadeiro Kou. Não o Kou famoso, o idol, o cara animado e feliz que conquistava todas.

O menino quebrado, mas que por algum motivo parou de se esconder de mim.

E eu estaria mentindo se falasse que aquilo não me deixava minimamente feliz.

—Você acha que você pode ser uma....- Ele me encarou- Você sabe.

—Uma profeta?- Eu questionei, e ele concordou com a cabeça- Eu sinceramente nem sei o que isso significaria.

Kou então pareceu ter uma ideia, e jogou um de seus sobretudos cor de rosa pra mim. Me vesti rapidamente com ele, porque gostei da cor e do estilo, mas não sabia onde ele queria ir com isso.

Depois, ele vestiu uma blusa da mesma cor e um casaco preto.

—Vamos pra algum lugar?-  Perguntei.

—Vamos.- Kou respondeu- Vamos encontrar a resposta que você precisa pra acalmar seu coração. Pelo menos você tem alguma salvação, MNeko-Chan.

—Do que você tá falando?- Eu não pude deixar de sorrir.

—Você tá em desespero por não saber o que está acontecendo com você.- Kou segurou minhas duas mãos- E nós vamos descobrir. Eu sei pra onde te levar.

Resolvi confiar, e fechei os olhos apertando as mãos do idol loiro.

Quando os abri, eu estava do lado de fora. Um lugar que eu não conhecia. O chão era de terra, e a grama tinha um cheiro esquisito de alguma planta. Á minha esquerda, existia uma construção de tijolos amarelos.

—Essa é a Casa das Profecias original.- Kou me explicou- Estamos no Reino Feiticeiro.

—Victoria não foi numa dessas quando descobriu que estava grávida?- Perguntei, e Kou fez um gesto de “sei lá”- Não quero descobrir que estou grávida, na verdade.

—Aqui eles costumam fazer os rituais de despertar.- Kou insistiu- Eles podem te responder se você é uma deles ou não.

Olhei pra ele meio confusa:

—Você vai me deixar saber se eu sou uma deles ou não?

Kou deu de ombros, e não falou mais nada.

Considerando que ele ficou pra trás, imagino que ele queria me dar um pouco de privacidade naquele momento.

Dei alguns passos na direção da construção, percebendo que não havia por onde entrar. Toquei na parede, e me assustei com uma presença do meu lado:

—Poderia te ajudar?

O homem parecia ter uns quarenta a cinquenta anos, e tinha a cabeça careca. Seus olhos eram heterocrômicos, sendo um verde e o outro vermelho. Seus lábios, por algum motivo, pareciam inchados e azuis. Ele estava vestido de lenços e panos vermelhos, e tinha quase certeza que estava descalço.

—Ah... Eu vim...- Não sabia o que responder- Visitar...

—Posso saber seu nome?- O homem respondeu com um sorriso quase assustador.

—Daayene. Daayene Hudison- Respondi sem pensar muito, e vi os olhos dele brilharem antes dele se esgueirar e beijar as costas da minha mão repetidas vezes.

—Esperamos muito tempo por sua chegada.- Ele disse, agora se levantando- Enviamos uma carta para uma festa onde estava presente para que nos achasse. Fico grato que não tenha demorado.

—Estavam... me esperando?- Eu questionei, extremamente perdida- Mas por que? Eu sou só uma humana sem-graça. Tipo, eu sei que sou muito gata, mas é só...

—Você veio porque quer saber se é uma de nós, certo, senhorita Hudison?- O homem me perguntou- Nossos chamados pelos seus sonhos tem te atormentado e te confundido, e você queria respostas.

Cerrei as sobrancelhas com aquela frase:

—Eu nem sei quem você é.

—Sou Pree, atual chefe dos profetas.- Ele se curvou novamente- Tenho em minhas visões a consciência de que alguns de meus seguidores andam causando problemas pra você e suas amigas e irmãs. Não se preocupe. Quando você se juntar, tudo voltará ao normal.

—Me juntar? Me juntar ao que?-  Eu perguntei- Eu só quero saber se sou uma profeta, nunca disse que queria realmente fazer parte da sociedade de vocês.

—Eu te faço uma oferta.- Pree olhou pra mim sem piscar- Entre na Casa das Profecias. Talvez o que ver possa te convencer a se unir á nós.

Olhei pra construção e depois pra Kou, que parecia confuso. Então me virei pro profeta de novo:

—O que eu preciso fazer?

Pree apenas estalou os dedos, e de trás saiu um servo com cara de ratazana com uma bandeja em mãos. Ele deixou-a no chão, e tirou de lá uma jarra cheia e uma taça, servindo o líquido no vidro.

Então o servo estendeu a taça pra Pree, que estendeu-a pra mim:

—Apenas beba. Se chama Dama da Noite. É um vinho que permite que profetas não-despertados e pessoas de outras raças possam ter contato com seu lado profético ao entrar nessa Casa.

Segurei a taça, apreensiva. Depois, tomei tudo num gole só e entreguei o recipiente vazio de volta pro servo. Depois de alguns segundos, percebi meus lábios ficando inchados até eu não os sentir mais.

Uma porta se abriu na construção.

—Lá dentro, verá muitas coisas que a perturbarão.- Pree me alertou-Visões adoráveis, e de horror, maravilhas e terrores. Imagens e sons de dias passados, dias por vir e outros que nunca aconteceram. Habitantes e servidores poderão falar com a senhorita à medida que avançar. Responda-lhes, ou os ignore, como quiser, mas não entre em nenhuma sala até chegar à sala de audiência. Não tente ver nada que não seja o que lhe mostramos.

Acenei com a cabeça. Esperei pela permissão do chefe, e entrei na Casa.

Ela começava num corredor escuro como em muitas de minhas visões passadas, o que me fez estremecer. Mas então as luzes passaram a acender, me permitindo ver o que estava acontecendo.

 Numa sala, uma bela mulher estendia-se nua no chão enquanto quatro homenzinhos rastejavam por cima dela. Tinham caras pontiagudas de ratazana e mãozinhas cor-de-rosa, como o criado que me tinha trazido o copo de bebida. Um deles subia e descia entre suas coxas. Outro atacava seus seios, mordendo seus mamilos com a boca úmida e vermelha, rasgando e mastigando a pobre coitada.

Mais à frente, vi um festim de cadáveres. Massacrados de forma selvagem, os mortos jaziam espalhados por cima de cadeiras viradas e mesas de montar estilhaçadas, estatelados em poças de sangue se espalhando. Alguns tinham perdido membros, ou até a cabeça. Mãos cortadas seguravam taças ensanguentadas, colheres de pau, aves assadas, pedaços de pão. Num trono acima deles, estava sentado um morto. Usava uma coroa de ferro e segurava numa mão uma perna de cordeiro como um rei seguraria um cetro, e seus olhos me seguiram com um apelo mudo."

Fugi da cena aterrorizante, mas só até a próxima porta aberta. Conhecia esta sala, pensei. Me lembrava daquelas grandes vigas de madeira e das faces de animais esculpidas nelas. E ali, do lado de fora da janela, uma macieira! Ver isso fez o meu coração doer de saudade. É a casa da porta vermelha, a casa de minha tia. Assim que aquele pensamento atravessou meu espírito, minha tia, Yoko, entrou na casa, apoiando-se pesadamente em sua bengala:

—Princesinha, aqui está - ela disse com sua voz áspera e bondosa- Venha, venha até mim, senhorita, está em casa agora, está a salvo agora. - Sua grande mão enrugada estendeu-se pra mim, suave como couro velho. Quis pegá-la e beijá-la, desejei isso mais do que já tinha desejado qualquer outra coisa na vida."

Corri até chegar em outra sala. Nesta, os crânios de drakons mortos miravam-me das paredes. Num trono elevado e aparentemente nada confortável, sentava-se um velho com ricos trajes, de olhos vermelhos escuros e longos cabelos cinza-prateados:

—Que ele seja rei de ossos tostados e carne assada - disse para um homem que estava embaixo - Que seja rei de cinzas.

Eu sufoquei um guincho do arrepio que senti, enterrando as unhas em seda e pele, mas o rei em seu trono não o ouviu, e  segui adiante.

Meu primeiro pensamento, na vez seguinte em que parou foi Subaru, mas um segundo olhar me fez mudar de ideia. O homem tinha os cabelos do Sakamaki, mas era mais alto, e seus olhos eram de um tom dourado, não vermelho:

—Raiden.-– ele disse para uma mulher que tinha as mãos apoiada numa barriga levemente estufada, deitada numa grande cama de madeira. – Que nome melhor para um rei?

—Fará uma canção para ele? – a mulher perguntou

—Ele já tem uma canção. É o Adão da nova raça, e é sua a canção de todas as raças.– ergueu o olhar quando disse aquilo, e seus olhos encontraram os meus, e pareceu que me viu ali em pé através da porta – Terá de haver mais um – ele disse, embora não soubesse dizer se estava falando para mim ou para a mulher na cama. –Não podemos perder mais chances.– dirigiu-se ao banco da janela, pegou um violino e começou a tocar com leveza sobre as cordas prateadas.

Uma doce tristeza encheu o quarto enquanto homem, mulher e bebê desapareceram como a neblina da manhã, deixando para trás apenas a música a fim de apressá-la.

—Daayene da família Hudison, seja bem-vinda.Venha partilhar o alimento da eternidade. Nós somos os Profetas. Longamente a esperamos – disse uma mulher ao seu lado, vestida de rosa e de prata. O seio que deixava nu à moda profeta, era tão perfeito como um seio podia ser.

— Sabíamos que viria até nós. – disse o líder profeta– Já sabíamos disso há mil anos, e temos estado todo esse tempo à espera. Enviamos um cometa no dia de seu nome para lhe mostrar o caminho.

—Temos conhecimento a partilhar com você. – disse um guerreiro com uma brilhante armadura verde-água- E armas mágicas para lhe dar. Ultrapassou todos os desafios. Venha agora sentar-se conosco, e todas as suas perguntas serão respondidas.

Resolvi ignorar as frases e continuei andando. Mas vozes insistiram:

     -Mães de drakons...filhas de três...Três cabeças tem o drakon......Três fogueiras tem de acender...uma pela vida, uma pela morte, e uma pelo amor..

—Três montarias tem de montar... uma para o sexo, uma para o terror, e uma para o amor...Três traições conhecerá... uma vez por sangue, uma vez por ouro e uma vez por amor...

Então vi sombras estremecerem através da névoa do comôdo, imagens em vermelho. Vi um homem familiar de cabelos claros cair ao chão enquanto sangue escorria por sua cabeça e enchia sua boca.

 Um senhor alto com pele pálida e cabelo loiro que combinava com os olhos vermelhos, ergueu-se á frente de uma bandeira de um garanhão em chamas., tendo uma cidade incendiada como fundo.

Rubis escorreram como gotas de sangue do peito de um príncipe moribundo, e ele caiu de joelhos na água, e com seu último suspiro murmurou o nome de uma mulher que não pude ouvir.

—Mães de drakons, filhas da morte...

Brilhando como o pôr do sol, uma espada vermelha foi erguida na mão de um rei de olhos vermelhos tão pálido que não parecia ter sangue.

Um drakon de pano se balançava, controlado por palitos, recebendo uma multidão exaltada. E então, de uma torre em chamas, um grande animal de pedra levantou voo, exalando uma fumaça vermelha...

—Mães de drakons, matadoras de mentiras...

Vi a égua prateada trotando, dirigindo-se a um riacho sombrio sob um mar de estrelas.  Um cadáver se ergueu à proa de um navio, de olhos brilhantes na face morta, lábios cinzentos sorrindo tristemente. Uma flor branca manchada de vermelho nasceu de uma parede, enchendo o ar de doçura.

 -Mães de drakons, noivas do fogo...

Saí correndo, não chegando a prestar tanta atenção nas outras cenas.

Vi sombras rodopiando e dançando dentro de um quarto, elásticas e terríveis.

Quatro meninas pequeninas corriam descalças pra uma casa de porta vermelha.

Uma mulher de cabelos longos cacheados guinchou entre as chamas, algo parecendo romper de sua cabeça.

Atrás de um cavalo prateado, o cadáver de um homem nu era arrastado pelo chão a solavancos.

Um leão amarelo rondou por pastos maiores que um homem.

Á sombra de montanhas, uma fileira de velhas nuas saíram de um lago e se ajoelharam tremendo diante á alguém, com as cabeças cinzentas inclinadas.

Mais de dez mil escravos estendiam suas mãos sujas de sangue para alguém que passava por eles que eu não conseguia ver. “Mãe!”, eles gritavam, “Mãe, mãe!”

Me apoiei numa parede quando senti falta de ar. Meus pés pareciam sair do chão enquanto minha garganta se fechava, e eu sentia uma energia me dominar como se eu estivesse fora de mim.

Senti o chão tremer quando caí nele.

Senti minhas costas se arquearem com uma dor súbita no peito. Parecia que mãos apertavam minha garganta, e minha pele com certeza ficaria avermelhada, pela forma como ela estava queimando.

—MNeko-chan?- Ouvi a voz de Kou. Senti ele me balançar, mas por algum motivo meu corpo não respondia.

Ele puxou meus cabelos pro lado e enfiou suas presas em mim de um jeito quase desesperado. Suas mãos apertavam meus pulsos, e eu queria berrar e me mexer para fugir daquela situação, mas o meu corpo não conseguia se mexer.

Quando abri meus olhos e finalmente senti a dor começar a se dissipar do meu corpo. Encarei o teto avermelhado,tentando recuperar meu fôlego. Meu primeiro instinto foi apertar meu pescoço, e ao afastar minha mão percebi que realmente, havia sangue lá.

Por outro lado, Kou não estava em nenhum lugar. Eu tinha quase certeza que ele estava esperando do lado de fora, mas eu também sabia que aquela marca de mordida não estava lá antes.

Eu sentia minha cabeça latejando, como se eu estivesse num estado de ressaca, mesmo sem ter bebido.

—Daayene Hudison- A voz de Pree ecoou- Você aceita o poder de Hyary, o criador dos profetas, sob seu corpo e suas ações, e promete jurar lealdade e sempre agir em seu nome?

—Aceito.- Disse, sem pensar e já pensando em todas as visões que eu tinha passado nas poucas horas que eu estava lá.

—Se levante, Daayene Hudison- Uma das mulheres profetas disse- Em nome das mães, eu te ordeno a ser gentil. Em nome dos cavaleiros, eu te ordeno a lutar. Em nome das damas, eu te ordeno a ajudar. Em nome das velhas, eu te ordeno a saber. Em nome da morte, eu te ordeno a usar seu poder.

Me apoiei no chão, fraca, e me assustei ao ver meu reflexo no vidro da janela.

—Daayene Hudison- Pree disse com orgulho- A mais nova profeta, a receptora dos poderes de Hyary! A profeta prometida!

Ouvi gritos de vitória, mas não os escutei.

Meu cabelo estava mais claro que o normal, e minhas vestes foram trocadas por uma túnica vermelha. Meus lábios estavam numa cor vinho, assim como meus olhos.

Olhei pro meu braço, vendo a marca que Meghanny havia deixado em mim no início de festival, agora marcada como um desenho na cor dourada.

Eu era uma profeta.

Aquele era meu lugar.


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Notas finais do capítulo

E AÍ, o que acharam desse cap BA-BA-DEI-RO? O que acham que vai acontecer com a nossa Dadazinha agora que ela virou profeta?
Não se esqueçam de comentar suas opiniões e teorias que eu amo leer!
Beijos e até o próximo capítulo



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