Acertando as Contas com o Passado escrita por Carol McGarrett


Capítulo 2
Capítulo 02 - Memórias Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Quando se está presa no meio do outono na Europa, e não se tem mais nada o que fazer, Shepard continua a revisitar o seu passado.



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Em algum lugar da Europa.

Olhando em perspectiva, gosto de pensar que fiz um bom trabalho enquanto fiquei à frente de uma Agência armada. Bom, coloquei a equipe em risco em uma caçada pessoal, principalmente DiNozzo, mas, ao final, não me sai tão mal.

Tive lá os meus momentos de cão e gata com Gibbs, tive que lidar com burocracias e politicagens, contudo, colocando na balança, foi uma boa experiência.

E, levando em consideração onde me encontro hoje, eu estava muito melhor por lá. Mas, trabalho é trabalho, e esse aqui eu sabia que um dia voltaria.

Só não esperava que a tocaia retornaria. E desta vez, não tinha ninguém, nem nada, para me distrair, só os meus pensamentos. Ah, Jethro, você me acostumou mal!

NCIS - 2007

Nunca fiquei tão apavorada com alguma coisa como quando eu recebi A ligação. DiNozzo acabara de me ligar informando que a operação em um navio da Marinha que estava atracado dera errado. Houve uma explosão e, bem no centro dela, estava Gibbs. Dei a ele o comando da investigação. E pedi que me mantivesse informada de tudo. Sem exceções. E pedi o nome do hospital para onde haviam levado Jethro.

Eu estava em um jantar na Casa Branca, presume-se que seja de Gala e era. Mas não me importei em sair correndo e ir direito ao Hospital.

Vestido vermelho, maquiagem, saltos altos… acho que nunca alguém foi tão bem arrumada para a ala da urgência. Não quiseram permitir a minha entrada.

Logo eu… eu faria qualquer coisa, qualquer coisa mesmo para estar ali, para ter uma notícia dele.

Ameacei a enfermeira chefe, e cheguei a ligar para a Secretária de Estado.

Olhando em perspectiva, eu exagerei, fui mesquinha e arrogante… e hoje, vendo por esse ângulo, deve ter sido uma cena engraçada, mas à época, eu não achei nada engraçado.

Nunca fui muito boa em receber nãos. E quando aquela mulher me disse que não poderia entrar onde Jethro estava, ela brincou com fogo. Naquele momento, nada me impediria de vê-lo.

Ele fora operado. Estava bem mal. E em coma. Junto comigo chegou uma nada convencional Abby. Quem olhasse de fora veria uma cena excêntrica. Gala e Gótico se misturavam esperando notícias de um agente federal.

Foram horas de agonia, uma noite em claro, com poucas informações sobre a investigação e muitas esperanças de que Gibbs acordasse logo.

Como que por coincidência do destino, o médico que estava tratando de Jethro era o mesmo que cuidara dele quando ele fora atingido na operação Tempestade no Deserto.

Quando perguntei o prognóstico, fui informada que era uma situação estranha, parecia que Jethro não queria acordar. Fiquei curiosa. Primeiro porque nunca fiquei sabendo que ele sofrera um ataque tão sério ao ponto de quase matá-lo, segundo porque me intriguei com o fato de que ele não queria acordar.

Enquanto isto, a equipe se revezava para saber notícias e eu não queria sair do lado dele, mas já estava afastada do NCIS a tempo demais. Foi quando Ducky resolveu que seria uma boa hora para fazer companhia à Jethro. Dizem que vozes conhecidas podem trazer benefícios às pessoas em coma. E ninguém melhor do que o bom Doutor Mallard e suas incontáveis histórias para fazer companhia nestas situações.

Até que Jethro acordou. Neste dia eu não estava lá. Mas as notícias não eram boas. Ele não reconhecera Ducky, que era seu amigo de longa data. As probabilidades de me reconhecer não seriam as maiores.

Enquanto Gibbs não se lembrava de nada nem ninguém que passara em sua vida nos últimos quinze anos, eu resolvi pesquisar o seu passado. E diga-se não era nada agradável. Gibbs nunca fora uma pessoa comunicativa, então seu passado muitas vezes era uma grande incógnita para quem o conhecia. Mas o que eu fiquei sabendo era verdadeiramente um grande segredo. Que ele fora casado três vezes não era segredo. Que todas as três ex-esposas eram ruivas também não. E que uma limpou a sua conta poupança - Diane - não era novidade. Mas nem eu, e nem Ducky sabíamos que era viúvo. E que teve uma filha. E que sua esposa e filha foram mortas por um traficante mexicano, no estilo queima de arquivo, porque Shanon testemunhara a morte de um marinheiro. Eu não duvido que ele as tenha vingado. Mas o que me deixou mais assustada foi o fato dele nunca ter mencionado está tragédia para ninguém. Como conviver com tanta dor, por tanto tempo, sem desabafar com ninguém? Somente Jethro poderia fazer algo assim...

Sabendo dos motivos pelos quais ele não queria acordar e, movida pelo sentimento de que talvez, só talvez, ele pudesse se lembrar de mim, foi visita-lo.

Quando cheguei, fui recebida pelo médico que me informou a situação. Ele estava preso em 1991. O ano em que quase fora morto. E não se lembrava nada desta data para frente. Mau recordava da morte da esposa e filha, não fazia a menor ideia de que era um agente do NCIS e nem recordava da equipe.

Quando entrei em seu quarto, ele estava dormindo. Então o chamei. Ao abrir os olhos, ele me confundiu com Shanon. Olhei-o em seus olhos, disse meu nome e perguntei se lembrava de mim. Ele não me reconheceu. Mas vi que ele tinha uma lembrança. Só não sabia definir o que era. Mas eu tinha quase certeza do que viera em sua mente.

“Você se lembrou da França, não foi?”

Era mais uma afirmação do que uma pergunta. E pela cara que ele me olhou eu tive certeza. Pelo menos algo restara.

Foi quando ele me questionou se aquilo fora depois de Shanon.

— Sim, e depois dos seus casamentos também.

Ele me olhou incrédulo. Tive que confirmar que foram três. Nesta hora não pude deixar de rir, ele parecia perdido.

— Então você é uma das...

— Não, Jethro, apenas fomos parceiros.  - Eu disse.

— Achei que éramos algo mais. - Ele me respondeu.

Ah, Gibbs, quase fomos, mas não podíamos antes e não podemos agora, foi o que quis responder. Quem disse que é fácil lidar com sentimentos?

Não foram dias fáceis, eu até admito. Vê-lo naquele estado e não ter como ajudá-lo. Saber que sua própria cabeça se recusava a voltar ao presente me machucava, e machucava a todos no NCIS.

Foi quando me ocorreu de trazer uma pessoa que estava com ele à época. Lendo mais uma vez o seu dossiê, o nome de Mike Franks, apareceu. Ele fora o agente encarregado de investigar o assassinato de Shanon e Kelly. e, foi o mentor de Jethro. Estava aposentado e não deixara um endereço escrito.

Com coisa que eu não conseguiria saber onde ele estava morando, nem conseguir contato.

A ideia foi boa, e ele foi de ajuda a Gibbs… mas nem foi tão prazerosa assim. Eu não consigo acreditar até hoje o quão chauvinista aquele criatura era. Será que era muito difícil aceitar uma mulher como diretora? Pelo amor de Deus, em pleno século XXI ainda tem homens que pensam que mulheres não podem liderar nada.

Não sei o quanto Franks efetivamente ajudou na memória de Gibbs, só sei que, depois de uma visita de Ziva ao hospital, lá estava ele de volta. Dando ordens à equipe, que finalmente sorria. Mas toda aquela investigação tivera o seu preço. e fora finalizada, de uma maneira que ninguém gostou, já que o SecNav dera uma ordem que nem em um milhão de anos eu daria, explodir uma fragata para se evitar uma desastre maior. Por mais que tenhamos argumentado, por mais que Gibbs tenha dado diversas alternativas. Não quiseram ouvi-lo e, com um comando, a Fragata foi explodida com todos a bordo.

Jethro não gostou do resultado. Mas quem gostou? E num ato impulsivo resolveu que era hora de se aposentar.

Aposentadoria e Leroy Jethro Gibbs na mesma frase era algo que eu nunca pensei em ouvir. Mas aconteceu.

E ele foi embora. Depois de passar o comando da equipe para DiNozzo, se despedir de maneira paternal de McGee, Abby e Ziva. Ele foi embora para o México. Deixou a equipe. Deixou o NCIS. Me deixou. Não que eu não tivesse feito igual, mas doeu.

E, de uma maneira estranha, ele pagava com a mesma moeda o que eu havia feito com ele há sete anos atrás.

EUROPA.

Finalmente o meu contato havia dado notícias, depois de quase dois meses enfurnada em uma casa que mais parecia um barraco, chegava a hora de agir.

Svetlana que era bom não aparecera, mas pelo o que eu fiquei sabendo, ela nem apareceria. Estava carbonizada dentro de minha casa em Georgetown. Eu sempre soube que poderia contar com Gibbs para limpar a minha sujeira, mas desta vez ele passou dos limites.

Tudo bem que eu estou oficialmente morta. Jenny Sherpard não existe mais. Fora morta em uma emboscada em um restaurante no meio do deserto de Mojave. Mas ele precisava queimar a minha casa?!

Sério?! Minha casa? Que Svetlana iria atrás dele eu até sabia. Que ele iria dar um jeito de mata-la, também. Que assim ele estaria “me vingando”. Eu também tinha plena consciência de que ele faria isso.

Mas queimar a minha casa para encobrir um assassinato. Jethro passou dos limites aí. Eu tinha tudo pronto e programado para voltar lá uma última vez e pegar o que eu precisaria, uma mala de roupa que estava, muito bem escondida, no meu closet. Os documentos com minha nova identidade que eu tive um trabalho homérico para conseguir esconder das vistas curiosas de Noemi e consequentemente de Jethro, já que minha privacidade, para ele é completamente inexistente, estavam sob uma tábua solta no chão do quarto de hóspedes. Contudo, quando eu tenho a brecha necessária para ir até lá, que seria enquanto todos estivessem em meu “funeral”, o que vejo? A casa completamente destruída. Minha história tinha virado cinzas. E nem precisava saber quem tinha feito aquilo.  Gibbs, eu te amo, mas isto foi imperdoável! Eu amava aquela casa, foi ali que cresci...

Então, sim, meu contato me informara que, o grande líder da máfia russa que o NCIS estava caçando desde 1991 estava escondido em uma fazenda na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia. Um lugar bem bucólico, nas palavras dele. Para mim, no meio do inverno europeu, não era nada mais nada menos que o fim do mundo.

Acontece que eu só estaria autorizada a agir dentro de dois dias. Seriam os dois dias mais longos da minha vida. E sem nada para fazer, só me restaram minhas memórias...

NCIS – 2007/2008

Com a saída de Gibbs, eu precisava de um nome de confiança. E, bem, eu não tive outra escolha a não ser Anthony DiNozzo.

Eu o envolvi no meu, nada bento, plano de vingança pessoal. Usando – todos – os meios que eu tinha disponíveis, descobri a quase certa localização do assassino de meu pai.

Acontece que, não era uma informação muito confiável. Eu precisaria de todas as confirmações possíveis. E era aí que DiNozzo entrava.

Fui informada pelo meu contato na CIA – Trent Kort – que La Grenouille estava para desembarcar em território americano. Era a oportunidade perfeita para começar a segui-lo e, como eu não podia acusa-lo de assassinar o meu pai, pelo menos prendê-lo por tráfico de armas e terrorismo já seria suficiente.

Claramente, eu não poderia ser diretamente envolvida, então, junto com Tony criei uma nova identidade para ele. Tony DiNardo, nada original, mas seria fácil para ele manter o disfarce e, ele insistiu que queria manter o lado italiano. Não o julguei.

Ele foi de tudo, de carregador de mala em aeroporto privado, a cantor de rua no meio da chuva e do frio. Mas o pior foi fazê-lo se envolver com a filha da Rã. De início eu achei que, dado ao seu histórico de conquistador, ele não se importaria, mas a farsa virou amor. E, quando ele se deu conta, estava apaixonado por Jeanne Benoit.

Enquanto a nossa operação secreta acontecia, vários casos chegavam ao NCIS. E, destes um se destacou de verdade. Ziva fora acusada de assassinar  dois agentes do Mossad.

Ela negava veementemente. Disse que estava passando na hora pelo local. Que viu a execução e só conseguiu pensar em ir atrás dos atiradores. O que resultou em uma perseguição que só terminou com ela batendo o carro.

Desesperada, ao invés de vir para a base do NCIS, ela foi para a Embaixada de Israel. Um grande engano.

Nós tentávamos e tentávamos, mas seja lá quem tinha armado para ela, tinha feito um excelente trabalho a incriminando e buscando a todo modo sua morte.

Só sei que no final, ela cobrou a sua dívida junto à Jethro. E ele voltou para ajuda-la. Para a felicidade de Abby. Mas pelas suas roupas e aparência de quem só sabia beber cerveja barata e construir barcos, ninguém apostava na sua permanência. E estávamos certos. A intenção dele era ajudar Ziva, pagar a sua dívida e voltar para o Happy Hour no México. Para tanto, até colocou a casa para vender. Contudo, outro amigo foi pedir-lhe ajuda. E ele teve que retornar ao NCIS, temporariamente. Ainda bem que eu não entreguei os papéis da aposentadoria para o alto comando. Eles ficaram bem guardados na gaveta de minha mesa. E quando Gibbs decidiu voltar de vez, foi só, bem, destruí-los bem rapidamente antes que ele mudasse de ideia.

Assim, Gibbs estava de volta e eu e Tony tínhamos em nossas mãos uma investigação que ele não poderia sonhar.

Tudo estava indo bem. Conseguíamos mantê-lo longe o suficiente do que estávamos fazendo, contudo não dá para engana-lo totalmente. Ele desconfiou da proximidade entre DiNozzo e eu. E foi tirar satisfação. Até parecia estar com ciúmes. E me alertou sobre sabe-se lá o que eu estava planejando.

Encurtando a história, uma hora eu fui obrigada a contar para Jethro todo o meu plano, até porque, eu acabei envolvendo toda a equipe na minha caçada. Mas parecia que a Rã estava sempre um passo à frente.

O caso tomou uma proporção maior quando a própria caça virou caçador e descobriu o disfarce de Tony, levando para um lado totalmente pessoal, a rã, na pessoa de Trent Kort, explodiu o carro de Tony e, temporariamente ganhou vantagem na caçada.

Como se não bastasse a minha consciência gritando que eu colocara Tony em risco por um mero capricho, Gibbs também achou que seria uma boa hora para me importunar e bancar a irritante vozinha do meu eu interior.

Acontece que paciência não é e nunca foi o meu forte e, desculpas à parte, eu não estava querendo ouvir julgamentos de ninguém.

Porém a maior surpresa ainda estava por vir. Renè Benoit em pessoa estava me esperando em meu escritório. Dentro da minha casa. Com a mais absurda das propostas. Ele me contaria todo o seu esquema em troca de proteção do NCIS. Ele sabia que estava com os dias contados. E que, ao avisar à CIA que pararia de passar informações a cerca de transações de armamentos para os iranianos, ele tinha certeza que seria eliminado e, para que isto não acontecesse, estava disposto a tudo, inclusive a contar todos os detalhes de suas vendas, ou seja, a famosa e infame delação premiada.

Sinto muito, mas não acreditei. Quando o vi ali, parado em minha frente, a pouquíssimos centímetros de distância, só o que eu pensei foi em mata-lo, cheguei a empunhar a arma. Mas nunca atirei. Jethro chegou bem na hora e jogou na minha cara que a pistola estava sem munição. Quase consegui ver em seu rosto as palavras de, “assumiu um cargo burocrático a tão pouco tempo que se esqueceu o peso de uma arma carregada, Jen?”.  Com um ódio bem perceptível, carreguei a pistola e, num gesto impensado a entreguei para Benoit e o expulsei de minha casa. Porém ele nunca levou a arma... E foi dado como desaparecido dias depois.

Logicamente as suspeitas de Gibbs recaíram sobre mim. Mas eu nada tinha a ver com aquilo.  Pelo menos não oficialmente. Até porque não encontraram nenhum corpo que provasse que o homem estava morto.

Mas, às vezes parece que a sorte não está do meu lado. E o corpo de Renè Benoit apareceu. A investigação ficou a cargo do FBI, e lá veio Fornell cantar de galo na minha agência.

Ele mandou e desmandou como quis. Separou a equipe, deixando-os presos na sala de provas, enquanto interrogava os outros membros e eu fui mandada para casa. Que também não estava lá com um ambiente agradável, já que tinha agentes por todos os lados.

Eu não sei o que cada um falou em seus depoimentos. Só sei que nada de conclusivo foi encontrado e a única testemunha do assassinato de Benoit, sua própria filha, mentira para incriminar Tony, tudo por vingança.

No final das contas, nada foi provado, nem contra mim, nem contra Tony, porque Trent Kort assumiu a culpa, e Tobias Fornell e sua gangue voltaram para Quântico sem nada.

— “A rainha está de volta ao seu trono!” – Gibbs, muito ironicamente disse quando finalmente pude retornar ao NCIS e à minha sala. E completou com - “Vida longa à Rainha!” – de uma maneira que me fez pensar que ele sabia o que eu tinha feito.

Eu sei que a equipe investigou o assassinato de Benoit às escondidas, até porque Jeanne acusou DiNozzo de matar o pai dela. Mas eu tenho certeza de que eles não chegaram ao ponto crucial.

Sim, eu matei La Grenouille. E faria de novo. E ninguém pode provar isto porque eu sei esconder evidências muito bem. Se fui treinada para acha-las, pode ter certeza que sei como encobrir meus rastros – de quase todo mundo...

De alguma forma Gibbs sabia quem era o responsável pela morte de Benoit, e eu sabia que ele não só desconfiava de mim, como tinha como provar. Acontece que nunca tive chances de perguntar.

 Logo após toda esta investigação do FBI, recebi a ligação que esperava há quase dez anos. A célula da Máfia Russa estava de volta à ativa e tinham planos de vir para o país.

Era justamente o que temia.

Saber que tem alguém atrás de você não é nada confortável, não que seja novidade, todo dia todos os diretores das mais diversas agências de segurança do país recebem as mais diversas ameaças, contudo, quando a ameaça aparece, ou no meu caso, reaparece por conta de uma ordem do passado, tudo muda de figura.

E era exatamente o estava acontecendo. Quem aportou em solo americano, veio por causa de uma maldita ordem que tive que seguir. O passado ressurgiu da tumba e veio me perseguir.

E hoje me pergunto o motivo de por que diabos eu não puxei aquele maldito gatilho?! Por quê? Eu deveria ter mandado a ordem recebida pro inferno e acabado de vez com aquilo. Mas eu queria continuar no NCIS, então, ordem dada era ordem cumprida.

Custei tanto para voltar aos EUA, foram anos trabalhando infiltrada nos mais diversos países. E quando finalmente voltei. Quando já estava acostumada com a minha rotina, nada fácil é verdade; quando já tinha total controle sob tudo o que acontecia na agência. Tenho que dar um jeito de jogar tudo para o alto para finalizar uma missão que estava suspensa há tanto tempo.

Acontece que não seria fácil voltar a ativa estando dirigindo o NCIS, eu precisava de uma desculpa bem plausível para isto. E qual foi a única que o meu contato disse que existia? Sim a morte. Que grande ideia! Eu teria que morrer para poder seguir em frente. Contraditório, não?

Agora bastava dar início ao plano. Simples. Uma doença incurável, ou com um tratamento que me tirasse a capacidade de conduzir o NCIS. Indicar alguns dos sintomas. Fazer uma ou duas pessoas acreditarem em tudo para assim, cair o pano.

Com um médico legista e amigo como o Ducky eu não teria problemas. Tive que contar com a sua ajuda para encobrir meus rastros. Mas também teria que ter uma pessoa que corroborasse o que estava acontecendo, e ele era perfeito.

Para dar mais veracidade ao esquema, consegui uma amostra de sangue que demonstraria exatamente o quão grave a doença era. Ducky a enviou para Abby que confirmou. Pronto. Aí estava o meu álibi.

Acontece que Abbs tirou conclusões precipitadas e achou que era Donald quem estava doente. E não demorou que “aquele que não deveria saber de nada por enquanto”, ficasse sabendo. Era o meu primeiro problema.

Céus! Como ele me perturbou. E mais uma vez eu criei a mentira da mentira. Para ele, eu não estava doente. Mas os exames falavam o contrário. Quando a situação começou a beirar o insuportável, finalmente era hora de agir.

O responsável pela nossa operação na França foi encontrado morto, dentro da sua própria casa. Preliminarmente concluíram que era um infarto fulminante. Como ele fora parte do NCIS por tanto tempo, e sendo eu a Diretora e também amiga, era mais do que lógico que fosse ao seu funeral que aconteceria em Los Angeles.

Como seguranças pessoais, peguei Tony e Ziva emprestados da equipe. Com estes dois do meu lado nada poderia acontecer, certo? Certo, se eu não descobrisse que a minha missão, que teoricamente deveria me levar para fora do país, aparecesse bem no funeral.

Não sei se apareceram na cerimônia para confirmar que o trabalho fora feito, ou se foi para me testar. Só sei que, quando ouvi a palavra que era a nossa ordem de abortar, soube na hora que deveria agir.

De uma forma um tanto quanto liberal, mandei DiNozzo e David para o hotel, dando-lhes folga pelo resto do dia, dizendo que pegaríamos o voo de volta à noite.

Tinha esperanças de que pudesse resolver tudo e continuar com a minha vida normalmente. Outra vez enganada.

Mandei para Abby a foto que tirei da motorista, bem como do carona  e, enquanto eu esperava os seus resultados, segui o carro.  Mas eu tinha quase certeza de quem eram.

Para tanto eu precisa de ajuda. Não poderia ser a ajuda oficial. A coisa toda tinha que acontecer por trás das cortinas. E, depois de analisar as minhas poucas opções, escolhi Mike Franks. Não porquê eu confiasse nele, mas Gibbs confiava, e isto bastava.

Combinei de encontra-lo em um hotel mais afastado. E, claro, ele não perdeu tempo em me criticar. Como precisava de sua ajuda, resolvi não retrucar. Eu planejava contar somente o essencial. Mas uma raposa velha como ele não se contentaria com pouco. Tive que contar os detalhes e, principalmente quem estava protegendo. Ao dizer o nome, foi como um passe de mágica, ele topou na hora.

Contudo, precisávamos saber o que realmente havia acontecido com Decker, e o único lugar que tínhamos para ir era sua casa. Até que foi produtivo. Ele deixara uma mensagem direta para mim. Um local isolado no meio do deserto, que ele planejava transformar em um restaurante.

Dizer que o local é isolado é delicadeza, era, na verdade, no meio do nada, como William achava que alguém iria frequentar aquela espelunca? Por  mais que ele arrumasse, que – tentasse – dar vida àquele lugar, tenho quase certeza que não duraria muito. Como eu tinha quase certeza que, se não tomasse os devidos cuidados, poderia acabar morta bem ali.

Trazer Franks comigo tinha dois propósitos, o primeiro e mais lógico, ajuda. Se tudo corresse bem, eu acabava com essa maldita história e poderia seguir a minha vida como bem entendesse, sem ter que ficar olhando em volta procurando o inimigo, bastava que Svetlana aparecesse. Mas, se não corresse como queria, Franks seria meu álibi. Duvido que Gibbs pudesse duvidar da palavra do ex chefe. Bastaria fabricar a minha morte, e contar com a devida sorte desta vez.

Não tardou e Mike começou com um verdadeiro interrogatório. Quis saber de tudo, inclusive da minha falsa doença. Por um lado, era uma benção, por outro, acabei falando demais. Droga! Agora ele sabe os meus verdadeiros sentimentos por Jethro, não que eu seja aquela exímia atriz de conseguir esconder, mas pelo menos, tentava disfarçar o máximo. Acho que eu estava com tanto medo de morrer ali, que me esqueci de fechar a boca.

 A espera era angustiante. Não havia viva alma naquele lugar e, com isso, parecia que até mesmo o tempo havia parado. Sem nada para fazer, sem mais o que falar. Apenas esperar, seja lá o que o futuro havia nos reservado.

Tic - Limpar a arma – tac – mais uma conferida na janela. Tic – maldita paciência que me falta – tac – quando será que eles chegarão?

Como por um milagre, achei algo para beber, não era bourbon, mas sim o chá que nem quis olhar a data para não me espantar com o tempo em que isto estava jogado no armário. Mike se voluntariou para pegar água em uma torneira que ele vira do lado de fora. Enquanto eu esperava dentro do restaurante.

É engraçado como certas tarefas são rápidas ou demoradas dependendo da perspectiva de quem as vê. Quem pensou que caminhar alguns passos até uma torneira e voltar poderia ser uma questão de vida e morte? Mas desta vez foi, ou melhor, quase foi.

Franks mal havia colocado os pés para fora pela porta dos fundos quando eu ouvi o barulho de um carro estacionando. Cheguei devagar perto da janela e os vi, cinco homens fortemente armados. Lembro de pensar para que tudo isso para matar uma pessoa?

Dizem que quando se vai morrer ou se está diante de um perigo iminente você é capaz de ver em câmera lenta. Não sei se é verdade, mas lembro-me muito bem do que aconteceu com detalhes.

O primeiro que passou pela porta, nem teve tempo de respirar o ar empoeirado do local. Caiu por lá mesmo. O segundo ainda deu um tiro. Fui mais rápida, me esquivei e revidei. Dois já foram, faltam três.

 O terceiro a passar pela porta conseguiu me atingir. No ombro. Cambaleei para trás e mirei, já não tão firme assim. O atingi, mas ele não caiu. Nesse momento mais um passou pela porta de trás. Fiquei no meio do fogo cruzado. Mas não é para isso que eu tinha duas armas?

Resisti o quanto pude. Mas novamente fui atingida. No abdômen. Esse aqui daria trabalho. Mal me mantinha em pé quando Franks finalmente fez sua entrada, acertando quem estava na porta sem cena ou cerimônia. Por fim, o último caiu e fui junto.

Juro que achei que morreria. Toda a minha falação deveria ser meu subconsciente já sabendo que não sobreviveria àquilo.

Sangue escorria de meu braço e minha camisa tinha sido tingida de vermelho. Droga. Não acredito que depois de tudo morreria no meio do nada e sozinha.

Mike correu para me ajudar. Disse que eu ficaria bem, que sairia dessa. Eu queria poder acreditar. Mas, alguma voz no interior da minha cabeça me dizia que, se eu morresse naquele momento, naquele lugar, pelo menos foi por uma boa causa. Contudo, eu ainda estava com medo.

Não sei de onde ele veio. Mas como se fosse mágica, meu contato entra pela porta dos fundos e milagrosamente vem com um kit de primeiros socorros e uma coisinha mais.

Ao notar a presença de Franks, simplesmente o manda ir embora e o que quer que tenha acontecido ali, era para ser sigilo. Mike até poderia se calar para muita gente, mas não para uma pessoa. Gibbs saberia o que aconteceu. Só não saberia o que estava por acontecer.

Após a saída de Mike, fui medicada e, como a partir de agora eu tinha que concluir o que começara, me injetaram uma droga que faria o meu batimento cardíaco ser reduzido, dando a falsa impressão de que havia morrido.

A cena deveria estar intacta, afinal, Tony e Ziva estavam À caminho e, para manter as aparências, eu deveria estar ali. Morta.

Não era a minha ideia inicial, contudo fora a única saída, tendo vem vista o que aconteceu. Tenho que dizer que não gostaria de estar na pele de Tony ou Ziva quando eles passassem a notícia para frente.

Depois de tudo o que aconteceu com a caçada ao Rã, DiNozzo merecia mais. Não essa culpa que eu sei que ele carregaria. Mas não só ele. Me doía pensar que teria que deixar toda a equipe para trás, sem uma explicação. Sem um adeus. Cortava o coração imaginar Abby tendo que fazer a análise forense de minhas roupas, sabendo não a verdade, mas a verdade inventada. Ela que sempre fora tão amorosa com todos, com certeza seria a que sofreria.

Acontece que eu não estava morta. Estava mais para uma morta viva que ainda precisaria de uma última saída.

O efeito da droga não era prolongado. Portanto, antes de embarcarem “meu corpo” rumo a DC, eu deveria ser sedada mais uma vez.

E era neste ponto que a última ponta deveria ser amarrada. Precisaríamos de um falso atestado de óbito. Portanto, uma autópsia deveria ser feita, ou melhor, Ducky fingiria fazer a autópsia do meu corpo.

Conhecendo Jehtro como conheço, sei que ele apareceria no subsolo para “se despedir”, mas não teria coragem de abrir o saco preto. Ele nunca foi bem com palavras e sentimentos. Não seria agora que começaria a ser. Pelo menos contava com isso.

O voo até DC foi, na falta de uma palavra melhor, mórbido. Eu não estava morta, mas todos achavam que sim. E quando aterrissássemos na base, eu deveria continuar a fingir.

De muito malgrado me esgueirei para dentro de um dos sacos e novamente fui sedada para parecer uma autentica morta.  Ducky já havia sido informado da situação e prometera guardar segredo, mas, como determinava o protocolo, o corpo deveria ser movido até a sala de autópsias. E, para evitar que um dos agentes descobrissem o plano por trás da minha morte, eu deveria ficar ali dentro, para o caso de alguém querer se despedir abrindo o saco e me olhando por uma última vez.

Graças aos céus ninguém teve esta coragem. Então, assim que ouvi Jimmy Palmer dizendo que não conseguiria fazer a minha autópsia e Ducky dizendo que faria isto sozinho, vi minha deixa.

Verdade seja dita, eu ainda estava um tanto grogue pelo sedativo, então fui ajudada pelo bom doutor e Vance, que tinha o mais vitorioso dos sorrisos no rosto, agora ele estava no posto que sempre quis. Nessa hora, mesmo não tendo todo o tempo disponível do mundo, juro que meu lado autoritário e um tanto quanto rebelde quis dar uma bela bofetada nele. Esse cargo era para ser temporário. Eu voltaria. Uma rainha nunca deixa o trono!! Mas, algo me impediu – o bom senso talvez -  e, assim que todos os agentes deixaram o estaleiro,  me despedi de Ducky e o agradeci enormemente por guardar esse segredo, eu e ele sabíamos muito bem que, quando - ou se - eu voltasse dessa missão, não só Jethro, mas todo o time, iria ficar furioso pela mentira contada e principalmente pela falta de confiança neles, e tudo isto recairia nas costas do Dr. Mallard. Mas essa não era a hora para pensar em como consertaríamos as coisas, era hora de agir. Confesso que, por alguns segundos me arrependi do que estava por fazer, algo me prendia àquela equipe, contudo, a esta altura, não havia outra alternativa.

E foi assim que pisei no estaleiro da Marinha pela última vez.

Como pude notar, a minha casa não existia mais. Jethro e seu senso de justiça distorcido, que para muitos poderia chamar de vingança, havia queimado todo o local. E junto com o incêndio, havia matado Svetlana também.

Se ela fosse o único problema, tudo estaria resolvido. Mas ela não era e eu estava sem tempo para comemorar a sua morte, tinha que rumar para a Europa no primeiro avião cargueiro que partiria da base de Norfolk ao amanhecer.

Conforme meu contato me dissera. Svetlana era só um pequeno grão de poeira na organização que o NCIS perseguia desde 1991.

Em 1991, o alvo principal havia fugido, e quase matado o agente designado. Em 1999 ele fora morto, Gibbs conseguiu cumprir o encomendado. Acontece que, nestes oito anos, Anatoly Zukov havia construído um verdadeiro império que variava de tráfico de pessoas até venda de informações sigilosas de vários governos do mundo. E foi para chegar ao centro operacional desta rede terrorista que eu não pude matar Svetlana.

De alguma forma, dentro destes nove anos entre a operação de Paris e o que irei fazer agora, o NCIS conseguiu infiltrar um agente na organização, por isto a inteligência da operação estava tão certa para onde eu deveria ir.

Com Svetlana morta, quem assumiria o papel de chefe desta família de mafiosos seria o seu cunhado. Dmitri Zukov era o meu alvo. Assim que o tivesse na mira, teria de executá-lo, e garantir que nenhuma testemunha ou contatos ou até mesmo seus subordinados na família sobrevivessem.

Acontece que ele era esperto. Dmitri mudava suas bases a cada três meses, temendo juntamente uma ação armada para desmantelar o que ele fazia.

E, depois de quase três anos seguindo as migalhas deixadas pelo agente infiltrado, finalmente cheguei ao ponto final.


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Notas finais do capítulo

E aqui as memórias acabam....



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