Onde as memórias morrem escrita por Ash Albiorix


Capítulo 3
Desabando


Notas iniciais do capítulo

Ola, pessoinhas! Mil desculpas pela demora! Eu tava/ ainda to passando por um bloqueio criativo daqueles. Mas se tudo der certo, vou voltar a postar tudo direitinho bonitinho. Espero que gostem desse cap!



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10 dias se passaram desde que Ash estava lá comigo e, apesar de tudo, o garoto era uma boa companhia.
 Ele roncava um pouco quando dormia e eu ficava a noite inteira o observando porque era raro o ver calmo. Seus cabelos loiros lisos caiam em cima dos olhos e eu queria poder tirá-los de lá, mas o garoto nunca me deu permissão para tocá-lo, nem mesmo quando tinha pesadelos. Mas as crises de raiva diminuíram, então assumi que ele estava se acostumando comigo. No fundo, eu sabia que não havia forma de quebrar a maldição, e talvez essa fosse só uma forma de o fazer gostar de mim. Não sei dizer, apenas sei que estávamos tentando. Começamos animados, explorando a caverna, mas não havia muito a se explorar.
 

—Você acha mesmo que vamos achar algo assim? – Ash perguntava, reclamando o caminho inteiro.

—Você tem alguma ideia melhor, senhor teimosia?

Ele suspirou.

—Não.

Mas não demoramos muito pra ver que estávamos andando em círculos. Não havia muito a explorar, não havia pistas. Eu estava frustrado e Ash também. Era o décimo dia quando estávamos a beira de desistir.

Sentamos no chão, cansados.

—Acho que você tinha razão. – admiti pra Ash.

—Eu sempre tenho razão. – falou, mas eu reparei que tinha um leve tom de brincadeira. Era a primeira vez que ele dava algum sinal de que tinha um senso de humor. – O que a gente faz agora?

—Acho que nada.

Ash se levantou, e eu pensei que fosse socar a parede, mas ele não o fez, apesar de suas mãos estarem fechadas em punhos.

—Isso é injusto! – reclamou. – Agora eu fico aqui, passando a eternidade com um espírito entediante.

—Você fala como se eu quisesse passar a eternidade com um humano que acha que é o dono da razão.

Nos olhamos, acostumados com as brigas eventuais. Nem pareciam mais brigas, eram mais como... algo pra passar o tempo.

—Senta aí. – falei. – Vamos juntar todas as informações que colhemos até agora.

Ele foi andando e se sentou, dessa vez do meu lado. Parecia um gato arisco que ia chegando perto aos poucos.

—Bom, aparentemente essa caverna não tem um fim. Nem um início. É apenas uma série de repetições eternas, o que significa que não foi nada muito pensado.  – Ash falou, e eu parei pra pensar, pela primeira vez, que o garoto poderia ser realmente inteligente. – Ao mesmo tempo, - continuou – não deixaram nenhuma pista aparente de como quebrar a maldição. Não querem que você descubra.

Eu tinha que concordar. Nunca tinha tentado fazer algo pra ativamente sair de lá, talvez pela esperança de uma solução cair do céu ou algo assim. Acho que me conformei. Mas, mesmo assim, a situação conseguiu me deixar pra baixo.

Queria mudar de assunto, então perguntei:

—Por que você quer tanto voltar?

Ele deu de ombros. Eu não estava esperando uma resposta, de qualquer forma.

—Quer dizer, - continuei – eles te jogaram. Não parece ser uma vida boa a que você tinha.

O loiro me olhou, as sobrancelhas arqueadas. Não vi sinal de raiva em seu rosto, então pensei que tinha tocado num ponto sensível.

—Não era lá a melhor. – ele falou, baixo.

—Por que te jogaram?

O garoto respirou fundo e balançou a cabeça, afastando os pensamentos.

—Porque são idiotas.

—Tá, mas só por isso? Eu me lembro deles falando algo sobre pagar pelo que você fez.

Ele se afastou de mim.

—Merda, Uriel! Tem como parar de perguntar essas coisas?

Abaixei a cabeça.

—Me desculpa.

Ele me olhou, parecendo uma criança chateada, os braços cruzados e o cabelo caindo pela testa.

—Além do mais, - disse, descruzando os braços – eu também não sei nada sobre você.

—Sabe sim! – protestei. – Eu te contei.

—Você só disse que fez algo e que, sei lá, deuses te amaldiçoaram ou algo assim. O que você fez? Que deuses?

Algo naquele olhar era esperançoso, como se ele estivesse prestes a descobrir tudo que sempre quis saber. Não estava.

Nunca contei minha história a algum mortal, não era apropriado.

—Não são coisas pra se discutir com um humano.

—Por quê? Eu não vou ter que, aparentemente, passar o resto da minha merda de vida aqui?

A insistência dele estava me irritando.

—É inapropriado! – falei, aumentando o tom de voz.

—Quem disse?

—Eu disse!

—Ou seja: você não quer contar. Mas saiba que isso poderia ajudar a gente a descobrir como quebrar a maldição. Como eu vou te ajudar se não souber exatamente o que aconteceu?

—Eu já te contei, eu fiz algo e me amaldiçoaram.

Meu peito ficou apertado e minha cabeça pareceu girar. Eu queria contar pra ele, mas...

Mas as memórias pareciam embaçadas e irreais. Eu não conseguia capturar os momentos e colocar em ordem.

—Você fez o que?

Era quase como se...

Uma pedra de fogo caiu do teto.

Era quase como se eu não me lembrasse.

Me levantei.

O que eu fiz?

—Uriel? – Ash chamou.

Eu estava andando pra lá e pra cá. Nada parecia fazer sentido. Agora que precisei juntar as informações, agora que fui questionado, percebi que não me lembrava.

Não conseguia me lembrar.

Olhei ao redor e vi que o fogo estava ficando mais vivo. Ash suava. Algumas pedras caíam.

—Uriel! – ele chamou – Você tá... você precisa fazer isso parar! Isso tá afetando o vulcão, o que ta acontecendo?

—Eu não sei.  – murmurei. – Eu não sei!
Ash parecia transtornado pelo calor e, ao mesmo tempo, tentando me acalmar.

—Vem cá, senta aqui. – pediu. – Senta aqui e conversa comigo. Vamos conversar. Okay?

Não parecia o Ash explosivo de sempre. Ele era uma mistura de desespero e preocupação, e eu não sabia se era comigo ou com ele mesmo.
Sentei no chão, consciente de que precisava me distrair.

—E se eu te contar por que me jogaram aqui?

—Isso... – falei, tentando manter minha cabeça ali – Isso seria bom.

Outra pedra caiu. Eu tive medo que atingisse Ash.

—Fica perto de mim. – falei, sem saber se era por mim ou por ele.  – Eu posso te proteger se algo cair. – expliquei.

Ele obedeceu, com medo.

Sentou do meu lado, com o braço encostado no meu. Olhávamos pras próprias mãos enquanto eu tentava me acalmar, mas o vulcão ficava cada vez mais quente. Não me afetava, mas Ash estava respirando forte, como se estivesse sufocando.

—Eu matei uma criança. Foi por isso. – ele disse, e aquilo foi o suficiente pra mudar meu foco. Virei meu rosto pra ele, que manteve seu olhar abaixado. – Foi sem querer. Estávamos brincando na linha do trem. Era meu melhor amigo, eu nunca faria nada de mal a ele. Acontece que um trem estava vindo, e eu o empurrei de brincadeira.  Mas ele caiu e prendeu a perna no trilho. E a gente não conseguiu tirar então eu só... eu só corri e o deixei lá. Mas, sabe, eu sempre fui assim, essa pilha de nervos, e todo mundo começou a acreditar que foi de propósito.

Eu estava me acalmando, prestando atenção nas palavras tristes de Ash.

—Eu sinto muito, Ash. – falei, e o olhei  novamente. Ele estava pálido e respirando forte. Olhei ao redor. Eu tinha me acalmado, mas o calor não havia diminuído.

Ash me encarou, fazendo uma careta.

—Uriel, você precisa fazer isso parar. – implorou. – Tá muito... – ofegou – Tá muito quente.

—Eu não sei como voltar ao normal, Ash. Eu não sei.

O garoto tirou a blusa e afastou os cabelos do rosto. Foi questão de segundos até que ele caísse para trás, perdendo a consciência.

Consegui o segurar a tempo.

Peguei ele no colo e o levei até a cama improvisada. Deitei Ash lá e o  observei, tentando achar uma solução.

Eu precisava fazer algo ou Ash iria, certamente, morrer.


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Notas finais do capítulo

Ora ora se não é o gancho pro final. Alguém tem alguma teoria? hahah



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