Minha Amiga Stalker escrita por teffy-chan


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá gente bonita!
Essa história foi escrita para grupo amigo secreto de fanfics, vou deixar algumas pistas aqui:
Meu amigo secreto é uma garota.
Minha amiga secreta pediu o tema "qualquer coisa gay de qualidade".
Então, eis aqui a história! Espero que goste do presente ♥
Boa leitura^^



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Mais um ano estava chegando ao fim, trazendo com ele o Natal. Aquele seria mais um Natal comum, Christopher sabia disso. E um Natal comum para ele significava que usaria aquela data como desculpa para ficar com seu melhor amigo e depois dizer que foi um acidente, usando uma desculpa qualquer.

Foi assim durante os últimos três anos.  Colocaram a culpa na bebida, em uma ocasião em que ele fingiu se afogar de modo que a situação exigia respiração boca-a-boca, chegou até a usar a típica cena de novela mexicana e tropeçou de propósito para cair em cima dele, beijando-o “sem querer”. Ele e Alan estavam nessa situação há um bom tempo, e isso se intensificava durante as datas comemorativas, como Páscoa ou aniversário. Agora era a vez do Natal. Christopher tinha se mudado para outra cidade e morava sozinho, então costumava passar essa data ou na casa de Alan ou na casa de sua amiga Sarah, que conhecia os dois tão bem que ele temia que a garota desconfiasse sobre a situação deles.

— Já compraram os presentes de Natal? — a moça perguntou enquanto os três almoçavam juntos. Eles trabalhavam na mesma empresa, então se encontravam no refeitório com frequência.

— Eu já.

— Eu não.

— Francamente, Alan! Quando você vai tomar jeito? — Sarah apontou o garfo para ele de modo acusador — Deveria aprender com o Chris e agir com mais seriedade. Ser mais responsável e sincero consigo mesmo. Decidir logo o que você quer.

— Onde está querendo chegar com isso? — Alan perguntou com a leve impressão de que ela estava mudando de assunto.

— Bem, é que você demorou muito para decidir o que queria de presente, não foi? — ela recordou — Se demorou tanto para decidir sobre um simples presente, que dirá para tomar uma decisão sobre sua carreira no futuro, por exemplo… ou sua vida amorosa…

— Por acaso está insinuando alguma coisa? — Christopher indagou, começando a se preocupar com o rumo da conversa.

— Estou citando exemplos. Por quê? Você sabe de alguma coisa? — Sarah perguntou inocentemente.

— Não — Christopher levantou-se, limpando a boca em um guardanapo — Bem, eu preciso ir.

— Mas já? O horário de almoço ainda não terminou.

— Sim, vou ao banheiro — Chris respondeu, dando as costas para a amiga.

— Espera, eu também vou — Alan levantou-se apressado — Até depois, Sarah.

— E depois dizem que as garotas é que vão juntas ao banheiro — Sarah murmurou, deixando um sorrisinho brotar em seus lábios.

— Quer passar o Natal lá em casa esse ano? — Alan perguntou antes de começar a escovar os dentes, embora já soubesse a resposta.

— Se não for incomodar, eu aceito — Christopher respondeu, imitando-o.

— Imagina. Minha família adora você.

Eles ficaram em silêncio por alguns instantes. Chris se perguntou se a família conservadora de Alan continuaria gostando dele se soubesse sobre o “bromance” que ele e Alan estavam vivendo. Christopher desejava muito mais do que isso já tinha algum tempo, mas não sabia se o amigo desejava o mesmo. E sempre que tentava perguntar o rapaz dava um jeito de fugir do assunto.

— Ei, essa pasta de dente é nova? — Chris perguntou quando terminou de escovar os dentes.

— É sim. Sabor menta — Alan deu um sorriso torto — Quer experimentar?

Como resposta Chris o segurou pelo queixo, trazendo Alan para perto de si e o beijou. O rapaz tinha razão, o sabor de menta misturado com o de sua boca era delicioso.

Christopher devia ser a única pessoa no mundo que usava pasta de dente como desculpa para beijar a pessoa de quem gostava. Mas o que ele podia fazer? Alan era escorregadio, sempre fugia quando ele tentava se declarar. Quando tudo isso começou Chris realmente temeu que Alan fosse empurrá-lo para longe, que fosse bater nele e que passaria a odiá-lo. Temeu perder a amizade do rapaz. Mas Alan parecia gostar disso tanto quanto ele e Christopher não entendia porque ele fugia sempre que tentava se declarar.

Bem, não importa Era melhor aproveitar o momento. Afinal, Alan não estava reclamando do fato dele estar abraçando sua cintura e adentrando sua boca com a língua. Pelo contrário. Alan agarrava-se aos seus cabelos, como se tentasse trazê-lo para mais perto, enquanto envolvia seu pescoço com a outra mão. Christopher pressionou seu corpo contra o dele, pretendendo espremê-lo contra a parede, no entanto percebeu tardiamente que não havia parede alguma atrás dele. Ao invés disso fez com que Alan se sentasse na bancada onde ficavam as pias. Sentiu sua perna roçar na coxa do rapaz e deixou escapar um gemido. E então Alan o empurrou para longe de si, talvez porque tinham ido longe demais, talvez porque tinha perdido o fôlego. Christopher jamais saberia.

— Não era bem isso que eu tinha em mente quando perguntei se você queria experimentar a pasta de dente, Chris — Alan disse ofegante, lhe estendendo o tubo de pasta de dente.

— Bom… parece que me precipitei. Desculpe — ele respondeu simplesmente. Não havia nada que pudesse dizer para justificar o que havia feito de qualquer forma.

— É, parece — Alan concordou, juntando suas coisas. Não parecia zangado. Na verdade, ou Chris estava muito enganado ou ele estava tentando esconder um sorriso — Não se preocupe. Está perdoado.

— Alan, eu preciso te dizer uma coisa — Christopher começou, mas foi interrompido pela campainha estridente do refeitório que indicava o fim do horário de almoço.

— Conversamos mais tarde. É hora de voltar ao trabalho.

Chris suspirou e seguiu o amigo de volta para o refeitório. Talvez fosse melhor adiar o assunto. Ele até podia usar pasta de dente como desculpa esfarrapada para beijá-lo, mas se declarar dentro do banheiro seria o cúmulo do ridículo.

Quando saíram ficaram surpresos ao verem que Sarah estava encostada na parede ao lado da entrada do banheiro masculino mexendo no celular. Não era possível que ela soubesse o que eles estavam fazendo, não é?

— Oi, Sarah. Pensei que ia direto para sua sala — Alan comentou no tom mais inocente que conseguiu.

— Pensei em esperar vocês — ela respondeu, sem tirar os olhos do celular — Lucy terminou com o namorado. Está inconsolável.

— De novo? Tem certeza de que não foi apenas outra briga? — Alan espiou o telefone dela.

— Talvez… mas ela está se lamentando porque vai passar o Natal sozinha — Sarah explicou em poucas palavras o assunto da conversa entre ela e a colega com quem dividia o apartamento — Depois converso melhor com ela sobre isso. Hora de trabalhar, rapazes.

 

~~~~~X~~~~~X~~~~~

 

No final da tarde os amigos seguiram a rota de sempre de volta para casa. Christopher ficou cumprindo hora extra, então Alan voltou sozinho com Sarah.

— Quer passar o Natal lá em casa?

— Adoraria, mas meus pais insistem que eu vá visitá-los — a moça suspirou — Mas não se incomode comigo. Afinal, Christopher vai passar o Natal na sua casa, não é?

— Vai sim. Ele sempre passa o Natal lá.

— E os seus pais gostam bastante dele, não é? Vocês estão juntos há tanto tempo que eu imagino que eles devem considerar Chris como um filho.

— O que quer dizer com “estamos juntos”? — Alan a olhou de soslaio.

— Que vocês estão sempre andando juntos. Até mesmo quando eu não estou por perto — ela respondeu. Parecia uma afirmação simples, mas ao mesmo tempo, também tinha a impressão de ter alguma coisa subentendida nas entrelinhas.

— Sim… realmente minha família simpatiza com Chris. Tanto que quase não me aborrece mais com “aquele assunto” — Alan comentou como quem não quer nada, fazendo a garota crispar os lábios — Sarah será que você poderia…

— Não — ela negou antes mesmo de Alan terminar a frase. Sabia onde o amigo queria chegar. E daria um jeito de virar o jogo contra ele — Se está pretendendo contar aquela mentira de novo, me deixe fora dessa.

— Ah, qual é!

— Lucy terminou com o namorado.

— Sim, você disse isso mais cedo — Alan resmungou.

— Se quer uma namorada falsa apenas para agradar seus pais, por que não pergunta a ela se topa fazer esse papel de novo?

Era verdade que Alan já tinha feito isso uma vez. Vinha daquele tipo de família tradicional, que acreditava que a pessoa se apaixonava por alguém durante o colégio, se tornavam noivos quando completassem dezoito anos e se casavam assim que se formassem em alguma profissão. Mas Alan nunca tinha feito nada disso. O que causava grandes desavenças com seus pais e com sua avó. Alguns anos atrás ele conheceu Lucy por intermédio de Sarah, pois eram colegas de quarto, e os dois combinaram de fingir estar namorando apenas para agradar suas famílias, pois ela tinha problemas semelhantes. Passaram o Natal na casa dele e o ano novo na casa dela. Nunca fizeram nada além de ficarem de mãos dadas e se abraçarem uma ou duas vezes, mas convenceram ambas as famílias. Fingiram que terminaram duas semanas depois e que continuaram sendo amigos. Alan até cogitou fazer isso novamente, mas aí conheceu Christopher e nunca mais teve vontade de repetir a experiência.

— Meus pais ficaram com raiva da Lucy depois que “terminamos” — Alan respondeu. Não estava mentindo, mas nem de longe era o verdadeiro motivo.

— Bem, nesse caso será apenas você e Christopher. A noite dos garotos. Curtam bastante madrugada adentro por mim! — ela deu um soco no ar, parecendo muito satisfeita pelo amigo ter decidido não arranjar uma namorada falsa. Não que realmente desejasse que ele prosseguisse com aquele plano. Sua sugestão sobre ele fingir estar namorando Lucy novamente foi uma espécie de teste, e Sarah mal conseguia esconder a alegria por ele ter passado. 

— Que noite dos garotos o que! Nós não estamos mais na escola — Alan retrucou. Tinha a impressão de que ela estava insinuando outra coisa, mas achou melhor se fazer de desentendido.

— Tem razão. Talvez possam fazer coisas mais interessantes — Sarah levou a mão ao queixo, pensativa — Pensar sobre o que realmente desejam sobre o futuro, serem sinceros consigo mesmos, namorar…

Alan parou de caminhar ao ouvir as diversas sugestões da amiga. Ela sabia… não podia haver outra explicação para isso. Ele e Chris sempre tomavam o máximo de cuidado para não serem vistos quando aqueles pequenos “acidentes” aconteciam, mas, de alguma forma inexplicável, Sarah descobriu. Inexplicável mesmo, pois a última vez em que isso aconteceu eles estavam dentro do banheiro masculino. Como raios ela podia saber o que eles estavam fazendo?

— O que houve? — Ela virou-se para trás ao perceber que ele tinha parado de andar.

— Eu é que pergunto — Alan estreitou os olhos — O que está insinuando com tudo isso, Sarah?

— Nada — ela respondeu em um tom inocente que não o convenceu — Só estou dizendo que você principalmente deveria ser mais sincero consigo mesmo. Sabe, às vezes tenho a impressão de que você fica um pouco descontente em ter que seguir todas aquelas regras severas impostas pela sua família. Se por acaso o meu palpite estiver correto, você poderia alugar um apartamento e se mudar. Você ganha o suficiente para isso, certo? Ou então pode arranjar um colega de quarto para dividir as despesas.

— E quanto a sua última frase? — ele perguntou, ignorando o comentário da amiga, que era totalmente verídico.

— Sobre namorar? — ela falou ainda com aquele falso ar de inocência — Ah, eu só estava me perguntando se vocês estão namorando e não me contaram.

— Eu e o Chris? De onde foi que tirou isso? — Alan recuou um passo. Mas como raios essa mulher podia saber sobre eles?

— Não foi isso que eu quis dizer — Sara falou com toda a calma do mundo — Eu perguntei se um de vocês arranjou uma namora e não me contou — ela explicou — Por que você chegou a essa conclusão? Na verdade, ou eu muito me engano, ou você está agindo como se eu tivesse acertado em cheio…

— Pois você se enganou. Até amanhã, Sarah — Alan fez sinal para o ônibus e logo desapareceu de vista. Estava tão nervoso que nem percebeu que tinha pegado o ônibus errado.

 

~~~~~X~~~~~X~~~~~

 

Mesmo com as insinuações de Sarah, os “acidentes” entre Alan e Christopher não pararam de acontecer. Em uma manhã de sábado Alan foi visitar o amigo para devolver o notebook que tinha se esquecido de lhe entregar no dia anterior. Provavelmente “se esqueceu” de propósito, pois se deu ao trabalho de ir até a casa de Chris para fazer isso. Podia muito bem ter esperado até segunda.

— Então nos vemos na segunda — Chris despediu-se enquanto o amigo saía pela porta dos fundos.

Não havia acontecido nada dentro da casa, mas existia um motivo para ele sair pela porta dos fundos. Ela dava direto para um beco escuro e estreito onde raramente alguém entrava. Era um dos motivos do aluguel do apartamento de Chris ser barato.

Christopher apertou a mão do amigo e nesse mesmo instante fingiu escorregar em uma casca de banana jogada ali perto. Suas desculpas estavam ficando cada vez mais esfarrapadas, mas ele não se importava. Serviu para que ele desabasse sobre o corpo de Alan e o pressionasse contra a parede, unindo seus lábios. Não demorou muito para sentir o rapaz retribuir o beijo enquanto atirava os braços ao redor do pescoço dele.

Os pensamentos sobre o porquê de Alan sempre interrompê-lo quando tentava esclarecer seus sentimentos se dissiparam. Desceu a mão do rosto até o ombro e começou a enrolar os dedos no cabelo comprido do rapaz, brincando com as mechas loiras, enquanto a outra deslizava pelas costas até a cintura e levantava a camisa do homem parcialmente, tocando-o na pele.

Alan arquejou com o toque e envolveu o quadril de Christopher com as duas mãos, puxando-o para mais perto de si. Deixou escapar um ínfimo sorriso quando o homem gemeu ao sentir seus corpos roçando um no outro. E, ao sorrir, Christopher aproveitou para intensificar o beijo, adentrando sua boca com a língua. Como essas situações estavam acontecendo com mais frequência, o corpo de Alan se tornava cada vez mais familiar para Chris.

Mas ele teria que esperar mais um pouco para conhecer mais detalhes sobre ele, pois tiveram que encerrar o beijo por falta de oxigênio.

— Outro acidente, Chris? — Alan perguntou ofegante, tentando segurar um sorriso.

— Pois é. Eu tropecei — ele respondeu sentido a respiração descompassada do outro em sua face.

— Precisa tomar cuidado — Alan respondeu simplesmente — Eu preciso ir andando — acrescentou. Chris notou que ainda o prendia contra a parede com as duas mãos e afastou-se para que o amigo pudesse partir — Até segunda.

Christopher voltou para casa com os pensamentos confusos. Por melhor que fosse estar com Alan, deixá-lo partir era sempre frustrante. Por que ele sempre fugia? Será que simplesmente não queria nada sério? Só queria se divertir com Chris? Ele precisava ao menos perguntar se era só isso. Saiu de casa novamente, dessa vez pela porta da frente, mas não via Alan em parte alguma. Pensou que daria sorte se seguisse na direção do ponto de ônibus e começou a caminhar até lá, no entanto, mal deu dois passos e deparou-se com Sarah. A amiga estava diante de uma bancada de legumes do mercado que ficava ao lado da casa dele.

— Sarah? — ele chamou e a moça olhou para ele, não parecendo nem um pouco surpresa em vê-lo — O que está fazendo aqui?

— Compras — ela agitou duas batatas no ar, tão feliz como se estivesse comprando roupas novas — E você?

— Eu moro aqui. Bem ao lado — ele apontou para a própria casa.

— Ah, é mesmo. Tinha esquecido — ela voltou a escolher legumes.

— Sei — Chris resmungou descrente — Sua casa não fica a cinco quarteirões daqui?

— Sim.

E não têm dois mercados em promoção no caminho da sua casa até esse?

— Sim.

— Então por que se deu ao trabalho de vir até aqui?

— É que os legumes daqui são mais frescos — ela voltou a encará-lo com um sorriso doce que não o convenceu muito.

— Que seja — Christopher suspirou — Você viu o Alan por aqui?

— Não — Sarah largou as batatas e começou a remexer nos aipins — Ele estava com você?

— Ele veio devolver meu notebook — Chris percebeu tardiamente a gafe que tinha cometido. Alan tinha saído pela porta dos fundos, então é claro que não passou por ali. E acabou se denunciando para Sarah sem necessidade.

— Ele não podia ter feito isso na segunda? Você não tem nenhum trabalho urgente para fazer esse fim de semana, não é?

— Sim, mas… ele quis fazer isso hoje, não sei por que — Christopher tentou desconversar, pensando em um jeito de escapar dela e ir embora dali.

— Parece que o Alan faz as coisas sem motivo, não é? Mas sempre tem um motivo — Sarah comentou — Como naquela vez em que ele pediu para Lucy fingir estar namorando com ele, por exemplo…

— Ele o que? — Chris apoiou-se na bancada de legumes para poder encará-la melhor.

— Acho que você ainda não tinha se mudado para cá na época — Sarah respondeu como quem fala do tempo — Ei Chris, você mora sozinho, certo? Deve saber cozinhar. Você acha que esse inhame está bom? — ela ergueu o legume na altura dos olhos dele, embora estivesse segurando um aipim. E ele tinha algumas manchas, indicando que estava estragado — Eu queria fazer um bolo de legumes, mas sou péssima na cozinha — ela mudou bruscamente de assunto, talvez para disfarçar, talvez porque fosse verdade.

— Primeiro, isso não é inhame, é aipim — Christopher corrigiu — Segundo, não se usa aipim para fazer bolo de legumes. Nem inhame. E terceiro, ele está estragado.

— Jura? — ela parecia verdadeiramente espantada. Ou Sarah tinha mentido sobre aquele mercado ter legumes frescos e foi até ali apenas para espiá-lo de algum jeito ou simplesmente não sabia escolher legumes.

— Juro — ele tirou o legume das mãos da amiga — Para fazer o bolo de legumes você precisaria de cenouras, tomates e… ah, quer saber? Que tal esquecer essa história sobre bolo de legumes? Conte-me mais sobre essa história do Alan e eu te pago um almoço.

— Legal.

Minutos depois eles estavam em uma lanchonete. Enquanto a garota comia Christopher a bombardeava com perguntas.

— E então, que história é essa sobre ele ter namorado a Lucy?

— Foi um namoro de mentira — ela respondeu depois de engolir um pedaço do sanduíche — Você sabe como é a família dele, não é? Os pais sempre estranharam o fato dele nunca ter s envolvido com ninguém. Alguns anos atrás eles estavam brigando feio por causa disso, então o Alan teve a ideia de pedir para a Lucy fingir ser namorada dele apenas durante as festas de fim de ano, para agradar a família. Ela também estava com problemas familiares na época, algo sobre ficar para titia… então acabou aceitando. Eles passaram o Natal na casa do Alan e o ano novo na casa dela. Cerca de duas semanas depois “romperam” o tal namoro.

— Hunf. Então quer dizer que o Alan fica com qualquer pessoa por um motivo tão idiota como esse, é? — Christopher resmungou, abocanhando um pedaço do sanduíche e mastigando com raiva, como se o sanduíche fosse o culpado.

— Nossa… falando assim parece até que está com ciúmes — Sarah comentou, fazendo o amigo se engasgar — Tudo bem aí?

— É claro. Tudo sob controle — ele mentiu, bebendo um enorme gole de refrigerante.

—Eu passei as festas de fim de ano com eles naquela ocasião e, que eu saiba, eles não fizeram nada além de dar as mãos ou se abraçar — Sarah contou — Pensei que ele iria fazer a mesma coisa no ano seguinte, mas coincidentemente você se mudou para a cidade na metade do ano. Desde então ele tem passado o Natal… acho que só com você, não é?

Christopher engoliu em seco, começando a se arrepender da decisão de conversar sobre aquilo com ela. Sarah aparentava ser uma boa pessoa a maior parte do tempo, sempre prestativa, os cabelos ruivos bem cuidados e um sorriso meigo no rosto. Aquela aparência doce enganava muita gente, mas ele não. Pessoas ruivas tinham fama de serem hiperativas e gostarem de encrenca. E Sarah era a personificação de encrenca. O sorriso dela servia para mascarar suas segundas, terceiras, talvez quartas intenções. Ela era boa de lábia, então era mais prudente tê-la como amiga. Mas também era difícil lidar com ela às vezes.

— Está tentando insinuar alguma coisa?

— Claro que não — ela se fez de ofendida — Mas eu não estou mentindo, estou?

— Não, não está — Christopher suspirou — Então, está dizendo que ele não saiu com mais ninguém por minha causa?

— Estou dizendo que Alan aparenta preferir a sua companhia do que a de outras pessoas, só isso — ela bebeu um pouco de refrigerante — Assim como você parece preferir a dele.

— Como assim?

— É que vocês estão sempre juntos. Bem, geralmente nós três sempre andamos juntos, mas eu não conto. Acho que vocês aproveitam melhor o tempo quando estão a sós… fazendo coisas de garotos.

— Sarah, é o seguinte — Chris ajeitou os óculos impaciente, cansando-se de todo aquele teatro — Não é exatamente um segredo que eu gosto do Alan. Então pare de fazer rodeios e vá direto ao ponto porque eu não tenho paciência para os seus joguinhos.

Sarah o encarou com os olhos arregalados por um instante. Chris não sabia se ela estava se fazendo de ofendida pelo que ele disse ou se estava surpresa por ele ter percebido o jogo dela. Mas isso deixou de ter importância quando a garota deixou sua máscara cair e bufou.

— Assim não tem graça — ela afastou o prato com o resto do sanduíche — Muito bem, é o seguinte: Sei que você e Alan andam se agarrando pelos cantos.

— É claro que sabe — Chris resmungou revirando os olhos.

— E já faz uns três anos que vocês estão nesse chove não molha.

— Espera, como você sabe disso?!

— Não importa — ela abanou a mão — O caso é que você, aparentemente, deseja firmar um compromisso sério com ele, certo? — ela perguntou e Christopher confirmou com a cabeça — Aí está o problema — ela apontou o dedo na cara do amigo — Não é que Alan não queira assumir um compromisso com você, mas ele vem de uma família tradicional e conservadora e blá, blá, blá… suponho que este seja o empecilho entre vocês dois.

— Então o que eu devo fazer? Pedir a mão do Alan em casamento ao pai dele ou algo assim?

— Não seja burro! Se fizer isso o Alan te mata! — ela deu um tapa na cabeça do amigo — Você precisa resolver isso diretamente com Alan.

— Mas ele sempre foge quando tento falar com ele.

— Não se preocupe. Eu dou um jeito nisso — Sarah abriu um sorriso largo e assustador.

 

~~~~~X~~~~~X~~~~~

 

No dia seguinte Alan tinha recebido uma ligação de Sarah, dizendo que estava doente. Ele disse várias vezes que a amiga deveria ligar para um médico ao invés de ligar para ele, mas quando a moça disse que tinha caído e provavelmente quebrado uma perna, Alan foi até a casa dela o mais rápido que conseguiu.

— Sarah? Sarah, você esta aí? — ele gritava, esmurrando a porta do apartamento dela.

— Ela não está aqui — ao invés de Sarah, foi Chris quem abriu a porta — Mas eu estou.

— Chris? — Alan arregalou os olhos — Mas esse é o apartamento da Sarah, não é? — ele entrou só para ter certeza — Onde ela está? Ela me ligou dizendo que estava doente…

— Eu pedi para ela ligar — Christopher explicou — Sarah está ótima. Saiu para fazer compras tem uns vinte minutos.

— Que palhaçada é essa?

— Se eu não fizesse isso você não viria e eu não conseguiria conversar direito com você.

— Vocês armaram para mim! — Alan acusou — E eu preocupado com aquela mentirosa… vou embora daqui.

— Alan, espere — Christopher colocou-se na frente da porta — Eu… eu te amo.

Christopher queria ter feito aquilo de um jeito mais romântico. Queria ter preparado um jantar para ele, ter expressado seus sentimentos de um jeito melhor. Mas simplesmente falou as três palavras mágicas que resumiam tudo o que ele andava sentindo há anos antes que Alan desse um jeito de fugir de novo.

O homem ficou parado, observando-o com a boca ligeiramente aberta por alguns instantes. Até que encontrou as palavras novamente.

— Chris, você deve ter se confundido. Isso… não pode ser verdade.

— É claro que é verdade. Vai me dizer que não sente o mesmo? — Christopher perguntou. Alan abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Chris foi mais rápido e o beijou antes que ele dissesse qualquer coisa. Segurou-o pelos cabelos loiros, impedindo-o de se afastar. Antes que aprofundassem o beijo, Christopher o soltou — Já perdi a conta de quantas vezes fizemos isso e fingimos ser “acidentes”. Vamos ser francos um com o outro e admitir de uma vez que nos amamos. Ou por acaso isso é apenas diversão para você? Porque se for só diversão, por favor, me avise!

— Óbvio que não é só diversão. Eu jamais faria isso com você — Alan virou o rosto desconcertado — É só que… eu não posso assumir um compromisso com você, Chris.

— Por causa da sua família? — Christopher adivinhou.

— Não é só porque eles iriam reprovar nosso relacionamento, Chris — Alan jogou-se no sofá, passando a mão pelos cabelos — Venho de uma linhagem de policiais. Meu avô faleceu durante um conflito contra bandidos, meu pai é policial… meu bisavô era do exército! Eu já os decepcionei bastante por não ter seguido a “tradição” da família de entrar para a polícia, simplesmente porque acho uma profissão muito arriscada. Quero dizer, é muito nobre colocar a própria vida em risco em prol da população todos os dias, mas sou um covarde que tem medo de morrer durante um tiroteio ou coisa parecida. É claro que não disse isso aos meus pais — acrescentou — E tem toda aquela coisa sobre tradição que você já conhece. Eles ainda acreditam naqueles costumes antigos em que a pessoa se apaixona por alguém durante a época da escola e se casa com ela depois que se formarem. Eu não fiz nada disso. Então, imagine se o único filho de uma família tradicional de policiais se assume gay? Ia ser o maior caos, não acha? — ele deu uma risada fraca.

Christopher sentou-se ao lado dele, sem saber o que dizer. Quando pensava nos pais de Alan, só lhe vinha a palavra “chatos” em sua mente. Por causa da família, Alan tinha medo de ficar com ele, e isso estava mais claro do que nunca. Mas Christopher nunca tinha parado para pensar de verdade no lado dele. Alan sofria uma pressão enorme por causa da família e, por mais que desejasse se libertar das amarras, não sabia como fazê-lo.

— Sabe, algumas tradições são realmente importantes. Como as de reunir a família durante o Natal. Soltar fogos de artifício no ano novo. Ou comer bolo no aniversário. Afinal, aniversário sem bolo não é aniversário — ele acrescentou, arrancando uma risada curta do outro— Mas acho que não tem problema deixar outras de lado. E talvez esteja na hora dos seus pais entenderem que você precisa ficar ao lado de quem você gosta se quiserem te ver feliz.

— É, você tem razão — Alan concordou, segurando a mão dele — Você vai estar junto comigo quando eu contar afinal, certo?

— Claro. É só me dizer o dia.

— Foi uma pergunta retórica. Você vai mesmo estar comigo — Alan falou — Vamos contar amanhã.

— Amanhã? Você quer contar no Natal?! — Chris exclamou incrédulo — Quer mesmo fazer isso, Alan?

— Se for para arrasar com eles, então vou arrasar direito — Alan deu de ombros — Esse Natal vai ser inesquecível.

 

~~~~~X~~~~~X~~~~~

 

Na manhã do dia 26 de dezembro Christopher e Alan caminhavam pela rua de mãos dadas enquanto voltavam para casa e depararam-se com Sarah, que tinha decidido fazer compras no mercado que ficava ao lado do apartamento de Christopher de novo.

— O que está fazendo aqui de novo, Sarah? — Chris ergueu uma sobrancelha.

— Feliz Natal para você também — ela respondeu, segurando um tomate podre, fazendo Chris se perguntar como aquele mercado continuava aberto — Ainda não desisti do meu bolo de legumes, e… vocês estão de mãos dadas? — ela jogou o tomate por cima do ombro — Por acaso a amizade de vocês evoluiu? Passou por uma metamorfose? Sofreu uma transformação?  Elevou-se ao um novo patamar…

— Chega de joguinhos, Sarah — Alan pediu — Se está tentando perguntar se nós estamos namorando, sim, nós estamos.

— Até que enfim! — ela gritou mais alto do que pretendia — Três anos — ela ergueu três dedos no ar, parecendo zangada — Eu demorei três anos para ver isso acontecer e vocês ficaram enrolando. Vocês são muito lerdos!

— Nossa, desculpa se te fizemos esperar — Chris falou, sem entender o motivo da raiva dela — Mas isso foi graças a você. Não teríamos conseguido sem a sua ajuda.

— Imagine, não foi nada — ela abanou a mão, embora estivesse evidentemente feliz com o elogio — E a sua família, Alan? Como reagiu?

— Minha avó desmaiou, minha mãe começou a chorar e meu pai quis me prender, mas namorar outro homem não é crime, então… provavelmente irão me deserdar — Alan resumiu o Natal mais agitado de sua vida. Curiosamente não parecia preocupado com isso. Pelo contrário; agora que não precisava mais fingir que não era gay, sentia como se tivesse tirado um enorme peso das costas. E estava ao lado da pessoa que amava. Não precisava de mais nada.

— Por isso que eu disse que era má ideia contar no Natal — Chris observou.

— Eu disse que este seria um Natal inesquecível — Alan lembrou — Depois disso me mudei às pressas para o apartamento do Chris — Alan terminou sua narrativa. Sarah tinha razão quanto a ele arranjar um colega de quarto para dividir as despesas. E que colega de quarto melhor do que a pessoa que ele amava?

— Uau! Eu fico dois dias fora e vocês aparecem com esse monte de novidades? — ela exclamou boquiaberta — Acho que nem vou mais viajar no ano novo, é capaz de vocês casarem sem me convidar.

— Nós jamais faríamos isso — Alan garantiu — Você vai ser nossa madrinha.

— Mas enquanto isso não acontece… por que não fala um pouco sobre você, Sarah? — Chris falou, tendo uma subida ideia.

— O que tem eu? — ela perguntou, voltando a (tentar) escolher legumes.

— Bem, é que você se intrometeu na nossa vida amorosa durante todos esses anos e nós sequer sabíamos disso, mas nós não sabemos quase nada sobre a sua vida amorosa — Christopher observou.

— Ele tem razão — Alan concordou, entrando no jogo dele — Sinto como quase não te conhecesse. Tem alguém de quem você gosta? Conte para a gente!

— Não tem ninguém — Sarah concentrou o olhar no balcão — Olha isso! Salsa serve como tempero, não é?

— Isso é cebolinha — Chris corrigiu — E não tente mudar de assunto.

— Já sei! Que tal você preparar o bolo de legumes que ela tanto quer comer enquanto a Sarah nos conta mais detalhes sobre a vida pessoal dela lá em casa, Chris? — Alan sugeriu.

— Ótima ideia — ele concordou. Os dois a seguraram, cada um por um braço, e a arrastaram para o apartamento que agora dividiam.

Aquele seria mesmo um fim de ano inesquecível.


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Notas finais do capítulo

Olá de novo e obrigada por lerem até aqui!
É raro eu escrever histórias originais, mas me diverti muito escrevendo essa. Espero que vocês tenham gostado^^
Um feliz Natal e um próspero ano novo para todos vocês! o/
Deixem reviews por favor e façam uma autora feliz! *-*