São Paulo, 9 de Dezembro de 2017.

É perturbador como nos tornamos meros estranhos um para o outro em tão pouco tempo.

Isso me faz pensar o quão rápido podem os relacionamentos se desfazer. É como se todos os momentos juntos não tivessem acrescentado nada, nem um mísero tijolinho na estrutura desse corredor principal que é a vida.

Se todos os relacionamentos terminam em pó, podemos dizer que o nosso foi poeira cósmica, pó de estrelas (astros sobre os quais virávamos as noites conversando e que, mesmo tão distantes, faziam com que eu me sentisse mais perto de você)? Ou será que o pó resultante dessa relação foi uma simples poeira de outono?

Houve realmente algo de especial entre a gente ou é tudo fruto da minha imaginação? Seria eu mais uma para a sua coleção, um simples brinquedinho com que você, um menino mimado, cansou de brincar? 

 Sentiria você a minha falta como sinto a sua? Teria eu sido tão importante para você como você foi pra mim? Teria eu quebrado - ou ao menos trincado- essa sua casca de racionalidade?

No fundo ambos sabemos o quão emotivo você pode ser. Não revela suas emoções por medo, e confunde a todos por não saber o que fazer com tudo o que sente. Xeque mate, meu querido astronauta.

Eu ainda me lembro de tudo o que aconteceu. A animação inicial, o êxtase, a ansiedade, os planos. Não consigo esquecer de cada incentivo, cada palavra dúbia, cada contradição. Lembro de alçarmos nosso voo final que, por falta de planejamento, me deixou toda machucada, além de tirá-lo completamente de mim.

Apesar disso, às vezes penso que você nunca esteve realmente comigo. Era mais cômodo aceitar o carinho e fingir retribuição, mantendo-se sempre alheio e só de corpo presente,  que simplesmente estabelecer limites?

Por fim, constato que eu ainda o amo, por mais idiota, melancólico, masoquista - e até mesmo doentio- que isso possa parecer.

                                                                                                                                Liz.