Aracnídeo: Sangue Perdido escrita por Gabriel Souza, WSU


Capítulo 6
Capítulo 5




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O brilho da fogueira iluminava a rua escura, pouco mais de 30 pessoas faziam-se presente em torno dela, todos unidos por um único propósito, a causa corrompida. O alicerce que unia aquelas pessoas era forte, o sentimento misto de raiva, esperança e desespero. Uma mistura perigosa que pode fazer qualquer ser vivo tomar decisões erradas e seguir ideologias perigosas.

— Vocês viram como a mídia trata pessoas como nós, somos os excluídos, os derrotados, criaram até um termo chulo para nos denominar, os corrompidos, o povo amaldiçoado é o que eles dizem. — Uma mulher alta tomava a frente do grupo, sua pele negra era iluminada pela luz incandescente da fogueira, seus seguidores a idolatravam, era líder de um ramo extremista da causa corrompida paralelamente ao grupo liderado por Bernardo, porém os grupos mantinham relações amistosas entre si.

Seu objetivo era fazer os humanos comuns sofrerem por aquilo que fizeram aos corrompidos no passar dos anos — Hitler também pensava isso, os romanos, antigos egípcios, até os Gregos em relação à outras cidades-estado, todos pensavam que eram superiores, que o resto deveria ser subordinado, renegado, sua raça era a superior — Ela pôs sua mão sobre o fogo, sentia o calor percorrer por sua pele e se deliciava com a dor que estava presente naquele momento — Sabem o que todos tem em comum? Eles caíram.

 

 

 

***

 

A janela do quarto estava aberta, Rafael e Beatriz estavam sentados próximos a ela, a conversa que ambos tinham era algo que deveria ser mantido em segredo até mesmo de Jonas, em suas recentes buscas por Andressa. Rafael encontrara informações sobre uma mulher de aproximadamente 20 anos que havia matado homens de uma empresa privada, a Phoenix Labs, poderia ser qualquer pessoa é claro, não fosse o fato de os corpos terem sido encontrados ou congelados ou fritados por uma alta descarga elétrica, duas das capacidades de Andressa.

— Se ele souber disso ele pode até abandonar o colégio só para ir atrás dela. — Beatriz se portava apreensiva, nunca havia gostado muito de Andressa, parte disso se devia ao fato de ela ainda ter sentimentos pelo jovem jogador de basquete e herói de Recife. E em parte pelo comportamento de Andressa perante as pessoas, era como se ela só se abrisse com Jonas, sendo que com o resto, ela fosse a pessoa mais fria que pudesse existir, fazendo jus à seu sobrenome.

— Relaxem, não vou fazer isso — Jonas apareceu na janela pegando os dois amigos de surpresa — Se querem conversar sobre algo que vocês não querem que eu saiba, não conversem perto da minha janela.

O jovem corrompido lançou uma teia na casa vizinha e se distanciou de seu quarto voltando a patrulhar a cidade como Aracnídeo.

 

 

 

***

 

— Andressa — Bernardo chegava à casa nova de Andressa — Você está aí?

— Tou sim — respondeu a garota de 19 anos — Estava assistindo um pouco de tv.

O rapaz loiro se aproximou analisando a casa, o novo lar de Andressa era simples como o anterior, a garota nunca fora fã de muito luxo, desde pequena ela era assim.

— Lembra daquela vez no parque, que aqueles garotos ficaram te enchendo até você mostrar seus poderes?

— Só para depois eles me chamarem de aberração — respondeu a garota.

— Isso. Você lembra o que eu te disse naquela noite?

A garota sentou-se em seu sofá bege, olhava para o rosto do homem à sua frente em busca de encontrar as semelhanças com o garoto daquela época.

— Você disse para eu não ficar triste, que chegaria um dia em que as pessoas olhariam para mim e me idolatrariam, desejariam ser tão poderosos quanto eu era. — A garota respondeu lembrando-se da noite em que conhecera Bernardo 13 anos antes.

— Esse dia está próximo maninha, prepare-se, pois o dia em que os corrompidos serão idolatrados está encaminhado — Dois homens entraram pela porta da frente — Esses são Renato e Fenrir — apontou para as duas figuras altas, Renato, o mais alto e esguio, e Fenrir, de pele meio acizentada e bastante peluda — Eles dois são os responsáveis pelo próximo passo da nossa revolução.

— Aquele passo? — Andressa questionou receosa, ela não gostava dessa parte do plano.

— Fazer o Aracnídeo perceber que escolheu o lado errado.

 

 

***

 

— Jonas, fala comigo — Rafael tentava se comunicar com seu amigo pelo celular que estava conectado ao uniforme dele via Bluetooth através de um fone acoplado na máscara — Qual é cara, atende isso.

— Rafa... — Beatriz chamou o preocupado adolescente — Você deveria ver isso.

Na tela do computador que Beatriz mexia estava a fanpage do Aracnídeo, nele uma transmissão ao vivo estava sendo realizada pelo herói mascarado graças à uma micro câmera que Jonas instalara acima do nariz da máscara, Rafael nunca pensou que Jonas pudesse um dia usar essa câmera de verdade.

— O que ele está fazendo? — O rapaz olhava a cena da live, Aracnídeo em meio à três homens armados, todos vestidos com uniformes de uma empresa, Phoenix Labs — Ele está fazendo o que eu acho que está, com os caras que eu acho que são? — Estava claro o motivo de Jonas ter ido atrás de homens desse laboratório, não era a primeira vez que eles estavam envolvidos em assuntos pessoais para Jonas, no que se refere à sua vida heroica, e agora com a recente informação sobre Andressa, o rapaz estava seguindo seus instintos na tentativa de encontrar a garota.

— Ah, oi pessoal — Uma voz feminina veio da porta do quarto, nele uma garota ruiva apoiando em um dos ombros uma bolsa verde e branca estava parada — Eu marquei de estudar com o Jonas aqui hoje, não sabia que vocês iam estudar com a gente também.

— Serena! — Rafael se levantou de súbito indo em direção à adolescente de cabelos longos — É, sabe como é o Jonas, ele se atrasa pra tudo — abraçou com força a garota — Dá para acreditar que ele está atrasado até para chegar em casa.

— Oi — Beatriz sorriu e acenou de forma nervosa, não sabia como enrolar a garota que havia acabado de chegar, mentir não era seu forte.

— Tudo bem — Serena entrou no quarto para o desespero dos dois colegas que buscaram não transparecer — Tão assistindo o quê? — apontou para a tela do computador.

Rafael correu para o lado da garota.

— Era só um filme, mas ele é bem ruim né Bia? — Rafael olhou para Beatriz na busca por uma ajuda.

— Esse não o Aracnídeo? — A ruiva questionou antes que Bia pudesse sequer falar.

— É sim — Beatriz respondeu se virando para o computadores — O filme estava muito ruim e daí eu decidi dar uma olhada nessa live.

— Ah — Nem um pouco convencida da mentira de Beatriz, Serena sentou na cama e colocou sua bolsa apoiada no chão — Não sabia que ele se transmitia em ação.

— Pois é né, ele não costuma fazer isso com frequência — Beatriz respondeu sem olhar para Serena, manter contato visual não seria uma boa para ela.

— Certo — Serena sabia que os dois colegas de classe estavam escondendo algo dela, ela podia sentir, porém não falou nada sobre — Vamos assistir então enquanto o senhor atraso chega.

— É, vamos, vai ser legal — Rafael falou sentando-se entre Bia e Serena com um sorriso no rosto, que no fundo escondia sua preocupação.

Na transmissão era possível ver o Aracnídeo de pé sobre três homens inconscientes, os comentários na aba ao lado da tela de transmissão estavam inquietos, a maioria de pessoas buscavam mais ação.

— Ora, ora — Uma voz grave vinha se aproximando do Aracnídeo — Se não é o garoto aranha — Dois homens surgiram diante do Aracnídeo, ambos eram altos e aparentemente fortes — Queremos conversar com você um pouquinho.

Aproveitando-se da distração do Aracnídeo com os recém-chegados, os três homens da Phonix Labs fugiram, porém o herói mascarado não se importou, focava-se na dupla, sabia que eles eram encrenca.

Os olhos do mais esguio brilharam numa tonalidade esverdeada.

— Eu e meu amigo aqui — olhou para seu parceiro que já mostrava dentes caninos expostos — Ouvimos muito sobre você.

O de olhos verdes desapareceu instantaneamente reaparecendo logo em seguida atrás de Jonas, aplicou-lhe então um mata leão pelas costas — Esperamos que você honre o que nos prometeram, não é, Fenrir?

Fenrir, o canino e peludo sorriu e partiu para cima do mascarado que se soltou e deu-lhe um chute no queixo, logo em seguida saltou para o teto e olhou para seus dois adversários mais abaixo.

— Foi mal, quem são vocês mesmo? — O herói aracnídeo olhava seus adversários de cabeça para baixo, sabia que no chão teria desvantagem, ambos os inimigos pareciam ser difíceis de se enfrentar no mano a mano, mais ainda em dupla.

— Desculpe — O de olhos verdes apareceu ao lado do Aracnídeo e lhe deu um soco derrubando-o do teto — Fui muito mal educado em não nos apresentar — desapareceu e reapareceu novamente no chão, acertando um soco na barriga do Aracnídeo antes mesmo que ele chegasse a tocar o solo – Sou Renato e esse é o Fenrir — jogou o herói mascarado em direção ao híbrido entre lobo e homem — Ele não gosta muito de adolescentes que se acham no direito de entrar no jogo de adultos — Fenrir mordeu a perna do Aracnídeo que berrou de dor.

Rafael passava a mão entre os cabelos preocupado com seu amigo, Beatriz comia as unhas. Serena entretanto, mantinha-se focada na tela.

— Sabe, quando se é meio corrompido — Renato desapareceu — E meio lobisomem — acertou um chute no rosto do Aracnídeo que rolou três vezes no chão até ser parado pela perna de Renato que já havia se teleportado novamente — você desenvolve uma personalidade forte. — chutou o Aracnídeo na direção de Fenrir que pegou o garoto pela perna com uma mão e o lançou na parede mais próxima — Dizem que adolescentes têm personalidade forte. — Teleportou-se para perto do Aracnídeo e pisou na mordida em sua perna, o garoto gritou novamente — Pessoas com personalidades fortes geralmente não gostam umas das outras.

Fenrir olhou as garras em suas mãos, sentia o cheiro do sangue do garoto à sua frente e estava ansioso para brincar com suas garras e a pele do herói.

— Vocês... — Aracnídeo acertou um chute em Renato com sua perna livre, o teleportador voou alguns metros e bateu contra o teto — não me pegaram... — lançou uma teia no calcanhar de Fenrir que rosnou de volta, puxou com ambas as mãos a corda de teia tirando o equilíbrio do homem-lobo que caiu no chão — num bom dia.

Aracnídeo lentamente levantou-se, estava prestes a fazer algo que evitava há bastante tempo, pois mesmo ele sabendo que agora detinha muito mais controle de si, ainda não confiava em si nessa forma.

— Vocês me obrigaram a fazer algo que eu não planejava.

Do quarto de Jonas Rafael acompanhava atentamente cada detalhe e sabia o que seu amigo estava prestes a fazer e por conta disso o medo se tornara crescente dentro de si. Temia pelo amigo, sabia que além de doloroso aquilo era muito perigoso para Jonas, ele se deixava levar mais pelo instinto do que pela cabeça naquela forma.

O herói mascarado caiu de joelhos, a dor que ele sentia era intensa, era um preço a se pagar pelo poder. Suas unhas cresciam e sua coloração escurecia, se tornavam garras, presas cresciam no lugar de dentes, os músculos internos rangiam contra os ossos, eles cresciam e empurravam tudo, o castanho se tornava azul em seus olhos. O adolescente gritava enquanto sua transformação ocorria, seus adversários se encontravam de pé.

— Fenrir — O lobo olhou para Renato — Já sabe o que fazer.

Fenrir colocou-se sobre quatro patas, estava preparado para a caça, todos os seus sentidos aguçados ao máximo, olhou sua presa no chão e saltou para cima dela. Renato sorriu imaginando que seu parceiro daria um jeito no jovem vigilante, porém seu sorriso logo sumiu do rosto quando Fenrir foi jogado em sua direção.

— Como eu tinha dito — Uma teia grossa foi disparada no rosto de Renato o puxando com força até a mão de Jonas que o segurou pelo pescoço — Vocês não me pegaram num bom dia.

 

 

***

 

Cassandra, a líder de um grupo corrompido extremista fitava a prefeitura, local onde estava um dos principais homens da cidade, um dos alicerces da sociedade opressora a qual todos estão submetidos.

— Rapazes, sabem o que fazer.

 

 

***

Renato se levantava com dificuldade, os três últimos golpes do Aracnídeo haviam sido fortes, seu sistema nervoso ainda tentava se focar.

— O que foi? — Aracnídeo saltou dando um mortal. Ainda no ar desviou-se de uma coluna jogada em sua direção por Fenrir — Tá cansado? — soltou teia com ambas as mãos, a esquerda lançou o fluído no rosto de Renato enquanto a direita criou uma espécie de corda de teia que prendeu ambas as pernas de Fenrir, fazendo-o tropeçar.

Renato atacou Jonas sem tirar a teia de seu rosto, teleportou-se para trás do garoto e deu-lhe um soco na nuca sem efeito, logo sumiu e reapareceu ao seu lado esquerdo dando uma rasteira nas pernas do adolescente que caiu no chão, teleportou-se novamente, para perto de Fenrir e soltou suas pernas, segurou em seu parceiro e em seguida levou-o para cima do Aracnídeo. Fenrir apenas fechou o ângulo entre seus braços e antebraços para 90 graus, com uma cotovelada dupla acertou as costas de seu inimigo aracnídeo, girou e lhe aplicou uma mordida na mesma perna que já havia ferido anteriormente.

— Vocês... — Aracnídeo gemeu de dor, sentia que a cada segundo que se passava ele perdia um pouco de sua consciência, era difícil se manter consciente naquele estado, instintos primitivos cada vez mais fortes tentavam tomar o controle de suas ações.

Fenrir levantou o Aracnídeo pela gola do uniforme, sentia prazer em ver seu inimigo ferido e sangrando.

— Esperava mais de você, não faz jus à sua fama — Fenrir jogou o garoto contra a parede e voltou-se para seu parceiro, que mantinha-se atento em relação ao Aracnídeo.

— Acho que já ensinamos uma lição à esse garoto — Renato se teleportou novamente para perto de Jonas, podia ver o sangue em sua roupa, principalmente na calça rasgada. Aproximou-se do rosto do herói — Se não pode contra dois, como planeja enfrentar um exército de corrompidos que lutam pela revolução — largou o ensanguentado herói no chão e desapareceu junto de Fenrir.

Jonas jazia no chão, ensanguentado e todo dolorido, ainda fazia sua transmissão para seus seguidores, aproximadamente 500 pessoas assistiam à batalha do corrompido contra seus dois agressores, dentre elas três se destacavam, Rafael, Bia e Serena que estavam no quarto de Jonas e se encontravam horrorizados ao ver o Aracnídeo derrotado.


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Notas finais do capítulo

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