Saudações da Big Apple escrita por Maga Clari


Capítulo 1
Big Apple


Notas iniciais do capítulo

- Fanfic escrita para o "Amigo Secreto de Fanfics 2018"
— Meu amigo secreto gosta de Harry Potter, histórias de amizade, um bom e velho yaoi e histórias que se passam no Ano-Novo/Natal.
— Já que você gosta de amizade, transformei o yaoi em shonen-ai e... tadã! Voilá! :3



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 O endereço era aquele.

O GPS nunca erra.

Para um muggle, não teria mistério. No entanto, Albus Potter tinha a estranha sensação de que aquele motorista de passeio estaria lhe roubando. Óbvio que estaria. Era uma presa hiper-mega-fácil. Camisa por dentro das calças, botas oxford, uma maleta com selos de estrelinhas douradas e o costumeiro olhar perdido, que certamente dizia “oi, eu não sou daqui, pode me roubar”.

Albus era um nerd completo. Com todos os estereótipos possíveis: cara de criança, um par de óculos que deslizavam por seu nariz, além de exibir aquele livro ridículo de quase oitocentas páginas em seu colo, quando fazia de conta que não prestava atenção no motorista que se demorava na rota solicitada.

Albus já estava desenvolvendo o tique de olhar para o relógio de cinco em cinco minutos e já havia entendido que o caminho era interminável mesmo. Ou porque não estava acostumado com trajetos muggles, ou porque, de fato, teria razão em pensar que estaria sendo enganado pelo motorista. Portanto, quando a impaciência chegou a encharcar seus dedos de suor, Albus deu um grito:

― Pare!

― O-o quê? ― o motorista cantou pneu, estranhando o comportamento do passageiro ― Desculpe?

― Encoste aqui, por favor, Senhor.

O motorista virou o rosto para olhá-lo pelo vidrinho do táxi.

― Pelo GPS, ainda falta alguns minutos.

― Quero descer aqui ― insistiu ― Quanto deu a corrida?

O motorista respirou fundo e deu uma olhada no visor do taxímetro.

― Quarenta e cinco dólares.

Albus tirou a mochila das costas e procurou desesperadamente por todas as moedas e papéis que havia conseguido no câmbio. Sem nem raciocinar direito, jogou tudo que tinha para o homem antes de abrir a porta e pular para fora do veículo.

Uma vez fora, percebeu a burrada. Havia se desesperado sem necessidade, bem no meio de uma estrada. De um lado, mato. Do outro, mais mato. O relógio, que tanto e tanto conferia, marcava quase dezoito horas. O sol já havia ido embora, e, portanto, tinha a ligeira impressão de que se não saísse dali o mais rápido possível, poderia tornar-se comida de babuínos, ursos ou, quem sabe, muggles canibais!

No ápice da irritação, Albus chutou um toco de madeira, que voou para longe, revelando, por incrível que pareça, uma fumaça esverdeada. Olhando para os dois lados, certificando-se de que ninguém o observava, Albus agachou-se para estudar o fenômeno, pois sabia (muito bem, por sinal) que onde há fumaça há também fogo. Só que nesse caso, no lugar do fogo surgiu uma serpente iluminada. Poderia julgar se tratar de um patrono.

Era só o que faltava. Alerta de perigo bem no meio de uma rodovia num país estranho, já ao anoitecer. Albus pôs as mãos nas têmporas, não conseguindo raciocinar e decidir qual seria o próximo passo a partir dali. Havia sido suficientemente estúpido de deixar o continente para ir atrás de seu velho amigo em Ilvermorny, só para descobrir que ele havia decidido voltar para a sua nova casa americana no feriado. Patético, Albus. Tudo o que você faz é suficientemente patético!

Em certo momento, Albus não soube dizer se aquilo havia sido pensamento seu ou se estaria ficando maluco. Bem provável, não se admiraria se assim fosse.

― Não, você não está louco, Potter.

As orelhas de Albus se espetaram. Seus olhos, esbugalhados, procuraram em trezentos e sessenta graus o dono daquela voz intrusa.

― Não seja estúpido! Aqui, o patrono. Sou eu, seu imbecil. Scorpius! Vem logo, sei que veio por causa da carta. Só me siga, tá legal?

Albus continuou parado onde estava. Sem coragem para sequer piscar os olhos.

― Pelas cuecas borradas de Merlim, Albus Potter! ‘Táquepariu, viu?!

Entendendo que seu amigo não o seguiria por livre espontânea vontade, o patrono de Scorpius Malfoy puxou-o à força para segui-lo flutuando no ar. Do outro lado da estrada, assistindo a cena pelo portal, Scorpius gargalhava ao ver Albus se cagando de medo. Tentando, a todo custo, recuperar o domínio de seu corpo.

― Não adianta retrucar, Potter! Quanto mais você se agita, mais sua camisa embola. E não é como se você tivesse uma barriguinha saliente, né? Okay, talvez você tenha.

― Ponha-me no chão, Scorpius!

― Ah, mas não vou mesmo!

― Pensei que fosse proibido fazer magia fora de…

― De Hogwarts? Não estudo mais em Hogwarts, nerd.

― Pelo amor de Morgana, Scorpius, ponha-me no chão. Agora!

― Ah, tá legal… Já que é assim…

Então, quando Albus estava chegando próximo ao pedágio que o levaria à Nova Iorque, o patrono de Scorpius largou-o no chão, como uma bosta de pombo amortecida pela neve fofinha.

― Boa sorte passando pelos guardas!

E então, o patrono se dissolveu. Albus ficou ainda mais branco do que já era. O sangue sumiu completamente de seu corpo. Pensou, inclusive, que fosse morrer. Que aquele seria seu ultimato. Estático, congelado, velado em neve de quinze graus abaixo de zero. Causa de óbito? Scorpius Malfoy, é claro.

Albus tentou se recompor o máximo que pudera, ajeitando a gravata, fechando os botões do sobretudo, deixando a coluna mais ereta. Tentaria sua melhor performance de “inglêsinho” perdido e bem-educado, como sempre fizera, e sempre dera certo.

― Caham ― pigarreou, despertando a atenção dos policiais do pedágio ― Boa noite, Senhor. Tenho autorização para cruzar o estado, mas o meu... hã… meu carro enguiçou, por isso estou à pé.

O homem segurou o walkie talkie e ordenou alguns comandos para alguém do outro lado da linha, mas que Albus não prestou atenção. Depois, chamou-o para a guarita.

― Documentos, por favor.

― Aqui ― Albus estendeu, prontamente.

O homem passou a lanterna pelos documentos, parando alguns segundos em seu passaporte. E então, olhou-o com seriedade, direcionando-se para a porta.

― Aguarde um instante.

― T-tem alg-alguma coisa errada com meu.. com meu passaporte?

― Qual seria o seu destino, Senhor… Potter?

― Isso. Albus Potter. Estou indo encontrar um amigo.

― Em Nova Iorque.

― Sim, Senhor.

O policial deixou a guarita e voltou ao seu walkie talkie. Lá dentro, Albus tremia mais que tudo. Logo, lembrou-se da carta que havia recebido no dia anterior.

“Olá, Al!

Saudações da Big Apple! Como estão as coisas por aí? Sinto falta de tomar chá com você. De jogarmos Quadribol. Mano a mano. E de vencer algumas das partidas, é claro. E de deixar você ganhar quase todas. Adoro quando você ganha. Fica tão feliz, Albus! Desculpa estar falando essas besteiras, mas é que preciso de você aqui. Tem algo muito grave acontecendo, só que não sou autorizado a dizer por cartas. Você sabe muito bem que há olhos por trás de corujas, não sabe?

Albus, eu não estaria escrevendo se não fosse urgente. É muito, muito urgente. Sigiloso, mesmo. Tem a ver com vida ou morte. Só me deram dois dias para resolver essa situação. Mas eu não consigo resolver sozinho. Somos parceiros, afinal. Bros, manos, uma dupla. Scorbus, como Rose costumava nos chamar. Algumas situações não se resolvem sozinhas, sem o outro lado da dupla, Albus. Você entende, não entende? Sei que é compreensivo, e que se importa comigo.

Peço que me perdoe por ter vindo estudar em Ilvermorny. Não foi escolha minha. O Senhor Draco Malfoy não teve criatividade suficiente para outros métodos de tortura menos práticos do que me afastar de tudo que me faz feliz. Hogwarts, travessuras, a família Potter. Você. O Papai odeia que sejamos amigos. Não o entendo. O quê que tem de tão horrível em ser amigo de um Potter? Pelo visto, ele vê todos os motivos do mundo, por isso me mandou pra cá. E agora estou em apuros. Thanks, Daddy!

Mas e aí, Albus? Eu sei que nunca o deixaria na mão numa situação dessas. E você? Me deixaria?

Meus sinceros votos de confiança e brotheragem,

Scorpius Hyperion Malfoy”

― Siga-me, Senhor Potter ― o policial reabriu a guarita para conduzir o bruxo mais assustado do mundo até à viatura. Vendo que o garoto estava em pânico, o homem amaciou um pouco o tratamento ― Não há qualquer razão para esse comportamento, garoto. Estou somente seguindo ordens. Vou te mandar pra casa.

― Casa?!

― Reformulando. Para a casa de seu amigo. Vi que é um estrangeiro menor de idade. Não posso deixá-lo vagando por aí. Qual o endereço?

Albus, que já havia entrado na marra dentro da viatura, desembolou o pergaminho velho e entregou-o, inseguro.

― Hum… ― o policial analisou o endereço, balançando enfaticamente a cabeça, antes de dar a marcha no carro ― Nome completo.

― Scorpius Hyperion Malfoy. O proprietário da casa chama-se Draco Lucius Malfoy.

― Capiche!

Naquela instância, Albus já tinha entendido que havia desenvolvido pânico por meios de transporte muggles. Ou por qualquer outra coisa muggle. Cara, por que eles eram tão estranhos? Em tudo? Seria tão mais simples aparatar. Não que ele já não houvesse tentado antes. Mas sua habilitação só chegaria ao fim do semestre que ainda viria. Seis longos meses de espera. Não poderia aparatar numa cidade desconhecida, longe de casa, sem habilitação, NO MEIO DE POLICIAIS MUGGLES!

― Está tudo bem com você, garoto? ― o policial notou, pelo retrovisor, a expressão cheia de angústia de Albus ― Já estamos quase lá.

― “Quase”... ― ele revirou os olhos, agoniado.

― Olha, sei que veio de longe. O que quer que o tenha trazido de Londres até aqui vai se resolver. Prometo.

― É que o Senhor não entende…

― Já fui adolescente, sabe?

Albus esqueceu-se de retrair a risada.

― É alguma garota? ― o policial insistiu, prosseguindo conversa.

― Na verdade, é um garoto.

― Esse tal de Malfoy. Não é?

Albus soltou um longo suspiro, deitando a cabeça na janela.

― É. Ele mesmo. Somos muito amigos. Ele me escreveu, pedindo ajuda. Tem algo acontecendo, mas ele é muito estranho. Estou começando a achar que é tudo uma grande piada. E eu vou ficar muito bravo se for.

O policial chegou a sorrir. Já estavam próximos à Times Square quando Albus se deu conta de onde haviam chegado.

― Espera. É aqui mesmo?

― Escute, garoto. Se o Senhor Malfoy souber que o dedurei, vou perder meu emprego…

― O quê?!

O policial olhou-o pelo retrovisor mais uma vez.

― O Senhor Malfoy é muito bom pra minha família, sabe? Muito amigo dos meus filhos. Prometi que devolveria o favor.

Albus escorou-se na porta da viatura, ainda mais assustado, olhando para a figura de um policial que se transformava num ser humano quase normal quanto ele.

― Você conhece Scorpius Malfoy? ― seus olhos haviam se arregalado, como de costume em situações assustadoras ― Você sabe quem é Scorpius Malfoy?!

― Puxa! ― o homem hesitou, aborrecido, virando-se para Albus ― Eu quase havia conseguido seguir com o plano, mas que droga!

― Desculpe, eu não estou entendendo…

― Senhor Potter, aqui é o seu destino.

O policial estacionou numa praça que estava entupida de gente. Logo, Albus lembrou-se de que dia era aquele. Ou melhor, que noite era aquela. Véspera de Ano-Novo. Ora, mas que piada.

― Espero que dê tudo certo, garoto!

Mas Albus nem chegou a ouvir, porque já havia pulado para o lado de fora. Esquecendo-se do casaco, esquecendo-se da bagagem, ou dos seus bons modos inglês. Preocupado, somente, em pôr as mãos sobre os olhos, por conta de tanta luz néon em seu rosto.

Antes que Albus conseguisse verbalizar mais raiva e mais irritação, seus ouvidos lhe traíram, desviando o foco para um palco instalado na Times Square, próximo ao balão gigantesco de contagem para o Ano-Novo. No palco, quem se arrisca a adivinhar? Scorpius, é claro.

Cabelo loiro voando ao redor de sua cabeça; gravata de bolinhas, correntes punk, jaqueta de couro branca (super-hiper-mega discreta), calça preta e botas de soldado. Se não fosse Scorpius Malfoy, certamente seria o seu irmão-gêmeo perdido que ele ainda não sabia que existia.

Entretanto, como a possibilidade do gêmeo estava fora de cogitação, Albus continuou focado em entender por que seu amigo Malfoy estaria no meio de um palco, na Times Square, durante a contagem do Ano-Novo. Que insanidade seria a desta vez? Por que ele teria feito tanto caso, só para curtir com a boa vontade de um nerd sonserino?

A raiva lhe bateu. Um ódio repentino. De ter sido enganado, humilhado, de Scorpius tê-lo feito de bobo. De tê-lo manipulado até ali. A troco de quê? Ele não haveria de ficar lá esperando para descobrir. Scorpius certamente teria preparado alguma situação embaraçosa para a travessura do ano. E se ele achava que Albus seria a próxima vítima, estaria redondamente enganado, porque seu velho amigo já planejava um jeito de lhe falar umas poucas e boas (mesmo que ele nunca tivesse falado umas poucas e boas para ninguém antes).

O palco tinha cerca de cinco metros de altura. Se estivesse no mundo dos bruxos, Albus já teria arranjado uma vassoura qualquer e já estaria lá em cima pronto para dizer o tamanho daquela palhaçada na frente de todo mundo. Ia despejar tudo que lhe engasgava a garganta. Que havia se cansado daquele jogo de gato-e-rato; que Scorpius se explicasse logo, porque ele havia se jogado no mundo para salvá-lo do que quer que fosse; porque eles eram amigos; porque ele estava apavorado com qualquer possibilidade de perigo; porque ele o amava mais que tudo. Porque, mesmo sem qualquer razão aparente, aquela carta havia desconfigurado algo em seu emocional.

Ainda refletindo e devaneando em suas palavras não ditas, Albus pôs-se diante de todas as pessoas, buscando desesperadamente o caminho para a escadaria lateral. Uma vez lá, deu-se de cara com um gradeado enorme e uma fileira de seguranças que não pareciam estar para brincadeira.

Do outro lado, Scorpius Malfoy o observava, encostado num canto, aguardando o discurso do prefeito terminar. Um sorriso estampado em seu rosto, as mãos ansiosas demais em confirmar o sucesso de seu plano tão criterioso.

“Você entra em cinco segundos, Malfoy”, a voz da organizadora do evento soou em seu comunicador de ouvido, “Começando em três… dois…”

― Boa noite, Nova Ioooorque! ― Scorpius surgiu, de repente, no meio do palco ― Primeiramente, quero agradecer ao prefeito, por ter me escolhido como anfitrião júnior desta noite! Uma salva de palmas para o prefeito, por favor!

A plateia ofereceu uma salva de palmas.

Típico.

Patético, Malfoy.

― Legal, legal… ― ele passeou pelo palco, feliz da vida, no ápice da felicidade, talvez ― Antes de trazer a primeira banda da noite, queria aproveitar e pedir um favorzinho pra vocês… Será que vocês deixam?

Alguns burburinhos. Aquele costumeiro ruído de curiosidade que Scorpius tanto adorava quando aprontava travessuras.

― Bom, deixa eu explicar do começo… ― Scorpius então passou a andar vagarosamente de um lado para o outro ―  Eu gosto muito de uma pessoa. Mas ela mora há quilôôômetros de distância. ― um suspiro lhe escapou, sem nem perceber, ao por os olhos em Albus uma segunda vez ― A gente estudava na mesma escola. Só que meu pai não queria que fôssemos amigos, sabe?

Albus seria capaz de pegar toda aquela angústia e destroçar e tacar fogo para bem, bem longe, se pudesse. Seu coração havia amolecido. Por Merlim, Scorpius estava tão adorável ali em cima!

― Pois é… ― ele continuou o discurso, com uma expressão de exagerado descontentamento ― O problema é que eu não aguento ficar longe dessa pessoa. É tão difícil, sabe? Por isso que eu me empenhei muito, muito mesmo, pra ganhar esse concurso. E graças a Deus que ganhei! Sendo muito sincero aqui... Eu não dou a mínima para essas bandas de rock.

A plateia caiu na gargalhada. Scorpius parecia estar em êxtase; o coração batendo mais do que julgava ser possível.

― Brincadeira, pessoal, nossas bandas arrasam!

Scorpius correu para beber um pouco de água e se preparar para o grand finale. Respirando fundo, voltou a atenção para o público, tremendo dos pés à cabeça:

― De qualquer maneira, eu só me inscrevi no concurso porque não aguento mais ter que esconder que amo essa pessoa. E quero que o meu pai saiba… Câmera, foca aqui. Isso. Close bem aqui! Isso! Quero que o Senhor saiba, Draco Malfoy, que se o Senhor me trouxe aqui para evitar que eu envergonhasse à sua ridícula família tradicional, então, me perdoe, mas tenho um aviso para lhe dar.

Albus já imaginava o que estava por vir. Seu coração gritava emudecido: Pelo amor de Merlim, Malfoy, eu amo você. Por mais que fosse tímido e estivesse furioso com toda a situação, Albus desejava mais que tudo que Scorpius pudesse ler seus pensamentos.

― Eis o aviso, Papai. Eu sou gay. Muito gay. E estou apaixonado por Albus Severus Potter. Pres’tenção, Mamãe. O calmante está na cabeceira da cama, já deixei de sobreaviso. Amo vocês.

A plateia foi à loucura. Gritos, assobios, palmas. A empatia dos bêbados apaixonados que esperam ansiosamente pelo beijo da meia-noite. Qualquer história de amor seria capaz de arrancar-lhes agitação.

Scorpius era o mais agitado de todos. Havia litros de adrenalina passeando em seu sangue, impedindo que ficasse quieto, desde o princípio. De um lado para o outro ele andava, elétrico, ansioso, agoniado. Com as mãos quase tremendo, anunciou:

― Agora que meus trinta segundos de fama acabaram, começaremos a contagem com a primeira banda da noite, pessoal! Até ano que vem!

Soltando um beijo de despedida, Scorpius correu para a escada lateral e quase pulou os degraus, louco para agarrar Albus Potter bem longe dos holofotes. Terminou por encontrá-lo escorado na grade, acompanhando-o com os olhos de cima a baixo, sem dizer nada.

― Sei o que está pensando ― Scorpius foi o primeiro a quebrar o silêncio, antes que o silêncio sequer existisse ― Eu fui um idiota, te trouxe até aqui, te derrubei na neve, te assustei… Sei também que…

― Scorpius! ― o grito, mesmo em meio ao barulho da véspera de ano-novo na Times Square, foi suficiente para calar o garoto, que não estava acostumado com tomadas de atitude do Potter ― Eu quebrei meu cofrinho. Fui atrás de uma chave de portal. Tomei um ônibus. Depois um táxi. Depois o seu patrono me levou até um policial que por acaaaaso do destino te conhece, e que, até o momento, disse ter participado de um plano maluco seu porque você, abre aspas, é muuuuito amigo dos filhos dele. E agora essa cena toda?! Scorpius, você está querendo me enganar? O que é isso?! O que… O que está acontecendo? Você… Você realmente… Por favor, se for uma brincadeira de mal gosto, Scorpius…

― Eu nunca brincaria com você.

― Caso de vida ou morte, Scorpius?!

― Morte da minha dignidade. Do meu amor. Foi um semestre horrível sem você aqui, cara.

― Digo o mesmo. Hogwarts perdeu totalmente a graça...

― Ilvermorny nunca teve graça.

Os garotos compartilharam risadas. Então, Scorpius finalmente deu-se conta de que a grade ainda os separava. Uma ideia lhe tomou a cabeça.

― Você conhece a tradição da meia-noite da Times Square, Potter?

― Falta meia hora para meia-noite, deixa de ser apressado.

― Pra quem já usou um vira-tempo, isso não faz muita diferença, não é mesmo?

― O Tempo é uma medida relativa.

― Eu amo um nerd!

Albus sentiu as suas orelhas tomarem a cor rubra, principalmente quando Scorpius Malfoy pulou o gradeado para ficar cara-a-cara com ele, num lugar tão apertado de gente que aqueles cinco centímetros entre seus narizes poderiam deixá-lo claustrofóbico (não que ele já não fosse).

No entanto, por incrível que pareça, ficar tão próximo de Scorpius havia trazido, pela primeira vez, uma sensação de segurança. Ele até se esquecera de que estavam num oceano de muggles nova-iorquinos, com tanto barulho pela banda de rock. Sua concentração era unicamente Scorpius Malfoy. Poderia perder-se naquele sorriso, naquelas bochechas coradas, em seu abraço caloroso, do jeitinho que se lembrava: os braços em seu pescoço, o cheiro atrás da orelha.

― A tradição da meia-noite é o correspondente americano para o nosso visco de Natal, não é? ― Albus disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça, só para confirmar o que já sabia.

― Cansa muito ser uma enciclopédia ambulante?

― Não tanto quanto o mundo girando em trezentos e sessenta e cinco dias. Por isso que comemoramos, é cansativo demais.

― Com certeza é por isso ― Scorpius riu, ainda envolvido no pescoço de Albus ― Quanto tempo falta agora?

― Espera… ― Albus estendeu o relógio, apertando os olhos para ter certeza ― Vinte e cinco minutos.

― Ainda?!

― É o que parece.

Scorpius murmurou qualquer coisa sobre ter que esperar tanto tempo. Albus, achando graça, reuniu o que havia sobrado de coragem para apertar ainda mais o abraço que tanto ansiara desde que saíra de Londres. Era a sensação de aconchego, de segurança.

― Albus ― Scorpius chamou-o, de repente ― No que está pensando?

― E-eu? ― Albus arregalou os olhos, pego com a boca na botija ― Eu… hã… Eu só estava pensando, Scorpius…

Albus não imaginava que tremeria o corpo todo quando Scorpius voltasse a encostar o nariz há exatamente dois centímetros do dele. Ou quando a ficha caísse, de que estavam prestes a se beijar a qualquer momento, e que a contagem para meia-noite era apenas uma desculpa esfarrapada para que Scorpius não descobrisse de primeira que ele havia esperado aquele beijo por trezentos mil anos.

― Não precisamos esperar meia-noite, sabe? ― Albus disparou, de uma vez, sentido o ar escapar de seus pulmões ― Meia-noite o Senhor Draco Malfoy já pode estar aqui e estragar tudo.

― Sabe que você tem razão?

― Eu sempre tenho razão.

Scorpius olhou-o com ternura e seu semblante mudou de curioso para o costumeiro tom de travessura, que Albus Potter tanto adorava.

― O que acha de viajar no Tempo, Albus? Só mais uma vez?


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam desse OTP supremo?! hahahahaha
Me inspirei um pouco naquele caso do Harry Styles ajudando uma fã a sair do armário no meio do show, vocês se lembram? Enfim. Espero que tenham gostado.
Beijos natalinos



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