Dias Perfeitos escrita por Bibi Gonzales


Capítulo 1
Um girassol


Notas iniciais do capítulo

oi!
pela narrativa, pode até parecer que é um personagem que narra a história, mas é um narrador-observador mesmo. fiz assim para ficar mais íntimo dos leitores e eu gostei da forma como escrevi. enfim, espero que vocês gostem. boa leitura!



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Era verão quando os vi se apaixonarem. Carregavam em si um mel da adolescência que nem mesmo se eu passasse cem vezes novamente por essa fase eu saberia explicar. Eles estavam no quintal dos Potter quando isso aconteceu e girassóis tão amarelos quanto o moletom de Scorpius transbordavam pelas cercas da vizinha.

Olhar mórbido. Um livro de poemas escrito por um trouxa. Uma roupa quente em um dia mais quente ainda. Cabelo molhado de um banho recente. Aroma de folhas secas em pleno verão. Esse era Scorpius, o girassol plantado no jardim dos Potter esperando que Albus atendesse a campainha.

A porta se abriu e Albus não estava lá. Uma regata preta com bermuda e chinelo, típicas vestes de trouxas. O aroma de um garoto que estava jogando quadribol. Sorriso bobo e encantador. Esse era James Potter, plantado na porta de sua casa com um olhar indagador.

— Oi, o Albus está? – perguntou Scorpius com receio de que a resposta fosse não. Havia viajado muito para estar ali naquele momento e tinha muitas coisas para contar ao seu melhor amigo.

— Ele não te contou? Foi para Amsterdã semana passada com os meus pais. Só eu estou em casa.

— Ah… Ele não me contou. Acho que está bravo comigo. – Scorpius coçou a cabeça com apreensão. Não queria ter brigado com Albus, mas ele tentara arrancar uma informação muito íntima sem que Scorpius concordasse com isso.

— Ele só é dramático. Relaxa. – James o consolou com um sorriso.

Um breve momento de silêncio constrangedor aconteceu. Scorpius perdeu-se em uma linha do poema épico do livro em suas mãos. James encarou um girassol murcho no quintal da vizinha trouxa. A ideia de morar numa vizinhança de trouxas costumava ser bem bacana para ele.

— Então... Quer entrar? – coçou a cabeça e sorriu mais uma vez. Era o que ele sempre fazia quando estava envergonhado. 

— Normalmente eu diria não, mas eu tô meio sozinho e vim de longe mesmo. – Scorpius deu de ombros e entrou pelo espaço que James deixou. Esse foi o momento em que sentiu o cheiro do amor: o perfume de James era mais potente que todas as poções amortências.

Uma bagunça de almofadas coloridas. Aroma de incensos de mirra. Um gato bagunceiro arranhando o sofá. Caixas de pizza pela sala inteira. Aquela era a sala dos Potter. Na verdade, não era assim normalmente, mas quando James ficava sozinho não tinha jeito e nem o que salvasse aquela bela casinha da bagunça de um adolescente que não sabe cozinhar.

— Por que você não foi junto para Amsterdã? – Scorpius sentou-se no sofá e acariciou o velho gato da família. Ele não tinha um olho e se chamava Binps. Sr. Binps.

— Ah, eu não tava muito afim. Tive que fazer um esforcinho, tomar uma poção que me deixou com sarampo de bruxo temporariamente... Felizmente, a mamãe me deixou ficar. Só pediu para a vizinha ficar de olho em mim, mas ela já tem muitos gatos para se preocupar. – James riu sonoramente. – Sua família não viaja durante as férias?

— Viajar? Ha. – Scorpius balançou a cabeça negativamente. – Meu pai é um viciado em trabalho. Eu só sofro esperando que as aulas voltem.

— Para um adolescente de quinze anos, você é um pouco dramático, não acha? – James esparramou-se numa poltrona. Agora o Sr. Binps estava em seu colo. 

— Não. Na verdade, me acho profundo para um adolescente da minha idade. – Scorpius riu baixinho.

— Que livro é esse aí? – James apontou para o livro que agora descansava sobre o colo de Scorpius. 

— É o terceiro ato de "A Divina Comédia", de Dante Alighieri. Ele foi um trouxa que fazia poemas de viés épico e teológico sobre... – James bocejou interrompendo Scorpius.

— Que entediante, Scorpius. É isso que você faz as férias inteiras? Fica lendo livros escritos por trouxas? – a risada de James era um som tão gostoso que Scorpius quase se esqueceu de falar. – Scorpius?

— Hã? – o menino respondeu de forma abobada, logo saindo do transe. – É... Bom, eu gosto de ler livros escritos por trouxas, principalmente os poemas épicos. E eu não tenho muito o que fazer nas férias, tendo em vista que o meu único amigo foi viajar... 

James fez silêncio por uns segundos. Mórbido e esquisito, mas fofo. Isso era o que James estava pensando sobre o loiro sentado no sofá de sua sala.

— Eu vou dar uma festa hoje. Um pessoal de Hogwarts vai vir aqui... Em geral, pessoas do sexto e sétimo ano, mas você tá convidado. Bem, se quiser ficar, é claro. 

Scorpius encarou o livro A Divina Comédia e ponderou. Seu pai não ia reclamar de sua ausência. Na última conversa que tiveram, ele tinha dito que queria que Scorpius saísse mais de casa. Havia incentivado que passasse uns dias na casa de algum amigo... E Albus não estava ali para lhe fazer companhia, então por que não?

— Eu quero. – sorriu docemente.

James perdeu-se na doçura do rapaz. Se os ateus os vissem naquele momento em que um estava mais frágil pelo outro, diriam que o céu existe bem no fundo dos olhos deles. Jovens, perdidos e plenamente apaixonados numa sala de estar, com um gato velho e fedorento, com muito tempo para estar e permanecer. Scorpius tinha o que mais ninguém tinha de James: tudo.


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Notas finais do capítulo

vou gostar de ler seu comentário, seja ele crítico (de forma construtiva, tá?), um elogio ou a sua lista de compras. me dá um oi, me diz como foi o seu dia, me diz como você tá... mas não deixa de comentar. isso faz todo autor feliz.
xoxo



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