Aracnídeo: Sangue Perdido escrita por Gabriel Souza, WSU


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é meio que dividido em duas partes, uma leve e cômica e outra mais séria. Espero que gostem.



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O amanhecer de mais um dia em Recife se deu de forma diferente para Jonas, normalmente iria vestir parte de sua roupa de Aracnídeo por baixo do uniforme do colégio e o restante guardaria dentro da mochila para que caso houvesse uma emergência. Como quando lutou ao lado da Frente Unida um mês antes no Rio de Janeiro e que já vem salvando pessoas à meses na capital pernambucana.

Estranhamente, para ele, esse não era um dia comum, Andressa, a corrompida com poderes de controlar energia que conhecera na noite em que ele e o Soldado Fantasma derrotaram John Soares, apareceu em seu quarto sangrando na noite anterior. Para piorar a situação ela lhe contou sobre a figura encapuzada que vinha matando corrompidos por debaixo dos panos nas últimas semanas e surra da noite anterior enquanto ela tentava persegui-lo, após flagrá-lo matando uma criança.

 Andressa estava no banheiro ao lado, tomando banho enquanto Jonas penteava seu cabelo, a sensação de ter uma garota bonita como ela dormindo em seu quarto e tomando banho no banheiro ao lado era diferente de tudo por qual ele passara. Claro, sempre foi o namorador e as garotas do colégio nunca foram muito difíceis para ele, porém Andressa era diferente, era uma garota forte, determinada e extremamente marcada por um passado sofrido. Crescer sabendo que era uma corrompida num mundo onde o preconceito contra tudo e todos nunca deixou de existir e nem dava o mínimo sinal de que um dia deixaria, era complicado e Jonas admirava a forma como ela seguia em frente.

 A porta se abriu e uma garota de cabelos pretos e olhos verdes entrou no quarto, sua cara séria mostrava sua determinação e os ferimentos à mostra deixavam claro que o adversário da noite anterior tentara com todas as suas forças matá-la.

 — Você está bem? — questionou Jonas se aproximando de Andressa.

 — Estou — Andressa se desviou de Jonas ainda segurando sua toalha acima dos seios — Só preciso de um favorzinho seu.

 Jonas coçou a cabeça esperando pelo favor.

 — O quê? — questionou.

 Andressa lhe lançou um sorriso malicioso.

 — Que saia do quarto. Ou você quer me ver pelada?

 Jonas travou por um segundo, já havia ficado com muitas mulheres, algumas delas eram até bem atiradas, mas esse comentário vindo de Andressa era diferente para ele, com ela, sentia algo que nunca sentira com nenhuma das garotas com a qual ficou em toda sua vida, pois com ela, já havia desenvolvido certa intimidade e uma ligação forte. Geralmente as garotas que ele ficava eram só isso mesmo, ficar e nada mais, ele tinha sido provocado por alguém tão próximo, por assim dizer.

 — É... claro, claro. Tou saindo — Um sorriso nervoso e um pequeno tropeço de Jonas em uma de suas basqueteiras, que estava jogada no chão, fizeram Andressa sorrir — Desculpa. — fechando a porta e descendo até o térreo da casa.

 Andressa sorriu por mais alguns segundos e tirou a toalha de seu corpo.

 No andar debaixo Jonas ainda estava nervoso, então se direcionou o mais rápido possível para a cozinha numa tentativa instintiva de controlar o nervosismo com comida, porém ao abrir a porta do cômodo deu de cara com uma pessoa que ele esquecera completamente até aquele presente momento, sua mãe, Carla Ferreira, que terminava de colocar ovo num prato.

 — Bom dia filho. — Seu cabelo castanho ainda estava desarrumado.

 — Bom dia mãe. — Jonas pensava em uma forma de fazer sua mãe ir para o lado de fora da casa o mais rápido possível, fazendo assim com que a estadia de Andressa em sua casa passasse despercebida — O dia está bom não acha?

 Carla sorriu e se distanciou da mesa, se aproximando do filho.

 — Está sim, algum problema? — Como uma boa mãe, Carla sabia como Jonas agia quando estava nervoso ou queria esconder algo.

 — Não, nenhum. — respondeu rapidamente.

 — Tudo bem... — Carla percebera que seu filho lhe escondia algo, o que já era rotineiro desde seu acidente no início do ano.

 — Jonas — Uma voz feminina veio da escada pegando mãe e filho de surpresa, principalmente a mãe — Pode parecer meio idiota mas eu não tenho nenhuma roupa sobran... Olá.. senhora.. Ferreira!

  Andressa aparecera na porta da cozinha segurando uma toalha branca, não havia trazido roupa sem ser a do corpo, que estava encharcada de sangue, e descera para alertar Jonas na esperança de que ele tivesse algo que servisse para ela usar por enquanto.

 — O-Olá — Carla não sabia se ficava surpresa ou com raiva — Você é a namorada do meu filho?

 O coração de Jonas quase saltou pela boca, sua pele queimava feito carvão em brasa e sua mente se negava a acreditar na cena em que estava vendo. Carla permanecia parada e fitava a garota com um misto de surpresa e curiosidade. Andressa achou graça da situação.

 — Ainda não chegamos nesse estágio, seu filho é meio tímido na hora de demonstrar seus sentimentos mais íntimos. — Andressa sorria, esquecendo-se um pouco de seus problemas — Prazer — abraçou Carla com uma mão, a outra segurava a toalha junto ao corpo — Sou Andressa.

 — Muito… prazer Andressa — Carla virou o rosto em direção à seu filho que permanecia travado, como se alguém lhe tivesse lançado o feitiço petrificus totalus — Meu filho nunca trouxe uma namorada aqui em casa antes — Olhou para a toalha em Andressa — Muito menos assim...

 — Mãe... — Jonas tentou responder algo convincente mas nada saíra de sua boca.

 — Ah! — Exclamou Andressa ficando levemente constrangida — Isso é meio estranho de se explicar...

 — Não precisa — Carla cortou — Espero que tenham usado preservativo, sou nova demais para ser avó.

 — Mãe, nós....

 — Usamos sim.

 Jonas olhou irritado para Andressa que lhe respondeu com um sorriso no rosto.

 — Ainda bem — Suspirou meio aliviada — Esse daí — Apontou com a cabeça para o filho — Não sabe nem fazer o próprio almoço, imagina cuidar de uma criança.

 Andressa deu uma risada.

 — Ei, o dia não está tão bom hoje? — Jonas empurrava Andressa para longe de sua mãe — Vamos lá fora olhar para esse céu azul tão lindo.

 — Jonas! — Carla gritou gelando Jonas até a espinha em sua testa. — Ela está sem roupa. — O garoto parou e olhou por alguns segundos fixamente para o corpo de Andressa, ela não vestia nenhuma roupa ainda, apenas a toalha que ele deixara para ela.

 — Ah, é... foi mal. — coçou a nuca freneticamente percebendo que estava se afundando cada vez mais.

 

 

 

***

 

 Do lado de fora da casa, Jonas e Andressa estavam sentados na calçada aparentemente esperando o amigo de Jonas, Rafael passar para levá-los para o colégio, essa foi a desculpa que Jonas inventara para fazer com que sua mãe não deixasse os dois no colégio naquela manhã, a desculpa veio de forma até natural durante o nada confortável café da manhã que Jonas, sua mãe e sua suposta namorada tiveram.

 — Bem, já conheci sua mãe, diria para você conhecer a minha se ela fosse viva. — Andressa comentou vendo Carla dando ré no carro e saindo de casa.

 — Não tem graça Dessa, minha mãe deve estar pensando que sou um tarado que sai transando por aí.

 — E você não é?

 Jonas olhou sério para Andressa que sorriu, deu-lhe um selinho rápido e se levantou antes que Jonas pudesse reagir.

 — Vamos, tem alguém que eu quero que você conheça. — Jonas continuou parado — Vamos, juro que não é meu pai. — disse sorrindo.

 Andressa puxou Jonas pelo braço o forçando a ficar de pé. Logo em seguida o abraça pelas costas.

 — Vamos lá garoto aranha, solta sua teia e nos tira daqui.

 

 

 

***

 

 Recife era uma capital consideravelmente grande e como toda cidade de seu tamanho, tem as partes ricas, médias e as partes esquecidas e/ou abandonadas, esse era o caso da área onde Andressa morava, uma área esquecida pelo estado, pelo município e pelas pessoas. Local onde corrompidos refugiados se aglomeraram nos últimos anos vivendo em uma espécie de comunidade a parte dentro da cidade de Recife, territorialmente pertencente ao município, porém abandonada pelo mesmo.

 Jonas e Andressa chegaram à área a qual os corrompidos abandonados viviam, onde Andressa viveu nos cinco últimos meses, a sujeira por todos os lados e pessoas sentadas nas calçadas vestidas com roupas simples e por vezes rasgadas mostravam como o local não era um dos melhores para se viver.

Jonas apenas se sentia culpado por nunca olhar para aquela realidade a qual ele poderia estar vivendo, corrompidos eram ignorados, as pessoas fingiam não conhecê-los, ignoravam sua existência, muitos literalmente nem sabiam que eles existiam até eventos recentes, como por exemplo o caso Rio, a primeira vez que a Frente Unida apareceu para o mundo, tudo porque os poderosos fizeram de tudo para esconder essas pessoas e os próprios coitados se escondiam devido ao medo do preconceito.

Naquele momento, tudo o que Jonas pensava na sua sorte por ser ignorante a àquela realidade até se descobrir um corrompido. Ele não saberia dizer como reagiria se ele fosse uma das pessoas que odiavam os corrompidos e logo depois se descobrisse como um deles.

 — Bem-vindo ao meu lar — Andressa cortou o silêncio — Não é tão bonito e limpo quanto o seu, mas dá para viver.

 Jonas observava a área, se sentia mal por nunca ter ido visitar Andressa em sua casa antes, ele sabia onde ela morava, já havia a deixado lá, na noite em que se conheceram, quando derrotaram John Soares, o homem que mostrou a Jonas o quanto ele era insignificante, o responsável, mesmo que sem intenção, por Jonas ter evoluído tanto como pessoa em um curto período de tempo, de um moleque egocêntrico a alguém que realmente tem se esforçado para melhorar sua cidade, mesmo que usando seus poderes contra simples assaltantes de beco, isso já fazia a diferença para ele.

 — Me desculpa — Jonas sussurrou.

 — Desculpar pelo que? — Andressa se aproximara de Jonas.

 Ele engoliu em seco.

 — Por ter fechado os olhos para isso tudo, me desculpe.

 Andressa se virou e foi andando em direção à uma desgastada quadra poliesportiva.

 — Você não tem culpa de nada — sentou-se num canto da quadra — Além do que, o que você poderia fazer, que eu não tenha feito? — Ela deu um fraco sorriso, sentia o vento contra a sua pele.

 Jonas sentou-se ao seu lado.

 — Eu sou um símbolo, o símbolo dos corrompidos nessa cidade, sou aquele que deveria erguer a imagem deles, eu...

 Andressa sorriu.

 — Você continua se achando o centro de tudo — deu um leve soco no ombro esquerdo do jovem corrompido. Apesar de não se conhecerem há muito tempo já possuíam uma grande intimidade — Acredite, você não é um símbolo para essa gente.

 Antes que Jonas pudesse responder ambos ouviram o som de um Troller se aproximando, viraram e viram as crianças correrem em direção ao veículo 4X4, como se fossem crianças correndo atrás do carro de um ídolo de futebol. Do Troller um rapaz loiro e de corpo definido desceu sendo cercado por meninos e meninas que aparentavam ter entre 4 e 10 anos de idade, todas eufóricas na presença do rapaz que usava óculos escuros.

 Andressa se levantou e foi em direção ao rapaz loiro sem dirigir uma única palavra a Jonas que ficou confuso, ele nunca havia visto aquele cara, porém ele estava sendo tratado como um Messias por aquelas pessoas.

 Andressa abraçou o rapaz e logo depois encostou seu rosto em seu ombro, após alguns segundos colados enquanto o homem de aproximadamente 20 anos afagava os cabelos negros de Andressa ambos se separaram.

 — A quanto tempo, mana. — O rapaz loiro sorria levemente para a corrompida que agora jazia desmanchada.

 Jonas se aproximou de ambos passando com dificuldade pelas crianças, algumas reclamavam por ele estar tomando a frente delas.

 — Bernardo, esse é o Jonas, aquele que eu te falei.

 Bernardo retirou o óculos e o colocou na gola da camiseta preta, olhou para Jonas por alguns segundos, que também devolveu o olhar e o cumprimentou com um aperto de mão firme.

 — É um prazer finalmente conhecê-lo Jonas — olhou ao redor, sua feição não era uma das mais felizes, na verdade, seu rosto era tão sério que quase fez Jonas esquecer de se auto-perguntar quem era esse cara e como assim Andressa havia falado sobre ele para ele — Pena que não nos conhecemos numa situação melhor, a que nos encontramos é um pouco delicada — Andressa encarava os dois juntos pela primeira vez, provavelmente os dois homens com quem ela teve maior ligação em sua vida, não que isso fosse algo difícil — Vamos para um lugar mais reservado, tenho certeza de que você não quer que qualquer um ouça os assuntos do qual vamos tratar, você tem uma identidade a zelar.

 O último comentário gelou a espinha de Jonas, Bernardo praticamente confirmara que sabia que ele era o Aracnídeo, Andressa, a garota a qual ele vira como uma igual devido à ambos serem corrompidos, havia contado à alguém que Jonas nunca nem ouvira falar seu maior segredo.  O tom da pele do jovem adolescente ficava cada vez claro, beirando a aparência de um albino.

 — Calma, eu não sou nenhum Soares da vida — sorriu — Posso lhe garantir que sou de confiança.

 Bernardo acenou para as crianças, bagunçou o cabelo de uma e se retirou para uma casa à leste, uma casa a qual Jonas dois meses antes havia deixado uma garota com poderes energéticos. Jonas e Andressa seguiram o rapaz, e Jonas teve certeza que ouviram uma criança falar padre, o que não fazia o menor sentido naquele momento.

 

 

 

***

 

 O interior da casa de Andressa era tão simples quanto seu exterior, móveis acabados jaziam espalhados por uma ampla sala-cozinha, livros, papéis e outros objetos espalhados nestes mesmos móveis e pelo chão, uma geladeira velha fazia barulho, ao fundo um corredor com duas portas, provavelmente um banheiro e um quarto.

 — Eu sou Bernardo — O rapaz loiro virou-se para Jonas — Você deve ser o Aracnídeo certo?

 Jonas gelou novamente, dessa vez era definitivo, ele realmente sabia sua identidade. Andressa se aproximou e pegou sua mão.

 — Não se preocupe, eu confio nele com a minha vida. — falou calma.

 Jonas estava confuso, na noite anterior Andressa surgira em seu quarto toda ensanguentada, ela afirmava ter visto uma figura encapuzada matar uma criança, ela o perseguira e ele a surrara, quase matando-a, ela sem opções se viu obrigada a pedir sua ajuda, visitar a área do crime e ajudar na busca pelo assassino de corrompidos que vinha espalhado mensagens de ódio contra pessoas que tenham qualquer tipo de habilidade especial.

Agora ele estava de pé, na casa dela descobrindo que ela contou seu segredo para um cara estranho e que tinha uma estranha intimidade com ela, o que incomodava e muito Jonas, ele não pôde deixar de notar como a feição e o jeito dela mudaram assim que ele apareceu.

 — Eu não — soltando sua mão — Eu nem conheço esse cara e ele já sabe quem eu sou? — Jonas exclamou sentindo seu outro lado aflorar levemente, ele ainda não tinha controle sobre seus instintos Aracnídeos.

 — Calma irmão — A voz suave de Bernardo acalmara Jonas — Ouça a voz da razão, eu sou de confiança.

  Repentinamente se sentindo mais confortável com a situação Jonas se virou para Andressa:

 — Você é a razão? — Jonas brincou e Andressa sorriu.

 Ela novamente pegou sua mão levando-a até acima de seu peito.

 — Pode confiar em mim, eu nunca entregaria sua identidade para ninguém. Você sabe que eu já sofri muito por ser uma corrompida — Ela apertou a mão de Jonas sob sua pele gelada — Se não acredita em mim, libere o seu outro eu, mostre suas garras e me mate agora mesmo. É sua única chance de prevenir que eu lhe traia novamente, se é isso o que pensa de mim.

 Ambos olharam nos olhos um do outro por alguns segundos, Ricardo apenas observava calmo.

 O garoto corrompido suspirou e tirou sua mão de Andressa.

 — Ótimo — Ela sorriu e logo em seguida deu um beijo em sua bochecha.

 Bernardo sentou-se no velho sofá marrom que Andressa ganhou numa aposta um ano antes.

 — Bem, Jonas, eu sou o Padre Bernardo, o líder dos corrompidos que vivem nessa área e lhe garanto que sou de confiança. — mostrou um sorriso — Andressa é quase uma irmã para mim, assim como todos os irmãos corrompidos, acredito que saiba porque está aqui, não é? — questionou aguardando uma resposta que não veio — Bem, bem-vindo a revolução corrompida meu caro irmão.


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Notas finais do capítulo

Diz oq achou seu leitor de “Arac”.



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