Aracnídeo: Sangue Perdido escrita por Gabriel Souza, WSU


Capítulo 8
Capítulo 7




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Andressa estava deitada em seu sofá, não aguentava mais ouvir Bernardo falar sobre seus objetivos milhares de vezes para as pessoas de sua comunidade, mesmo que aquilo fosse necessário para influenciar as pessoas à terem a força necessária para lutar pela liberdade delas, aquilo já estava exaustivo.

Um barulho de porta sendo aberta e fechada chegou aos ouvidos da jovem que já sabia quem se aproximava, Bernardo, com o seu rotineiro olhar melancólico que não saía de seu rosto à muito tempo.

— Cansada? — Ele questionou enquanto ia para a pequena cozinha, seu estômago roncava.

— Um pouco, meus ouvidos e minha mente precisavam de um pequeno descanso, aquela barulheira que o povo faz em seus cultos às vezes cansa.

Andressa pôde ouvir uma breve risada de Bernardo acompanhada pelo som da geladeira sendo aberta do outro cômodo.

— Bom, pelo menos o nosso sonho está encaminhado, digo, é isso o que todo queremos, certo? — Bernardo pegou um Danone e uma geleia fechando a porta logo depois.

— É, nosso sonho. — Andressa colocou seu braço sobre a testa, a luz já à incomodava — tanto faz — bocejou, um sinal de que seu cansaço dizia que era hora dela dormir — Tudo o que eu quero agora é um momento de paz.

— É o que todos nós teremos — Bernardo se sentou numa brecha do sofá e ligou a tv — Assim como Letícia desejava que tivéssemos.

Olhou para o lado e observou que Andressa já adormecera, ela realmente estava acabada. Colocou um lençol sobre ela, ajeitou suas pernas e continuou a assistir televisão.

 

 

***

 

O barulho do vento lá fora era alto, aquelas três pessoas vestidas com longos casacos pretos faziam o que podiam para ignora-lo enquanto recebiam o seu líder, o padre daquela pequena comunidade corrompida. Um deles, o mais alto, se agachou para pegar um pedaço de papel que voara de dentro do Troller a qual pertencia à Bernardo, foi em direção à seu líder e o devolveu.

— Deixou isto cair, senhor — Sua pele clara quase 100% escondida em meio à escuridão e o conjunto de roupas refletiam a fraca luz lunar, Edgar era seu nome, o corrompido com super-força e poderes relacionados à luz, mais precisamente à reflexão dela.

— Obrigado irmão — Bernardo apanhou o papel guardando-o em seu bolso, logo em seguida partiu para dentro da pequena paróquia do bairro.

 

 

A paróquia era extremamente simples, quase abandonada, era usada pela igreja católica até alguns meses antes quando Bernardo e seus homens expulsaram os religiosos do local que virou a nova igreja do padre corrompido. Local em que ele poderia proclamar seus ideais para a população mais sofrida e onde poderia usar um pouco de seu poder para ajudar a enraizar uma crença em seu povo. A crença de uma divindade que desceria ao mundo e escolheria um dentre eles para ser o salvador da raça corrompida, aquele que guiaria-os em meio à tempestades, sangue e lutas até a liberdade genuína.

Bernardo se colocou à frente de todos, em cima do altar onde agora jaziam imagens dessa nova religião, em detrimento às imagens cristãs que antes estavam no local.

— Irmãos... — A catedral estava lotada, centenas de corrompidos abandonados pela sociedade assistiam aos cultos realizados por Bernardo semanalmente, sua procissão atraía principalmente pela crença messiânica construída em torno do auto proclamado padre, ele era visto como o salvador guia de um povo que buscava aquilo que lhe era de direito.

— Não sei como descrever minha felicidade em ver todos vocês reunidos aqui esta noite, como sabem nossa situação não é das melhores, perdemos irmãos e irmãs para o ódio generalizado nas últimas semanas, casos de caçadores de corrompidos são cada vez mais frequentes, o medo e o zelo pela segurança de nossos filhos vive momento difícil é verdade. Mas nosso senhor guiador nos livrará desse mal, mil poderão perecer mas ainda assim continuaremos aqui, firmes e fortes na luta pelo nosso direito de uma vida justa no nosso lugar de direito, somos especiais, não monstros sem almas.

— Essa população e seu governo nos tratam como o europeu tratou o nativo, mas não deixaremos que isso continue, as futuras gerações viverão uma época de prosperidade, o mundo guiado pelo nosso desejo mais profundo — Bernardo se concentrava bastante na enunciação de suas palavras, anos de prática lhe deram a facilidade em mesclar palavras com sua habilidade especial, sendo assim, Bernardo poderia ser considerado a pessoa mais influente do mundo, o que saía de sua boca tinha poder de convencimento surreal — Assumiremos o controle de tudo, e assim poderemos criar a nossa sociedade justa, pois nós somos merecedores disso. Ninguém disse que eles tinham que nos renegar, nós os renegaremos, faremos-os provar daquilo que eles nos fazem viver, a subsistência relegada.

Gritos de apoio vinham da multidão reunida, Bernardo já havia entrado na mente e no coração daquelas pessoas, meses proclamando suas palavras diariamente para todos, ele não era poderoso o suficiente de te obrigar a fazer algo que você imediatamente não quisesse, mas tinha poder o bastante para criar um semente dentro de ti, um pequeno fruto que afloraria e se tornaria um ideal, uma crença, aquilo que você mais desejava realizar, com ou sem a presença de Bernardo ainda te influenciando, isso se tornaria parte de você.

— Ele continua o mesmo de sempre — Cassandra, estava encostada em um dos pilares da igreja, trazia consigo dois de seus seguidores, Marcel, um homem alto e de pele clara, seu apelido era o destruidor devido à sua força implacável, o homem mais forte entre todos os seguidores de Cassandra. E Enrique, um jovem de 15 anos e pele morena, em suas costas ele carregava a sua espada, a famosa Caliburnus, em homenagem a lendária espada do rei Artur, Excalibur, seu poder especial era o controle sobre cargas elétricas, que em conjunto com suas habilidades espadachins lhe tornavam um inimigo feroz e mortal.

— Você também Cassandra — Uma voz feminina veio em resposta, os três se voltaram para a pessoa cuja qual a voz pertencia, uma jovem de cabelos negros contrastantes com sua pela extremamente clara.

— Andressa — A mulher de pele negra se desencostou do pilar e deu um abraço em Andressa — É bom ver que ainda segue nossos ideais, tinha ouvido falar que você estava andando com um daqueles do Rio, o garoto Aracnídeo.

Andressa pigarreou, conhecia Cassandra há anos, sabia de seus métodos extremistas pela causa corrompida, para ela os fins justificavam os meios, e para Cassandra o fim era a soberania corrompida e quem se metesse no meio encontraria a morte.

— Não temos os mesmos ideais — respondeu seca — Muito menos depois do que você e seus homens fizeram há duas semanas.

Cassandra sorriu deixando à mostra seus dentes amarelados.

— Fala do prefeito? Só demos um susto nele, igual vocês fizeram com o Aracnídeo — Andressa fechou a cara, ainda não aceitava que Bernardo tivesse mandado Fenrir e Renato agredirem Jonas — Olha só — Cassandra abriu mais ainda seu sorriso — parece que a branca de neve aqui realmente é próxima daquele heróizinho. — Passeava seu dedo indicador pelo rosto de Andressa, sentia prazer em provocar as pessoas, se fosse alguém que fora forçado a se aliar à ela, mais gostoso seria.

— Se quer alguma coisa aqui — Andressa tirou o dedo de Cassandra de seu rosto num movimento rápido logo em seguida o deslocando — fale com Bernardo quando ele acabar.

Os dois homens de Cassandra se prepararam para atacar Andressa, porém foram interrompidos por sua líder que sentia prazer em realocar seu dedo.

— Continua com personalidade forte. É assim que gosto.

Andressa se distanciou do trio saindo da catedral, os últimos dias não estavam sendo como ela desejava, dúvidas cresciam em sua mente todos os dias e isso desencadeava longas discussões com Bernardo.

— Droga Jonas, vá se ferrar com seu otimismo. — Uma cansada Andressa resmungava em meio à chuva.

 

 

 

***

 

— Cassandra, que bom vê-la aqui — Bernardo entrava na sala de sua casa onde Cassandra e seus dois seguidores permaneciam esperando-o até aquele momento.

— Ora, como se você não soubesse que viríamos lhe visitar — Ambos se abraçaram — Afinal de contas, foi você que convocou nossa presença — Cassandra sentou-se no sofá preto, Marcel e Enrique fizeram o mesmo ocupando todos os espaços do móvel obrigando Bernardo à ficar de pé — O que traz minha curiosidade, porque você, logo você, me chamaria aqui?

Bernardo tentou mostrar um sorriso.

— Pelo nosso sonho, a realização dele — Bernardo pegou o controle de seu projetor em cima do centro e o ligou, na parede a imagem do mapa da cidade aparecia, alguns locais eram demarcados por um X vermelho.

— Você sabe que sempre tivemos ideais parecidos — O padre começou a falar porém Cassandra pigarreou — Apesar das diferenças da forma com que agimos — Bernardo concluiu seu pensamento.

— Concordo — Apesar da pose de superioridade, Cassandra estava curiosa para saber o motivo de ser chamada até aquele local.

— Bem, eu e meu grupo planejamos conquistar a cidade para nós, como uma forma de mostrar ao mundo que devemos ser respeitados, mostrar a todos que temos força para lutar pelo o que é nosso de direito e que se necessário, temos poder para ir de frente contra qualquer exército. — Bernardo levou a atenção de Cassandra e seus companheiros até um dos pontos marcados com um X — para isso precisamos de um exército próprio é claro, e você, mais do que ninguém, sabe que a maioria do meu pessoal não é soldado. Não tenho pessoas acostumadas a lutar como você e seus homens, pessoas capazes de nos ajudar a desferir ataques simultâneos à esses pontos — apontou para os um dos pontos, uma penitenciária — Um grupo pequeno atacaria o presídio Anibal Bruno, a fuga em massa do pior presídio do país já traria por si só problemas para a região metropolitana, isso seria uma boa forma de distrair as forças locais.

Seu dedo traspassou para o bairro de Santo Amaro, mais precisamente na prefeitura de Recife — Eu e meu pessoal poderíamos atacar a prefeitura, tomar o centro político da cidade é importante para que possamos tomá-la para nós — Seu dedo agora apontava para o marco zero da cidade — E aqui, cheio de turistas e um dos locais importantes da cidade, precisamos criar também o medo nas pessoas, essa é a melhor forma de demonstrarmos o nosso poder para a sociedade, através do medo.

— Aonde você quer chegar com isso Bernardo?

Bernardo balançou a cabeça negativamente — Eu quero ver essa cidade queimando, literalmente, mas também quero que o meu povo veja como é estar por cima da sociedade, quero que o povo comum, aqueles que nos excluem sintam como é ser rebaixados, como é sentir medo. Quero que o resto do mundo veja isso e tenha respeito e medo de todo e qualquer corrompido, para que nunca mais eles ousem nos colocar de lado, como reles corpos sem alma.

— Você é mais maluco do que eu pensava — Enrique se pronunciou pela primeira vez desde que chegara àquele local.

— Tenho que concordar — Cassandra cruzou as pernas — Porém, isso parece divertido. — Ela se levantou e ergueu sua mão à Bernardo — Combinado, quando faremos isso?


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